Para Sempre pertence parcialmente a Diane Schwemm! Quanto aos personagens, uns pertencem a Diane Schwemm e outros a J.K. Rowling.


Para Sempre

Lily Evans, de quinze anos, não estava se importando muito em ir à festa da praia, mas sua melhor amiga, Marlene McKinnon, não conseguia pensar em outra coisa.

- É a última festa das férias de verão – lembrou Lene, enquanto as duas jogavam vôlei no quintal de Lily. Lene lançou a bola sobre a rede com um saque forte, mas impreciso.

Lily pulou para rebater a bola, fazendo voar seus cabelos ruivos, que batiam na cintura.

- Você não prefere ir ao cinema? – perguntou Lily. – Vão acontecer outras festas depois que a escola começar. Não estamos indo para a prisão. Só vamos entrar no Ensino Médio.

- Mas não vai ser mais verão – Lene falou, estendendo a mão para tocar a folhagem espessa de uma árvore. – Logo as folhas vão começar a cair. Vão acontecer geadas. E estaremos nos arrastando com neve até os joelhos.

Lily soltou uma gargalhada. O ar abafado e quente do verão tocava sua pele, naquele momento, o inverno parecia algo muito distante. Mas Lene tinha uma ponta de razão.

- Bem, já que você coloca as coisas dessa maneira – ela cedeu com um sorriso.

- Tinha certeza de que viria comigo – falou Lene com satisfação. – Eu sabia que você não perderia a última chance de ver todo o time de futebol de Hogwarts de sunga.

Lily se esticou na direção da bola, mas deixou-a escapar.

- Quem disse que eu estou interessada no time de futebol de Hogwarts, com ou sem sunga?

- Dá um tempo – debochou Lene, puxando um cacho de seu cabelo que pendia sobre a testa. – Todo mundo viu você secando James Potter na festa da piscina da Emmeline no fim de semana passado.

- Eu não estava secando ninguém – Lily se defendeu, enquanto abaixava para pegar a bola no gramado. – Eu só estava... inspecionando. Além do mais, todas as garotas ficam olhando para o James.

- Tudo bem, mas ele também estava lançando olhares pra você – retrucou Lene. – Com certeza estava acontecendo uma inspeção dos dois lados.

- Não estava – protestou Lily, com as bochechas queimando.

- Estava – insistiu Lene.

No fim da tarde, elas ainda discutiam o mesmo assunto no banco traseiro do carro da mãe de Lene, enquanto iam de carona para a praia.

- Porque James estaria olhando pra mim? – Lily perguntou para Lene.

- Ah, por favor – Lene revirou os olhos. – Não me faça dizer isso. Você é a garota mais bonita da turma. Os caras estão sempre paquerando você. Só que você é muito tímida para perceber.

Lily não respondeu. Seria mesmo possível que James Potter tivesse algum interesse nela? E se ele tivesse... e aí? Ela lançou o olhar pela janela em direção ao mar enquanto a senhora McKinnon parava o carro no estacionamento da praia. Logo além das dunas, o Oceano Atlântico recebia a última luz do dia, lançando um reflexo prateado sob aquele céu cortado por nuvens. Havia, agora, uma brisa que carregava o cheiro da maresia.

Respirando profundamente aquele ar vindo da praia, Lily percebeu que seu coração acelerava por antecipação. Ao longe, um grupo de jovens se reunia em torno de uma churrasqueira portátil. "Será que James já está aqui?", ela se perguntou.

Lene combinou com a mãe um horário para que ela viesse buscá-las, e as duas garotas pularam para fora do carro. À medida que elas atravessavam as dunas, Lily retardou os passos.

- Espere um pouco – disse ela.

- Qual é o problema? – perguntou a amiga.

- Estou nervosa – confessou Lily, com seu rosto bronzeado ficando rosa. – E se... quer dizer, o que eu devo fazer se, bem, se... você sabe – ela gaguejou.

Lene abriu um sorriso, seus olhos faiscavam.

- Se James Potter vier falar com você? Relaxe. E seja você mesma – aconselhou, dando um apertão de encorajamento no braço de Lily. – Eu tenho a sensação de que esta vai ser sua grande noite, Lily Evans – previu Lene.

"Relaxar. Ser eu mesma", Lily pensou, conforme seguia Lene em direção à praia. Lene fazia tudo parecer fácil demais. "Além disso", concluiu Lily, "talvez ele nem tente conversar comigo. Quer dizer que ele sorriu umas duas vezes pra mim, e daí? Ele é só um cara simpático, só isso".

Lily levou apenas dez segundos para se convencer de que havia imaginado a coisa toda e de que não existia a menor chance de ele estar interessado por ela. Desde a sétima série, quando James se mudou para Hogsmeade, onde Lily morara a vida inteira, havia diversas garotas caindo por ele. James poderia ficar com quem quisesse.

Porque escolheria justamente ela?

A festa na praia já estava super animada. Dois garotos tomavam conta da churrasqueira, havia uma tina enorme de plástico abarrotada de gelo e latinhas de refrigerante, frisbees voavam e a música alta não parava de sair das caixas de um aparelho de som. Lily conhecia quase todos ali.

Era a galera "popular" da escola, e ela se encaixava bem entre eles, ainda que tivesse uma tendência a ficar junto dos mais tímidos nesse tipo de festa.

Talvez isso acontecesse porque, em vez de ser uma das meninas que faziam parte da torcida organizada da escola, tinha aulas de balé cinco vezes por semana e gostava mais de música clássica do que de rock. Poderia ser por causa de sua aparência. Alta e magra, com pernas longuíssimas, Lily tinha traços delicados. Tinha também uma maneira elegante de andar, típica de uma bailarina, costas sempre retas, e um hábito inconsciente adquirido no balé de erguer seu queixo no ar – o que fazia algumas pessoas a acharem esnobe. Poderia ser porque, ao contrário da maioria das outras meninas, incluindo Lene, ela ainda não tinha começado a namorar de verdade.

- Vou pegar um hambúrguer – anunciou Lene.

Lily seguiu a direção do olhar de Lene, que estava fixo em Sirius Black, o moreno, alto e musculosos co-capitão do time de futebol americano de Hogwarts. Sirius estava ao lado da churrasqueira, com uma lata de soda em uma das mãos e a espátula na outra.

- Quer dizer, você vai pegar o cara que está assando os hambúrgueres – debochou Lily.

Lene sacudiu seus cabelos para trás, sorrindo.

- Com alguma sorte, eu vou pegar o hambúrguer e o cara.

Lily viu Lene caminhar em direção a Sirius, invejando a confiança da amiga. Então, avistou sua vizinha, Alice, ajoelhando-se perto do som e vasculhando um punhado de fitas cassetes. Ela se precipitou na direção de Alice, mas seu caminho foi bloqueado. Um rapaz alto e atlético, com cabelos escuros arrepiados e olhos castanho esverdeados brilhantes, havia parado exatamente à sua frente, e parecia não ter a menor intenção de sair dali. James Potter.

Assim que Lily levantou seu olhar, ele abriu um lento sorriso. Ela tentou disfarçar, mas teve a sensação de que James havia percebido seus joelhos se dobrarem de nervosismo.

- Lily Evans – disse James.

Agora, Lily desejava que, naquele cair da noite, ele também não pudesse perceber que a temperatura do corpo dela havia aumentado uns dez graus só de ouvi-lo pronunciar seu nome.

- Exatamente a garota que eu estava procurando – continuou James.

- Eu? – ela falou numa voz esganiçada.

- É, você. Venha – ele colocou a mão no braço dela e a conduziu para outra direção. – Vamos pegar um pouco de comida e achar um lugar calmo para sentar.

Lily não entendeu como conseguiu encher um prato de plástico sem derrubar salada na roupa. Seu rosto ainda formigava dos pés à cabeça por causa do rápido toque de James em seu braço. Antes que tivesse tempo de entender como realmente estava se sentindo, James a levou para longe da multidão. Eles se sentaram um ao lado do outro em uma pedra, com os pratos equilibrados sobre os joelhos.

- Agora podemos nos escutar enquanto conversamos - disse James.

- É - concordou Lily, constrangida.

Ele soltou uma gargalhada.

- Eu sou um pouco abusado, né?

Ela balançou a cabeça, seus longos cabelos ruivos batiam contra suas costas.

- Não necessariamente – ela falou com cautela.

- Você não precisa me fazer companhia se não quiser – ele garantiu. E lançou mais um daqueles sorrisos de dobrar os joelhos. – Eu só vinha pensando que, ah, eu quero conhecer aquela garota melhor, então decidi aproveitar a oportunidade, entende?

Nesse momento, o rosto de Lily ficou tão vermelho que ele não tinha como não perceber. Ela mal pôde resistir à idéia de encostar a latinha gelada de refrigerante em suas bochechas ultra coradas.

- Bem... – falou envergonhada.

James deu uma risada.

- Desculpe. Eu não queria deixar você sem graça.

Ele deu uma mordida no hambúrguer. Lily fez o mesmo, ainda que estivesse com tanto pânico que nem sequer conseguia mastigar e engolir.

"Diz alguma coisa", ela ordenava a si mesma, "antes que ele fique entediado e perca a vontade de conhecer você".

Sua língua, porém, parecia estar amarrada. Felizmente, James quebrou o silêncio.

- Eu ouvi dizer que você dança – ele disse. - Balé, não é?

- É – respondeu ela, surpresa de que ele soubesse. – Tenho aula no Conservatório New England, em Boston. Comecei quando tinha cinco anos.

Ele assoviou.

- Uau! Você deve ser muito boa.

Ela balançou os braços.

- Ah, danço bem. Você joga futebol, certo?

Ele concordou com a cabeça, terminando o hambúrguer e limpando seus dedos num guardanapo.

- E beisebol na primavera.

- Eu amo beisebol – Lily soltou espontaneamente.

- Mesmo? Um monte de garotas acha chato.

- Não eu – disse ela. – Meu pai me leva para os jogos dos Red Sox desde que fiquei grande o suficiente para segurar um lápis e ajudá-lo a acompanhar o placar.

- Que legal – disse James. – E aquele jogo semana passada contra os Yankees, hein?

Eles embarcaram numa animada conversa sobre as possibilidades de o Red Sox ir bem no campeonato, o que depois se transformou numa conversa sobre música.

Conforme James contava a Lily sobre suas bandas locais favoritas, ele soltava frases como "mal posso esperar para lhe mostrar esse CD" e "tenho que levar você pra assistir a um show deles".

O pulso de Lily se acelerava, ouvindo-o falar. "Estou a sós com James Potter", pensou ela, sentindo uma certa vertigem, "e posso estar errada, mas acho que ele vai me convidar pra sair!"

A noite havia caído. Ao longe, na praia, as brasas da churrasqueira brilhavam como olhos vermelhos na escuridão. Alguns garotos estavam recolhendo pequenos pedaços de madeira para fazer uma fogueira.

- Como é que ficou tão tarde de repente? – perguntou James. Ele escorregou para mais perto dela sobre a pedra. Os braços dos dois estavam se tocando agora.

As horas tinham voado como minutos.

- Não sei – Lily falou suavemente.

- Eu não devia ter monopolizado você assim – James virou-se para poder vê-la de frente. – Seus amigos devem estar se perguntando o que aconteceu com você.

Ela baixou os olhos timidamente.

- Acho que eles não devem estar tão preocupados.

- Lily.

- O quê? – falou, levantando o rosto.

- Você tem olhos lindos.

As bochechas dela ruborizaram.

- Ah... obrigada.

- E um cabelo muito bonito – falou, levantando a mão para retirar um fio que estava caído no ombro dela. – Você acha que...

Lily prendeu sua respiração. "Ele vai perguntar se pode me beijar!", ela imaginou. Na verdade, ela nunca havia beijado um garoto antes, pelo menos não na boca. O que ela deveria falar? O que ela deveria fazer?

Antes que James pudesse terminar sua frase, a magia do momento foi quebrada.

- Desculpem por estar interrompendo vocês – Lene falou de uma certa distância -, mas minha mãe chegou, Lily.

Lily olhou para Lene e concordou com a cabeça.

- Eu preciso ir – ela disse desapontada.

Eles se levantaram. James recolheu os pratos de plástico e as latas vazias de refrigerante.

- Vou ligar para você – prometeu ele.

- O.k.

- Eu vou, você sabe.

Ela riu.

- Eu acredito em você!

James abaixou sua cabeça para perto da dela. Seus lábios encostaram no canto da boca de Lily, num toque leve como uma borboleta.

- Não, eu quero dizer, de verdade. Eu vou mesmo – ele piscou para ela antes de se virar para ir embora. – Até logo, Lily.

- Até – respondeu ela.

Assim que James se afastou um pouco, Lene correu para perto de Lily exigindo detalhes.

- Lily, ele não conversou com mais ninguém durante a noite toda! – Lene soltava risadas estridentes enquanto elas atravessavam as dunas em direção ao estacionamento. – James Potter está apaixonado por você!

- Ele não está apaixonado por mim – protestou Lily. Mas seu rosto ainda continuava brilhando.

Lene suspirou extasiada.

- Você e James Potter. Ele é o cara mais bonito do colégio! Ele convidou você pra sair?

- Ele disse que vai me ligar.

- Amanhã?

- Eu não sei!

- Você tem que me ligar logo depois que ele ligar – insistiu Lene.

- Está certo.

- Uau, Lily – Lene agarrou os braços de Lily e deu-lhe uma sacudidela. – James Potter!

Elas correram para o carro da senhora McKinnon, dando risadinhas como se fossem duas malucas. A adrenalina fervia nas veias de Lily, ela sentia como se pudesse ir para casa flutuando.

Até aquele momento, ela não tinha gasto muito tempo pensando no que aquele primeiro ano do Ensino Médio iria trazer. Imaginava que seria bem parecido com os outros anos, apenas com matérias mais difíceis. Mas agora, repentinamente, ela estava aguardando o inicio das aulas de uma maneira inteiramente diferente, por uma razão inteiramente diferente. Ela tinha a sensação de que sua vida estava prestes a mudar.

"James Potter, James Potter." Ela cantava o nome dele em sua cabeça, seus pés dançando pela calçada. Lene estava certa. Aquela tinha se transformado em sua grande noite.