Disclaimer: D.Gray-man não me pertence, caso contrário seria extremamente gay e o Allen ficaria com a Rhode.
O que acontece quando a sensação de um sonho passa a barreira e invade a realidade? Porque somente com Lavi? Não somente seu corpo, mas sua mente está cada vez mais dilacerada, e o que aconteceria se ele morresse num sonho?
Nightmare.
If you die in a dream.
A sensação gostosa da água batendo em seus pés descalços, o vento refrescante, balançando seus cabelos ruivos os deixando mais fora do lugar que o comum.
Num piscar de olhos ele sentiu um calafrio correr-lhe e espinha, a água antes cristalina e morna estava fria, olhou para baixo e deu um berro, subindo em cima de pilastras caídas sobre o lago, que antes não estavam ali.
A água estava vermelha, sangue. Cheirava a um mar de sangue. Isso embrulhou seu estômago rapidamente, ele se agachou no chão, virando o rosto de lado e vomitando.
-LAVI.
A voz preocupada de Kanda cortou a escuridão do quarto, o ruivo estava agachado na cama.
Ele olhou para o espadachim, mas seus olhos não o viam de verdade, tudo estava muito escuro, sentia que havia voltado a realidade, mas porque ainda podia sentir o cheiro de sangue em seus próprios pés e o gosto desagradável de vômito na boca?
-Lavi, Lavi, fala comigo!
Ele estava muito preocupado, seus olhos sérios e compenetrados estavam arregalados e temerosos, mas porque isso tudo ainda parecia um sonho...?
-/-
-Não tem nada de errado com ele.
Era a segunda vez que ouvia aquilo, sentia a cabeça explodir de raiva, queria pegar a espada e retalhar aquela incompetente.
-Faça o exame de novo!
-Isso já foi feito.
Ela disse séria e estreitando os olhos, tão fria quanto Kanda normalmente era.
-Então vai me dizer que é normal acordar de madrugada vomitando!?
Urrou de raiva, dando um soco na mesa com alguns equipamentos, a mulher largou a prancheta sobre a cadeira e suspirou cansada, era madrugada, ela entendia que as pessoas tivessem problemas, mas não é como se ela pudesse solucionar tudo tão facilmente.
Se os exames haviam sido feitos e refeitos e nada havia sido encontrado no corpo, sangue e até mesmo na inocência de Lavi, então ele não tinha nada.
-Isso pode ser causado por estresse, ele não é sucessor do bookman?
Agora sim Kanda queria xingá-la e amaldiçoá-la, como ela ousava dizer uma estupidez dessas? Desde quando ser sucessor do bookman era motivo pra tanto?
Eles eram exorcistas que davam a vida pela humanidade, passando por inúmeras situações críticas e mortais, se ele tivesse que passar mal seria naquelas ocasiões.
-/-
Lavi abriu os olhos, mas logo os fechou, ainda estavam pesados e ele sentia o cheiro desagradável de remédios e pomadas. Ainda não conseguia se lembrar como tinha ido parar na enfermaria.
Mas não foi difícil chegar a uma reposta, já que ele estava dormindo no quarto de Kanda naquela noite, só ele poderia tê-lo carregado até ali.
Se sentou na cama, passando a mão que estava trêmula pelo rosto, porque tinha um buraco em sua memória? Isso não podia acontecer. Ele tinha uma função importante, se tivesse falhas na memória, todo seu esforço para se tornar o sucessor do bookman não teria valido de nada.
-Então aí está você.
A voz do velho Panda o fez sentir um arrepio por todo o corpo, e se ele descobrisse? O que ele faria? O que seria de suas missões?
-Não pode ficar deitado o dia todo, nós temos trabalho a fazer.
E com isso saiu do quarto tão misteriosamente como havia entrado, Lavi abaixou a cabeça, elevando as mãos ao rosto, sem nem perceber que suas unhas arranham sua pele com força.
Respirar doía, ar. Ele estava com falta de ar. Seu coração batia tão forte que parecia que ia sair pela boca, mas ele não conseguia respirar, era como se aquele cubículo branco estivesse o sugando.
-AAAAH!
O grito estridente chamou atenção das enfermeiras que correram até o quarto em auxilio, o ruivo se debatia loucamente, havia cortes que sangravam um pouco em seu rosto.
Aquelas mulheres que receberam um forte treinamento, estavam chocadas, elas pareciam não ter coragem de se aproximar do jovem exorcista fora de controle, era como se ele estivesse possuído.
O velho panda se aproximou abrindo espaço rapidamente entre elas e com um golpe ele fez o ruivo ficar inconsciente, ele segurou o pupilo nos braços e o colocou deitado na cama.
-Ele só precisa de repouso.
E deu um sorriso macabro e com isso deixou o cômodo.
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O refeitório estava cheio e os burburinhos não diminuíam, pela primeira vez havia uma massa de exorcistas na central, é claro que isso era uma coisa boa, ver os amigos todos os dias.
-...Foi mesmo horrível. – Comentou Miranda com cara de choro enquanto Krory concordava balançando a cabeça freneticamente.
-Ei, o que estão falando? – Perguntou Lenalee docemente enquanto deixava a bandeja ao lado deles e se sentava.
-Sobre os gritos. – Disseram ao mesmo tempo.
-Gritos? – Perguntou agora Allen que sentava em frente à Lenalee, mas a visão da garota estava tampada por uma pilha de comida que ele carregava sobre uma simples bandeja.
-Vocês não ouviram? – Perguntou Krory meio apavorado que estivesse ouvindo vozes.
Allen balançou a cabeça negativamente enquanto enchia a boca de comida, Lenalee ficou pensativa, mas não conseguiu se lembrar nada havia ido deitar tarde, pois ainda tinha ficado um pouco na companhia do irmão servindo-lhe uma última xícara de café para que ele pudesse ficar acordado de madrugada.
-Ei Kanda. – Chamou Allen sorridente e acenando para o 'amigo' que apenas lhe lançou um olhar congelante e saiu do refeitório com sua simples refeição de soba.
-O que será que ele tem? – Pergunta Miranda sentindo calafrio do olhar de Kanda.
-Ele é sempre assim. – Murmurou Allen meio mal-humorado enquanto continuava a comer.
Lenalee balançou a cabeça negativamente apenas fazendo sinal para Miranda ignorar.
-Vocês não estão sabendo..? – Perguntou o pesquisador que estava de passagem indo se sentar com seus companheiros em uma mesa não muito distante.
Todos pararam de comer e ficaram o fitando, ele sorriu sem graça por atrapalhá-los daquela forma, mas era inevitável.
-O Lavi-san está na enfermaria desde a madrugada. – Disse sussurrando.
-O LAVI!? – Gritou Allen se levantando tão rápido que chegou a jogar a cadeira pra trás a derrubando.
-A-allen-kun aonde você vai? – Perguntou Lenalee também se levantando enquanto via o amigo começar a se afastar.
-Ele sabia! Ele sabia e não nos disse nada. – Murmurou friamente saindo do salão batendo pé e sendo seguido por uma Lenalee também furiosa.
Miranda e Krory trocaram um rápido olhar e rapidamente se levantaram o seguindo.
-Eu disse alguma coisa errada...? – Se perguntou o pobre pesquisador com várias interrogações sobre a cabeça.
-/-
Nos corredores menos movimentados, eles andavam rápidos e apressados quase como se tentassem fugir de alguém sem chamar atenção.
-Allen-kun! Allen-kun!
Mas não importasse quanto ela o chamasse, ele simplesmente não diminuía o passo ou se virava. Furiosa ela o segurou pelo ombro o forçando a parar.
-Você não pode ir brigar com o Kanda!
-Ah é e porque não?
Com o tom de voz alterado, Miranda e Krory até recuaram alguns passos, se tornando meros espectadores.
-Nós devemos fazer alguma coisa? – Perguntou ela preocupada.
-Acho melhor não... – Ele respondeu baixo ainda assustado com os amigos.
-Você sabe que o Kanda não viria até nós comentar sobre isso, tente entendê-lo.
-Entendê-lo!? – Retrucou cada vez mais furioso. – Eu entendo que o meu amigo está na enfermaria e eu nem sei o motivo!
-Brigar com o Kanda não vai mudar o fato do Lavi estar lá.
Eles ficaram alguns segundos se encarando furiosamente, até que Allen gira os olhos em revolta e cruza os braços.
-Ótimo, vamos ver o Lavi.
Lenalee concordou com a cabeça e afastou a mão do ombro do amigo.
-Mas. – Ele ficou sério e frio novamente. – Se o Lavi estiver mal o Kanda vai desejar não cruzar na minha frente pelas próximas décadas.
E voltou a andar agora seguindo por outro caminho, Lenalee sorriu para os amigos que os seguiam, o silêncio era incômodo, mas ninguém parecia preocupado em quebrá-lo.
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-Ah Yuu, eu sabia que você vinha me salvar. – Disse o ruivo já brincalhão como sempre.
-Eu não trouxe isso pra você. – Murmurou se sentando na cadeira ao lado da cama de Lavi e começou a própria refeição, enquanto o ruivo encarava com o nojo o que havia em seu próprio prato.
-Ah troca comigo.
-Não.
-Então me da só um pouquinho? – Pediu fazendo cara de choro e bico.
-Não.
-Você nem vai sentir falta. – Disse sacudindo os braços nervosamente.
-Não. – Disse sorrindo.
-Yuu! Seu ruim! – E cruzou os braços, virando o rosto para o lado. – Vou fazer greve de comida, até que você traga um pouco de soba pra mim também.
-Mas você não pode fazer isso...
Disse abrindo um sorriso mais largo, deixou a bandeja sobre a pequena mesa que se encontrava vazia sem os medicamentos, ficou de pé ao lado da cama do ruivo, inclinou o corpo ligeiramente para frente para que pudesse ficar com a boca próxima ao seu ouvido.
-Se você fizer não vai ter força para -- - E sussurrou o resto ainda mais baixo.
A face de Lavi ficou vermelha instantaneamente e Kanda se sentou na cadeira voltando ao almoço antes que esfriasse.
-Nossa que fome! – Murmurou o ruivo exageradamente, colocando mais comida na boca do que seria capaz de mastigar, Kanda apenas balançou a cabeça negativamente sorrindo discretamente.
-LAVI.
A porta do quarto só por pouco não havia sido arrombada, o ruivo piscou os olhos seguidamente, surpreso pela visita um tanto quanto barulhenta de Allen, rapidamente engoliu a comida para poder falar.
-Yo. – Ele cumprimentou sorrindo e acenando para os demais que entraram timidamente e fecharam a porta pedindo desculpas para as enfermeiras que olhavam muito feio do corredor.
-O que aconteceu? Porque você está aqui? – Perguntou o baixinho se aproximando da cama e ignorando completamente a presença do outro exorcista que já estava lá há mais tempo.
-Eu passei mal de madrugada, sabe? – Disse rindo sem graça.
-Lavi, seu rosto está vermelho, está se sentindo bem? – Perguntou Lenalee se juntando a Allen que estava próximo do ruivo.
-Ele deve estar sufocado com vocês abutres o cercando desse jeito. – Disse Kanda de braços cruzados e os encarando como se fossem Akumas.
Allen ignorou completamente o amigo e colocou a mão na testa do ruivo, ele estava mesmo quente, mas não parecia ser nenhuma febre elevada.
-Talvez seja você Kanda. – Disse secamente. – Afinal você está aqui há mais tempo e foi incapaz de perceber que ele está debilitado. – E com isso puxou Lavi para perto de si como se quisesse protegê-lo do espadachim que havia levantado de sua cadeira e estava mais furioso do que antes.
-Eu sei muito bem que ele está debilitado, mas vocês abutres chegaram e nem o deixaram respirar, dêem o fora daqui! – Urrou gesticulando e apontando para a porta.
Miranda e Krory saíram rapidamente, Lenalee recuou alguns passos completamente perturbada pela atitude dos dois. Eles estavam sendo tão egoístas que eram incapazes de ver como Lavi estava se sentindo mal.
Ela o fitou mais atentamente que estava com a cabeça ruiva encostada no peito de Allen, ele respirava forçadamente e seus olhos pareciam desfocar por alguns segundos como se fosse cair inconsciente a qualquer segundo.
-Saiam os dois! – Gritou batendo o pé.
Kanda e Allen a fitaram surpresos, nenhum dos dois disse nada, ela se aproximou e afastou o baixinho do ruivo, o fazendo deitar na cama.
-Vocês estão o fazendo se sentir pior. Saiam daqui, os dois imediatamente. – Disse mais fria do que antes e sem nem se dar ao trabalho de fitá-los.
Eles entenderam o recado e saíram rapidamente do quarto, a porta bateu com um pouco mais de força que o necessário, quando isso aconteceu o ruivo deu um sorriso constrangido a amiga.
-Me desculpe por estressá-la com os meus problemas. – Ele murmurou meio sonolento e de olhos fechados.
Lenalee juntou as bandejas e as levou para fora do quarto as entregando para uma enfermeira, depois se sentou na cadeira que antes Kanda ocupava.
-Não se preocupe, mas se estava se sentindo mal você deveria tê-los expulsado, eles não ficariam bravos, sabe?
Lavi abriu um sorriso mais largo.
-Ele ficaria bravo comigo... – Murmurou antes de adormecer.
Lenalee apenas sorriu, embora não soubesse de quem ele estava falando, agora ela tinha que ir cuidar de dois garotos teimosos que provavelmente iriam começar a lutar se ela não chegasse a tempo.
Assim que ela saiu do quarto fechando a porta delicadamente, um véu negro envolveu a cama onde Lavi estava e sua expressão calma foi se tornando cada vez mais desconfortável.
Continua.