Definitivamente
Nada mais foi dito.
Depois de anos de convivência, farpas trocadas, insultos e desculpas, eles estavam na mesma página. Ele criara coragem e ela estava livre. Já não era preciso falar para comunicar-se. Os olhares já diziam tudo. Palavras foram necessárias apenas no início.
Dessa vez não foi ela quem convidou para o chá. Ele o fez. Ela aceitou prontamente. Saberia dizer quanto tempo esperou. Em horas. Em minutos. Ela sempre soube que ele viria, mesmo quando tentou seguir em frente. Sempre soube que nunca seria feliz com ninguém. Como uma farpa sob a pele, ele sempre estaria ali para lembrá-la. E ele veio, finalmente. Como um cervo arisco, com cuidado, desconfiado, ele veio. E a espera dela fora recompensada:
– Eu… - Ele tentou dizer. As palavras não fluíam com facilidade quando estavam sendo ditas em voz alta. Não precisou continuar:
– Não precisa dizer nada.
As mãos se tocaram sobre a mesa. Uma corrente elétrica percorreu os dois corpos:
– Eu queria que…
– Eu também.
– Você sabe que eu…
– Eu sei.
As frases não precisavam ser completadas. O sentimento era compreendido sem esforço.
Sherlock chegara numa tarde e estendera um bilhete para ela. No bilhete estava escrito apenas
"Vem."
Molly olhou para o bilhete e para o homem que já a esperava na porta do necrotério. Ela não tinha nada a perder. Ele já havia confirmado o que ela precisava saber, com todas as palavras. Já havia mostrado com todos os gestos. Ela era importante. Ele não precisaria mais de suas técnicas de manipulação para conseguir o que quisesse no hospital. Ela simplesmente entregaria, seja o que fosse, quando fosse. O contrato, implícito nos olhares, escondido nos movimentos, precisava agora ser assinado.
Num canto do laboratório, uma pequena mesa esperava. Uma toalha rendada, um bule decorado. Duas xícaras precisamente dispostas. Ele abriu a porta para ela, que sorriu ao entrar.
"Finalmente."
Ela se aproximou da mesa. Passou a mão suavemente sobre a toalha. Ele puxou a cadeira para ela, que tirou o jaleco e sentou-se. Ele arremessou o jaleco sobre uma das bancadas e serviu o chá, sentando-se em seguida.
Nada mais foi dito. Depois de anos de convivência, não era necessário.
As mãos se tocavam, se apertavam. Dois sorrisos apareceram. Era apenas o primeiro encontro, a primeira convenção.
"Onde eu assino?" Ela pensou.
"Onde digo que serei sua por todo o sempre?"
Um bip.
Os sorrisos se fecharam.
Uma olhada no visor. Um pedido de desculpas.
Levantou-se.
A mão dela demorou a entender que era preciso deixar ir.
Beijou-a na testa.
Aquele "Vem" era o contrato. Sentia.
Antes que ele saísse e sumisse de vista, entregou o bilhete de volta a ele.
"Até breve."
…
Na porta do flat, em 221 Baker Street, ele tirou o bilhete do bolso e o leu.
"Aonde você for, eu irei."
Seus destinos estavam selados. Definitivamente.
