Olá mina!

Estou postando mais uma adaptação de Deborah Simmons e essa história é a continuação de Bodas de Fogo. Espero q gostem dessa também.

Bjs!

CAPÍTULO 1

Com olhar sombrio para a caneca de cerveja, Gaara Haruno apoiava-se à parede. Não estava embriagado. Nunca bebia demais. Isso lhe embotaria os sentidos e os dele eram afiados como uma navalha. Como prova disso, levantou a cabeça ao ouvir um ruído na entrada do salão. Mantinha o olhar alerta ao menor sinal de perigo. Mas tratava-se apenas da irmã Sakura com o bebê no colo.

Kabuto Yakushi não passaria por ali outra vez.

Apesar da disciplina férrea, a idéia invadiu-lhe a mente como um fantasma negro. Por um momento, Gaara debateu-a. Seu inimigo estava morto. O vizinho, que o tinha abandonado ferido e voltado para roubar-lhe as terras, perecera neste mesmo salão, nas mãos de Sasuke, o marido de Sakura. O fato o privara de exercer a vingança.

Gaara olhou para as duas cadeiras pesadas, na frente do salão, onde a cena se passara. Mas os ladrilhos já tinham sido lavados e o sangue de Kabuto se fora para sempre. Gaara jamais o veria soluçar e, assim, não sentiria o prazer da vingança tão arraigada em sua alma.

Desde então, nesse último ano, ele tentara executar outras mortes, trabalhando como soldado contratado. Todavia, o extermínio de estranhos significava tão pouco quanto as parcas moedas recebidas em sua troca. Gaara já possuía fortuna e uma próspera propriedade. Construída pelo pai, Suna era um castelo moderno que provocava a inveja de seus pares. O fato, entretanto, não lhe provocava satisfação. Por isso, estava ali, no local do desapontamento amargo, em busca de alento para o vazio em que sua vida se tornara.

Gaara apertou os dedos em volta da caneca. Na verdade, não encontrava estímulo em nada, pois tudo perdera o significado para ele. Sua irmã havia mudado muito nesses cinco anos que ele passara afastado. Ele nem mais a reconhecia. Gaara também se ressentia do fato de o cunhado tê-lo privado do que mais desejava: tirar a vida de Kabuto.

— Gaara ! Eu não o vi aí encostado na parede. O que pretende fazer esta tarde? — Sakura perguntou com aquele meio sorriso desconfiado, com o qual ele já se acostumara.

A irmã linda, de cabelos rosados, não sabia o que fazer com ele, mas isso não o surpreendia. Ele próprio não sabia o que fazer consigo mesmo.

— Nada — respondeu Gaara com olhar indiferente. Sakura sentou-se num banco e dirigiu-se à filhinha:

— Veja, Sayuri, é seu tio Gaara .

Ao ouvir a voz terna e amorosa, ele quase não acreditou. A Sakura que ele conhecia era uma jovem altiva, castelã eficiente, mas incapaz de demonstrações afetivas. Agora, em vez de deixar a criança sob os cuidados da babá, carregava-a para todos os cantos grande parte do tempo. Difícil entender tal atitude.

Um movimento na entrada chamou-lhe a atenção. Virando-se depressa, Gaara viu Sasuke entrar no salão. Homem de estatura avantajada, o marido de Sakura seria capaz de intimidar as pessoas, mas raramente o fazia. Ele parecia deliciar-se com o mundo em volta, do qual se vira desligado durante uma crise de cegueira temporária.

— Sasuke! — exclamou Sakura sem esconder a alegria. — Veja, Sayuri, é o papai — acrescentou, sacudindo a mãozinha da criança para o cavaleiro imponente.

Talvez algo durante o parto houvesse danificado a mente da irmã, pensou Gaara não pela primeira vez durante a estadia ali.

— Fique no colo do titio enquanto recebo seu pai—disse Sakura.

Para horror de Gaara , ele viu-se com a sobrinha no braço. Era pequena, gorda e sem um fio de cabelo. Cheirava a uma mistura de leite e sabonete. Ele a estrangularia caso lhe sujasse a túnica.

Com a caneca de cerveja em uma das mãos e o bebê no outro braço, Gaara dirigiu um olhar impotente para a irmã. Porém, ela já se afastava.

Atônito, viu-a atirar-se nos braços do marido. Gaara jamais se acostumaria àquele comportamento. Numa cena constrangedora, o casal beijou-se apaixonadamente como se estivesse em seu quarto. Talvez a crise de cegueira também houvesse perturbado a mente do cunhado, refletiu Gaara .

A criança percebeu de repente onde estava e pôs-se a chorar alto. Gaara estremeceu e imaginou se não deveria deixar logo o castelo de Konoha. Sentia-se embaraçado ao lado desse trio estranho, mas feliz. Em comparação à deles, sua vida parecia mais vazia e sem propósito.

— Pegue aqui — disse ele, estendendo a criança para a mãe.

— Pronto, Sayuri. Você deve estar com sono — Sakura murmurou.

Admirado, Gaara não entendeu como a irmã falava com aquela coisinha como se pudesse ser entendida. O estômago contraiu-se e ele lembrou-se de que precisava comer algo. Mas como tudo, os alimentos não lhe despertavam o interesse. Resolveu concentrá-lo no moreno que teimava em chamá-lo de irmão.

— Gaara ! — Sasuke exclamou com afetividade irritante.

Como o Cavaleiro Vermelho ousava encará-lo com aquela franqueza e como se enxergasse o vazio de sua alma? Como se atrevia a dar-lhe conselhos quando este castelo era uma lástima se comparado a Suna?

Konoha era velho e seus habitantes não possuíam riquezas. Todavia, eles pareciam ter um tesouro além do alcance de Gaara . Isso o deixava mais frustrado ainda. A dor de estômago aumentou e ele quase fez uma careta. Mas manteve a expressão impassível diante do olhar perscrutador de Sasuke.

— Vim avisá-lo, irmão, que chegou um mensageiro do rei a sua procura — disse o cunhado.

Olhando para a entrada, Gaara viu um homem com o emblema de Naruto. Como não o tinha notado? Claro, distraíra-se com a criança e com demonstrações amorosas. Abafando a raiva, pôs a caneca na mesa e dirigiu-se ao estranho.

Finalmente. Já fazia um ano que Kabuto invadira a propriedade vizinha de Suna e, até agora, o destino das terras do desgraçado continuava sem solução.

Na opinião de Sasuke, Naruto decidiria em favor de Gaara , passando a propriedade para Suna como indenização. Gaara , entretanto, não confiava em reis e príncipes, graças às experiências adquiridas na aventura chamada de Guerra Santa. Ele não se surpreenderia se Naruto confiscasse a propriedade de Kabuto para a coroa.

Não se importaria com isso. Kabuto não tinha prole, portanto, de uma forma ou de outra, as terras deixariam para sempre sua linha hereditária. Isso constituía uma pequena satisfação para Gaara , pois era a única vingança que lhe restava.

— O senhor é Gaara Haruno, o barão de Suna? — o mensageiro do rei indagou.

— Sou — confirmou Gaara .

— Trago-lhe uma mensagem de seu soberano. Gaara fez-lhe um gesto para sentar-se no banco ao longo da mesa. Nesse instante, percebeu o olhar ansioso de Sakura. Ela e o marido não escondiam a vontade de também ouvirem a novidade. Isso o surpreendeu.

— Posso oferecer-lhe uma bebida? — perguntou Sakura ao mensageiro.

— Aceito, sim, minha senhora. Mas a mensagem é curta. Não prefere ouvi-la primeiro? — indagou ele olhando para Gaara e para os outros dois.

Irritado, mas querendo terminar logo a questão, Gaara dirigiu um olhar interrogativo ao cunhado. Este o respondeu com outro de advertência. Com o braço nos ombros da esposa, Sasuke o fez sentir que devia algo a Sakura por seu trabalho em Suna. Tenso, Gaara teve a sensação de que, apesar das demonstrações de amizade de Sasuke, os dois chegariam às vias de fato.

Gaara , entretanto, cedeu. Afinal, o assunto não tinha muita importância para ele. Não havia mal que eles ouvissem a notícia.

— Esta é minha irmã, e seu marido, o barão Uchiha, o senhor já conhece.

— Minha mensagem é referente à posse da propriedade adjacente a Suna e pertencente ao falecido barão de Kabuto.

Gaara concentrou a atenção no mensageiro. Este pôs-se a ler o decreto real, no qual Naruto demonstrava a vontade de solidificar a lealdade dos súditos através de laços matrimoniais, sempre que fosse possível. Está bem, pensou Gaara . Termine logo a leitura!

— Como descobriu-se a existência de uma sobrinha de Kabuto, portanto sua herdeira, é nossa vontade que o senhor se case com Ino Yamanaka, reunindo as duas propriedades e sendo senhor de ambas.

Embora o homem continuasse a ler, Gaara não prestou mais atenção. Kabuto tinha uma parenta viva. A informação reavivou a raiva adormecida, enchendo o vazio da alma com renovado propósito.

— Ela vive há anos num convento, protegida das maldades do mundo. Deve ignorar tudo a respeito da malícia dos homens e de sua brutalidade. Ai, Sasuke, o que acontecerá a ela nas mãos de Gaara ?

— Seja otimista, Sakura.

— Vou tentar e também rezar muito por ela. Que Deus tenha piedade da pobre moça.

Gaara afastou-se de Konoha sem olhar para trás. Nada o prendia lá, mas algo o esperava à frente. Embora fosse um homem destemido, mantinha uma boa escolta para acompanhá-lo em viagens. Parando apenas para pedir indicações sobre o caminho do convento, ele ia em busca da noiva.

Não se preocupava com sua aparência. Ela podia ser velha, jovem, feia ou bonita, o importante era ser do sangue de Kabuto. Ansioso por alcançar o destino, Gaara forçava a comitiva a prosseguir depressa. Paciência e disciplina, duas de suas qualidades, estavam esquecidas.

— Para onde vamos? — perguntou uma voz profunda e melodiosa.

Gaara relanceou os olhos para o homem a seu lado. Ele usava uma túnica larga e longa, pois como vários outros do grupo, desdenhava a cota de malha dos cavaleiros.

— Sasori!

Perdido com os pensamentos, Gaara não tinha percebido a aproximação do companheiro. Sasori tinha a habilidade de aparecer de repente. Era também temido pela precisão de seus golpes. Gaara o admirava por essas qualidades que os haviam salvado várias vezes quando guerreavam na Terra Santa.

Apesar de ser também chamado de sírio, Gaara não fazia idéia de onde ele nascera. A variada população da Síria contava com gregos, armênios, italianos, judeus, muçulmanos e francos que conviviam com uns poucos germânicos e escandinavos.

O nome Sasori era egípcio e Gaara podia imaginar o homem alto e ruivo como descendente de um faraó poderoso. Ele tinha uma postura nobre e uma autoconfiança que não poderiam ter surgido nas sarjetas. A pele dele era de um dourado profundo, mas clara o suficiente para indicar mistura de sangue. Gaara refletia se Sasori não seria filho bastardo de algum sultão, ou talvez de um cavaleiro que houvesse violentado uma das mulheres nativas no ardor das cruzadas. Nunca havia perguntado e Sasori não oferecera explicações.

Desde o encontro tumultuado dos dois, vários anos antes, eles mantinham um acordo tácito: nada de indagações sobre o passado. Ao voltar para Suna, Gaara trouxera o homem, que havia se tomado quase tão chegado quanto um amigo, e lhe passado o mínimo necessário de informações. Eles não haviam prestado juramento algum, não faziam planos para o futuro e não se julgavam mutuamente.

— Estamos indo a um convento. Trata-se de um lugar sagrado para mulheres — explicou Gaara .

— As mulheres vivem lá sozinhas?! — perguntou Sasori, perplexo com o conceito estranho.

— Vivem. Elas juraram fidelidade a Deus.

— O que vamos fazer lá? Acho curioso que permitam a entrada de homens em tal lugar.

— Estamos indo em busca de uma parenta de meu inimigo, a herdeira de Kabuto. Finalmente, vou poder me vingar, Sasori.

— Essa parenta é santa?

— Não, mas vive lá com as que são —respondeu Gaara . Percebeu que Sasori relaxava a expressão. Embora o companheiro não professasse religião alguma, respeitava os lugares sagrados, tanto os cristãos como os muçulmanos.

— Sei. E o que você pretende fazer com ela? — o sírio quis saber.

Gaara não respondeu logo, pois ainda refletia sobre os planos. O futuro, tão vazio até pouco antes, agora oferecia possibilidades sem fim. Oprimido pela morte de Kabuto e pelo vazio dos longos meses seguintes, ele ansiava pela recompensa imediata.

— Vou deixá-la sofrer como Kabuto fez comigo — respondeu finalmente.

— Esvair-se em sangue sob o sol escaldante do deserto?! Gaara ignorou o sarcasmo do companheiro. Não queria se lembrar dos dias tórridos e das noites geladas ao relento. Nem do ano vagaroso de recuperação.

— Não. Vou descobrir do que ela mais gosta e privá-la disso como Kabuto tentou fazer comigo. Também descobrirei o que ela mais teme e a farei enfrentá-lo. Vou atormentá-la e sentirei prazer com isso. Executarei minha vingança.

Fez-se silêncio, mas Gaara sentiu o olhar de Sasori sobre ele. Sabia que o companheiro tinha profundo respeito pelas mulheres. Provavelmente, ele não lhe aprovava os planos, mas não interferiria.

Por algum tempo, nenhum dos dois falou. Então, Sasori baixou o olhar.

— Você vai ao convento para matá-la? — perguntou. Gaara sorriu.

— Não. Vou para me casar com ela.