Título: Captive
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: yaoi, AU, sobrenatural, crossover com Petshop os Horrors
Pares: Kaoru x Toshiya, Kyo x Shiniya
Resumo: Um grupo de detetives sobrenaturais enfrente o maior caso de suas vidas: salvar
um de seus próprios companheiros

Captive
Kaline Bogard

Prólogo

Count D estava elegantemente sentado a mesa, degustando o chá que tanto adorava. Já passava das oito horas da noite, ou seja, o Petshop estava fechado e ele podia aproveitar a tranqüilidade e paz ao lado do avô.

Foi nesse momento que ouviu a porta da frente sendo aberta. Tal fato o surpreendeu além da conta: não esperava visitas.

- Hum...

Passou os dedos pelo cabelo, prendendo os fios negros muito lisos atrás da orelha enquanto aguardava que seu visitante noturno se aproximasse.

Logo a pessoa surgiu, e a expressão sempre cínica de Count D cedeu, sendo substituída por leve surpresa. O rapaz ergueu uma sobrancelha, incapaz de evitar o gesto que denunciava seu espanto.

- Lady E...

Lady E era uma moça muito parecida com ele. Tratava-se de uma pessoa tão alta quanto Count, e tão magra quanto. A pele era branca, quase translúcida, e os cabelos longos e negros eram muito lisos, e estavam presos numa trança ondulante.

Os olhos, a despeito de Count, também tinham duas tonalidades diferentes: o esquerdo era castanho mais claro, e o direito mais escuro.

- Olá, maninho. Surpreso por me ver? - perguntou com voz era um tanto grave, mas que combinava perfeitamente com a figura extremamente andrógena. (1)

Count recuperou-se da surpresa. Fez um gesto indicando que Lady E deveria sentar-se e servir-se de uma xícara de chá:

- O que esperava, querida? - suspirou - É claro que me causa espanto receber uma visita de minha irmã gêmea... caminhando livremente entre os homens...

- Tsc. Sabe que esse lugar me enfada. Vim aqui apenas por que preciso de um favor especial...

A mão com que Count D segurava a xícara tremeu quase imperceptivelmente, ao ouvir a declaração. Os 'favores especiais' da gêmea sempre traziam confusão e problemas.

- O que deseja?

- Nada muito difícil. Preciso apenas de uma de suas gaiolas das trevas. - a declaração roubou a ação do dono do Petshop - Uma em tamanho natural.

Apesar do espanto, o rapaz não pôde conter a curiosidade. Aquele era um pedido atípico. O que Lady E pretendia com uma gaiola tão rara? E em tamanho natural?

Count D estreitou os olhos e bebeu um gole do chá, analisando sua irmã friamente, enquanto era observado por ela também.

Aquela menina era a mais famosa colecionadora de feras, seres místicos e demônios raros de todos os mundos. Sua fama era tal, que lhe valera o apelido de "Dama Implacável", pois quando desejava alguma coisa não sossegava enquanto não a conseguisse.

Seus meios para capturar suas presas eram os mais variados e nem sempre eram considerados agradáveis, tanto que causara preocupação entre as entidades responsáveis por manter o equilíbrio dos planos espirituais...

Sabendo-se alvo de vigilância, Lady E se retirara do mundo dos homens, e vivera reclusa por muito tempo, claro que sem parar com sua incrível coleção, mas apenas agindo de maneira mais sutil.

Depois de todos esses séculos, ela simplesmente aparecia a porta de sua casa, querendo uma gaiola das trevas... um objeto raro e difícil de achar, mas que podia prender até mesmo um deus...

Com esse pensamento Count D arregalou os olhos:

- Lady E, o que você pretende?

- Não se preocupe, maninho! - sorriu tranqüilizadora - Eu sabia que você ia concluir da maneira errada! Não vou prender Kami sama!

O alívio do rapaz foi evidente. Tanto que fez Lady E balançar a cabeça de modo desanimado. Sua fama era mesmo terrível, se até o irmão gêmeo duvidava de seus propósitos.

- Mas você sabe que uma gaiola dessas é difícil de conseguir. - Count divagou, olhando o avô de ambos, um pequeno demônio amarelado que revoava ao redor da sala. - Muito.

-Querido irmão. Eu nunca lhe peço favores. Se o faço dessa vez não deve me dizer não.

- Lady E...

- Lembra-se da última vez que eu o ajudei? - perguntou com expressão séria - Sempre que precisa de algum animal de minha coleção eu sedo sem nem pestanejar.

- Sei disso...

- E... eu lhe emprestei uma Medusa, Count. - Lady E não escondeu a expressão reprovadora - A última da espécie... mas você permitiu que ela morresse!

Ao ouvir a acusação Count torceu os lábios. Não podia rebater aquele argumento.

-Vai jogar na minha face? - quase perdeu a compostura - Eu não pude evitar, sinto muito, mas ela morreu junto com uma pessoa que me era extremamente querida. Se eu soubesse...

- Tsc. Não me importo pela Medusa. Ela era uma raridade, a última da espécie... agora nunca mais existirá outra dessas. -colocou a xícara sobre a mesinha - Mas minha coleção é muito mais ampla do que uma mísera Medusa, Count, e você sabe, querido irmão, que sempre que precisar de algo sobrenatural, seja raro ou não, pode contar comigo.

O pior é que o rapaz sabia disso muito bem. Se havia alguém com que pudesse contar, esse alguém era sua gêmea. E não viraria as costas pra ela.

- Está bem, querida. Me dê alguns dias e conseguirei uma gaiola das trevas pra você.

Lady E ficou radiante. Sorriu e bateu palminhas animadas:

- Obrigada, Count! Obrigada!!

O dono do Petshop respirou fundo, preparando para a temida pergunta:

- E quem é a sua vítima dessa vez?

Lady não respondeu. Mexeu-se na cadeira mostrando certo desconforto, e se tornando subitamente séria, o que fez Count D ficar novamente desconfiado. Sua irmã tinha personalidade parecida com a sua... e as repostas acidas estavam sempre na ponta da língua...

Se ela hesitava daquela maneira... boa coisa não poderia ser!

- Não me olhe assim! - resmungou a garota - Eu quero e pronto!

- Agir como uma criança mimada não vai resolver. O que é que você 'quer e pronto'?

-Er... você se lembra dos Holly Spirits?

Count D quase se engasgou com o chá:

- Lady E... você enlouqueceu?! Quer ir ao paraíso e aprisionar um dos deuses sagrados?!

Lady pareceu surpresa e escandalizada:

- Claro que não!

- Não compreendo... o que vai fazer então?

- Por acaso eu soube que cinco dos descendentes sagrados estão aqui no mundo dos homens.

Dessa vez Count D engasgou. Perdeu toda a sua elegância tão característica e empalideceu mortalmente.

- Minha irmã... você perdeu o juízo. - o rapaz pareceu desesperado - Acha que pode aprisionar um dos Holly Spirits e ficar sem punição?!

Então Lady E fez surgir um papel em suas mãos e estendeu-o a Count, que começou a lê-lo.

-Maninho, aprendi uma lição com você: sempre me previno de possíveis ciladas dos deuses. - sorriu diabolicamente - Preocupados com minha atuação, eles prepuseram um acordo: há séculos só tenho permissão para caçar em determinados locais. E o mundo dos homens é minha principal 'arena'.

- Querida... você estava reclusa! Como podia caçar?

- Sim, sim... pago algumas pessoas para fazerem todo o 'trabalho sujo' pra mim. Depois só recebo os novos itens de minha coleção.

- Oh! Mas... um deus?!

- Tudo que estiver no território do mundo dos homens pode ser capturado por mim. Isso ficou bem especificado. E se você acha que não é o bastante, leia as letras pequenas...

Count D obedeceu. Logo abriu um sorriso dos mais debochados.

-'Que as regras desse contrato se façam valer, deixando claro apenas mais uma coisa: tudo o que estiver no mundo dos homens será considerado 'neutro' e passível de ser caçado. Isso se estende a qualquer ser, sobrenatural ou não. E não existem exceções.'

Quando Count D parou de ler, Lady E riu debochando:

-Se Kami sama estiver na Terra e eu o capturar, ele fará parte da minha coleção e estarei no meu direito. Ninguém poderá me impedir.

- Você é diabólica.

- Aprendi com o melhor.

Count D apreciou e muito, o comentário. Seu sorriso se ampliou:

- Enfim... quais Holly Spirits estão na Terra? Você disse apenas cinco?

-Hino Kaoru, Sorano Toshiya, Kazeno Shinya, Kino Die e Mizuno Kyo. - respondeu com os olhos brilhantes.

-Interessante. Dir en grey, os detetives sobrenaturais? - Count passou a mão pelos fios de cabelo negros - Sim, muito interessante. Enfim, eu nem devia perguntar isso, porque já sei a resposta, mas... diga-me querida irmã: seu alvo ainda é o mesmo?

Lady E pareceu surpresa com a pergunta aparentemente desnecessária:

- Claro! Durante séculos desejei tê-lo em minha coleção. - os olhos brilharam quase sadicamente - Ele é belo e eu o amo!

- Modo estranho de amá-lo.

- Quero poder vê-lo e tocá-lo para sempre! E se é preciso torná-lo meu prisioneiro, que seja!

- Tenho pena desse garoto. - o rapaz suspirou - Apenas nascer tão belo o tornou vítima de sua atração.

- Sim! Dessa vez Sorano Toshiya será meu!

A gargalhada diabólica que seguiu a afirmação causou arrepios em Count D.

Continua...

(1) Essa inspiração surgiu de uma conversa entre a Kátia e eu, onde comentávamos que a antiga dublagem do Afrodite era perfeita, pois o timbre grave combinava com a aparência afeminada, colocando a androgenia em destaque, o que infelizmente não aconteceu na redublagem.