1.
Aterrissando numa terra estranha
Em que uma moça se vê perdida numa floresta
Anna não sabia dizer coisa alguma do que estava acontecendo. As memórias eram confusas ao extremo. Só o que ela sabia era que estava numa espécie de floresta, sozinha, desorientada, sem sinal de celular ou uma ideia do que estava acontecendo.
Como ela tinha ido parar ali? Ela sequer se lembrava direito do que acontecera aquela manhã. A última coisa de que se lembrava era de ter saído de sua casa. Ia pegar um ônibus. Mas para onde? Estaria indo trabalhar ou passear? Teria conseguido pegar esse ônibus?
"Como diabos vim parar naquela floresta estranha?"
Talvez ela pudesse encontrar alguém na cidade mais próxima. Sim, porque aquele lugar não parecia ser um parque. E a ausência de sinal de celular só aumentava essa perspectiva. Talvez fosse uma reserva florestal, porque parecia imensa.
Abriu a bolsa para ver o que tinha de valor. Havia o celular (inútil), carteira (inútil até voltar à civilização), escova de cabelo, uma barra de chocolate (importantíssimo), uma garrafinha de água quase vazia, chaves, mp3 + pendrive, batom, caneta e lenço de papel. "Podia ser pior", tentou se convencer.
Anna sempre fora uma mulher prática. Ela não tinha nenhum problema em tomar decisões, mas estava totalmente fora de seu elemento. A caminhada lhe faria bem, e talvez até a ajudasse a aclarar as ideias.
Desacostumada à vida da natureza, Anna logo começou a sentir as dificuldades do percurso. Os tênis que usava eram inadequados para o terreno montanhoso. Ela também não tinha água ou comida. Estava apavorada e sem lugar para ir.
Mesmo que fosse uma pessoa de cidade, Anna gostava de ler. Lia de tudo, na verdade. Então, se ela parasse de ficar apavorada, teria uma chance naquele lugar. Era só usar a cabeça.
Decidiu ir rumo ao norte. Mas como encontrar um norte sem bússola? "O sol", pensou. O sol poderia guiá-la de dia. Afinal, se fosse de manhã, o oeste seria a direção com o sol às costas. Se fosse de tarde, era só seguir a direção do sol. Aprendera isso na terceira série: o sol nasce no leste e se põe no oeste.
O problema era que as árvores eram tão altas que ela mal enxergava se sol estava alto ou baixo. Dando de ombros, resolveu arriscar.
Era realmente tarde, e a noite não demorou a cair. Ela resolveu procurar um lugar abrigado para passar a noite. Teria que ser embaixo de uma árvore.
Só então Anna percebeu como era escuro. Procurando economizar a bateria do celular, usou a luz do visor para se ajeitar. Olhou para baixo. Ela parecia estar no alto, a julgar pela inclinação do terreno.
Olhou para cima e espantou-se. A noite não tinha lua, só umas poucas nuvens que não escondiam o céu de estrelas que deixava a noite clara. Ela tentou localizar uma estrela ou constelação conhecida. Assim, poderia ao menos reconhecer se estava no hemisfério norte ou sul. Como não sabia reconhecer estrelas, porém, aquilo não a ajudaria muito. Ainda mais que o céu estava coalhado de estrelas. Mesmo que ela pudesse reconhecer alguma coisa, não poderia, com tantas estrelas.
Anna nunca vira nada tão bonito. Pena que as luzes da cidade escondiam toda essa beleza, pensou. E então seus pensamentos tomaram outro rumo.
"Mamãe vai adorar saber disso," pensou, com uma pontada de saudade. Anna morava com a mãe, que vendia trabalhos manuais como crochê e tricô. Mesmo sem ter dons manuais, Anna também não deixava de ser uma artista: webdesigner e artista gráfica, ela também trabalhava eventualmente como diagramadora de uma revista de design e decoração.
Solteira, ela não tinha filhos nem ex-maridos, só um coração desiludido e uns poucos ex-namorados sem os quais estava muito bem, obrigada. Uns poucos amigos, a melhor amiga Angela, o gato Billy e parentes irritantes em número muito maior do que gostaria de admitir, essas eram as outras pessoas de sua vida.
Não era tanta gente assim e Anna sabia. Ela gostava mesmo eram dos livros, filmes, do seu computador. Mas naquele momento, sentia falta das pessoas. Estariam sentindo falta dela? Estariam procurando? Sua mãe e a amiga Angela estariam, claro. Ela gostaria de ter alguém naquele momento com quem compartilhar suas dúvidas e medos.
"Será que aqui tem bichos, como cobras e lobos? Que lugar é esse? E como eu vim parar aqui? Como faço para voltar para casa?"
Anna ajeitou a bolsa como travesseiro e tentou fazer sua meditação para se acalmar. No fundo, rezava para o dia chegar e ela ser encontrada. Passou a noite tentando cochilar, mas qualquer barulho acordava. Ansiou ainda mais pela manhã.
Se Anna soubesse o que a esperava, não ansiaria tanto pelo raiar do dia.
NOTAS, AVISOS, DISCLAIMERS, ETC.
Disclaimer: Não são meus, pertencem a JRRTolkien e seus herdeiros, bem como a Warner Bros, PJ e ao resto da galera. Eu só brinco com eles, usando o universo dos filmes e dos livros de maneira livre. Nenhum dinheiro vem para as minhas mãos, infelizmente.
Avisos
Ortografia de nomes foi a de Tolkien e/ou de seus tradutores. Em caso de grafias divergentes, optei por usar a de Tolkien.
Dicionário de Khuzdul e costumes anões foram, em parte, usados do blog e páginas do The Dwarrow Scholar. Outros eu apelei para o meu headcanon.
Vocês poderão reconhecer trechos do livro "O Hobbit "e falas do filme "O Hobbit: Uma jornada inesperada". Não é coincidência. É minha patética tentativa de conciliar o canon de dois universos com a fic. Sim, eu considero os filmes como canon.
