N/A: Saint Seiya não me pertence. Fic feita de fãs para fãs. Comentários são bem-vindos, sim?
HUMANO, DEMASIADO HUMANO
Capítulo I
Fevereiro de 2015
sexta-feira
09:44
- É com imenso prazer que apresento o excelentíssimo Doutor Shaka Deva-Shakti Ayesha como o mais novo professor adjunto da Universidade de Athenas. Senhores.
Todos na mesa aplaudiram. No total, treze pessoas entre homens e mulheres. O anunciador estava em pé e aplaudia com felicidade o anunciado. Shaka, um jovem gênio de 27 anos, acabava de ser aprovado como professor do curso de Filosofia daquela aclamada universidade. Em seus olhos, um brilho calmo. Sorria discretamente aos outros doutores. Seu ar reservado e tímido disfarçava sua segurança de si próprio – sabia que aquele título não era nada além do mínimo a ser fornecido a ele, como gênio da filosofia contemporânea neo-nietzscheana que era. Ria de satisfação, internamente.
- Diga algo aos seus mais novos colegas de academia, professor. Estamos animados por ouvi-lo! – Falou Shion, o anunciante a que me referi antes. Ele estava altivo e orgulhoso da mais nova aquisição do curso. Novos ares, novos ares! Aquele menino, ainda que muito novo e meio audaz, teria muito a acrescentar ao curso o qual era diretor, sem falar que um "brinquedo novo" talvez viesse a acalmar os ânimos e gênios indomáveis daquele departamento. "Não é à toa que às grandes mudanças chamam Primaveras.", costumava dizer em sala de aula.
Shaka empurrou ligeiramente os óculos, sorriu de modo suave enquanto atava os dedos uns aos outros, na altura do abdome. Haviam ali alguns burburinhos, mas todos se fizeram mudos quando o rapaz movimentou os lábios.
- Estou lisonjeado e imensamente grato pela oportunidade. Espero que meus parcos conhecimentos estejam à altura dos daqui presentes, os quais a maioria já li e estudei profundamente seus escritos. É de uma imensa honra poder trabalhar ao lado do professor doutor Saga Vetimiglia – dirigiu seu olhar azulado ao homem na última cadeira esquerda da comprida mesa. Ele deu um leve menear com a cabeça. – Que não só foi meu orientador de Mestrado na Universidade da Basiléia, mas também um caloroso colega de estudos e honorável adversário em nossos debates.
Saga sorriu. Aquele menino. O que tinha de inteligência, também tinha de malícia.
- Agradeço também especialmente ao professor doutor Shion por ter cedido seu tempo afim de me receber, assim como todos os senhores. Espero que possamos ampliar não só os horizontes de nossos alunos, mas da universidade como um todo.
Sua oratória era perfeita. Nenhum detalhe a mais ou a menos. Suas mãos permaneceram no seu baixo ventre e sua voz não vacilou um minuto que fosse. Ele era o típico gênio engomado que todos queriam ser. Sua voz era de um tom grave, mas macio, e o modo com que articulava perfeitamente cada palavra tornava-o ainda mais admirável, altivo. Todos sorriam – uns mais, outros menos, mas todos condiziam com a capacidade daquele jovem de se mostrar convincente de uma maneira quase... Galanteadora.
Mais alguns aplausos e discursos de boas-vindas. Ao fim da reunião, o corpo de professores se levantou da mesa e rapidamente grupos menores se formavam. Conversavam entre si sobre o mais novo membro e sobre amenidades do departamento. No mais tardar, haveria um coffee-break e algumas aulas de início de semestre letivo.
XXXXX
Naquele mesmo dia, mais cedo
5:35
O despertador tocou. No segundo ruído do alarme, Mu desligou o relógio com uma das mãos. Já estava sentado na cama com os pés no chão. Bocejou e limpou os olhos. Do outro lado da cama, Aiolos dormia profundamente.
No namorado adormecido, Mu depositou um beijo suave no rosto. Sorriu. Era mesmo um dorminhoco.
Tomou uma ducha fria bem rápida e foi logo preparar seu desjejum. Café bem forte e amargo, torradas, ovos e qualquer fruta que estivesse por ali. Precisava de muita energia para aguentar aquela rotina que já levava tinha uns dois anos.
Morava num apartamento bem pequeno no centro comercial de Athenas. Foi um achado de sorte ter alugado um local tão pequeno e barato no coração da cidade. Pagava sagradamente o aluguel com o suor do seu trabalho. Professor de cursinho e free-lancer com muito orgulho.
Estava na sua segunda graduação na universidade de Athenas. A primeira, licenciatura plena em história, a segunda, bacharelado em filosofia. Tinha também uma especialização em Fotografia – que era seu hobbie mais apaixonado. Esforçado, estrangeiro que viu que a necessidade de se sustentar era maior do que o desejo de aprofundar seus conhecimentos sobre história antiga e obras de arte. Esforçado e curioso. Um rapaz de ouro. Um namorado dedicado, e um filho um tanto rebelde, diga-se de passagem.
Pôs uma roupa bem básica – jeans e camiseta – e foi ganhar o mundo. Uma mochila pesada nas costas, uma meia maçã na boca, os óculos sempre sujos de marcas de dedo. Nunca falava com ninguém no elevador. Era mais contemplativo do que conversador. Mas seus olhos verdes e pele branca feito mármore sempre atraíam os mais doces comentários de velhinhas e transeuntes daquele condomínio.
Atravessou a avenida e partiu, apressado. Não podia perder o ônibus das 6:22, caso contrário chegaria muito atrasado no trabalho.
XXXX
Fevereiro de 2011
Noite
Sangue.
O sangue pingava na pia e se misturava com as lágrimas salgadas. Cada rasgar lento e profundo da lâmina era acompanhado de uma espécie de ranho, de ganido, de grunhido ou o que for. Palavras e orações entredentes.
O que estava acontecendo?
Dores de cabeça. De novo. Dores excruciantes de cabeça.
E dores ainda mais excruciantes no seu peito.
Queria arrancá-lo fora.
Queria arrancar seu coração fora.
Queria arrancar aquele MALDITO pra fora de sua vida.
Mais um rasgar de carne. Mais sangue. Sangue
Pin
Gan
Do.
"Shaka, aonde você foi se meter?" – Pensava, vociferava, berrava para sua mente ouvir. Ao passo que alguma broca psicossomática ensurdecia seu juízo. "SHAKA! Você quase perde a seleção do doutorado pra esse DESGRAÇADO. Reaja, Shaka!"
Reaja.
Reaja.
REAJA.
Xanax.
"Eu preciso de Xanax."
Com os dedos repletos de respingos e a camisa branca manchada, o rapaz loiro soltou a lâmina no ralo da pia. Foi cambaleante até o quarto de hóspedes, chutando livros e mais livros que derrubou das estantes durante sua pior crise. Derrubou mais uns outros livros – teses de colegas sem importância alguma, atrás de alguns volumes de dissertações ultrapassadas, achou uma caixa de remédios. A caixa maldita. Xanax, Oxy, Rivotril, Sertralina, Prozac e Cocaína – o que você imaginasse de droga lícita ou ilícita estaria ali, em minúsculos saquinhos de plástico isolados uns dos outros.
"Ah, se Nietzsche tomasse um Prozac de vez em quando..." Riu da sua própria deplorável situação.
Tomou uns comprimidos parecidos uns com os outros, até não se lembrar mais do ocorrido.
No celular, alguns torpedos.
"Espero que você se tenha se saído bem na sua defesa, Shakya. :)" (1)
"Você recebeu ligações de..."
"Preciso falar com você. Vetimíglia."
XXXX
Fevereiro de 2015
18:07
A noite estava por chegar e o alunado já estava em sala. Primeira aula de Tópicos de Filosofia Contemporânea, com o professor novo que gerou polêmica no último concurso. Disseram que ele tinha 21 anos. Disseram que ele tinha complexo de superioridade. Disseram que ele era um extra-terrestre que se interessou pelos estudos contemporâneos.
O próprio Mu ouvia alguns desses burburinhos no restaurante universitário, enquanto jantava o segundo prato cheio – até a boca – de sopa de carne. Chegava sempre morto de fome na universidade. Chegava sempre cansado, exausto, com os ombros pesados por carregar tantos livros, cadernos de chamada e dúvidas. Mas gostava daquela rotina. Não perderia uma aula de Filosofia Contemporânea por nada nesse mundo – principalmente porque era a área de interesse da sua tese de graduação. Quem sabe conseguiria orientação com aquele professor...
Mu Amrita estava no sexto semestre da faculdade, e como disse antes, era um rapaz esforçado e inteligente. 25 anos muito bem aproveitados, e sua aparência de menino se limitava somente ao rosto – seu físico, bem trabalhado, era de arrancar suspiros até dos mais "machões" daquela turma. Homossexual resolvido, muito fiel ao seu companheiro Aiolos Petrakis, mantendo um relacionamento sólido de cinco anos. Estrangeiro, seu grego era ligeiramente carregado com um sotaque tibetano. Veio de longe para aprender mais sobre cultura e história ocidental – suas grandes paixões, que só não eram maiores do que a fotografia. E fotografar a cultura ocidental em seu ponto máximo, que são as esculturas e artes gregas? Era o ápice da sua vida!
Trabalhava demais e ganhava de menos, mas era feliz, diga-se de passagem.
Trocava algumas mensagens com o namorado no Line quando a porta da sala se abriu, adentrando um rapaz magro, de longos cabelos loiros presos num coque desarrumado, vestido numa camisa social branca, gravata e calça da cor preta. Óculos de armação pequena e vermelha-escuro, uma jóia pequena também vermelha no meio da testa. Na mão direita, um livro fino mas de capa grossa e marrom, com letras em dourado formando o título: "O Nascimento da Tragédia" (2).
- Não sabia que o professor de Contemporânea tinha vindo direto do Monte Olimpo. – Sussurrou Misty, da carteira de trás, para Mu.
O tibetano acenou positivamente com a cabeça, mas sem grandes reações. – Ele é muito bonito. – Disse, enquanto folheava o caderno em busca de uma página em branco qualquer.
Metódico, Shaka posicionou cuidadosamente as coisas em cima da sua mesa. Bolsa, lápis para quadro branco, apagador, folhas de papel, caderno de chamada e uma caneta. Ao final, permaneceu de frente para o alunado, escorado na beira da mesa, com o antes referido livro em mãos. A sala ficou em silêncio.
- Boa noite. – Falou, em bom tom. – Meu nome é – pegou um dos lápis e começou a escrever na lousa. - Shaka Deva-Shatki Ayesha – ditou, enquanto que escrevia seu endereço de email. – Sou professor de vocês de Tópicos de Filosofia Contemporânea e este é o meu e-mail para eventuais dúvidas a respeito do que trabalharemos.
De dentro do livro, retirou um pedaço de papel, mas sem abri-lo, ainda, para ler seu conteúdo. – Para sanar eventuais questionamentos quanto a minha capacidade, sou Doutor em Filosofia pela Universidade Sorbonne, onde aprofundei meus conhecimentos sobre Nietzsche e o pensamento Neo-Nietzscheano. Não é de se surpreender que essa será a vertente mais calibrosa neste curso, visto que é a área que estou bem familiarizado. Daí então, iremos contemplar as áreas de influência do estudo Nietzscheano, exploraremos seus conceitos implícitos e explícitos na obra de Michel Foucalt, Walter Benjamin, Heidegger, Deleuze, dentre outros pensadores da crise da modernidade. Farei uma breve contextualização histórica para então darmos continuidade com o conteúdo programático. – Pá! De uma vez só, metralhou educadamente seus estudantes com uma bateria de assuntos que nem metade deles estaria minimamente familiarizado. Por fora, inexpressivos. Por dentro, desesperados. Misty aproximou-se mais uma vez dos ouvidos de Mu e, entre reclamações, ralhou baixinho:
- Quer apostar quanto que maior parte da bibliografia será composta por textos dele mesmo? – Suspirou, revoltado. – Estava bom demais se fosse somente gostoso e inteligente! – Nova pausa. Copiou o endereço de email num cantinho da agenda que servia para todas as cadeiras de todos os semestres. – Achei que só você tinha um nome esquisito nessa universidade.
- Pela sonoridade do nome, e pela jóia na testa, acho que ele é indiano. – Comentou Mu, sem se mexer, com o olhar fixo no quadro branco. Copiava fielmente o esquema cronológico que o professor desenvolvia no quadro.
- Branco desse jeito? E ainda por cima loiro?
- Uhum.
- Vai entender.
A primeira aula se deu de um jeito interessante. Shaka explicava suas intenções em sala com facilidade. Copiava alguns tópicos do papel dobrado que trouxe consigo, e, sua caligrafia, no quadro, era perfeita – linhas retas, esquemas muito bem elaborados. A capacidade de método do rapaz era tão grande que dava até nos nervos dos hiperativos. Cronometrado, só não o qualificaria como totalmente imparcial porque parecia esboçar um breve sorriso toda vez que discorria sobre os pensamentos de Nietzsche.
Faltando quarenta minutos para o final da aula, Shaka tirou da bolsa algumas folhas de papel, eram cópias do cronograma com bibliografia obrigatória e a optativa. Distribuiu-as aluno por aluno. Ao passar por Misty, este pegou a cópia e nada disse, sentindo-se intimidado pela aura autoritária do loiro. Mu agradeceu por ter recebido a cópia, em troca, um "Por nada" ríspido e baixo.
Entregues as cópias, o professor voltou para sua mesa, e encarou por alguns segundos a turma, que ainda avaliava o cronograma e a pesada carga literária.
Mu tinha muito a comemorar e a lamentar. Aquele pedaço de papel era o atestado de óbito da sua vida social. A cadeira mais difícil da graduação até agora, com toda certeza. Não só pelo conteúdo, mas pelo que o professor denunciava ser: rigoroso. Mas gostava. Toda aquela bibliografia, apesar de não ter lido nem metade dela, era muito familiar. Muitos daqueles livros acabavam por adquirir para a sua tese de conclusão de curso. Caso conseguisse uma boa nota, provavelmente ia alavancar seu trabalho para concluir a segunda graduação. Não tinha medo de formalidades – Ayesha poderia ser, sim, seu possível orientador. Comprimiu os lábios numa linha reta e suspirou.
Trabalhoso, beeeem trabalhoso.
- Dúvidas? – Mu ergueu a mão. – Pois não?
- Professor, meu nome é Mu. Tenho duas dúvidas quanto ao programa e a abordagem da disciplina – Pausa, o tibetano olhou rapidamente para os tópicos em sua mão. – O senhor abordará a perspectiva histórica Nietzsche? "A Segunda Consideração Intempestiva" (3), "Fatum e História" (4)... Fiquei um tanto curioso, já que o senhor pretende abordar um pouco do contexto histórico. Outra coisa, como serão as avaliações?
- Você é de história? – Interrompeu o loiro, enquanto que tirava os óculos, limpando-os com a barra da camisa branca.
- Sou formado em história, professor. – Respondeu, um pouco acuado.
- Logo imaginei. – Shaka virou de costas. Pegou o apagador e pôs-se a limpar o quadro rabiscado. – Vocês são todos iguais.
Uma pausa dramática. Silêncio sepulcral. No rosto de Mu, uma expressão interrogativa.
- Historiadores são muito metidos. Só não são piores que jornalistas. Acham que sabem de alguma coisa de Filosofia porque entendem de alguns métodos de historiografia. Pífio. – Bufou, concluindo a limpeza do quadro. – Mas eu já estou acostumado com a necessidade incontrolável de vocês de achar contexto sócio-político em tudo. Típico.
Possuindo um doutorado ou não, a soberba de Shaka era imparável. Arrogante por prazer, chato por natureza. Sabia que aquele comentário não levariam as coisas muito adiante, mas as palavras pareciam fervilhar em sua língua ferina. Aquele graduando parecia ser esperto e interessado no assunto, testaria até que ponto iriam suas capacidades. Não era um homem de luxos ou de farras, mas a acidez era seu esporte favorito! Sentia o impulso de sorrir, irônico, por dentro. Mas continha-se.
Todos ficaram atônitos com a patada completamente desnecessária do acadêmico. Olhavam uns para os outros enquanto que Mu, visivelmente constrangido, tentava organizar as frases em sua cabeça. Tinha orgulho de ser historiador, não podia deixar aquilo barato.
Mas talvez, se o respondesse, estragaria sua possível oportunidade de ter um orientador especializado na sua temática.
Mas ele xingou os historiadores!
Mas ele é um acadêmico.
Mas ele não é deus!
- Mas respondendo a sua questão: Sim, eu abordarei um pouco da Consideração Intempestiva, considero-a mais completa do que Fatum e História. E meu método avaliativo se baseia em três provas escritas ao longo do semestre, com dois questionários por mês. – Pausa. – Questionamentos?
O silêncio atônito continuou. Aquela cadeira era desumanamente rigorosa, mas ninguém se atrevia a questionar por medo de ser, pior do que Mu, humilhado na frente de sessenta alunos.
Amrita ainda tentou balbuciar algumas palavras, mas de tão nervoso, acabou permanecendo calado. Shaka ainda encarou o aluno por alguns segundos, ávido por uma tentativa de resposta, no entanto, contentou-se com seu silêncio de vitória. Deu mais algumas explicações e liberou os alunos.
A sala se esvaziava e os burburinhos, agora, eram altas conversas a respeito do que estava para acontecer naquele semestre. O rapaz tibetano, acompanhado de Misty, saiu calado a passos pesados, ainda refletindo sobre respostas que talvez nunca daria.
Mas, ah, não queria deixar aquilo barato!
XXXX
Fevereiro de 2015
Sábado
00:16
Shaka saboreava um vinho enquanto que seu colega, Kamus Chesneaux (5), terminava de redigir alguns termos de edição para o livro que estava prestes a lançar. Seu colega de longa data, era editor e revisor da maior parte de suas obras – artigos, livros, ensaios. Desde a graduação já estavam acostumados a trabalhar tarde da noite resolvendo estas pendências. Era até melhor para conversar e rever algumas notas de rodapé.
- Estou quase terminando, Shakya. Tenho certeza que a Basiléia vai comprar muitos exemplares. Não acha? – Versou o rapaz, vidrado no computador, um cigarro no canto da boca. Kamus era professor de literatura, mas também trabalhava como editor e tinha alguns romances guardados no fundo da gaveta. Conheceu o professor Shaka numa festa de lançamento do livro de Saga Vetimiglia.
- Eu acho que é o mínimo que eles podem fazer por mim. – Martelou o loiro, sentado na poltrona, observando o céu escuro na varanda. Athenas belamente adormecida. – Não fosse a minha capacidade, o departamento de filosofia teria fechado na última crise.
- Deveras plausível. – Comentou.
- A aula hoje foi boa. – Prosseguiu. – Aparentemente aqueles estudantes vão sofrer um pouco na minha mão. Mas gosto disso. Ao menos, aprenderão algo mais interessante do que Spinoza e Hegel. – Mais uma pausa. Um gole no vinho, e um sorriso. – Farei aqueles gregos odiarem Sócrates.
- Acha que vai conseguir isso? Estamos na Grécia, Shakya. Não na Basiléia. – Duvidava Kamus, digitando rapidamente. – E mais: O mundo não se resume aos Neonietzscheanos.
- Não acredito que você ainda duvida que eu possa fazer isso, Chesneaux. – O loiro se ergue. – Já terminou por aí?
- Mais umas cem palavras e basta.
- Ótimo.
Um pouco de silêncio se fez. Quando terminou de digitar, Kamus deu um suspiro, satisfeito pelo seu trabalho. Jogou a bituca de cigarro no cinzeiro e ligou a impressora.
- Você e professor Vetimiglia conversaram? – O ruivo girou a cadeira na direção do doutor, que permanecia voltado para a varanda do apartamento.
- Não muito.
- Acha que ele ainda irá procura-lo? Vocês não conversam desde quando deixou a Suíça. – O escritor olhava para Shaka como um psiquiatra olha para o seu paciente. As mãos cruzadas sobre as pernas, um tom avaliativo na voz rouca.
- Com toda certeza. – Pausa. O filósofo passou a mão nos longos cabelos loiros, começava a distanciar-se. – Ele ainda crê que temos pendências.
Kamus se levantou. Deu alguns passos até Shaka, encostando os dedos frios no ombro alvo. – E você tem pendências?
- Não com ele. – Sibilou, frio.
CONTINUA...
1 Esse apelido "Shakya" não é fui eu quem inventou, mas a AriesSin.
2 Livro de Nietzsche
3 Idem
4 Idem
5 Pronuncia-se Chênêu (Com aquele biquinho no "êu")
