- Sabe o que isso significa, Matt?
Estavam sentados na mesma cama. Um estava a balançar as pernas, e o outro acabara de perguntar sem esperar respostas, estava sentado meio de joelhos sobre a colcha. Os olhos azuis brilhavam, contra a luz do abajur. E o ruivo... Apenas ele, conseguia ver através daquelas iris, além de todo aquele ódio: a esperança, o empenho e a dor que não só aquele que perguntava sentia, mas que ele compartilhava também. Então, o garoto da blusa listrada apenas abaixou a cabeça, fazendo sua face se confundir na escuridão do local.
- Eu vou embora. Eu vou superá-lo, e vou suceder L. Do meu jeito, com a minha glória...
Os olhos do loiro não diminuíram aquele brilho, mas ele se abaixou um pouco, tocando a bochecha do outro, erguendo o rosto dele, para que o visse. Mas o ruivo continuava com os olhos fechados fortemente.
- Está me ouvindo, Matt? Ou vai fingir que eu não exis...
A voz pareceu rouca, cortando-se antes do final da frase... Bem na hora em que os olhos verdes do ruivo se entreabriram, deixando as lágrimas transbordarem seus olhos e rolarem pelo seu rosto. O loiro apenas ficou a olhá-lo, boquiaberto. O ruivo mordeu fortemente os lábios, tentando segurar aquilo que insistia querer sair... E notando seu próprio fraquejar, o rapaz empurrou a mão do outro de seu rosto, afastando-se e dando as costas. Abafou sem sucesso o choro com as próprias mãos. Aquele som que Mello nunca iria se esquecer. No seu silencio, ele estaria. Com ele, aquele afeto único...
The body breaks.
Estava tudo aqui, em minhas mãos. E eu deixei escapar.
Aquele lamento latejava em sua mente, junto à dor de cabeça. A dor nos olhos. Na pele. Queimava... Queimava principalmente suas esperanças. O que iria fazer agora? Estava só. Só tinha agora a... A SPK? Por que aquilo lhe viera em mente? Era seu único refugio em uma hora daquelas, pensou. Mas não iria se rebaixar a aquilo. Morreria então, mas não se rebaixaria. Todos esses anos... Jogados fora. E o culpado era apenas ele. Aquilo era o reflexo de suas ações passadas. Isso estava claro em sua mente conturbada.
É, vou morrer.
Tentou se movimentar mais uma vez, arrastando o corpo para o lado. Não sentia os pés. Não sentia o coração bater. Apenas sentia a cabeça latejar, cada vez mais súbita. Os pensamentos pareciam se confundir, a cabeça parecia rodar. Levou a mão até o rosto, tentando evitar a queimadura. Estava doendo demasiadamente. A mão deslizou pesadamente sobre seu peito, encima do crucifixo.
Deus, não quero morrer.
Suspirou, encostando a cabeça na parede. Pensava em ligar para alguém... Não sabia quem. Mentira. Sabia muito bem, mas não queria. Buscava desesperadamente em sua mente contatos, ou alguém que lhe devia alguma. Tentativa frustrada. Ligaria para ele então. Sim, ele... Mas havia algo errado. A mão não se movia. Esforçou-se o que pode para levantar o corpo, mas nada respondia. E aquela maldita dor de cabeça, prosseguia, incessavel. Gemeu baixinho para si, sentindo a vista escurecer. Estaria morrendo?
