Capítulo 1 – No one can escape the Destiny
"Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se…
Independentemente do tempo, lugar ou circunstância…
O fio pode esticar ou emaranhar-se,
mas nunca irá partir."– Antiga crença chinesa
Quando duas almas que se amam se encontram, talvez não percebam imediatamente, mas sentem uma empatia mútua fora do comum, profunda e inexplicável. Dizem que a conexão espiritual pode transcender a matéria do corpo e o tempo, passando pelas gerações e encarnações do plano físico.
Se essa ligação entre duas pessoas for muito forte, pode ultrapassar até mesmo a morte e reviver diversas vezes, num ciclo infinito.
As almas que são destinadas a se encontrarem podem percorrer por muitos caminhos errantes, emaranhando o "fio vermelho" em diversos episódios da trama da vida. Contudo, o tempo sempre será um fator contribuinte para esse encontro, dando a certeza de que, independente do que aconteça, o destino se encarregará de uni-las, ainda que seja no último momento.
There's a time to live (Existe um tempo para viver)
There's a time to die (Existe uma hora para morrer)
But no one can escape the Destiny (Mas ninguém pode escapar do Destino)
Aquele dia estava ensolarado, bem quente como havia de ser no verão. As folhas dançavam ao ritmo do vento refrescante da tarde. A clareira dentre as árvores era um lugar perfeito para descanso e o pequeno lago uma ótima opção para se refrescar do calor. À margem, o garoto de cabelos rebeldes, que aparentava ter seus doze anos, lançava pedras na água corrente, numa tentativa frustrada de que alcançasse margem do outro lado. Suspirou pesadamente por mais uma falha, irritando-se por não conseguir executar algo que parecia tão simples. Pegou outra, preparando-se para atirá-la.
De repente, foi interrompido pelo som de outra pedra sendo lançada na água, alcançando rapidamente a outra margem. Piscou surpreso, voltando à atenção para trás de si, encontrando o olhar do outro indivíduo que o encarava com um sorriso. Estava tão distraído que não sentiu a presença do estranho se aproximando. Fuzilou com o olhar o garoto de cabelos escorridos, estalando a língua, de forma apática. O intruso riu ainda mais daquela irritação e deu alguns passos, aproximando-se.
- Há uma técnica para que chegue até lá. – Pegou outra pedra com a mão direita, inclinando um pouco o punho e arremessou, fazendo com que chegasse à outra margem em segundos. – Viu? – Pôs a mão na cintura, triunfante.
– Posso alcançar o outro lado facilmente se eu quiser. E você, quem é? – Perguntou, arqueando a sobrancelha.
-Digamos que sou seu rival em atirar pedras no lago, por enquanto. – Andou mais três passos, ficando lado a lado com o outro.
-Você não respondeu minha pergunta, idiota.
-Hashirama, mas acho melhor não dizer meu sobrenome.
-Hashirama, huh? Veja, agora vai atravessar. – Pegou outra pedra e a lançou como se atirasse um shuriken, enquanto Hashirama o observava em silêncio. A pedra afundou no meio do percurso. – Idiota, você me desconcentrou ficando aí atrás de mim. – Com o rosto retorcido numa carranca, voltou o olhar para o garoto atrás de si. – Não consigo nem mijar se tiver alguém perto de mim! – Berrou, apontando o dedo para o outro.
-Desculpe... – Hashirama sentou-se no chão, deprimido.
-Ei, não precisa ficar deprimido. Eu tenho esse hábito de ficar inventando desculpa e... - Madara ficou sem graça por ter sido tão rude.
-Não precisa se explicar você se acha demais. – Replicou, ainda sentado e com aquela cara depressiva.
-Maldito, não sei dizer se você é um idiota emotivo ou um espertinho. – Fuzilou o outro com o olhar.
-Hahaha, uma coisa que você pode dizer é que não consegue me vencer atirando pedras no lago. – Hashirama levantou-se, a fisionomia havia mudado de repente.
-Continue falando e eu te jogo no lago ao invés da pedra. – Disse, bastante irritado com aquela mudança repentina de humor do outro.
-Desculpe se o irritei. –Sentou-se de novo, novamente deprimido. – Para compensar, pode me atirar na água.
-Cara, não precisa ficar choramingando. – Madara tentou se explicar.
-Só espero chegar ao outro lado, apesar de duvidar que você consiga...
-Você só pode tá me zoando. – Disse exasperado, irritando-se de novo. – Some da minha frente. – Gritou, apontando para a mata.
-Se é isso o que você quer... – Hashirama se levantou, ainda com o ar depressivo, começando a andar em direção à floresta.
-Espera, idiota! – Bufou, agarrando o outro pela gola.
-Resolve o que você quer da vida. – Questionou, virando-se para olhar a carranca de Madara.
Neste instante, Hashirama percebeu um movimento estranho e correu por cima da água. Parado no meio do lago, como se flutuasse sobre a superfície, constatou que se tratava de um homem morto, era de um clã inimigo. O outro que se encontrava à margem confirmou suas suspeitas: Aquele garoto era um shinobi, assim como ele. Depois disso, ambos resolveram que era hora de irem embora. O garoto que estava na superfície da água acabou atravessando o lago, parando no lado oposto.
-Até mais... Hmmm...
-Meu nome é Madara.
– Outro dia nos vemos aqui?
-Quem sabe? – Virou-se, para em seguida, embrenhar-se entre as árvores, deixando a pergunta no ar.
No percurso de volta ao pequeno vilarejo, Madara percebeu que havia algo diferente naquele garoto, mas não quis dar tanta atenção. Resolveu apenas ignorar.
Em outro lugar daquela mata, enquanto seguia seu caminho, Hashirama ficou pensando em como fora atraído até aquele lugar em específico. Até o momento, não entendeu muito bem o porquê, apenas seguira seu instinto e, quando deu por si, estava diante do outro garoto a beira daquele lago. Pela altura e aparência, julgou que possuíam a mesma idade. Sorriu confiante com a ideia de que havia encontrado um novo amigo. Ao menos era isso o que esperava.
Passaram-se alguns dias e, novamente, os irmãos Hashirama, Tobirama e Itama, travaram uma luta contra um clã adversário, juntamente com os demais homens, companheiros de guerra. Mesmo após a morte de Kawarama, de apenas sete anos, irmão mais novo de Hashirama, viram-se obrigados a entrar no combate pela sobrevivência, junto aos adultos, ainda que sejam apenas crianças.
Após conseguirem vencer alguns de seus oponentes, Hashirama deparou-se com uma cena que o deixou completamente atordoado: Seu outro irmão mais novo, Itama, fora morto por alguns dos integrantes do clã Uchiha, os maiores rivais dos Senju. Desnorteado, os olhos lacrimejaram no mesmo instante em que viu o corpo ensanguentado apoiado numa rocha, ajoelhou-se próximo ao irmão, inconformado por toda a dor que aquela guerra estava causando.
HS ღ MU
Após alguns dias, Madara compareceu à margem do rio, como havia "combinado". Percebeu que algo estava estranho ali, quando viu que Hashirama – sentado próximo à água – fitava o nada, ignorando sua presença.
-Ei, há quanto tempo... Hmm... – Parou por um instante, tentando lembrar o nome do outro.
- É Hashirama. – Respondeu, apático.
-Mal cheguei e já tá com esse jeito deprimente. – Indagou, achando estranho aquele garoto estar menos falante.
-Não foi nada... – Permaneceu sentado sem olhar para trás.
-Fala logo. – Insistiu, dando um passo a frente.
-Já disse que não é nada. – Falou com a voz embargada.
-Imbecil, estou tentando ser atencioso e gentil, fala logo de uma vez! – Replicou, alterando o tom de voz.
Hashirama virou o rosto, molhado de lágrimas, para encará-lo. Madara sentiu um aperto no peito por ter se alterado, o nó na garganta havia se formado. Sentou-se ao lado de Hashirama.
-Meu irmão mais novo está morto. – Começou, falando com a voz estrangulada pelo choro. – Sempre venho aqui quando estou triste. – Suspirou – Seu nome é Madara, certo? É a mesma coisa com você?
-Entendo o que está sentindo. – Disse, fitando a correnteza.
Madara não era muito bom com as palavras, não sabia como consolar aquele garoto que falava de forma aberta acerca de sua vida. Queria dizer algo que o fizesse se sentir melhor, mas acabou falando sobre coisas do orgulho de ser um shinobi, lembrando-se dos próprios irmãos que morreram por causa da guerra. Permaneceram ali por horas, conversando sobre como a vida seria se aquelas batalhas sangrentas não existissem.
Os encontros foram se tornando mais frequentes e, apesar de serem completamente opostos, Madara e Hashirama se entendiam do seu modo. Praticavam seus golpes, fortaleciam seus chakras e, na maioria das vezes, passavam boa parte do dia juntos. Quando davam uma pausa entre um treino e outro, conversavam sobre diversos assuntos, sem nunca revelarem seus sobrenomes.
Madara via Hashirama como um idiota sonhador, com aquele papo de encontrar a paz em meio ao caos da guerra. Como se isso fosse possível. Entretanto, Hashirama se mostrara bastante otimista e enérgico em seus ideais e de certa forma, foi contagiando o novo amigo. Aos poucos, Madara foi se permitindo compartilhar desses ideais, pois seria um verdadeiro sonho viver em um lugar sem lutas.
Semanas se passaram após o primeiro contato e eles ainda não entendiam o porquê de se darem tão bem, mesmo com personalidades tão diferentes. Madara sempre se irritava com aquela atitude depressiva de Hashirama quando algo não saía como ele queria. Parecia que fazia apenas para irritá-lo. Apesar das desavenças, não queriam ficar longe um do outro.
Hashirama notou que sentia algo mais do que amizade, ainda que não soubesse exatamente do que se tratava. Pegava-se pensando frequentemente em Madara quando não estavam juntos e, quando se viam, sentia como se houvessem borboletas no estômago, o coração até batia mais forte.
Então, em um determinado dia, uma coisa lhe veio à mente. Na verdade, estava curioso para experimentar, pois já havia visto os adultos fazendo – e sempre se sentia enojado todas as vezes que via. Nunca lhe passou pela cabeça fazer isso, entretanto, depois que conheceu aquele garoto misterioso, pegou-se pensando nisso várias vezes. Em como seria se fosse com Madara.
"Será que ele aceitaria numa boa?"
"Bom, no mínimo, vou levar uma surra daquelas." – Riu só de imaginar a cara de raiva que outro faria. Um dos seus passatempos favoritos era provocá-lo.
No encontro seguinte, Hashirama resolveu que tentaria o que estava pensando, mesmo sob a ameaça eminente de Madara socá-lo até a morte.
Após um treino exaustivo, os garotos estavam deitados lado a lado, ofegantes, fitando o céu mesclado em tons de azul e laranja. As aves voavam e gorjeavam de um lado para o outro, procurando abrigo entre as copas das árvores frondosas que balançavam com o vento refrescante daquele final de tarde. O pôr-do-sol era realmente maravilhoso visto de cima do penhasco.
Ambos se sentaram, apreciando aquela obra natural perfeita. Particularmente, Hashirama achava mais fascinante ainda a visão do Madara com o olhar perdido, observando o horizonte, imerso em pensamentos, os quais ele daria tudo para desvendar. O ar misterioso de seu amigo o encantava. Continuou fitando até sentir-se movido, como se estivesse sendo puxado por uma onda magnética. Aproximou-se, erguendo uma das mãos em direção ao rosto do outro, pousando-a ali, fazendo uma carícia tímida.
Madara estranhou a atitude, mas, ao sentir o calor que emanava daquela mão e a suavidade do toque, fechou os olhos, deixando-se levar pelo carinho singelo. Não podia negar, estava gostando daquela sensação. Deixou o rosto inclinar um pouco para o lado, como se pedisse que continuasse com o que estava fazendo.
Percebendo o movimento sutil, Hashirama fitou o rosto sereno por alguns segundos, descendo o olhar para a boca fina. Mordeu o lábio inferior. Queria muito provar aquilo. Parecia hipnotizado, não conseguiu raciocinar mais e, como um ímã que é atraído pela outra extremidade, encostou sua boca na de Madara. Este arregalou os olhos, espantado com a atitude repentina e, por impulso, espalmou o peito do amigo, empurrando-o, fazendo com que caísse deitado de costas, batendo a cabeça numa pequena pedra.
-O que pensa estar fazendo, idiota? – Esbravejou, sentindo o coração saltar no peito, o corpo trêmulo pelo nervosismo – Ficou louco?
-D-Desculpa... Eu... Eu só... – Gaguejou, envergonhado, coçando a nuca e baixando o olhar.
O silêncio novamente se instalou, porém, diferente de alguns minutos atrás, o clima ali era pesado. O coração de Hashirama parecia que iria arrebentar a caixa torácica de tão forte que batia. Perdido, sem saber o que fazer ou dizer, continuou encarando o chão, deprimido.
"No que esse idiota estava pensando? Me pegando desprevenido desse jeito..." Madara sentiu o rosto queimar de vergonha.
Após alguns segundos, que pareciam horas por causa do nervosismo, Madara se levanta, sem dizer uma palavra, e começa a caminhar em direção a floresta. Hashirama não ousou dizer uma palavra, pois sabia do temperamento difícil do seu amigo. A única coisa que pode fazer foi observá-lo indo embora, sentindo o nó se formando na garganta.
"Droga, como pude ser tão idiota?" – Bateu na testa, enquanto aquela sentença ecoou em sua mente.
"Do jeito que esse cara é, vai ficar bravo por um bom tempo".
Suspirou pesadamente e, sem muito ânimo, levantou-se para seguir seu rumo direto para casa.
Enquanto fazia seu habitual percurso de volta, atingido por um turbilhão de sentimentos e pensamentos, Madara corria e desviava das árvores, tentando, de alguma forma, fazer com que essas estranhas sensações o deixassem. Era certo que sentia algo diferente por Hashirama. A lembrança daquele episódio recente fez seu rosto arder.
"Será que...?"
"Não, não pode ser." – Sacudiu a cabeça, tentando espantar os pensamentos para longe.
Conhecido por ser frio, imparcial, Madara se viu completamente desnorteado. Aquele garoto era o único que conseguira deixá-lo confuso desse jeito.
Desde o dia em que conheceu Hashirama, sabia que algo havia mudado dentro de si. Às vezes, enquanto distraído, pegava-se pensando no amigo. Na falta que ele fazia nos dias em que não conseguiam se encontrar por causa das batalhas. Até mesmo alguns de seus sonhos eram invadidos por ele.
Jamais admitiria que possuísse qualquer afeição por aquele garoto. Seu orgulho jamais o deixaria dizer isso em voz alta. Mas, depois desse ocorrido, ficou claro na mente do Uchiha de que sentia algo que está além da amizade.
Com essa confusão em mente, chegou em casa e, para sua surpresa, seu pai e seu irmão mais novo, Izuna, o esperavam. O patriarca estava com o rosto sério, como se algo muito ruim tivesse acontecido.
-Aconteceu alguma coisa, pai? – O garoto perguntou, apreensivo.
-Você sabe muito bem do que se trata. – O olhar do mais velho era de reprovação.
-Não estou entendendo.
-Aquele garoto com quem você anda se encontrando. Ele pertence ao clã dos Senju. – Sem rodeios, o patriarca praticamente cuspiu as últimas palavras em sinal de repulsa. – Tem noção do que isso significa?
Madara tinha plena certeza de que Hashirama pertencia a um clã inimigo, mas não imaginava que fosse justamente este, o qual os Uchiha tem sido inimigos desde muito tempo.
Vendo que o filho entendera o peso de tal revelação, o mais velho continuou:
-Já sabe o que precisa fazer, certo?
Sem dizer uma palavra, Madara apenas assentiu com a cabeça, saindo em direção ao seu quarto. Chegando ao cômodo, aproximou-se e deitou-se no futon, do jeito que estava. Permaneceu ali, imerso em pensamentos, sentido o peito se apertar e os olhos lacrimejarem. Não queria se afastar de Hashirama, porém, o ódio dos Uchiha pelos Senju falava mais alto. Cerrou os punhos com força, batendo-os contra o chão de madeira. Precisava vingar seus irmãos mortos.
UM ღ SH
Agora, os que antes eram amigos, travavam batalhas árduas entre si. Não desejavam que as coisas fossem dessa forma. Viam-se num beco sem saída, graças à rivalidade entre seus clãs. Precisavam lutar para a própria sobrevivência.
The times are changing so fast (O tempo está mudando tão rápido)
I wonder how long it lasts(Eu imagino quanto tempo ainda resta)
The clock is ticking time is running out (O relógio está contando, o tempo está se esgotando)
The hatred fills this Earth (O ódio preenche esta Terra)
And for what is worth (E por aquilo que vale a pena)
We're in the end before we know (Estamos no fim antes de sabermos)
Durante o período de conflitos, Madara acabou nutrindo um ódio descomunal por Hashirama, algo que nem mesmo ele entendia ao certo de onde vinha. Sentia vontade de matá-lo, ao mesmo tempo em que queria estar ao seu lado e abraçá-lo. Considerava-se fraco por possuir essas emoções, principalmente por se tratar de seu inimigo. Lutou internamente contra os sentimentos durante todos esses anos, como alguém remando contra a correnteza. Queria arrancá-lo de seu coração e o caminho mais fácil que encontrou foi odiá-lo.
Como se realmente fosse capaz de fazê-lo.
Entre inúmeras lutas, ambos ganharam experiência e, consequentemente, tornaram-se líderes de seus respectivos clãs.
No fatídico dia em que travaram um duelo impetuoso que ocorreu por horas, finalmente, Madara engoliu o orgulho, pela primeira vez em toda a sua vida, resolvendo aceitar a trégua. Afinal, como poderia seguir adiante se Hashirama morresse devido ao seu pedido insano?
Look all these things we've done (Olhe para todas estas coisas que fizemos)
Under the burning sun (Sob um sol ardente)
Is this the way to carry on? (Este é o jeito para continuar?)
So take a look at yourself (Então olhe para si mesmo)
And tell me what do you see (E me diga o que vê)
A atitude sincera de Hashirama o fez baixar sua guarda, pois jamais esperou que esse homem fosse capaz de cometer tamanha loucura apenas para ganhar sua confiança.
"Esse cara... Por quê?" – Suspirou, vencido, antes de erguer e pegar a mão que lhe era oferecida para ajuda-lo a se levantar. – "Por que se importa tanto assim comigo?".
Hashirama sentia o peito transbordar de alegria, pois teria aquele a quem ama ao seu lado de novo, mesmo que fosse apenas como um amigo.
Throughout the years (Ao longo dos anos)
I have struggled to find the answer that (Eu lutei para encontrar a resposta que)
I never knew (Eu nunca soube)
And here I am telling to you (E aqui estou eu contando para você)
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No vilarejo dos Senju, Madara foi tratado de seus ferimentos com muito cuidado e atenção por Hashirama. Mesmo não sendo um especialista em curativos, deu o seu melhor, pois fez questão de estar ao lado do amigo o tempo todo. Com um pano umedecido em água morna, limpou, com movimentos cautelosos, os ferimentos dos braços, abdômen e ombros.
No entanto, sua atenção estava voltada para o peitoral descoberto, o qual ele tocava levemente com aquele pedaço de tecido úmido. Mordeu o lábio inferior, admirado com os músculos dos braços e do tórax bem definidos. Quantas vezes imaginou como seria aquele corpo sem as roupas. Ah, como gostaria de percorrer sua língua ali. Foi retirado de seus devaneios quando Madara franziu o rosto numa careta, mesmo os toques sendo cuidadosamente leves.
"Foco, Hashirama, mantenha o foco. Não é hora nem lugar para pensar nessas coisas." – Repreendeu-se mentalmente pelo pensamento indevido que estava tendo. – "Olha só o que você faz comigo, Madara. Também, quem manda ser essa delícia toda?".
Naquela noite, incomodado por algumas dores causadas pelo combate, Madara não conseguiu dormir, porém, preferiu fingir que dormia para que Hashirama não o atormentasse com perguntas, esperaria o outro apagar para sair da cama.
O Senju o velava atentamente. Enquanto fitava o rosto pálido, devido à perda de sangue, pode ver o quanto estava diferente. Apesar feição séria ser praticamente a mesma, agora ele apresentava pequenas linhas de expressão que se formavam abaixo dos olhos, o rosto levemente quadrado na linha do queixo, os lábios finos, aparentemente macios. Hashirama engoliu a saliva. Queria muito experimentar aquela boca. Quantas vezes, em seus sonhos, viu-se o beijando com fervor. Seria arriscado tentar algo desse tipo agora, ainda mais com a lembrança da reação que o outro tivera no passado quando resolveu tentar beijá-lo. A respiração de seu amigo parecia tão calma, diferente da de Hashirama, que estava irregular devido a sua ansiedade.
"Ele está dormindo tão tranquilo, se eu for bem cuidadoso, nem vai notar". – Aproximando o rosto, parou por um instante para analisar se o outro não acordaria.
Madara sentiu a respiração de Hashirama contra sua face, mas manteve os olhos fechados. Estava ciente da intenção do amigo, porém, não iria impedi-lo dessa vez, pois também ansiava por isso há tempos, apesar de seu orgulho nunca deixá-lo admitir.
Agora eram adultos, não precisavam agir feito crianças. Sabiam dos seus desejos, de suas necessidades. Os hormônios já estavam em ebulição há alguns anos. Todavia, no campo de batalha não havia muito tempo para pensar nisso. Agora que a paz finalmente chegou, poderiam se deixar levar por essas sensações.
"Não vou fugir dessa vez."
Hashirama encostou levemente os lábios nos de Madara, fechando os olhos, segurando a respiração ofegante para não acordá-lo. Sentiu a textura. Macios, deliciosamente macios. Quis afundar sua língua naquela boca e mordê-la com força. Conteve-se o suficiente para se afastar e, quando começou a erguer-se, sentiu as mãos de Madara agarrando seus cabelos e puxando-o para si novamente, grudando os lábios num beijo urgente. Surpreso com o movimento, o Senju ofegou, mas logo tratou de ceder passagem ao Uchiha, para que este invadisse sua boca completamente.
O beijo começou desesperado, um pouco desajeitado devido às posições desfavoráveis. Madara enroscou os dedos nos cabelos de Hashirama, puxando-os com certa força, enquanto o outro apoiava os braços em cada lado da cabeça do que estava deitado, tentando se equilibrar para não deixar seu peso cair por cima do corpo do Uchiha.
Numa dança frenética, as línguas se movimentavam em sincronia, ora fora, ora dentro das bocas. Madara mordeu e sugou o lábio inferior de seu amigo com vontade, fazendo o outro deixar escapar um gemido baixinho contra sua boca. Quando sentiram o ar faltar nos pulmões, desaceleraram o ritmo, mantendo os lábios unidos, finalizando com um selinho estalado. Ofegantes, encostaram as testas de forma carinhosa, ouvindo as respirações se acalmar aos poucos. Madara ainda mantinha os dedos enroscados nos cabelos de Hashirama, enquanto este lhe acariciava ternamente o rosto com os dedos.
Hashirama quis dizer tantas coisas. Uma enxurrada de palavras lhe veio à cabeça, mas sentiu medo de estragar aquele clima tão gostoso instalado entre os dois. Continuou ali, sentindo o cheiro de Madara. Poderia ficar assim com ele a noite toda. Não demorou muito até seu devaneio ser interrompido pelo resmungo de dor que o outro emitiu. Esquecera de que o amigo estava ferido e, só então percebeu que havia deixado um pouco de seu peso cair sobre ele. Levantou-se depressa para pegar o remédio, achando que havia o machucado, contudo, foi impedido pelo Uchiha, que o segurou pelo pulso.
-Estou bem. – Hashirama o observou por alguns segundos e, constatando que o outro estava bem, sentou-se novamente a beira da cama. – Apenas fique ao meu lado. – Sussurrou as últimas palavras, acomodando-se melhor, com a ajuda de Hashirama. Fechou os olhos, a dor já não incomodara tanto quanto há alguns minutos atrás. Sentiu o cansaço pesar e o sono reivindicar seus sentidos.
O Senju apenas o observou em silêncio, sorrindo feito bobo. Sua mente ainda estava confusa com o ocorrido. Nunca imaginou que seria correspondido dessa forma.
Esse momento que tanto sonhara finalmente aconteceu, aliás, muito melhor que em seus sonhos. O gosto da boca de Madara, seu toque. Passou o dedo indicador nos lábios, sorrindo com a lembrança.
"Será que agora ele vai me aceitar?"
Aquela pergunta que tanto fizera a si mesmo começou ter um sentido positivo e uma pequena chama de esperança se acendeu em seu coração.
Desejava estar ao lado daquele homem mais do que qualquer coisa. Só de imaginar sentiu o peito se encher de alegria.
Finalmente seus sentimentos seriam correspondidos. Ao menos, era o que queria acreditar com todas as forças.
Continuou observando o rosto adormecido, ressonava tranquilamente. Afagou levemente os cabelos de Madara antes de se recostar em sua cadeira. Não demorou muito até o sono chegar.
Próximo à porta, de forma furtiva, Tobirama observara toda aquela cena completamente aborrecido, os punhos cerrados em plena ira. Não era novidade para ele que seu irmão mais velho gostava daquele Uchiha, apenas se conformara com isso. Quis repreender Hashirama, como sempre fazia quando este cometia alguma falta. Ah, mas ele não iria escapar amanhã. Já estava com o sermão preparado e o faria ouvir tudo sem reclamações.
Como ele poderia gostar de uma pessoa que matou muitos dos seus?
Aquele que o fez sofrer durante anos.
Odiava Madara, principalmente pelo que ele representava para seu irmão. Detestava a proximidade deles, a afeição que Hashirama demonstrava, capaz até mesmo de querer cometer a loucura de se suicidar, somente para obter a confiança dele.
Quantas vezes presenciou aquele olhar vago, a perda de sono graças aos pesadelos, as lágrimas silenciosas. O irritava profundamente todas as vezes em que via o mais velho sofrer por causa desse homem. Bufou, furioso com aquelas lembranças. Não conseguia entender o que Hashirama viu naquele infame.
Recusava-se em dividir o amor do irmão, ainda mais com aquele sujeito desprezível. Respirou fundo, tentando se controlar para não entrar ali e acabar com a vida do maldito Uchiha. Iria fazer isso em outra oportunidade, estava convicto disso. Soltou o ar, pesaroso, movendo os pés, rumando em direção ao seu quarto. Aquele desgraçado iria pagar por tudo, principalmente, por roubar o coração deu seu amado irmão mais velho.
Em seu quarto, pensou em várias formas de como iria conversar com Hashirama, enquanto fitava a lua minguante, cercada por algumas estrelas, da janela. Após minutos parado ali, deu alguns passos e deixou-se cair de costas sobre a cama, tentando organizar seus pensamentos. Estava possesso de ciúmes e certamente não conseguiria dormir facilmente. Estendeu o braço, pegando um livro que estava em cima da escrivaninha ao lado da cama, abrindo-o sem muito interesse.
Começou a divagar sobre algumas técnicas que poderia usar em um combate contra o Uchiha. Ansiava por isso há anos. Apesar de ter descontado um pouco de sua raiva ao golpear mortalmente Izuna, não era a mesma coisa, nunca seria. Seu objetivo era outro.
- Ainda terei o prazer de matá-lo com minhas próprias mãos, Madara. – Murmurou, formando na ponta de seu dedo indicador direito, um projétil de água com seu chakra, mirando-o num ponto específico no teto. Gesticulando um "bang", atirou para o alto, acertando uma mosca incômoda que voava no local em que estava concentrado. – Vou te esmagar feito um inseto. Até lá, aproveite sua vidinha medíocre.
Sem entender o porquê daquela proximidade, Tobirama jamais poderia imaginar que as vidas de Hashirama e Madara estavam destinadas a se encontrarem. Ainda que diversos fatores venham interferir, o laço que os unem está além da compreensão terrena.
But no one can escape the Destiny
