A pequenina borboleta dourada não largara o elfo nem por um minuto desde que chegara. Legolas já havia dado todas as escusas possíveis e imagináveis, porém Ilúvatar parecia divertir-se com aquela situação.
- Disse e repito, Borboleta, não posso fazer nada quanto a isso!
- É tão difícil assim o que peço, Las? Um elfo tão poderoso quanto você é capaz disso e de muito mais!
- Bajulações não irão ajudá-la a concretizar seu intento, pequena criaturinha de Eru!
O animalzinho pousou no ombro do eldar, fazendo, com suas asas, uma leve carícia no rosto dele. Legolas parou, suspirando ante a demonstração de carinho tão pura quanto poderosa.
- Você não vai desistir mesmo, não é?
- Fato.
- Fato, fato, fato – repetiu o elfo, enquanto se recostava em uma árvore próxima.
A borboleta riu. O imortal estava agora em suas mãos – ou asas, por assim dizer.
- É um favor tão pequeno, Las...
- Pequeno para você, criaturinha astuta. No entanto, não há precedentes do que me pede.
- Talvez porque alguém nunca houvesse pensado nisso antes. E embora não haja precedentes, sei que com a ajuda de Gandalf ou...
- Vamos deixar o mago fora dessa história, entendeu! – advertiu o eldar – ele tem muito com que se preocupar nesta Terra Média cheia de perigos. Não tem tempo a perder com as peripécias de uma criaturinha tresloucada como você.
- Então a quem irá recorrer? – indagou o animalzinho deveras curioso.
Legolas sorriu enigmático. Chegara sua vez de imprimir uma doce tortura em sua amiga atrevida.
- Tenho meus meios – respondeu com o olhar cheio de significados.
A borboleta agitou as asas em uma clara atitude de ansiedade.
- Não vai me contar como fará, não é! Elfinho teimoso!
- Não, não vou – disse, displicente, enquanto rabiscava qualquer coisa no chão – porém sei que você ficará contente com o resultado. E ela também ficará.
- Fará com que ele a visite, então? – indagou a borboleta, em busca da confirmação deseja.
- Só não estou bem certo sobre ... ele...
- Como assim, Las?
O elfo mirou o firmamento. Os olhos em busca de algo que a borboleta não conseguiu vislumbrar.
- Ali – indicou, apontando para o céu – quando ela lê sobre o guardião, vejo que se emociona, no entanto quando ela passa os olhos por este trecho, algo de sobrenatural se insinua.
A borboleta se impacientou.
- Deixe de enigmas, elfinho teimoso, não sei ler a história desse jeito, como vocês. Não vejo os livros escritos no céu. A qual parte está se referindo?
Legolas sorriu, desejoso de prolongar a ansiedade de sua 'algoz'.
- Talvez eu lhe conte, talvez não.
- Como assim?
- Pode ser que seja chegada a hora da desforra, minha querida borboleta. Você tem me feito passar por poucas e boas em suas histórias ultimamente. Em 'Destino de Muitos' então...
A borboleta estremeceu por dentro, recordando-se das reviews que pediam que ela tivesse clemência de Legolas.
- Las, não faça assim!
- Las, Dan, Ro! Você e seus apelidos. O que diria Tolkien?
As asinhas da borboleta pareceram murchar, ante a aparente acusação de Legolas. Por nada no mundo macularia de propósito a obra do professor. Muito pelo contrário.
Com sua sensibilidade élfica, Legolas percebeu que havia se excedido.
- Estou brincando, Borboleta! Tolkien ficaria mais do que honrado com o carinho que nos dedica. Tive muitas destas conversas com ele, você sabia?
- Eu suspeitava – respondeu timidamente a criaturinha no ombro do elfo.
- Anime-se então. Vou lhe contar o que tenho em mente.
- Sim, sim, conte! – animou-se a Borboleta – de que fala aquele trecho que você apontou no céu?
- Fala da morte de Boromir.
- Ah – entristeceu-se a criaturinha – é uma passagem tão triste!
- É fato. Assim com sentimento avassalador que se insinua entre eles.
- Jura?
- Oh, sim, minha cara Borboleta. Como disse antes, é quase sobrenatural. Bastará um leve sopro para que caiam nos braços um do outro – respondeu o elfo, com uma malícia de menino.
- Confesse que também está se divertindo com a idéia, Las!
O elfo riu um riso irresistível.
- Sim, Borboleta, estou. No entanto, não é por isso que vou te ajudar.
- E por que, então?
- Por que tanto ela quanto ele merecem essa felicidade. E eu, de minha parte, fico bastante satisfeito de poder ajudar.
- Vou esperar, então.
Triiiiiiiiiimmmmm
- O que foi isso – indagou o elfo.
- Ah. É a Bea. Preciso atender.
Legolas assentiu.
- Sim. É fato. A família sempre em primeiro lugar!
- Obrigada, Las – respondeu a Borboleta, antes de virar pó de estrelas e retornar, deixando elfo com um sorriso nos lábios e um pensamento no coração.
'Obrigado, Ilúvatar, por nos ter presenteado com essas criaturinhas.'
