Os sentimentos do outro lado


Notas: História escrita para a Semana Hyoga de Cisne, um desafio promovido pela comunidade Saint Seiya Super Fics Journal.


"Por que você quer se tornar cavaleiro?"

O garoto olhou para o chão, como se procurasse uma resposta na neve. Depois voltou a encará-lo, num misto de medo e determinação.

"Meu pai. Ele morreu numa expedição na costa norte da ilha de Komsomolets. Eu quero ir morar lá. Mas me disseram que só um cavaleiro de Athena poderia sobreviver num lugar como aquele."

O motivo era quase igual ao seu. Hyoga respirou fundo e procurou as palavras certas.

"Você sabe que ser um cavaleiro de Athena significa lutar pela deusa Athena, proteger a paz e a harmonia na Terra?"

Ele meneou com a cabeça.

"Não sei nada sobre ser um cavaleiro de Athena. Esperava que me contasse."

Dois sentimentos passaram a opor-se em sua mente. Um deles repudiava o motivo do menino, que entrava na carreira de cavaleiro sem saber absolutamente nada do que seria mais importante em sua vida. E o outro pedia compaixão pelo garoto. Olhando para o órfão de roupas sujas e gastas, Hyoga sentiu pena. Tinha vontade de acolhê-lo e de dar-lhe proteção.

Foi quando se perguntou se Camus teria, também, pensado a mesma coisa ao vê-lo pela primeira vez. Um motivo tão pessoal não era digno de um cavaleiro de Athena. Mas, mesmo assim, fora aceito. Talvez, sendo um mestre, Hyoga compreendesse melhor os pensamentos de Camus.

"É um motivo egoísta e pessoal. Um cavaleiro não deve ser egoísta. Ele deve proteger o mundo inteiro e lutar pela deusa Athena. Um cavaleiro acredita que a deusa Athena trará paz ao mundo."

"Então... Não vai me aceitar...?"

"É melhor que busque outros meios."

"E se eu fizer tudo que um cavaleiro de Athena tem que fazer? Ainda assim posso morar em Komsomolets?"

"...Sim, isso é possível."

"Então eu quero ser cavaleiro. Por favor, me aceite! Eu prometo que vou me esforçar!"

"Você pode morrer no treino. Tem certeza de que quer arriscar a sua vida?"

"Sim!"

Agora Hyoga entendia o suspiro de Camus em seu primeiro encontro, pois fez igual.

"Tá. Venha comigo."

"Muito obrigado, senhor!"

Pensando bem, Camus tinha sido bastante tolerante com ele. Hyoga tinha vontade de meter um soco na cabeça do garoto para fazê-lo entender que um verdadeiro cavaleiro tinha outras motivações. Seu mestre também devia ter pensado o mesmo. E, ainda assim, dirigiu o treino utilizando o egoísmo como motivação.

Ele tinha de conduzir aquele menino para o caminho certo, mantendo sua motivação, tornando-o forte de corpo e alma. Era uma tarefa tão difícil que parecia quase impossível. E, se fizesse algo errado, perderia uma vida. Era muita responsabilidade.

Hyoga sempre pensara que o último sorriso de Camus antes de tornar-se cinzas tinha sido de orgulho. Agora ele sabia que também fora de alívio.


FIM