.:: Passado ::.

Meus olhos se cansam das fortes luzes coloridas que insistem em piscar no ritmo da música agitada que tanto odeio. Ainda não sei o que me leva alugares como este. É sempre a mesma coisa. Eu, o bar, um drinque que nunca é tocado, e eu simplesmente a observar os humanos a se debaterem em gestos bizarros em uma pista de dança. Nunca me alimento desse tipo de coisa, mais um motivo para nunca chegar perto desses lugares, e mais uma indagação do por quê eles me fascinam tanto.
Mas aquela noite não seria como as outras. Algo no ar me dizia isto, esse mesmo algo me foi comprovado, quando percebi, um ser, um Rapaz, deveria ter mais ou menos minha idade mortal, a se aproximar. Percebi que ele não era muito diferente de mim, e começei a temer não ter vasculhado o lugar antes de me ceder ao brilho dos humanos à pista. Sua pele, tão alva quanto a minha estava sobre os mesmos cuidados para que mais ninguém percebesse isso. Ele continuava a vir em minha direção, e o mais estranho, é que, apesar deste fato me incomodar, nada veio a minha mente que me fizesse preparar um possível contra golpe, ou uma saída sem que ele percebesse. Eu simplesmente fiquei e esperei que ele chegasse mais perto. Algo nele me mantinha calma, algo me era familiar, e eu mesma estranhava esse sentimento. Dispercei meu olhar e voltei-me a pista de dança, cada vez mais agitada. Percebi quando ele, quuase a minha frente, fez em silêncio, um gesto perguntando se me ofenderia se ele sentasse no banco vago a meu lado. Nada fiz nem respondi. Apenas continuei a me concetrar na bela harmonia da massa que se contorcia na pista com uma certa sutileza.

- Como sempre o silêncio a acompanha não é mesmo Juditte ?

Ninguém nesse mundo conseguiria entender o que senti naquele momento. Eu sei ke esse é meu verdadeiro nome, mas só o sei por que mim foi contado por meu criador. Desde que me tornei o que sou, não tenho lembranças de meu passado mortal, apenas lembro dos sentimentos, mas de nenhum acontecimento, rosto ou nomes. E de alguma forma, ouvir aquele rapaz pronunciar o fora meu nome até mesmo no princípio de meus anos imortais, me transmitiu um senitmento tão melancólico quanto familiar.
Nada respondi. Apenas retirei meu olhar atento das pistas e o levei ao chão, como um garota faz ao receber sua primeira delcaração. Me senti encabulada e não sei o por quê.

- Não sei se você se entregou ao silêncio ou ele tomou-a do mundo. Nem parece a mesma menina faladeira que passava a vida a fazer poemas.

Cada vez mais as palavras dele me davam uma mistura de receio com entusiasmo. Pela primeira vez em décadas, eu encontrara alguém que parecia conhecer minha vida mortal, mas como ter tanta certeza de que ele falara a verdade ? Não haveria nada que me fizesse crer que as palavras eram verdadeiras além do sentimento que me fazia achá-lo familiar, e de alguma forma verídico.
Eu tinha medo de suas próximas palavras. De certa forma, gostava do fato de não lembrar-me de nada, pois se eu possuísse tais memórias, isso apenas me doeria mais.

- Por favor, abandones esse silêncio, apenas comigo.

Acabei por ceder, de alguma forma a sua vontade

- Por que falaria se não sei quem és ? Se por um acaso desrespeitei-te ao entrar aqui, posso me ir sem problemas.

Fiz menção de levantar-me e na mesma hora ele pediu que não me fosse. Que não era ele senhor daquele lugar.

- Apenas gostaria de conversar. Parece que a muito não fazes isso....

Novamente me entreguei ao silêncio. Por agora suas palavras me feriram e eu não tinha a mínima vontade de revidar.

- Não posso crer que realmente não tens nenhuma memória de sua vida mortal. Eu achava que era alguma mentira. Não lembras mesmo de mim não é ?

Aquilo me deixou com um pouco de ressentimento. A única pessoa que soubera tudo isso sobre mim seria meu Senhor, e acredito que Reiki, apesar de vez em quando aparecer a meu lado a procura de companhia, não faria uma brincadeira dessas. Ele gosta de ser muito direto. Ao mesmo tempo que essa opção me ia, o fato de que eu conhecera esse rapaz em vida mortal e dele agora ser um imortal me era traumatizante. Nunca fora informada por meu senhor (que tem esse costume) de que alguém próximo de mim houvera nascido para as trevas como eu. Mas o sentimento que me envolvia naquele rapaz confirmava a probabilidade sombria.

- Por favor Juditte. Por anos procurei por ti, não me diga que não lembras de mim ?

As palavras dele agora continham um bocado de tristeza e um poço de melancolia. Isso me surpreendeu, ele parecia ainda mais transparente agora, e isso me deu um certo medo.

- Talvez palavras não a façam recordar, mas sei de algo que não ousarias esquecer.

Ma ele acabara de pronunciar tais palavras, percebi o corpo dele se inclinar diante do meu e sua mão a me enlaçar pela cintura. Tive vontade de jogá-lo longe, e de sair dali mostrando-lhe indiferença, mas nada fiz. Deixei-me levar, deixei sua mão abraçar-me, sua face, tão gélida quanto a minha se aproximar e seus lábios tocarem o meu. Deixei que me beijasse. Não sabia o por que , mas permiti aquilo. Não pude compreender aquilo. O sentimento que me surgiu enquanto ele me beijava. Senti como se conhecesse aquilo, como se o houvesse sentido muitas e muitas vezes, e quando percebi, havia me entregue completamente, não era mais ele que me beijava. Éramaos nós que nos beijavámos. E então mergulhei naquele sentimento que não conseguia entender, mas algo me dizia que eu conhecia muito bem. Um lampejo me veio e quase pude sentí-lo como parte importante de meu ser que se fora, e então tive mais medo. Quando senti nosso rostos se afastarem, fiquei paralizada por aquele sentimento de nostalgia. De boca entreaberta olhava fixamente para ele, que parecia esperar de mim algum tipo de resposta. Não sabia o que dizer. voltei meus olhos para o chão, tentando buscar palavras para esclarecer o que havia acontecido, para explicar-lhe o que senti, e pedir uma explicação sobre quem ele é, e talvez sobre quem eu fui.

- Não adiantou não é... sabes que me conheces, mas não sabes nem mesmo quem és...

Quando akelas palavras bradaram em em meus ouvidos levantei minha face para encará-lo pronta a falar-lhe algo, mas tudo que encontrei foi o ar a as luzes que ainda piscavam. Fechei meus olhos. Tentei acreditar que fora um sonho, ou uma brincadeira de algum "primo" meu, mas eu sabia que agora, não havia mais ninguém como eu naquele recinto. Eu sabia que não fora uma ilusão . Aquilo havia sido real, mas me faltavam provas concretas. Virei-me para bar, decidida a pagar pelo drinque intocado e ir-me embora, quando percebi, abaixo de meu copo, um pequeno pedaço de papel.

Sinto pena de ti, fostes tragada pela escuridão e consumida pela ignorância. Estarei sempre por perto. Sempre te amerei, como sempre te Amei.

Abaixo da frase seguia uma combinação de números, que logo me deram a idéia de um número telefônico. Talvez agora eu esteje um passo mais perto de recuperar algo que nunca procurei. É estranho, e sei que tão cedo não ligarei. Mas talvez, um dia, ele me seje útil.
Paguei o drinke e me fui. Nunca havia procurado saber o que eu perdi, para que não pudesse ter saudades daquilo. Agora, o meu passado perdido se pôs a minha frente. E tudo que eu quero é guardá-lo debaixo do tapete como se fosse uma carta fechada, que permanecerá fechada até que eu tenha a coragem necessária para abri-la.