Maçã na Boca da Serpente
Personagens: Lily Evans, James Potter, Remus Lupin, Sirius Black, Peter Pettigrew.
Ano: 1976 – sexto ano
Sinopse: Lily sempre foi amiga de Sirius, sempre gostou de Remus, sempre compreendeu Peter e sempre, literalmente, sentiu-se confusa perto de James. Sirius era o ombro amigo para todas as horas. Remus era seu príncipe encantado. Peter era seu protegido. Mas James, oras ele lhe parecia um estranho, oras um irmão e algumas poucas vezes, estas sendo as que mais a incomodavam, uma paixão.
Capa: ver perfil
Prólogo
Trilha sonora sugerida: It's been a while - Staind
Aos meus próprios olhos, acho-me como uma mulher dissimulada e vil. A culpa é dos sentimentos. Especialmente de um, o amor. Este nobre sussurro que faz corar-nos as bochechas e passar noites em claro, sonhando com algo que para o mundo possa soar absurdo, mas que apenas para você, apenas naquele momento, soe como se fosse o mais óbvio. Se fosse algo, como se existisse desde sempre, se fosse alguém, como se fosse o ser mais necessário para tornar a sua respiração algo digno de se ouvir.
Todos nós temos um ponto fraco, o famoso calcanhar de Aquiles. Até os olhos mais frios temem que suas chamas se apaguem, sendo estas escassas ou não. Ele era o meu ponto fraco. Era. Merlim, o que estou dizendo? Ele é o meu ponto fraco. Temo que sempre o será. Mas isso não mais me abala. Há um certo tempo acostumei-me com seu impacto em mim. Acostumei-me com a falta de ar, de fôlego, toda vez em que sentia seus olhos, sua respiração, seu toque.
O pecado tem nome, acho que cito isso de algum lugar. James. James Potter. Sim, e sou sua maior adepta. Deveria me envergonhar por isso, mas como o admiro secretamente, acho que a culpa a ser carregada não tem assim tanto peso. Ele não é um deus grego, nem nada do tipo. Não é um gênio, nem o homem mais engraçado do mundo. Não é um conquistador com um charme inabalável. Contudo, não posso chamá-lo de James, apenas. Ele é leal aos seus amigos, uma de suas características que mais admiro. E não tem vergonha de ser quem é.
Poderia descrevê-lo em termos piegas citando seus olhos cor de terra que acabou de ver chuva, lamacentos; seus cabelos cor de tronco do velho salgueiro, sempre dispersos ao longo de sua fronte; seus lábios finos levemente arqueados em tom de zombaria; sua pele com tonalidade branco róseo que sempre se escurece no verão; seu porte semi-apolônico combinado ao andar seguro de passos largos; a sonoridade de sua voz próxima a um doce acorde de violino; seu riso expansivo e contagiante, mesmo quando é por motivos tolos; sua presença reconfortante e ao mesmo tempo desoladora.
Defino o amor: estar disposto a morrer e viver por outro. Pois o amo. Amo-o pois. Mas não tenho coragem em prosseguir com minhas declarações para além do papel e da minha mente. Não só abalaria a amizade entre ele e Remus, que infelizmente parece gostar mesmo de mim, como acabaria com nossa cumplicidade adquirida após anos de inconstantes provas de desafeto intercaladas por acordos de amizade.
James, James. O que tem de tão especial? Por que tem o dom de me confundir quando menos preciso de confusão? Por Merlim, James Potter, por Merlim.
