Disclaimer: Percy Jackson e os Olimpianos, bem como seus respectivos personagens, não me pertence, e sim a Rick Riordan. Posto essa fic sem nenhum fim lucrativo, e apenas por diversão e entretenimento.

N/T: Esta fic também não me pertence, ela é uma tradução da fic "La Última Noche", de Blue Chase. A autora me autorizou a traduzi-la.


A ÚLTIMA NOITE

Ela revirou-se na cama outra vez. Não conseguia dormir. Não podia evitar que o medo e a adrenalina a corroessem por dentro. O receio de que a luta estivesse sendo em vão, o receio por ter que enfrentar o seu antigo amor, o receio de que morressem mais companheiros do que os que já tinham morrido, e, principalmente, o receio (mais do que ela jamais iria admitir) de que ele morresse...

Ela começou a ficar com dor de cabeça. Tentou fechar os olhos para conseguir dormir. Precisava descansar para estar preparada para a luta. O dia seguinte seria muito longo.

Tinha vontade de poder abraçar alguém. Bem, para ser sincera consigo mesma, tinha vontade de abraçar a ele. De repente, foram escutadas algumas batidas na porta. Àquela hora, quem poderia ser ? Todos estavam dormindo...

- Sim ? - perguntou ela, tentando não tremer a voz, ao mesmo tempo que segurava firmemente a sua faca.

A cabeça de Percy, com os cabelos despenteados e a camisa laranja e meio surrada do acampamento, surgiu pela porta entreaberta.

- Percy ? - ela relaxou e colocou novamente a adaga debaixo do travesseiro – O que você está fazendo aqui ? Você deveria estar dormindo...

- Posso entrar ou não ?

- Sim... eu acho.

- É que eu não consigo dormir...

Annabeth suspirou, voltando a se deitar e virando a cabeça para olhá-lo enquanto ele se aproximava dela.

- Para ser sincera, eu também não. Sente-se, se quiser.

Percy sentou-se na beira da cama e olhou para ela.

- Como está o seu ombro ? - perguntou ele, olhando-a.

- Está bem... já não dói mais.

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes e se olharam. Então Percy se levantou.

- É melhor eu ir embora - ele parecia preocupado, como se quisesse dizer algo, mas não se atrevesse.

Annabeth girou a cabeça e viu Percy caminhar até a porta. Ela não entendeu muito bem o que sentiu naquele momento, mas enquanto olhava para o jovem dirigindo-se à porta, com o seu andar característico e as mãos nos bolsos da calça. Ela não sabia exatamente o que a levou a falar, mas não conseguiu se conter, e disse:

- Espere !

Percy deu meia-volta e olhou novamente para ela.

- Bem, é que... eu... - a mente dela trabalhava a mil por hora naquele momento, queria apenas inventar algo para que ele não saísse pela porta - Eu tive um pesadelo, e... não quero dormir sozinha. Você pode ficar. Se quiser - disfarçadamente, ela olhou-o de relance, para ver a sua reação.

- Ficar ?

- Sim, bem, é que...

- Tudo bem.

- Eh ? Tudo bem, o quê ?

- Você não me disse que eu podia ficar ? - perguntou ele, confuso.

- S...sim, é claro.

- Então tudo bem, eu fico.

- Tudo bem.

- Tudo bem ?

- Ce..certo.

- Está bem.

Depois dessa conversa de idiotas, ambos ficaram se olhando por alguns instantes e depois puseram-se a rir.

- Então eu fico.

- Está bem - respondeu ela, sorrindo, vendo Percy deitar-se ao seu lado.

Ficaram em silêncio por um instante, ambos estavam olhando para o telhado, cada um com o seu próprio pensamento.

Nenhum dos dois conseguia acreditar que estavam deitados na mesma cama.

- Ei, e... como você está indo com a sua família ? - perguntou Percy para puxar assunto, mais do que qualquer outra coisa. Estava nervoso por estar ali. Por estar ali com ela.

- Então... eu acho que não muito bem.

- Por quê ? - Percy girou a cabeça para olhá-la, mas ela apenas olhava para o teto, muito séria.

- Não quero falar disso- respondeu ela, cortante, enquanto virava-se na cama para dar-lhe as costas. Pôs uma mão sobre a babaça.

- OK... como sempre - murmurou, aborrecido, o jovem.

- O quê ?

- Bem, isso, você sempre diz "Não quero falar disso" e se cala, parece mentira que nós somos amigos há tanto tempo. Eu quase não sei nada sobre você...

Percy parou de falar e ficou muito sério, com o cenho ligeiramente franzido, e Annabeth, por sua vez, também estava calada, pensando no que Percy tinha lhe dito. Percebeu que ele tinha razão. Ela sempre tendia a fechar-se dentro de si mesma e não confiar em ninguém, mas... ora, vamos ! Percy confiava nela a tal ponto que ele era a única que conhecia o seu ponto fraco... ela não podia ser sincera com ele ? Além do mais, ele sempre a ajudava.

Ela ficou pensando em tudo isso durante alguns minutos..

- E que... quer dizer, eles tentam, não é ? Mas... - disse ela, lentamente.

- Você faz a sua parte ? - ele cortou-a.

- Como ? - Annabeth começou a virar-se lentamente, até ficar novamente de barriga para cima.

- Olhe, para que um relacionamento dê certo, seja qual for, todas as partes têm que se esforçar. Senão, não dá certo - ele olhou para ela - Você faz a sua parte ?

- Eu... bem, eu não sei... é que... é difícil, eu acho.

- Bem... há muitos anos que eles não se relacionam, não é ?

- Sim, algo assim.

- Bem... - Percy refletiu, olhando para ela - Eu acho que, se você fizesse a sua parte, o relacionamento daria certo, porque eles iriam continuar a fazer a parte deles, você entende ?

- Não sei... você acha que eles vão continuar a querer corrigir isso, depois de eu ter colocado tantos obstáculos ? - perguntou ela, preocupada, olhando-o.

Percy girou a cabeça e olhou-a por alguns instantes, e... sorriu.

- Eu faria isso... sinceramente.

Annabeth sorriu, agradecida. Era a isso que ela se referia. Ele sempre conseguia animá-la. De um jeito ou de outro. Não era a pessoa mais inteligente do mundo, mas sempre conseguia contornar as situações e fazê-la ver o lado positivo das coisas.

Annabeth ficou novamente de lado e olhou sorrindo para ele e Percy fez o mesmo, mas ele estava de barriga para cima.

Silêncio.

Novamente, cada um pensava em seus próprios assuntos.

Depois de quase cinco minutos, Annabeth estava quase adormecida, já com os olhos fechados, e achava que Percy também, mas...

- Eu estou com medo... - disse Percy, foi um murmúrio quase inaudível, a princípio pareceu ter passado despercebido, mas fez com que o coração de Annabeth de enchesse de temor.

Percy realmente tinha dito aquilo ? Medo. Annabeth odiava aquela palavra. E odiava o que ela implicava. E odiava mais ainda que aquela palavra saísse dos lábios do seu... de Percy. Ela abriu os olhos e olhou para ele.

- De quê ? - perguntou a jovem, em um murmúrio.

- De... de estar levando todos para uma morte certa...

Annabeth olhou-o com ternura. Percy parecia sempre tão... valente, com tanta coragem, tanta ousadia. Era sempre ele quem a reanimava a quando ela ficava insegura por alguma razão ou tinha qualquer problema. Ela nunca imaginou que poderia ser ele a estar com medo.

- Por que você está dizendo algo assim, Percy ?

- Tenho a sensação de que tudo isto, tantas mortes, tanto sofrimento, tanto sangue derramado... acho... acho que pode ser algo inútil... uma luta em vão, que acabe em mais mortes...

- Pois não devia.

- Não ?

- Não, você é o líder de tudo isto, e não deve hesitar. Além do mais, você está se saindo muito bem.

- Você acha ? - Percy olhou para ela, esperançoso - Você acha que estou me saindo bem ?

- Sim, Percy. Você está se saindo muito bem - Annabeth sorriu-lhe com ternura.

Não sei... é que... bem, eu tenho a sensação de que isso não é tudo... tenho a sensação de que Cronos não nos mostrou nem a terça parte do que é capaz de fazer... e veja as mortes que já foram causadas...

- Bem... para ser sincera, eu também venho tendo esta sensação... tenho o pressentimento de que o pior nos espera, amanhã... mas, Percy... aconteça o que acontecer, eu continuo confiando em você, e sei que, haja o que houver, as decisões que você tomar serão corretas... Percy, com apenas onze anos, e mal tendo acabado de saber que era um meio-sangue, você entrou e saiu do inferno, levando atrás de si duas crianças que levavam a cabo todas as suas decisões, e nós sobrevivemos - Annabeth sorriu e Percy também, com certa melancolia - Então, eu tenho certeza de que nós vamos sair vivos desta...

Annabeth se levantou, ficou sentada na cama e com as pernas ainda cobertas pelo lençol. Ela olhou para seriamente para ele, e depois sorriu.

- Levante-se.

- O quê ?

- Percy, levante-se. Confie em mim - Percy obedeceu-a e ficou de frente para ela.

- O que há ?

- Percy... sabe por qual razão eu sei que tudo isto vai acabar bem ? - perguntou ela, aproximando-se um pouco dele. Ele olhou-a interrogativamente - Porque eu não costumo confiar em pessoas que acabam mostrando-se inúteis...

Percy franziu levemente o cenho, sem entender a frase. Annabeth sorriu. Ela adorava aquela expressão.

- Eu confio em você. Confio em você, e, por isso, sei que tudo vai sair bem.

E, após dizer isso, ela aproximou-se dele e o abraçou. Passou-lhe os braços pelo pescoço e escondeu a cabeça no vão entre o pescoço e o ombro dele.

Percy, a princípio, ficou paralisado, mas depois passou-lhe os braços pela cintura e abraçou-a firmemente. Annabeth lhe dissera que confiava nele, o fez sentir-se muitíssimo melhor. Ela confiava nele, e isso significava não tanto que tudo estava bem, mas que tudo iria melhorar. Ela confiava nele, e agora estava abraçando-o com força e com a cabeça apoiada no seu ombro, e isso dava-lhe forças para seguir adiante e para suportar tudo o que pudesse vir pela frente.

Eles continuaram se abraçando até que os braços de ambos começaram a ficar dormentes. Quando de separaram, olharam-se nos olhos e, só então, ele segurou-a pelo queixo e beijou-a. Foi um beijo sincero e profundo não muito longo, mas o suficiente para que pudessem saborear os lábios um do outro. Os de Annabeth eram carnudos e macios, e tinha um gosto doce. Em contrapartida, os de Percy eram mais finos, mas um pouco ásperos, percebia-se que estavam cortados pelo Sol e pela água do mar, seus beijos eram salgados e com gosto de mar. Faziam uma combinação perfeita. Quando se separaram, ele olhou -a amargamente.

- Este beijo tem sabor de despedida... - disse ele, franzindo o cenho, sem soltar-lhe a cintura.

Annabeth, ainda com as suas mãos no pescoço dele, unindo as suas testas, respirando fundo e olhando-o seriedade, pensou por um momento e depois respondeu:

- Para mim, tem sabor de motivação para continuar vivendo...


N/A: Bem, fazia tempo que eu não postava nada e eu queria escrever, além do mais eu estava há algum tempo dando voltas com isto. A princípio, ia ser apenas uma oneshot, mas dentro de alguns dias, eu irei postar o segundo capítulo (o último), que será depois da batalha. Vai ser uma two-shot. xD