No fim… Ela dormia…

"Porque mesmo rodeados de morte, aquilo era o fim de tudo. E ela dormia… e ele soube que nunca estaria sozinho"

Houvera gritos. Houvera dor. Houvera morte. Mas já não havia mais… Pois os gritos haviam sido silenciados, a dor era agora amenizada pelo alivio e a morte nunca fora tão silenciosa. Porque agora Voldemort era apenas mais um entre tantos corpos que jaziam no chão. E ali no meio estavam amigos seus. Amigos que os acompanharam. Amigos que ele amara e que amaria para sempre. E ela também estava ali ao lado dele. Apenas ela. Porque Ron nunca mais lá estaria, nem Ginny, nem Luna, nem Neville. E os outros estavam lá dentro, chorando as mortes deles. E eles também as choravam… Choravam porque nunca mais veriam Ginny naquele seu tom tão "Weasley", nunca mais poderiam vislumbrar o ar lunático e sonhador de Luna nem a ingenuidade corajosa de Neville. Mas principalmente choravam porque eles não eram mais um trio… porque faltava uma aresta do triângulo perfeito. Porque ele não era apenas mais um… ele era o Ron.

Aquela terra cheirava a morte. Cheirava a sangue. Havia corpos pelo chão… corpos sem esperança… corpos cujos sentidos já á muito se tinham desvanecido. E era ali entre aqueles corpos que eles estavam. Sozinhos, respirando pesadamente por entre aquela massa de antigas vidas. E olhando para ela, ele percebeu que valia a pena. Porque em fim da guerra ela parecia estar em paz. Ali deitada na terra ao seu lado, por entre um cenário de morte e destruição ela dormia. O rosto brilhante das lágrimas que ela tanto chorara. O corpo encolhido contra ele apertando-se bem. E ele ali estava também. Deitado ao seu lado vendo-a dormir num sono descansado. Sentindo o seu abraço repousado no seu peito apertava-a contra si. Uma mão envolvendo-a pelas costas para que ela pudesse dormir enroscada no seu ombro. E era tão bom vê-la dormir. Mas melhor era ver o seu peito subir e descer em sinal de respiração. Melhor era sentir a respiração dela em seu pescoço. Melhor era sentir o calor que dela imanava. Porque isso significava que havia vida. E era isso que os diferenciava de todos os que ali também estavam deitados. Havia vida neles. Havia esperança. Havia um futuro. Um futuro em que não estava Ron, nem alguns dos amigos. Mas haveria outros… outros ficaram, embora aqueles que partiram tivessem deixado uma marca insubstituível.

E ouvindo aquele silêncio ele sorriu através das lágrimas que lhe corriam pelo rosto. Porque apesar de tudo ainda havia ela. Seu porto seguro, sua amiga, seu amor. Ela estaria sempre lá como sempre esteve e como estava agora. E foi olhando para ela que os seus olhos se fecharam e ele adormeceu. No dia seguinte seria um novo dia e ambos sabiam que seria a hora de enfrentar verdadeiramente toda aquela dor e todas aquelas perdas. Mas agora… naquela noite… existiam apenas eles e a esperança de um futuro que residia em cada ínfima respiração.