Jamais Perca as Esperanças
Eles já estavam correndo havia um bom tempo. De fato, aquela
chuva havia pego ambos de surpresa. Quando deixaram o castelo há
algumas horas atrás, o céu estava bastante limpo, quase sem
nuvens. Nenhum dos dois esperava por aquela súbita mudança no
tempo, mas eles não podiam negar que ultimamente, com a guerra
acontecendo, o mundo estava mesmo muito estranho - ou tão
estranho quanto podia parecer para um bruxo.
Pararam por um minuto sob uma árvore para descansar e se
recompor. Precisavam encontrar logo um abrigo, estavam ficando
ensopados. Um podia ouvir a respiração ofegante do outro, na
tentativa de restaurarem o fôlego. O sol já se punha no
horizonte e a Lua já se mostrava, tímida, porém bela.
Não se passou muito tempo e logo ambos estavam correndo
novamente. Não encontrando um abrigo melhor, tudo o que puderam
fazer foi correr para dentro de uma pequena caverna que havia no
meio daquele bosque. Olharam-se: estavam molhados dos pés à
cabeça.
"Droga!" exclamou Ginny. "Esta chuva não podia
ter começado em hora mais inoportuna. Tivemos a oportunidade
perfeita para desmascarar os Malfoy e a perdemos!"
"Tenha calma, Ginny." replicou Harry enquanto tirava
seu robe e o torcia. "Vamos ter outras oportunidades. Antes
termos perdido essa chance do que sido descobertos. Mesmo minha
Capa de Invisibilidade ainda pode se molhar. E ambos sabemos que
o efeito da capa é falho quando ela se molha."
Ginny concordou silenciosamente, enquanto torcia o robe. Harry
olhou para um canto e sacou sua varinha:
"Incendio!" disse ele. No instante seguinte uma pequena
fogueira havia se acendido perto da parede. "Venha, Ginny.
Vamos nos secar antes que fiquemos doentes."
Aproximaram-se do fogo e Ginny conjurou dois varais para que eles
pudessem pendurar os robes molhados. Sentaram-se em uma grande
pedra que havia ali perto e ficaram se aquecendo. A caverna era
pequena, mas não de todo desconfortável. Havia um quê de
aconchego entre aquelas frias paredes de pedra recobertas de limo
e musgo.
Por um momento, nenhuma palavra foi dita. Estavam ambos exaustos
e todos os dias mal-dormidos agora faziam efeito sobre eles. A
Guerra já se estendia há bastante tempo, mais tempo do que
Harry conseguia se lembrar. Voldemort recuperara plenamente seus
poderes e voltara a atacar com força total, destroçando por
completo a paz que o jovem bruxo almejara por tanto tempo. Ele
sabia que o conflito seria inevitável, só não imaginava que
seria tão rápido. Desejava com todas as suas forças que
pudesse postergar aquele momento, mas sabia que era impossível.
Desejo algum poderia adiar aquela batalha, assim como desejo
algum traria seus pais de volta.
Do lado de fora, a chuva engrossara e altos trovões podiam ser
ouvidos. De quando em quando, um raio rasgava o céu e iluminava
toda a abóbada celeste, que estava completamente coberta pelas
nuvens carregadas.
"Estou cansada, Harry." disse Ginny, quebrando o silêncio
que se instalara no lugar. Sua voz estava pesada e sua expressão
era um misto de angústia e desânimo.
"Eu sei." falou Harry, aproximando-se dela. "Eu
também estou. Devíamos descansar agora. Durma um pouco. Eu fico
acordado caso algo aconteça."
Mas Ginny balançou a cabeça em sinal de negação.
"Não foi isso o que eu quis dizer, Harry." falou a
bruxa olhando para o chão. "Eu estou cansada de tudo isso,
dessa guerra sem sentido. Estou cansada de tantas mortes, de
tanto sofrimento. Qual a razão disso tudo? Como podem existir
pessoas que se alegram com o infortúnio e a desgraça de outras?
Eu queria entender, Harry. Queria compreender isso tudo..."
A voz de Ginny falhou e ela se calou por completo. Estava farta
de ter que lutar, de ter que estar sempre alerta, de não poder
ter tranqüilidade.
"Não sei." disse Harry, respondendo a pergunta da
companheira. "Tudo que eu entendo é que nada disso estaria
acontecendo se não fosse por causa dos caprichos e desejos
loucos de um bruxo sádico e insano."
Ginny concordou silenciosamente. Outro trovão. O vento naquele
momento estava forte e soprava a chuva para dentro da caverna.
Harry rapidamente ergueu uma barreira para impedir a água de
entrar. Eles já estavam quase que completamente secos e não
precisavam se molhar novamente.
Harry fitou demoradamente o fogo. Aquelas chamas o faziam se
lembrar do brilho dos olhos de Dumbledore; aquele brilho vívido
e esplendoroso que transmitia toda a sagacidade e sabedoria do
velho bruxo.
"Gostaria de saber como o Dumbledore, o Ron e os outros estão
se saindo." disse Harry, mais para si mesmo do que para
Ginny. "Espero que estejam tendo mais sorte que nós
dois."
"Tomara." falou a jovem. "Assim pelo menos alguma
informação útil vai chegar ao Ministério. Papai tem tido
bastantes problemas nos últimos tempos. Acho que ele vai ficar
louco se isso tudo não terminar logo."
Harry riu. Realmente, o Sr. Weasley estava constantemente
reclamando de todo trabalho que estava tendo junto ao Ministério
da Magia para apagar memórias de trouxas em todas as partes da
Inglaterra. Não obstante, por mais esforço que o patriarca da
família Weasley fizesse, parecia que o número de pessoas que
precisavam ter suas memórias alteradas crescia num ritmo cada
vez maior.
"Mas pelo menos ele não integra a frente de ataque como o
Ron, você e eu." sussurrou Harry e sua voz tinha uma ponta
de angústia. Ginny sorriu de leve, embora seu rosto também
demonstrasse um pouco de tristeza.
Novamente silêncio. A chuva havia suavizado, e o som das gotas
de água caindo ali perto era como uma suave e melancólica
melodia. A noite já tinha caído por completo e a única fonte
de luz que Harry e Ginny possuíam era a fogueira que queimava na
caverna e os aquecia.
"Parece que teremos que passar a noite aqui." disse
Ginny, sem desviar os olhos do fogo. Harry concordou. Não iriam
a lugar algum com aquela chuva. Não podiam aparatar em Hogwarts,
que agora servia como base para a Ordem de Fênix.
Para Ginny, a idéia de ter que dormir naquela caverna não era
muito animadora. Estariam demasiado expostos ao inimigo. Claro,
nada que não pudesse ser resolvido. Juntos, Ginny e Harry lançaram
uma dúzia de feitiços de proteção. Obviamente, não
conseguiriam a mesmo segurança do Castelo de Hogwarts, mas
poderiam ficar mais tranqüilos; pelo menos seriam alertados caso
algo se aproximasse da caverna e assim não seriam pegos de
surpresa.
O ar àquela hora já estava frio, ainda mais depois daquela
tempestade. Harry olhou ao seu redor, procurando algum lugar onde
pudessem dormir e descansar, mas não viu nada senão as paredes
úmidas e algumas dezenas de estalactites e estalagmites que
pendiam do teto e do chão da caverna. Teriam que improvisar. Ao
comentar aquilo com Ginny, a ruiva apenas sorriu.
"Nada que um pouco de toque feminino não resolva."
falou a caçula da família Weasley sacando a varinha. Em poucos
minutos havia alguns enfeites no teto e nas paredes da caverna,
bem como uma cama feita de flores e folhas trançadas.
"É bem você." falou Harry, rindo do feito da jovem.
Ginny se aproximou e recostou sua cabeça no ombro do rapaz.
Permaneceram assim por um bom tempo, ambos mergulhados em seus próprios
pensamentos e reflexões. A fogueira lançava sua parca luz sobre
o jovem casal e projetava suas sombras na parede de pedra da
caverna, como se fossem difusos fantasmas na escuridão da noite.
A chuva parara por completo e as nuvens começavam a desaparecer,
carregadas pelo vento noturno. Harry continuava com os olhos
fixos no fogo crepitante, nas labaredas vermelhas e nas faíscas
que subiam no ar para logo se apagarem por completo no infinito.
Em silêncio, ele se recordava das muitas batalhas que já tinha
travado ao lado de Ginny, Ron e Hermione desde que a Guerra
efetivamente começara. Juntos, os quatro já haviam enfrentado
mais bruxos das trevas do que podiam sequer se recordar. Nesse
meio tempo, Hermione deixara de integrar a frente de ataque para
se dedicar à parte tática junto de Dumbledore e de outros
membros da Ordem de Fênix. Não que ela não lutasse mais na
Guerra - era praticamente impossível não ter que lutar naqueles
dias - mas a bruxa se dedicava mais à elaboração de planos e táticas.
E aquilo definitivamente era melhor do que tê-la em campo de
batalha. Não que Harry pensasse que ela duelava mal.
Definitivamente aquele não era o caso, uma vez que Hermione era
muito boa em quase tudo o que fazia, mas tê-la como mente
pensante de fato os ajudava, e muito!
"Já faz mais de dois anos." murmurou Harry. Ginny o
olhou, surpresa.
"O que já faz mais de dois anos, Harry?" indagou a
bela moça.
"Já faz mais de dois anos desde que toda essa loucura começou.
Digo, o conflito entre Voldemort e eu já se estende há muito
mais tempo, mas há dois anos e meio é que a Guerra realmente
começou."
"É, eu me lembro." disse Ginny com o olhar perdido.
"Foi no último dia de aula do meu último ano em Hogwarts.
Snape entrou eufórico no Salão Principal naquele dia, dizendo
que o Lord das Trevas estava atacando Hogsmeade. Não demorou
muito para que alguns Comensais alcançassem o Castelo... Eu
nunca vou me esquecer daquele dia, do pânico dos alunos mais
novos, da bagunça, do medo..."
Harry olhou para a jovem que estava ao seu lado. Sabia que Ginny
gostaria de ter tido uma festa de encerramento. Sabia que ela
sentia pelo fato de nunca poder ter tido a oportunidade de
realmente se despedir de Hogwarts e de seus colegas como ele
teve. Colocou os braços em volta de Ginny e a puxou para perto
de si. A jovem se aconchegou nos braços de Harry e assim
permaneceram durante alguns minutos, enquanto conversavam e
relembravam o início da guerra contra o Lord das Trevas.
Era impressionante como já haviam passado por tanto, tantas
coisas; coisas que muitos bruxos jamais sequer imaginariam
enfrentar. Haviam sido obrigados a crescer e a amadurecer muito
antes de seu tempo. Eram ainda tão jovens e ainda assim pareciam
ter vivido mais de cem anos. Com efeito, o tempo se arrastava
demorada e pesadamente durante a guerra. Aqueles dois anos e meio
pareciam muito mais do que realmente eram; pareciam trazer
consigo um peso tal, que era quase impossível suportá-lo. De
fato, a guerra era aquilo mesmo: um fardo denso e pesado em
demasia; um fardo que poucos estavam preparados para carregar.
Em sua mente, Harry praguejou e amaldiçoou Voldemort e todo e
qualquer bruxo que seguisse o Lord Negro.
"Droga!" resmungou ele, batendo na parede com o punho
fechado. "Malditos sejam todos esse bruxos! Desgraçados!
Bastardos infelizes!"
Ginny olhou espantada para o namorado. Não era do feitio de
Harry se descontrolar daquele jeito. Ele até parecia outra
pessoa. Mas naquele momento em especial, o rapaz queria mesmo era
mandar tudo para o Inferno. Estava farto daquilo tudo. Por que a
humanidade não podia viver em paz? Será que era tão difícil
assim? Até parecia que a única coisa que sustentava as pessoas
era a guerra. E não era só no mundo da magia! No mundo trouxa,
as guerras também eram uma constante, como Harry bem podia se
lembrar das aulas de História que teve antes de ir para
Hogwarts. Desde a Antigüidade o mundo fora marcado pelas
disputas entre pessoas, cidades, Estados ou até mesmo nações
inteiras. Houve as Guerras Greco-romanas, as Revoluções na França,
na Rússia e em tantos outros países, a Primeira e a Segunda
Guerras Mundiais... Em todas elas, tantas pessoas foram mortas,
tantas vidas massacradas, lares despedaçados e famílias destruídas...
Valeu a pena? Infelizmente, para aquela pergunta, Harry não
tinha a resposta. Sabia apenas que não queria mais ver ninguém
sofrendo. Não queria mais ver a dor de uma criança que perde
seus pais, de uma mulher que perde seu marido ou de um pai que
perde seu filho.
"Harry." chamou Ginny, apertando sua mão. "Tenha
calma. Eu sei que tudo isso é difícil, mas não podemos perder
as esperanças. Não agora que já fomos tão longe."
Harry suspirou. Sabia que Ginny tinha razão. Fechando os olhos,
tratou de colocar seus pensamentos em ordem. Respirou fundo e se
acalmou, voltando a ser simplesmente Harry Potter.
Olhou em seu relógio e percebeu que já era um pouco mais de
onze horas. Puxa, já havia se passado mais de quatro horas desde
que eles tinham entrado na caverna. Ele não tinha percebido que
se passara todo esse tempo.
Tateando os bolsos, percebeu que tinha consigo duas barras de
chocolate. Estavam um pouco amassadas, mas nada que importasse
realmente. Estendeu uma das barras para Ginny, que aceitou com
satisfação. Estavam famintos àquela hora da noite, e aquelas
barras de chocolate tinham vindo na hora certa.
"Bastante conveniente andar com isso no bolso, Harry."
falou Ginny com a boca cheia. Harry sorriu. A jovem se parecia
com uma criança de cinco anos que ganhara a sobremesa antes da
hora.
"Bem, nunca se sabe quando vamos encontrar um dementador
vagando pelas ruas, não é mesmo?" falou o rapaz.
"Afinal, um bruxo prevenido vale por dois!"
Ginny riu do comentário do companheiro. Degustaram o chocolate
lentamente, ao mesmo tempo em que imaginavam se Ron, Hermione e
os outros estariam preocupados com eles.
"Certamente a essa hora o Ron está arrancando os cabelos de
tanta preocupação." disse Ginny, enquanto levava o último
pedaço de chocolate à boca e limpava as mãos. Harry concordou.
Já deviam ter voltado ao castelo há bastante tempo e, com
certeza, o amigo estava completamente impaciente com a demora do
casal. Àquela altura, Ron provavelmente já estava discutindo
com Hermione um modo de encontrá-los.
"Bem." disse Harry dando os ombros. "Não seria
realmente o Ron se não fizesse algo do tipo, não é
mesmo?"
Ambos riram das atitudes que o ruivo sempre tomava. Mesmo depois
de tantos anos, Ron continuava sendo impulsivo e estourado. Mesmo
a fama dos Weasleys de terem "pavio curto" era pouca
coisa se comparada às constantes explosões do rapaz quando algo
o afligia ou o incomodava. Definitivamente, algumas coisas jamais
iriam mudar!
Ginny então abriu um largo sorriso, parecendo perdida em seus
pensamentos.
"O que foi?" perguntou Harry, admirando como ela ficava
bonita quando sorria daquele jeito.
"Nada." respondeu a ruiva. "Eu apenas me lembrei
do dia em que contamos ao Ron sobre nós dois."
E foi com grande saudade que Harry se recordou do dia em que Ron
ficara sabendo de seu relacionamento com Ginny. Na verdade, o
jovem bruxo não conseguia pensar em muitas razões para rir
daquele dia, uma vez que o amigo quase o matara num súbito
ataque de ciúme fraterno. Mas ele tinha que concordar que sentia
falta dos seus velhos tempos de escola. Já se formara havia mais
de três anos afinal.
Conversaram um pouco, relembrando a época em que estudaram em
Hogwarts. Recordaram-se dos professores, das aulas, das
travessuras que aprontavam. Tinham saudade de tudo aquilo. Mas
tinham ainda mais saudade de um certo gigante, que durante toda a
vida escolar do casal havia sido mais que um professor e
companheiro: havia sido um amigo inesquecível e fiel. Harry
lamentou em silêncio a morte de Hagrid. De todas as pessoas que
ele conhecia, Hagrid era uma das que ele mais amava no mundo.
"Que você seja feliz, meu amigo, onde quer que
esteja." pensou Harry, sentindo uma lágrima correr-lhe o
rosto e salgar-lhe os lábios. Ginny o abraçou, beijando seu
rosto ternamente.
Passados alguns minutos de silêncio, preenchidos somente pela
respiração do jovem casal e pelo ocasional canto de um grilo,
Harry olhou para Ginny, secando as lágrimas.
"Não vamos nos deixar abater!" falou o bruxo. "Nós
não vamos desistir nunca, não é mesmo? Vamos ganhar essa
guerra maldita e dedicar nossa vitória ao Hagrid!"
"Agora sim você está falando como o Harry Potter que eu
conheço!" disse Ginny, sorrindo. "Jamais perca as
esperanças! Devemos ter fé! Tudo vai acabar bem!"
"Sim." disse Harry, com uma expressão determinada.
"E quando isso tudo terminar, nós vamos nos casar,
Ginny."
A jovem parou, sem saber o que dizer. Encarou Harry como se não
acreditasse no que tinha acabado de ouvir.
"Eu escutei direito?" perguntou ela, ainda com expressão
de descrença. "Harry James Potter, você realmente está me
pedindo em casamento?"
"Sim." disse Harry, sorrindo. "Virgínia Weasley,
você quer se casar comigo?"
O sorriso de Ginny naquele momento ficaria para sempre estampado
na memória de Harry.
"Mas é claro que eu quero, Harry!" falou a jovem que,
apesar das circunstâncias em que se encontravam, não cabia em
si de tanta felicidade.
"Eu sei que não é o melhor momento para fazer o pedido,
mas eu não me contive." falou o bruxo. Ginny balançou
veemente a cabeça.
"O momento é ótimo, Harry." disse a ruiva. "Bem,
eu confesso que eu tinha imaginado uma dezena de rosas e
margaridas, e pássaros cantando ao nosso redor, mas
definitivamente, o momento não poderia ser melhor."
Harry riu e apanhou a varinha. "Não seja por isso."
disse ele. No instante seguinte, a caverna inteira se encheu do
chão até o teto de rosas, margaridas e dezenas de outras
flores. Com outro movimento da sua varinha, Harry transfigurou
alguns pedregulhos em pássaros, que logo encheram o ambiente com
seu belo canto.
"Melhor assim?" indagou o rapaz. Ginny sorria
abertamente, admirada com a doçura do noivo.
"Claro!" exclamou a bruxa. "Você não muda, não
é Harry?"
"Jamais." replicou o jovem, voltando a transformar os pássaros
em pedras. Afinal, não podiam correr o risco de serem
descobertos.
Harry olhou novamente em seu relógio: faltavam apenas cinco
minutos para a meia noite. Ginny soltou uma exclamação ao saber
que já era tão tarde. Então, sorrindo levemente, ela murmurou:
"Não foi bem assim que eu pensei em passar a noite de
hoje."
"Como?" indagou Harry, sem entender. Ginny o fitou
profundamente.
"Você realmente não se lembra que dia é hoje,
Harry?" perguntou. O rapaz fez que não com a cabeça, e
Ginny não pôde deixar de notar que sua expressão mostrava
grande curiosidade. "Ora, Harry! Hoje dia 24 de Dezembro.
Harry, hoje é véspera de Natal!"
O bruxo soltou uma exclamação. Ele realmente se esquecera
completamente do Natal. Mas também, com toda aquela loucura
acontecendo, os dias pareciam sempre iguais para o jovem. O rapaz
tinha perdido completamente a contagem do tempo desde que o
conflito começara, tanto que ficou admirado com o fato de Ginny
ter conseguido manter um calendário decente.
"Pelas barbas de Merlin!" falou o jovem bruxo, enquanto
seu relógio apitava meia noite. "Eu nem me lembrava que já
era época de Natal!"
Então, Ginny retirou do bolso uma caixinha pequena envolta em
uma fita dourada.
"Feliz Natal, Harry." disse a jovem mulher, entregando
o presente a Harry. O bruxo não soube o que dizer.
"Obrigado, meu amor." murmurou, enquanto abria a
caixinha. Dentro dela havia um pequeno anjo moldado em prata. Era
realmente lindo. Harry se perguntou de onde Ginny havia tirado
dinheiro para comprar algo que, certamente, havia sido muito
caro.
"É para você, Harry." falou a ruiva. "Por você
ser meu anjo da guarda, por você ser o homem maravilhoso que é
e por simplesmente existir em minha vida. Obrigada por tudo. Eu
te amo."
Harry sentiu-se extremamente emocionado com o que Ginny dissera a
ele. Então, puxando-a para um abraço apertado, Harry falou:
"Eu também te amo! Me desculpe, Ginny. Eu não pude comprar
nenhum presente para você."
Mas ela simplesmente balançou a cabeça, negando o que Harry
dissera.
"Você me deu hoje o melhor presente que eu poderia ganhar.
Foi o melhor presente do mundo." disse Ginny, sorrindo para
o noivo. "E mesmo que você não tivesse me dado nada, só o
fato de você realmente me amar já é muito mais do que eu
poderia querer."
Novamente, Harry não soube o que dizer. Olharam-se. Naquele
momento, Harry finalmente entendeu como um olhar podia valer mais
do que mil palavras. Por um breve instante, o tempo pareceu parar
por completo, e eles se esqueceram do mundo à sua volta e de
todos os problemas que tinham e enfrentavam. Eram felizes e o
resto que ficasse para depois. Beijaram-se afetuosamente,
procurando transmitir um ao outro o quanto se amavam.
Quando finalmente se separaram, sorriram verdadeiramente. Então,
Harry pegou a mão de Ginny e a conduziu até a cama improvisada
no canto da caverna. Deitaram-se e ficaram lá, parados. Apesar
de tudo, apesar das circunstâncias, cada um sentia um grande
conforto na companhia do outro.
Enquanto acariciava os longos cabelos flamejantes da noiva, Harry
pensou que realmente não importava o quão difíceis eram as peças
que o Destino lhe reservava e nem o quanto ainda precisaria lutar
antes de derrotar Voldemort de uma vez por todas. Sentia apenas
que se fosse ao lado de Ginny, ele com certeza poderia suportar
tudo aquilo que lhe fosse imposto. Não perderia as esperanças,
não naquele momento. Mais do que nunca Harry sentia que podiam
vencer. Tinha que ter fé. Não seria fácil. Mesmo que o Lord
das Trevas fosse destruído, ainda haveria muito a ser feito. E
Harry jamais descansaria enquanto o mundo vivesse sob o comando
de poucos ou enquanto existissem pessoas que privilegiavam seus
próprios interesses mesquinhos e egoístas em detrimento ao caráter
e à solidariedade. Definitivamente, ainda havia muito a ser
feito, mas Harry realmente acreditava que um dia o mundo poderia
ter paz.
"Definitivamente teremos paz, não é mesmo, Ginny?"
perguntou Harry. Mas a jovem já adormecera. Aquele dia fora
demasiado cansativo. O rapaz admirou o rosto da bruxa por um
breve momento, contemplando o semblante sereno da noiva, e
sorriu.
"Feliz Natal, Ginny." murmurou Harry, enquanto ajeitava
uma mecha de cabelo que caía sobre a face de sua futura esposa e
lhe dava um suave beijo na testa. "Feliz Natal."
_____________________
Aqui termina esse pequeno conto. Espero que eu tenha me saído
bem, uma vez que minha especialidade é Card Captor Sakura. Este
é o meu primeiro conto (publicado) de Harry Potter. Espero que
vocês tenham gostado dele tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.
Na verdade, este conto reflete um pouco da minha visão sobre o
mundo. Eu abro os jornais ou assisto aos noticiários e fico
pensando como o ser humano pode ser tão cruel consigo próprio.
E fico realmente magoado de ver o que as pessoas estão fazendo
umas às outras. Entretanto, este humilde escritor de fics ainda
tem esperanças. E, a despeito das críticas e opiniões
negativas de muitas pessoas, eu acredito que a humanidade tem
jeito. Claro, não sejamos ingênuos de acreditar em uma
sociedade utópica e perfeita, uma vez que todos sabemos que nada
é realmente perfeito. Estamos lidando com seres humanos, afinal,
e o que é bom para um pode ser ruim para outro. Bem, como dizem
por aí, a esperança é a última que morre.
Este foi apenas um fic curtinho para comemorar o Natal. Dedico
este conto à Andréa e à Fabi, minhas duas grandes amigas. Dréa,
Fabi, muito obrigado por tudo! Por terem escutado tão
pacientemente todas as minhas idéias, desde as mais brilhantes
às mais absurdas. Obrigado por todas as vezes que vocês duas me
apoiaram e me ajudaram, mesmo sem saber. Obrigado por serem as ótimas
pessoas que são. Tive muita sorte de conhecer vocês. Espero que
nós ainda possamos trocar muitas idéias e escrever muitas
coisas juntos!
A todos os fãs de Harry Potter, no Brasil e ao redor do mundo,
um Natal cheio de muita paz e felicidade e um excelente Ano Novo!
Que vocês sejam felizes sempre, sem importar aonde estejam.
E a todos os escritores de fanfictions, que vocês possam
encontrar prazer em suas criações. Jamais deixem de escrever e
preservar a memória de nossos personagens favoritos!
Peace, Love and Hope to all and each one of you. Now and Forever.
Merry Christmas and a Happy New Year.
Felipe S. Kai
Início: 28/11/2002
Término: 06/12/2002
1ª Revisão: 07/12/2002
2ª Revisão: 09/12/2002
3ª Revisão: 10/12/2002
