Tabibito
Trowa finalmente fazia outra parada em sua viajem depois de um longo período de seis dias. Ele vivia assim de cidade, em cidade. Olhou para cima, sem motivo algum, e viu que havia um pássaro no céu. Era um condor lindo, planando como se as nuvens fossem uma extensão das suas asas e a gravidade não existisse, a todo o momento reafirmando seu lugar de rei dos céus. Trowa não pôde observá-lo tanto quanto queria, pois os portões da cidade se abriam para ele e um ancião vinha lhe dar às boas vindas:
- Tabibito-san, bem vindo a esta cidade. Raramente temos visitas, portanto não estávamos preparados e não temos nenhuma hospedaria à disposição. Qual seu nome?
- Eu me chamo Trowa Barton. Não se preocupe com a acomodação, eu ficarei em qualquer lugar. – Disse o rapaz.
- Venha, vamos acomodá-lo na casa mais rica da cidade. A família o aguarda. Espero que aproveite a estadia nessa cidade. De onde você vem? – Perguntou o ancião.
- De um país distante. Não é importante falar sobre ele. Então, que cidade é essa?
- Se chama Cidade do Silêncio! – Disse o velho.
- Cidade do Silêncio? Por que tem esse nome?
- Por que nessa cidade é proibido tocar qualquer instrumento musical – O ancião se aproximou do rapaz e disse – Alguns anos atrás foi criada uma escola de música aqui. De início ela era apenas para adolescentes que aprendiam lá belas melodias, mas, passado algum tempo, os pais de todo o país queriam ensinar seus filhos a tocar música e começaram a colocá-los desde bebês na escola, desde pequeno apenas concentrando-se nas melodias. Depois de alguns anos, percebeu-se que as crianças que estudavam desde cedo na escola de música não aprendiam a falar e se tornavam autistas. Para piorar a situação, as competições de música no país se acirraram e as pessoas começaram a fazer coisas perigosas para tornar suas apresentações mais interessantes. Muitos enlouqueceram enquanto tocavam. O ponto culminante foi o dia em que um governante colocou fogo em um monumento da rua principal enquanto tocava violino. Ele disse que queria fazer o maior espetáculo de todos e que entregaria sua vida em prol da música. Depois disso a escola de música foi fechada, todos os instrumentos musicais foram apreendidos e queimados e as pessoas foram proibidas de tocar qualquer instrumento.
- Eu entendo. – Disse Trowa pensativo.
- Tabibito-san, quantos dias irá ficar? – Perguntou o ancião.
- Três dias. Imagino que seja suficiente para conhecer esse lugar.
- Certo. Vamos. Você ficará na casa dos Winner, eles vieram de outra cidade também, na época que música estava em alta aqui. Até hoje seu filho não fala, mas eu acredito que seja por não ter vontade. Aquele garoto é tão triste. Seu nome é Quatre, e ele tem quatro irmãs. Três delas estão vivendo com suas famílias, portanto as pessoas com que você ira interagir serão apenas Quatre e Iria, os pais não são muito presentes.
Trowa e o velho caminharam por alguns minutos pelas ruas da cidade. Nelas as pessoas paravam para olhar Trowa, alguns admirados pela beleza do viajante, os belos olhos verdes, o cabelo castanho e o corpo bem formado, outros surpresos por verem um viajante ali. Eles chegaram à frente de uma grande casa, aparentemente a maior do lugar, e tocaram a campainha. Um homem de meia idade veio atender. Ele abriu o portão e convidou-os a entrar. O ancião recusou e disse que tinha alguns afazeres deixando, assim, o rapaz de olhos verdes sozinho na presença do serviçal.
- Sr. Barton, deixe-me levá-lo para conhecer o meu jovem senhor, ele o espera. Eu sou Rashid, seu serviçal. Deixe-me levar sua bagagem! – Disse pegando a mochila que o rapaz carregava e caminhando em direção a entrada da casa.
Quando chegaram, Rashid abriu a porta dando passagem ao rapaz de olhos verdes que entrou e deu de cara com outro rapaz, muito belo e de estatura baixa, que sorria abertamente. Ele possuía cabelos louros muito claros e curtos, sua pele era branca como o mais puro marfim e seus olhos também eram verdes claríssimos o que formava um conjunto puramente perfeito. Os dois passaram um bom tempo apenas se observando até que o rapaz louro parou de sorrir e ficou rubro devido ao olhar que o outro depositava sobre ele. Trowa desviou o olhar e se apresentou:
- Sou Trowa Barton, viajante. Você é Quatre, certo? – Recebeu um aceno positivo de cabeça – Sinto incomodar, mas... – Parou ao ver que o outro fazia que não com as mãos – Não sou um incômodo para você? Que bom! – O outro apenas concordou com a cabeça fazendo uma reverência e, em seguida, um sinal para que Trowa o seguisse.
Chegaram a um quarto grande com mobília rústica. Nele havia uma janela que dava para o centro da cidade dali. Era possível ver tudo daquele pequeno lugar. O serviçal deixou as malas do rapaz ao lado da cama, o mesmo agradeceu o rapaz de olhos verde claros que se sentou na cama observando o outro que estava interessado na vista.
- O que foi? Tem algo que quer saber? – Perguntou estranhando o rapaz que fez que sim – O que seria? Quer saber mais sobre mim? – O outro fez que sim – Eu deveria te contar de onde eu venho, mas... – Quatre o olhou com cara de indagação – Você não gostaria de saber... – O outro ainda o olhava da mesma forma – Quatre, você gosta de música? – O louro fez que sim com a cabeça e a abaixou tristemente em seguida. – Então posso te contar de onde eu venho. Venho de um lugar chamado País do Som. É um lugar onde todas as pessoas ganham um instrumento musical quando nascem e as cidades têm nome de instrumentos e estilos. Eu saí de lá porque procurava pelo dueto perfeito, eu nunca me contentei em ser um músico bom e solitário. Eu queria mais, queria alguém tão bom quanto eu, que compartilhasse o sonho de ver o mundo ou muito mais que isso. – Ele observou o rapaz louro. Ele parecia curioso e surpreso – Então eu segui, de país em país, de cidade em cidade, a procura de alguém que tocasse comigo. Eu tocava em todas as cidades, divertia as pessoas. Já toquei com muitos, mas ainda não estou satisfeito. Nesse momento eu me sinto pior ainda, pois eu vim para um lugar onde ninguém toca. É muito triste. Se eu pudesse encontrar alguém aqui que tocasse...
Trowa parou de falar e observou o outro. Ele parecia incrivelmente feliz, mas ao notar novamente o olhar do rapaz se levantou rapidamente fez uma reverência e saiu do quarto correndo deixando Trowa muito confuso. O resto da tarde se passou sem grandes acontecimentos. Trowa não voltou a ver Quatre nem mesmo antes de sair para explorar a pequena cidade.
O rapaz de olhos verdes se cansou rapidamente do lugar. Algumas horas caminhando ali e não agüentava mais. Tudo era calado, tudo era parado, as pessoas não conversavam umas com as outras. Era incrivelmente chato. Então na falta de ter o que fazer o rapaz resolveu vasculhar os arredores do lugar, queria ao menos ver uma paisagem bonita. Ele andou durante algumas horas até que chegou a um lugar distante onde havia uma grande construção totalmente depredada cuja fachada lia-se: "Escola de Música Wing". Aquilo surpreendeu Trowa e muito. Era a antiga escola de música. Ele adentrou e caminhou pelo corredor principal, ali haviam instrumentos destruídos, salas queimadas e partituras espalhadas pelo chão. Por fim chegou a última sala do corredor principal. Também estava depredada, não possuía parede e dava diretamente para um jardim imenso. Pelo chão da sala e no jardim havia uma grande quantidade de flores muito brancas de a perder de vista. A paisagem dali era realmente bela. Em parte deixou o rapaz feliz, mas o fez lembrar de uma determinada pessoa loura que ele queria ter visto antes de sair. Ele estava pensando em Quatre. O rapaz se repreendeu por seus pensamentos, não deveria pensar no garoto daquela forma, ele se quer o conhecia e tinha quase certeza de que o outro não simpatizara com ele pelo fato de ser de uma cidade onde a música era proibida. Balançou a cabeça espantando aqueles pensamentos sem fundamento e resolveu retornar a casa dos Winner, mas quando estava saindo da sala viu ao canto da mesma, escondido entre as flores, um pequeno violino. Chegou mais perto para ver melhor e pode ver que estava inteiro. Ao lado do mesmo havia algumas partituras incompletas. Em uma delas, a mais bela aos olhos de Trowa, lia-se "Yoru no Uta". Se alguém a estava escrevendo o rapaz queria conhecê-lo, mas como talvez ele não voltasse ali tão cedo, olhou para os lados e viu que não havia ninguém. Chamou alto, mas ninguém respondeu. Então saiu para o jardim sem ânimo e finalmente seguiu para a casa de Quatre. No entanto, quando chegou constatou que o mesmo ainda não havia chegado novamente. Desanimado subiu as escadas para seu quarto e, no meio do caminho, escutou um som alto vindo do seu quarto e correu para lá. Quando chegou levou um enorme susto. Todas as suas coisas estavam jogadas pelo chão e o anfitrião encontrava-se ali procurando algo.
- O que você está fazendo velho? – Disse Trowa ao ancião que se desesperou ao ouvir a voz do rapaz. Ele não havia notado sua presença.
- Pois veja bem. Recebemos a informação de que você veio do País do Som então... Então – Disse o velho mexendo nervosamente as mãos – Imaginamos que você tivesse um instrumento musical deveríamos apreendê-lo.
- Quem disse isso a vocês?
- Não sabemos. Recebemos um telefonema de uma pessoa bastante confiável! – Disse o velho se garantindo amedrontado com o olhar de Trowa que prometia-lhe morte.
- Se eu vim do País do Som não te interessa, o que importa é que eu vim conhecer esse lugar desinteressante onde eu não posso nem ao menos tocar. Não se preocupe, eu não prejudicarei nenhum morador da cidade com a minha música e pretendo ir embora em dois dias. Se não está contente com isso irei embora agora. Para mim isso não faz diferença.
- Mas veja bem meu garoto, precisamos proteger a população. Eu vim só garantir que você não tocasse nessa casa, então eu ficaria feliz se você me desse o seu instrumento musical. Eu te entregarei quando for embora – Disse o velho com certa paranóia.
- Não está comigo. Como você vê, um instrumento musical comum seria difícil de ser escondido e você já revirou todas as minhas coisas. Então não se preocupe – Disse o rapaz com o mesmo olhar prometedor de morte – Peço que se retire. Eu gostaria de descansar! – Disse dando passagem ao homem e mostrando a saída.
- Eu irei! – Disse o velho mudando a expressão e falando baixinho – Não encontrará o dueto perfeito, não importa o quanto procure.
O rapaz de olhos verdes não mudou a expressão, mas ficou estático. Então o velho se retirou e, depois de fechar a porta e começar a arrumar a bagunça, começou a pensar. A única pessoa a quem ele havia contado sua história naquele lugar era Quatre e ele também era o único que sabia que ele procurava o dueto perfeito. Então ele havia contado ao ancião, mas por quê? De qualquer forma ele queria tirar algumas satisfações. Era inaceitável aquilo. Se ele perdesse sua flauta por causa do garoto jamais o perdoaria. Era seu maior bem, mas pensando melhor não podia ser o garoto pois ele não falava. Então não podia ter telefonado. Se não foi Quatre, quem foi?
O rapaz já sabia a resposta, no entanto não iria fazer nada, não devia. Terminou de arrumar a bagunça e deitou-se na cama. Minutos depois alguém bateu a porta e ele disse para entrar.
- Quatre o que aconteceu? – O garoto estava ofegante, as bochechas vermelhas. Ele correu até Trowa e pegou a sua mão e tentou puxá-lo. O rapaz não permitiu – O que foi? – Ele apontou para a janela desesperado. Trowa andou até lá e viu que do lado de fora da casa o caos se instaurava. Mais e mais pessoas chegavam. Aparentemente ninguém falava nada, apenas observava a casa com ódio e fazia sinais grotescos. Eles queriam o músico.
Quatre ainda olhava para ele. Desesperado parecia saber o que estava para acontecer. Ele pegou a mão de Trowa mais uma vez e o rapaz permitiu. Trowa deixou ser guiado para uma espécie de porão. Chegando lá o louro desesperadamente procurou uma lâmpada, depois de achar e acendê-la começou a andar de lado a lado passando as mãos pelas paredes. Quando encontrou o que queria sorriu alegremente. O que ele procurava era uma pequena passagem. Ele se abaixou e entrou fazendo um sinal para Trowa seguí-lo. Os dois engatinharam pela apertada passagem durante algum tempo. Ali era escuro e não era possível saber o que acontecia na superfície. Quando chegaram ao final da passagem havia outra porta para a qual Quatre abriu e saiu, quando Trowa viu não acreditou. Era a sala de música da escola Wing em que estivera mais cedo. Havia uma grande quantidade de luz natural banhando o local e as flores que pareciam brilhar. Quatre parecia feliz.
- Quatre, eu não acredito se você está aqui. Quer dizer que aquilo é seu – Disse apontando para o violino que o garoto louro correu e abraçou fazendo um sinal de afirmação com a cabeça – Sim entendo... – Trowa ia dizer algo sobre a música, mas parou ao observar Quatre que estava absolutamente belo ali parado segurando o violino. Os cabelos louros ao vento, toda aquela luz natural que deixava o rapaz tão pálido quanto às flores que o cercavam e desapareciam no horizonte iluminado.
O rapaz de cabelos castanhos ficou rubro e perdido em sentimentos desconhecidos pertencentes à Quatre, que falavam de Quatre. Aquilo seria amo? Não sabia. Seria atração? Não sabia também. Se aproximou devagar do rapaz louro que sorria leve e inocentemente, segurou o rosto pálido com uma mão e ficou ali olhando a íris do menor apreciando a proximidade e a reação do outro que em instantes ficara vermelho e olhava o rapaz com um olhar pedinte. Finalmente o rapaz decidiu atender aos desejos do menor e de leve depositou um beijo sobre seus lábios. O beijo se iniciou calmo e nervoso, em seguida as línguas se tocavam provando a textura e o sabor uma da outra, deliciando-se. Separaram-se confusos pelo beijo inesperado e ficaram se olhando nos olhos deixando que eles dissessem todas as verdades que os rapazes omitiram naquele curto espaço de tempo.
- Quatre eu imagino que você seja o meu dueto perfeito – O pequeno arregalou os olhos surpreso – Eu não o vi tocar, mas... Não tenho como explicar. Imagino que você sempre estive procurando por você, sempre, sempre... – Trowa se afastou pegando o arco do violino de Quatre que estava caído no chão e o entregou a ele – Toque, toque algo com todo seu sentimento, pode ser qualquer coisa – O garoto o olhava desesperado. Ele nem sabia o que tocar – Não sabe o que tocar? – O menor balançou a cabeça negando – Então olhe – Disse mostrando-lhe a paisagem - É lindo. Não ai está a sua musa inspiradora e a sua platéia? Toque para ela, veja seu violino e lhe pergunte o que ele quer que você toque, ele lhe dirá. Você nem pode imaginar. Os objetos têm poder de conservar memórias e nos compreender!
Quatre olhou atentamente para Trowa e por um momento não soube o que fazer. Ele queria muito tocar com o outro, mas sentia medo dele não gostar. Procurou confiança em algum lugar e olhou do violino para a paisagem respirando fundo. Sim ela sempre fora sua musa e platéia mais fiel. Era hora de tocar algo que fizesse jus a ela e tocar algo que seu violino conhecesse bastante, apesar de que ele ainda não entendia isso muito bem. Com esse pensamento, Quatre posicionou o seu violino e respirou fundo novamente segundos antes de colocar o arco próximo às cordas finas. A melodia se iniciou, era melancólica e apaixonada. O rapaz sentia o vento tocar seu rosto como se escutasse a canção e visse lhe mimar com caricias infinitas. Quatre não estava mais em terra, agora sobrevoava as flores, as via viver, as via morrer. A música dizia isso. Vinha o dia e castigava e a noite acolhia deixando-se iluminar por elas. A melodia agora era tocada rápida e docemente. Tudo era observado de perto pelo viajante que se sentia seduzido pela música. A melodia era linda, era perfeita. As notas agudas eram substituídas por graves em segundos, mas não bruscamente e sim magicamente assim como a escuridão do céu noturno contrastava com o brando das flores e o brilho da lua. Duas coisas contraditórias formando um conjunto perfeito. Agora Quatre pensava no rapaz que estava ali. Não o conhecia, mas possuía um sentimento forte por ele. Sentiu alguém se posicionar ao seu lado e percebeu que era Trowa. Ele apenas o olhou por alguns segundo e o viu tirar de dentro da roupa uma flauta pequena. Trowa começou a tocar uma melodia bem diferente da de Quatre. Era alegre e compulsiva e assim as melodias se juntaram o som do violino em contraposição com o da flauta. Se seguiram minutos sem palavras em que os músicos puderam apreciar por segundos a essência da música contida na mistura sem igual de sons. Por fim, no ápice da música, sentiram que algo se formava, unia e entrelaçava. Eram os sentimentos deles expostos pela música que se tornavam um para dois. Quando ambos pararam estavam surpresos, era impressionante o que haviam feito.
- Quatre, é como eu disse. Você é o meu dueto perfeito. Eu desejo que venha comigo – Disse o rapaz de cabelos castanhos – Que venha comigo se quiser – O pequeno nada podia fazer a não ser acenar positivamente com a cabeça, mas de repente sentiu uma vontade incessante de dizer ao outro como se sentia. Ele abriu a boca e tentou pronunciar uma palavra, mas tudo o que conseguiu foi produzir um som fraco. Ele tentou novamente, e dessa vez parte das palavras saíram e agora Trowa estava prestando atenção nele.
- Eu...– conseguiu dizer com esforço baixinho e afobadamente – desejo... sair desse país e ir... – Disse encontrando sua voz – com você. Eu quero ser seu dueto pra sempre, seu único.
- Quatre você está falando! – Disse Trowa surpreso – Se você quer realmente ir comigo então devemos ir logo e fugir. Eu irei até o fim do mundo com você. Um lugar onde possamos tocar eternamente um para o outro – Disse observando o pequeno que agora sorria encabulado. – Sabe o que senti quando toquei com você? Senti todos os sentimentos perturbadores e sinceros colocados na minha música se unirem aos seus! – Ele olhou para o pequeno – Agora somos um só, entrelaçados por aquilo que sentimos.
O louro se aproximou de Trowa e encostou a cabeça no seu peito. O rapaz mais alto o abraçou levemente trazendo-o para mais perto. Então sentou no chão levando o pequeno junto. Ainda abraçado a ele, beijou sua testa carinhosamente antes de fechar seus olhos vagarosamente. Viu que o louro o fazia também, os dois caiam no sono embalados pelo calor um do outro.
- FINALMENTE ENCONTRAMOS VOCÊS! – Alguém gritou bem na hora que Trowa abriu os olhos. Ele viu o ancião gritando para várias pessoas da cidade que vinham pelo campo branco à frente dos rapazes esmagando as flores pelo caminho.
O rapaz levantou-se assustado, trazendo Quatre consigo e disse:
- Pegue seu violino e o arco e vamos fugir rápido! – O garoto obedeceu rápido enquanto Trowa o pegava pela mão e guiava para fora da sala, mas viu que no corredor principal mais pessoas vinham. Próximo a eles havia uma escada que dava para o segundo andar. Eles seguiram por ali. – Quatre, precisamos de um plano ou não sairemos vivos daqui!
- Eu não sei, mas há uma escada de incêndio. Podemos chegar a ela pela antiga sala do diretor! – Disse o Quatre enquanto corriam – Por aqui! – Disse mostrando a Trowa um corredor mais adiante que dava para uma outra escada de ferro bastante depredada e frágil. Eles pararam de correr e subiram vagarosamente a escada de ferro com medo de caírem.
Eles chegaram ao terceiro andar e Quatre guiou Trowa para uma escada de ferro que também subia em caracol, mas não estava nada depredada parecia nem ter sido tocada. Eles a subiram rapidamente sem noção nenhuma de onde estavam seus perseguidores. A sala do diretor era um aposento grande e estava totalmente conservado. Nela havia uma enorme janela onde se via a escada de incêndio, seu vidro também se encontrava intacto. Trowa tentou abrir a janela, mas ela não abria. Quatre tentou ajuda-lo sem sucesso. No mesmo momento em que eles escutaram vozes raivosas o rapaz de cabelos castanhos desistiu de tentar abrir a janela a chamar a atenção de seus perseguidores, mas ainda teria uma chance de fugir. Pediu que o outro se afastasse, pegou uma velha cadeira que se encontrava na sala e fez o vidro da janela em pedaços. Passou para fora rapidamente sem se preocupar com os pedaços de vidro que cortavam suas roupas e seu corpo, em seguida pegou Quatre e passou para foram também não deixando que o pequeno se ferisse. Os garotos desceram as escadas rapidamente enquanto as vozes se aproximavam e correram na direção contrária a da cidade, no entanto no meio do caminho sem perceberem deram uma volta e foram parar quase no centro da cidade cansados e sem escapatória, talvez não houvesse chance de fugir. Alguns de seus perseguidores, os mais perigosos, se encontravam lá. Eles traziam armas nas mãos e se aproximavam lentamente, até que Trowa viu uma coisa em um beco próximo. Havia uma motocicleta parada. Ele guiou Quatre até lá e depois de observá-la começou a mexer nela e a tentar fazer uma ligação direta como os ladrões. Quatre apenas o observou curioso:
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? ESTAMOS PRESOS AQUI NESSE BECO COM OS NOSSOS PERSEGUIDORES NO NOSSO ENCALCE – Disse Quatre desesperado.
- Quatre, você já pilotou uma moto antes? – Disse Trowa colocando o violino de Quatre em um encaixe na motocicleta.
- Não – Disse o rapaz louro.
- Então escute – Trowa ligou a moto e saiu do peco mirando seus perseguidores que continuavam uma marcha lenta em sua direção – Primeiro pegue o cinto que esta aí atrás e segure firme na manopla. Com a mão direita gire a manopla para frente e você vai acelerar a moto – Os perseguidores estava cada vez mais perto – Não se esqueça de se equilibrar na moto. Se pegar equilíbrio a moto vai correr. Quando for fazer uma curva pense que os pneus da moto são uma extensão do seu corpo e sem virar a manopla gire o guidão. Segure as pernas no tanque assim você terá mais segurança. Quando chegar perto do portão da cidade puxe a alavanca ao lado do tanque! – disse Trowa quando seus perseguidores estavam a apenas alguns metros.
- Depois o que eu faço? – Perguntou Quatre.
- FUJA! – Berrou Trowa para o louro que imediatamente subiu na moto e fez o que o moreno lhe disse deixando-o para trás com todos os moradores da cidade vindo para atacá-lo. Ele estava se sacrificando por Quatre.
Ele dirigiu pelas ruas vazias até que chegou ao portão onde viu uma porção de guardas vindo em sua direção. Quatre puxou a pequena alavanca ao lado do tanque e a moto acelerou destruindo o portão feito de madeiras prendidas umas as outras por amarras que ficava na entrada da cidade. Já longe da cidade, havia campos verdejantes. Tudo aquilo era tão maravilhoso, a calmaria, o vento e a despreocupação estava ali, mas Quatre não podia sentir nada disso, estava longe de Trowa. Era muito solitário e triste. Ele nem ao menos percebeu quando chegou a um campo idêntico ao que havia ao lado da velha escola de música. Ali a moto parou de funcionar derrubando o garoto. Algumas pétalas de flores caíram sobre ele. Surpreso, ele se levantou e disse baixinho:
- Trowa... – O rapaz tinha lágrimas nos olhos. O vento vinha tentar lhe acalmar. Ele ia começar a chorar quando escutou uma voz dizer:
- Que crueldade! Quem fez uma crueldade dessas?
- Quem está falando? – Disse Quatre olhando a volta.
- Se você não se importa eu gostaria de me levantar!
- Você está falando? – Disse o louro assustado, os grandes olhos verde claro saltando da órbitas olhando para a moto.
- Não tem mais ninguém aqui, não é?
- Me desculpe! – Disse o rapaz se tranqüilizando um pouco levantando a moto – E obrigada!
- Imagina o que aconteceria se você ficasse lá Quatre. – Respondeu o objeto.
- Como me chamou?
- Quatre, esse foi o nome que eu ouvi antes. É seu nome não é? – O garoto fez que sim – Belo nome viu? E quanto a mim?
- Ah bem Duo é o nome de um velho amigo meu! – disse Quatre docemente e compreendendo finalmente o que Trowa o havia dito.
- Nada mal, mas agora o que faremos?
oOoOoOoOoOoOoOoOoOo
- Quatre, temos que ir embora já se passaram os três dias! – Disse Duo lembrando seu proprietário que eles deveriam ir embora da cidade.
- Eu sei Duo, mas eu nem ao menos toquei ainda! Sem contar que precisamos de dinheiro. – Disse Quatre olhando para a motocicleta.
Fazia seis meses que o rapaz começara a viajar com Duo de cidade em cidade. Era estranho, mas a companhia da motocicleta falante não permitia que ele ficasse triste, não que no inicio ele não considerasse estar louco por conversar com um objeto inanimado. Todavia Duo era surpreendente e se tornou seu amigo e companheiro de vagens. Agora, ele ia de cidade em cidade tocando para ganhar dinheiro e na esperança de encontrar novamente seu dueto perfeito. Aquela pessoa sem duvidas estava viva, agora mais do que nunca ele sentia isso. Ele chegou em uma praça e se posicionou para tocar. Duo lhe dava as dicas sobre o que tocar e como tocar:
- Toque Tabibito é a mais linda que você já escreveu, com certeza chamará a atenção daquela pessoa. Se ela estiver aqui em algum lugar é comovente, entende? E você a toca com todo seu sentimento. – disse Duo
- Só não vá chorar de tão comovido. – Disse o louro brincando com a motocicleta.
- Homem não chora! – Disse a moto muito séria fazendo o rapaz rir antes de respirar fundo e deslizar o arco levemente pelas cordas dando inicio a melodia.
Quatre tocou com todo seu coração e a melodia atingiu pouco a pouco as pessoas que estavam na praça. O rapaz tocava de olhos fechados remexendo em lembranças felizes de uma noite iluminada. Quando terminou observou todos a sua volta e viu longe no meio da multidão aquele que procurava atrair até ali. Ele lhe sorriu de leve, seu olho que estava amostra brilhando e se virou para se retirar. O louro surpreso deixou o violino e o arco sobre Duo e correu indo atrás daquela pessoa. Seu coração batendo mais forte que o normal. Ele estava muito à frente e de repente virou em um beco. Quatre entrou no beco também e o que ele viu o surpreendeu e o fez sorrir de leve...
Continua... Ou não?
Fica por decisão dos leitores continua ou não?
A propósito a palavra tabibito quer dizer viajante.
Deixem comentários críticas serão bem vindas e consideradas!
