Capítulo 1: "O tão esperado dia"
Duas semanas se passaram desde que Ginny voltara para casa. Quatorze dias infernais, na sua opinião, em que teve que aturar os olhares e indiretas de Rony. O irmão parecia sinceramente ofendido e irritado ainda – mas não soltara um pio sobre Malfoy desde o expresso de Hogwarts. Depois daquele escândalo, os dois não trocavam palavras que não fosse bom-dia ou boa-noite. Ou era ele entrando em seu quarto de repente e "Quando vai contar pra eles, Virgínia?". Não aguentava mais. Então decidiu. Seria no próximo sábado que contaria a verdade, papai estaria em casa e não teria que explicar duas vezes tudo.
Infelizmente, Harry e Hermione chegaram na sexta-feira. Pra piorar a situação, parecia que todos os irmãos Weasley tinham resolvido passar em casa naquele fim-de-semana. Ela não esperava ver Gui e Carlinhos tão cedo. E Fred e Jorge geralmente dormiam na loja de logros. Mesmo assim, Ginny, como uma boa grifinória que era, não deu para trás.
Acordou naquele sábado, pensando que finalmente chegara o dia em que tiraria o anel do cordão ao seu pescoço, para começar a usá-lo no dedo anelar da mão direita, como aliança de compromisso. Suspirando, desceu para tomar café, onde todos se reuniam.
- Bom-dia, querida! – exclamou Molly. – Sente-se que eu sirvo você.
Sorriu para a mãe. Harry lhe lançou um olhar de esguelha, depois voltou a atenção para o prato. Ele ainda parecia perturbado com o fato dela e Draco estarem namorando. Ginny tentou não pensar nisso, concentrando-se em apreciar a comida da sua mãe e pensando que momento do dia seria o apropriado para falar.
Ficou em seu quarto lendo durante a tarde, até ser interrompida por batidas á sua porta.
- Entre – disse, sem tirar a atenção do livro.
Era o trio.
- Então, Virgínia – começou Rony, naquele tom irritante. Ela revirou os olhos.
- O que você quer? – perguntou encarando os três.
- Já decidiu quando vai falar com eles? – perguntou o irmão.
- Hoje depois da janta, por quê?
- Porque será? – ironizou Hermione. – Porque seu irmão é um completo maluco, isso sim! – os dois se encararam assassinamente.
- Na realidade eu vim aqui para te convencer a largar isso de mão – disse Rony, ignorando Hermione. – Termina com o Malfoy e toda essa história fica entre nós.
Ginny deu uma gargalhada estridente.
- Você só pode estar brincando! – disse, levantando-se da cama.
- Se acalmem vocês dois – disse Harry, intermediando a situação. – Não vão começar a brigar de novo.
- Eu te disse que ela ia rir da sua cara – disse Hermione, rolando os olhos.
Rony ficou com as orelhas vermelhas. Saiu do quarto repentinamente, seguido da amiga. Ficaram Harry e Ginny. Sentiu seus olhos verdes nela.
- Só não esqueça que ele é um Malfoy – disse Harry preocupado.
Encararam-se.
- Eu sei disso, Harry – falou. – Mas não podemos julgar as pessoas pelo sobrenome, não é mesmo? Afinal, Sirius era um Black.
I can deal with some psychic pain
If it'll slow down my higher brain
Veins full of disappearing ink
Vomiting in the kitchen sink
Disconnecting from the missing link
Ter tocado no nome do falecido padrinho e feito tal comparação fez Harry ficar calado por um longo tempo, apenas encarando a ruiva.
This is not my life
It's just a fond farewell to a friend
It's not what I'm like
It's just a fond farewell to a friend
Who couldn't get things right
Fond farewell to a friend
Ginny receou que tivesse de algum modo ferido os sentimentos dele. Mas o garoto já estava machucado havia tempo.
I see you're leaving me and taking up with the enemy
The cold comfort of the in between
- Mesmo assim, Ginny – disse ele. – Por favor, tenha cuidado.
- Terei, Harry, não se preocupe.
Assim, trocaram sorrisos fracos e ele saiu fechando a porta. A ruiva atirou-se na cama, suspirando.
"Droga, Harry".
Foi com o último pingo de coragem acumulado que Ginny desceu as escadas para jantar. Rony a encarou com os olhos malévolos e apertados, como se duvidasse que realmente fosse contar. Isso só atiçou mais a vontade dela de esclarecer tudo. Estavam todos os Weasley, inclusive Lupin e Tonks.
- Mãe, eu queria contar uma coisa – murmurou para ela.
- Sim, querida, fale! – exclamou.
- Depois do jantar, pode ser?
- É, mamãe, você mal pode esperar – alfinetou Rony.
Trocaram olhares breves, mas assassinos. Então, quando todos terminaram, Molly pediu que fossem para a sala. Ginny sentiu um frio na barriga tão forte que por um momento achou que pudesse vomitar a janta. Enquanto conversavam descontraídos, Ginny retorcia as mãos no colo. Dividia o sofá com Hermione, que sentará do seu lado, e Harry. Rony tinha os braços cruzados no peito e sentava com Fred e Jorge.
- Ginny tem algo para contar, não é? – falou alto o irmão, chamando a atenção de todos.
- Tenho sim – disse, nervosa.
- Fale, querida – sorriu a mãe, reconfortante.
Todos os olhos parados nela. Respirou fundo. Era agora ou nunca.
- Bom, eu – uma pausa. – Eu estou namorando Draco Malfoy.
Fred e Jorge caíram na gargalhada, jurando que era uma brincadeira. Mas depois que perceberam que era os únicos rindo e que todos tinham o rosto retraído numa expressão confusa, pararam. Molly tinha os olhos levemente arregalados, como se implorassem que fosse uma piada.
- Você está brincando, não está? – garantiu Fred.
- Claro que está! – disse Jorge. – Está...?
Sem encarar ninguém, Ginny balançou a cabeça negativamente. Um silêncio mórbido e desconfortável recaiu em todos. Pra piorar, parecia que ninguém tirava os olhos dela.
- É sério isso, Virgínia? – ouviu Gui pronunciar-se.
- É sim! – exclamou Rony. – Ela me contou no Expresso e ainda por cima saiu de mãos dadas com ele!
- O quê? – exclamaram o resto dos irmãos.
- Que tipo de encenação é essa? – Molly levantou-se, nervosa.
- Não é encenação, Sra. Weasley – disse Hermione. – É verdade.
- Neville os viu correndo juntos pelos corredores no dia da Formatura! – exclamou Rony, apontando.
- Dá pra calar a boca? – retrucou Ginny, irritada. – Sim, é verdade.
Molly colocou a mão sobre a boca e os gêmeos deixaram os queixos caírem ao mesmo tempo.
- Estamos namorado desde Abril – disse ela. – Mas começamos a sair no Dia dos Namorados do ano passado.
- Como?!
- Por quê?!
- Ele te obrigou?
- Draco não me obrigou a nada! – exclamou ela. Ter tido o primeiro nome dele fez alguns prenderem a respiração, espantados. – Ele apenas me fez um favor e eu retribuí saindo com ele.
- Então ele usou de chantagens – disse Carlinhos.
- Não! Não foi chantagem, eu me ofereci para retribuir o favor!
- E que favor foi esse, posso saber? – perguntou Molly com as mãos na cintura.
- Não vem ao caso, ele me ajudou em uma situação, só isso – respondeu.
Não falaria de jeito nenhum que tinha sido salva de um Harry bêbado por Draco.
- Mesmo assim! – exclamou Fred. – Por que diabos está namorado com ele?
- Porque sim! – disse Ginny. – Ele me ama!
- Ah, ta e você acreditou nele? – disse Rony, erguendo uma sobrancelha.
- Eu sei que é verdade – falou Ginny, voz embargada. – É não é pra você que eu tenho que provar isso.
Silêncio.
- Eu vou pra cama.
- Eu também.
- É.
- Boa noite.
Assim, um a um, os irmãos saíram da sala em direção à escada e seguiram para seus quartos. Harry e Hermione seguiram Rony. Lupin e Tonks despediram-se constrangidos e partiram. Ficaram apenas os pais. Arthur tinha permanecido calado todo o tempo. Apoiava o cotovelo no braço da poltrona e a cabeça na mão. Seus olhos estavam sem foco, ele parecia cansado e perdido em pensamentos. Molly também tinha se calado e estava de pé, mão na boca.
- Pai – disse ela, aproximando-se e ajoelhando-se em frente a ele. – Me desculpe.
Sentiu os olhos molhados. O pai lhe passou a mão pelos cabelos, encarando-a docemente.
- Você está certa que é isso que quer filha? – perguntou ele.
- Sim – respondeu Ginny sem hesitar. – Eu sei que ele gosta de mim, papai.
Uma pausa.
- Eu o quero aqui fim de semana que vem – disse Arthur, sem hesitação. – Se ele realmente gostar de você, com certeza não hesitara em nos conhecer, certo?
Ginny, um tanto pasma, assentiu.
- Sim, vou mandar uma carta para ele o quanto antes – disse ela.
- Ótimo, filha. Agora vá pra cama que está ficando tarde.
Draco sentava-se no batente largo da janela do seu quarto. Observava o céu azul de verão e o jardim de grama bem verde de sua casa. Ele ouvia um vinil em seu LP encantado para passar o tempo. Mesmo sendo uma banda trouxa e seu pai não gostando que ele ouvisse, nunca deixou de escutar de Beatles durante as férias.
Nessas primeiras duas semanas em que voltara de Hogwarts, tinha pensado em Ginny o tempo todo e em como ia falar para seus pais. Lúcio andava muitíssimo bem humorado por Draco ter acabado seus estudos, disse que ele poderia ficar de férias pelos próximos meses antes de tomar o próximo passo em sua vida.
O garoto suspirou.
"Oh, darling.
Please believe me.
I'll never do you no harm.
Believe me when I tell you,
I'll never do you no harm."
Não conseguiria ficar sem Ginny nos próximos meses que ela estivesse na escola e ele, provavelmente trabalhando no Ministério. Pelo menos era isso que o loiro esperava que fizesse; alguma coisa limpa. Mas voltando à namorada – tinha que contar logo para seus pais, assim poderia vê-la bastante durante as férias, sem precisar inventar desculpas.
Então, viu um pontinho ao longe se aproximando no céu. Seria uma coruja? Colocou os pés no chão e espreguiçou-se. Voltou a encarar o ponto marrom que ficava cada vez maior. Agora tinha certeza, era uma coruja e vinha em direção à sua janela.
"Ginny." Pensou, cantos da boca se curvando num sorriso.
Quando a coruja adentrou seu quarto, pousou na cama. Draco pegou a carta rapidamente e ela foi embora. Ao ler a carta, seu queixo foi caindo e suas sobrancelhas subindo. Nela, dizia que Ginny havia contado para os pais e família no dia anterior e que ele devia ir lá para conhecê-los no próximo sábado – faltava menos de uma semana. Dobrou a carta – após ler o "PS: Te amo" que havia no final – e ficou parado olhando pela janela. Sabia que devia contar mais cedo possível para os pais
Pela primeira vez ficou nervoso. Agora estava sob pressão. Se não contasse, não poderia ir. E se não fosse, estragaria sua chance de causar qualquer impressão boa que pudesse. Afinal, suas intenções eram sim boas, mas o fato de ser quem era e filho de quem era não ajudava em nada.
Suspirou e guardou a carta na gaveta de se criado-mudo, tentando pensar em uma maneira prática de fazer o que devia.
- Estou tão feliz que veio – disse Ginny para Colin, enquanto fechava a porta de seu quarto. – Meus últimos dias têm sido completamente estranhos e horríveis.
Os dois sentaram-se na cama e abraçaram-se.
- Ninguém me olha na cara nem conversa comigo direito! – disse ela, frustrada.
- Ai, Ginny – lamentou Colin. – Que droga isso.
- Sim – suspirou ela. – Não agüentava mais, precisava de um ombro amigo.
- Por isso estou aqui! – sorriu ele.
- Preciso da sua ajuda – disse ela.
- Para?
- Quero cortar o cabelo – falou.
- Capaz! – exclamou ele.
Ginny levantou-se e encarou-se no espelho. Passou a mão pelas pontas cacheadas que chegavam até sua cintura.
- Não agüento mais esse cabelo – disse. – Está muito comprido.
- Mas Kiddo, ele é lindo.
- Eu sei! Mas estou com calor – respondeu, parando na frente do amigo.
Ele fez uma cara feia.
- Se eu não gostar, é só tomar alguma coisa para ele crescer rápido – sorriu Ginny.
- Certo – respondeu Colin, ainda não satisfeito. – Mas saiba que seu cabelo é lindo e você o está matando!
Ginny deu boas gargalhadas, coisa que não fazia há dias.
- Que bom que veio, Colin.
Draco entrou na sala de música dos Malfoy. Era ampla e iluminada por janelas grandes, havia no centro um piano de cauda negro – seu pai costumava tocá-lo. Tinha seguido o som do violino melancólico de sua mãe até ali. Pretendia contar antes para ela, já tinha planejado uma maneira. Entrou em silêncio para não atrapalhar a concentração dela. Narcisa Malfoy estava de frente para uma janela, fazendo tais movimentos que o violino parecia chorar.
O filho esperou ela terminar a música para chamar sua atenção com palmas.
- Draco – sorriu ela, virando-se.
- Bom dia mamãe – disse ele, aproximando-se para um abraço. – Adoro ouvir você no violino.
- Obrigada, querido. Quer um chá gelado?
- Pode ser – respondeu, enquanto a mãe estalava os dedos e um elfo aparecia, curvando as costas.
- Traga chá gelado e bolo – disse ela.
- Sim, senhora – disse o elfo e segundos depois voltava com a bandeja.
Os dois sentaram-se a uma mesinha perto de da janela. Era pequena, redonda e de metal, com apenas duas cadeiras, uma de frente para a outra. Com um estalo, o elfo saiu os deixando sozinhos novamente e Draco respirou fundo, sabendo que era a hora que deveria abrir o jogo de uma vez.
- Mãe, eu precisava te perguntar uma coisa.
- Sim, querido?
Draco beber um gole – sua garganta estava seca.
- Sabe a rosa que a senhora me deu? Então, eu queria saber se você não tem outra aliança para me dar...
- Como assim, Draco? – ela o encarou atentamente.
- É que dei a rosa para uma garota – disse ele, retorcendo as mãos sobre o colo, debaixo da mesa, longe dos olhos da mãe. – E saiu um anel de dentro dela
- Sério, filho? – disse ela, olhos brilhando felizes. – Pra quem?
- Minha namorada.
- Oh, querido – disse a mãe, levantando-se e abraçando Draco.
Ele sorriu nervoso, cabelos loiros dela batendo contra seu rosto levemente. Narcisa sentou-se novamente.
- E quem é a escolhida, querido? Sabe que está rosa que lhe dei é muito precisa... Só dá a aliança para a menina certa!
- Er, bom... – ele fez um pausa, tomou vários goles de chá, tossiu e respirou fundo. – Bom, ela se chama Virgínia.
- É? Que nome lindo...
- Virgínia Weasley.
Draco apenas observou sua mãe paralisar, com o copo em direção à boca, olhos perplexos e confusos. Mas depois ela se recompôs, pousou o copo na mesa e o encarou, séria. Não desviou, mesmo tendo vontade.
- A caçula de Arthur Weasley?
- Sim.
- Seu pai já sabe disso?
- Não.
Uma pausa.
- Tenho que ir à casa dela fim de semana que vem.
- Por quê?
- Eles querem me conhecer.
- Então é sério mesmo?
- Sim. Muito.
Outra pausa.
- O anel saiu da rosa então...
- Sim, saiu.
Filho e mãe ficaram se encarando sem demonstrar emoção nenhuma, o que não era comum entre eles. Mas a situação era crítica.
- Bom, acho que você devia falar com seu pai.
- Eu posso ir?
- Claro que pode. Desde que volte inteiro para casa.
- Eu sei me defender, não vou brigar com ninguém.
- Você sabe muito bem quem são os Weasley, Draco.
- Eu sei bem que é a Ginny, mãe.
O comentário firme e forte dele fez a mãe abrir um sorriso fraco e passar a mão pelos cabelos loiros.
- Você vai contar pro seu pai quando?
- Não sei.
- Eu não vou fazer isso por você, Draco.
- Eu sei, mãe. Eu vou contar, não se preocupe.
- Certo. Não é bom esconder as coisas dele, você sabe.
- Sim.
- Espere quando ele estiver de bom humor.
- Pra estragar o humor dele?
Narcisa riu.
- Então você sabe no que se meteu não é?
- Sei e pensei muito sobre isso antes de tomar alguma atitude que levasse a qualquer relacionamento sério.
- Que bom que sabe o que quer – ela sorriu e Draco se sentiu seguro pra retribuir.
- Eu gosto dela, mãe, de verdade. Isso não é nenhum tipo de afronta.
- Eu sei, querido. Se não gostasse dela de verdade, o anel nunca teria aparecido.
Nota da Beta-Reader: Então pessoas. Nova fase, nova fic. É com um grande prazer que começo a betar essa nova fase. Poder acompanhar ela desde o princípio Ler os comentários, saber o que vocês estão achando. Nossa querida autora se esforça mesmo. E ela consegue nos deixar ansiosos a espera de um novo capítulo, uma nova aventura, ou um romance. Hmm.
Ela já iniciou bombasticamente. Pelo menos eu achei. Já falei que adoro a Narcisa?
Reviews, sim.
Nota da Autora: reviews?! hahahaha ;)
