Cap. 1 – Momento de tristeza
Acordar e me dar conta de que tinha desperdiçado os últimos oito meses de minha vida, achando que estava apaixonada por um sujeito que não estava por mim, foi um golpe muito duro para uma só manhã. Tinha chorado, mais por frustração do que por outra coisa, e ao acordar meus olhos estavam tão inchados que quase não podia nem abri-los.
Encontrar-se por coincidência com um amigo da juventude num bar qualquer, conversar acompanhados de uns drinques. Sorriso, conversas, lembranças. Não é algo que acontece todos os dias, não mesmo. Foi sem querer, sem planejar, sem me dar conta. A primeira vez terminou somente como um encontro casual de amigos. A segunda vez não foi casualidade e as conversas se tornaram mais intimas. A terceira vez terminou em seu apartamento.
E logo me joguei num romance casual, acreditando que poderia manter-me neste jogo, que podíamos ficar bem. Obviamente foi uma grande besteira, não sabia o que aconteceria, só sabia que ele estava muito interessado em se aproximar de mim e eu estava solitária, não era muito difícil juntar estas duas idéias.
E agora estava sozinha, ele me deixou facilmente. Não tinha sido mais que uma simples aventura, por oito meses, mas uma aventura de qualquer jeito. Uma simples lembrança sobre o travesseiro. Mas eu não queria me dar conta disto, nem que não podia falar do que me causava o trabalho, dos casos que resolvia, de minha equipe, nem das coisas ruins. Tinha me apaixonado como se apaixonam todas as mulheres inteligentes: como uma idiota.
Levantei da cama depois de ignorar o relógio por dez minutos, tomei banho procurando ficar o maior tempo possível debaixo da água quente, como se ela fosse fazer desaparecer tudo que dava voltas em minha cabeça.
Lembrei que JJ tinha me advertido que as coisas poderiam acabar mal. Isto fazia quase três meses, num jantar em encontro duplo, obviamente nisto também me enganei e me sentia um pouco tola em relação a minha amiga. Mesmo sabendo que ela jamais iria me reprovar.
Sair de casa foi custoso, não tinha animo para enfrentar os males do mundo quanto estava assim deprimida. Não tinha vontade que os sociopatas do país me lembrassem que tem coisas muito piores do que ser abandonada por um idiota vindo do passado. Mas logo me dei conta que seria muito pior ficar em casa e que faltar ao trabalho por algo assim era uma besteira. Ficar sem fazer nada em casa me deixaria louca. Eram muitas lembranças.
Peguei minhas coisas e me consolei em chegar quase atrasada a UAC. Tinha a mente muito confusa para dirigir com muita rapidez, só faltava um acidente para completar minha péssima sorte. Chorei mais um pouco durante o caminho e cruzei a porta procurando deixar meu olhar sereno.
Minha serenidade quebrou-se por completo apenas dei uns passos dentro do prédio, porque antes de dar bom dia me encontrei com Hotch e JJ. Por um momento os olhares de todos se cruzaram, o que definitivamente não era bom. Encarar meu supervisor, por quem sempre fui secretamente apaixonada, não era algo inédito, mas fazê-lo quando me sentia tão frágil não me agradava. Pior ainda encontrar com ele e JJ, que não demoraria nem meio segundo a perceber que algo estava errado. Não gostava nada disto.
- Está tudo bem? – Ele perguntou de imediato.
"Maldição!" pensei comigo mesma enquanto assentia levemente com a cabeça. O pior de tudo era que mesmo sendo uma especialista em perfis era incapaz de mentir decentemente para ele, de modo que se aproximou de mim. Felizmente antes que pudesse perguntar algo mais, o que certamente terminaria comigo chorando e me jogando em seus braços protetores de homem inalcançável, JJ veio me socorrer.
- Quer conversar sobre isto? – Perguntou intuindo sobre o que se tratava.
- Sim.
- Nos desculpe um momento, Hotch. – Disse me puxando.
Com estas poucas palavras, sendo que eu não disse nenhuma, JJ e eu desaparecemos a caminho de sua sala, deixando meu supervisor confuso sobre minha condição emocional nesta manhã.
Continua.
