N.A.: Presente de Amigo Secreto para Fla, fórum Papéis Avulsos. A primeira Harry/Pansy que li na vida foi dela e o que mais me marcou não foi o shipper ou a NC, o que me marcou foi um toque insano que havia nela. Faz anos que não escrevo com esse shipper, espero que compreendam.
Com todo carinho do mundo, a esse que ainda é meu shipper favorito de todos os fandons.
"Abençoados sejam os esquecidos, pois tiram maior proveito dos equívocos."
Friedrich Nietzsche
Insana
Adriana Swan
Meu nome é Pansy Parkinson, estou internada no Saint Mungus á tempo demais.
Eu não gosto daqui. Tudo é muito limpo, muito correto e todos são muito gentis. Há um tom de falsidade em tudo que é muito gentil com você.
Há sempre pessoas dizendo que ficarei bem. Dizem isso á anos e que um dia eu vou sair da ala de "irrecuperáveis". Um milagre eles dizem. Estou farta de ouvir sobre milagres.
Entre todos, o que mais odeio é ele. Sim, ele, Harry Potter. Ele sempre vem, assim, como quem não quer nada, vagando pelo hospital. No começo, começou com perguntas. Todas muito pretensiosas, querendo saber como eu estava, se era bem tratada, até parece que isso era da conta dele. Não respondia nunca. Não era da conta dele e eu não queria que ele soubesse que eu lembrava. Não lembrar era o que eu podia fazer de melhor.
Depois de um tempo, já não falava, só passava nos olhando, me olhando, dia após dia procurando em nossos olhos, meus olhos, sinal de reconhecimento, de que sabíamos quem ele era. Eu não queria o reconhecer. Eram memórias ruins e estou fartas de memórias que me machuquem. Nos olhos dele eu via que ele lembrava de mim, do que eu havia feito, do que eu era. Não suportava olhar aqueles olhos que me conheciam tão bem.
Passou-se o tempo e ele veio como sempre, uma certeza no meio do incerto. Lembro dele compartilhar seus presentes de natal, chocolates na páscoa, lembranças no dia das bruxas. Potter não tinha nada melhor para fazer? Esposa e filhos? Eu não era problema seu, eu não era da sua conta.
Depois passou a vir menos, deve ter desistido de nós, de mim. Todas as vindas desperdiçadas sem nenhum vestígio de lembrança, sem nenhum sintoma novo. Ele era a única coisa que me trazia para realidade, mas eu não gostava da realidade, então ficava melhor assim. Melhor sem ele.
Depois de um tempo, voltara a aparecer ali, ainda mais sozinho do que antes. Ouvi as enfermeiras dizendo que a esposa e filhos já não o procuravam mais. A guerra acabara há tantos anos que eu nem conseguia me lembrar (esquecera muitas coisas, de fato) e imagino que o mundo começara a esquecer do menino-que-sobreviveu. Afinal, ele já não era um menino e sobreviver já não era mais uma grande coisa.
Um dia, ele veio para ficar.
Dessa vez, ele não estava mais internado em uma seção qualquer do Saint Mungus, com liberdade para vagar pelos quartos como uma sombra. Dessa vez, ocupava a cama ao lado da minha, daqueles que já não recordavam mais ou não queriam recordar. Queria muito esquecer de Harry Potter, mas não consegui. Queria apagá-lo. Queria não ter mais que olhá-lo como fazia em minha insana agonia dia após dia. Parte dessa agonia passou, quando ele ocupou a cama ao lado da minha. Não tinha que encarar mais os olhos verdes.
Porque percebi que ele não me reconhecia mais.
