COVARDE

'vamos proteger este mundo', foi o que você me disse.
você mentiu Haru. Não vou salvar o mundo, pelo contrário. Eu vou destruir o que mais importa. Vou destruir o herói, o salvador do mundo.
vou destruir você.
engulo as lágrimas, e tento segurar o bastão com firmeza. Até pra isso sou miserável, minhas mãos tremem e minhas lágrimas ainda descem por minha face.
'eu te amo' foi tudo o que consegui dizer. Ouvi sua resposta, e me senti ainda pior que antes.
por quê?Tanto tempo perdido, tanto sentimento desperdiçado, tanto amor que poderia ser vivido...
sufoco outro soluço antes de invocar o etherion.
e tudo se resume a uma grande explosão.
'sou miseravelmente covarde Haru... Perdoe-me'.
e minha mente segue a explosão, com um intenso branco.

Que lugar é este, me pergunto... Por que tanta destruição?
Escuto tosses, distantes e me assusto com um estranho inseto que segurava um colar.
'Elie, você... '
Elie... Quem é Elie? Por que estou machucada? Por que não me lembro de nada?
Pavor, isto é tudo o que domina minha mente, além do branco.
Um rapaz de cabelos negros e com muitas correntes no pescoço, e tão ferido quanto eu estou, se aproxima de mim.
Reúno coragem, olhando pra ele e não o reconhecendo, pergunto 'ah... Quem... É você?'
vejo o rosto dele se contorcer... Reconheço a dor. Antes de ver as lágrimas rolando pela face do estranho rapaz, eu viro o rosto. 'e aqui? O que é?'
escuto a voz sufocada em lágrimas 'Elie... '
será que eu sou Elie?Sinto que meu rosto está molhado... Será que também chorei?
Mas por que eu chorei?
Pego o cordão que o inseto ainda segurava e o seguro contra o peito. De alguma forma, sentia que aquilo era importante.
O rapaz se abaixa ao meu lado, 'consegue se levantar?'pergunta, ainda com a voz sufocada.
faço que sim com a cabeça, e ele me ajuda a me levantar. 'meu nome é Música... 'ele diz, mas percebo que ele tenta sufocar novamente o sofrimento ao ver o cordão em minha mão, acho que isso não é importante apenas para mim.
'vamos pra casa, Elie. 'ele diz, mas olha para os lados, como que para ter certeza que éramos apenas nós.
por que haveria mais alguém em um lugar tão desolado?E por que eu estava aqui?
O inseto também chorava, e agora ele parecia mais um cachorro.
peguei-o no colo, tentei tranqüilizá-lo.
Vi o rapaz parar, pegar um pouco de madeira no chão, e formar com ela uma cruz.
Amarrou-a firme, com alguma coisa que não sabia o que era. Fincou-a na terra, ela parecia fria e desolada, refleti.
Peguei o cordão e o coloquei na cruz.
Música pareceu surpreso. 'era um amigo importante?'perguntei, ele afirmou com a cabeça, desolado. 'Acho que ele precisa disso mais do que eu. '
Minha mão desliza pela madeira, até encontrar o cordão. Senti minha garganta se apertar, e uma vontade intensa de chorar.
Mas, por que chorar se nem o conhecia?
Covarde, minha mente me repreendeu.
Não sabia como agir. Como assim, covarde?Até que uma voz lá no meu intimo, respondeu com uma serenidade e tristeza aterradoras.
Sim... Miseravelmente covarde...
Música enlaçou-me os ombros com um único braço, e juntos seguimos para longe.
Seguimos para a tal casa que ele falou... Enquanto eu sentia que a minha casa ficava cada vez mais distante.