Cena I : Quando as Lendas São Forjadas

Levemente baseado em "Cavalo de Fogo"

Rayearth 3 – The Movie

by Lexas

Joaotjr@hotmail.com

*Nota do Autor : Esse fanfic é baseado na série de OAV de guerreiras mágicas de Rayearth, o qual é conhecido como Rayearth, mas muitos o apelidaram de Rayearth 3 . Podem haver partes aqui que estraguem sua surpresa, portanto pense bem antes de ler, pois eu não o avisarei mais . Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo, se por acaso você se interessar, você pode conseguir a série de vídeo legendada em português através do fansubber conhecido como Shin-Seiki () São duas fitas, e eles cobram um preço em torno de sete a nove reais por fita de excelente qualidade, demorando cerca de quinze a vinte dias para entregar seu pedido em qualquer lugar do Brasil . Pois é, abra seu olho quando aquele "colega" tentar te "passar" alguma fita "amigavelmente" por quinze reais ... é chato um grupo ter todo o trabalho enquanto outros lucram. Desde já gostaria de me desculpar ao webmaster pela propaganda que acabei fazendo sem querer . Infelizmente, é o que costuma acontecer no Brasil : alguns tem boas idéias e se esforçam para as coisas darem certo, e muitos se aproveitam para lucrar com isso .

Mais uma coisa : Gostaria de dedicar esse fanfic ao dono da antiga locadora Cult Comics and Vídeo, pois, graças a ele, pude assistir a série de OAV Rayearth assim que saiu no Japão . Infelizmente, ela teve que fechar . Se algum dia o senhor chegar a ler esse fic, muito obrigado!

Mais uma : por falta de grandes "recursos", quero que meu caro amigo Wlad aceite este fanfic como se fosse também um presente de aniversário(seja lá quando for !!!) . Tive a idéia de escrever esse fanfic bem antes da entrevista que ele deu para a Central Nacional de Fanfics, em que ele reclamava que não haviam muitos fanfics de Rayearth na Internet . Pois é, Wlad . só tem uma maneira de aumentar o número de fanfics de Rayearth existentes ...

Mas, comentários a parte ... vamos ao que interessa !

Último detalhe ( e esse é muito importante para a compreensão de várias partes do fanfic) : A série de OAV Rayearth reconta a série original, trata-se de um recomeço, onde tudo apresentado anteriormente é desconsiderado para dar lugar a algo novo, portanto ....

Prelúdio

"Era um lindo dia naquele lugar . Igual a todos os outros . Sim, com certeza, essa era uma grande verdade acerca daquele lugar .

Terra da Magia, terra dos milagres, terra do amor, terra da harmonia, terra da esperança ... terra da desilusão, terra da angústia, terra do medo, terra da insegurança, terra da desconfiança, terra da ignorância ....

Aquela terra já recebera todos aqueles adjetivos em épocas distantes, ou não tão distantes assim . Em momentos distantes, e em outros bem próximos um do outro, cada um desses pensamentos , cada um desses sentimentos imperou entre eles .

Houve guerra naquela terra, muitas delas ao longo de sua história . Mas duas se destacaram devido a um motivo em especial : A diferença de tempo .

Outrora em paz, aquela terra enfrentou uma crise . Uma crise diferente de todos os seus conflitos passados, um crise que envolvia mais do que desejos mesquinhos . Uma guerra que envolvia o destino final daquela terra .

E ela iria perdeu . Mas não foi o que aconteceu . Aquela terra foi salva da destruição, e recebendo ajuda de onde menos esperava : outra terra .

Três pessoas haviam cruzado a barreira . Três pessoas haviam lutado, colocado toda sua coragem, força de vontade e perseverança para salvar aquela Terra .

Eles conseguiram .

Isso serviu para mostrar aquele povo que a verdadeira força não dependia de algum lugar especial, mas de cada pessoa .

E a paz voltou .

Mas não durou .

Novamente, a crise começou.

Esse é um ponto muito importante na história daquela terra . Em toda a sua história, nada desse tipo havia sido registrado . Nada . Sua nova crise havia atingido proporções tão devastadoras, que atingiu o único lugar que ninguém esperava que fosse atingido : a outra terra . Aquilo havia sido motivo de enorme desonra para aquele povo . Afinal, eles haviam condenado a terra daqueles que o ajudaram anteriormente . Diante de tal ato de mal-agradecimento, que tipo de punição seria adequada ?

Isso não foi necessário .

Como dito, o poder não estava em um lugar, mas dentro das pessoas . No coração e na alma de cada indivíduo .

E mais uma vez, eis que surgiram . Sua marca prevaleceu acima de tudo, libertando não só a sua , mas também a nossa terra .

Essa foi uma coisa que não poderia se esquecida . Sua marca, cravada em amor e orgulho, salvou a todos nós .

E por isso, até o fim dos tempos, seremos gratos ..."

Fim do Preludio

- O senhor está bem, Cléf ?

- Não se preocupe, Fério . Foi apenas um piso em falso, nada mais . Por acaso já se esqueceu quem eu sou ?

Fério concordava com Cléf . Ele não estava falando com qualquer um, mas com o conselheiro supremo de Cefiro . Possuía algumas centenas de anos de idade, o que descartava qualquer fraqueza física gerada pela idade .

- Mas o que o traz aqui, Fério ? Por acaso resolveu se aceitar minha proposta e se juntar a nós ? Se assim o for, ficaria muito satisfeito . Precisamos repor nosso grupo desde que ....

- Desde aquele incidente, não é, Cléf ?

Cléf sentiu aquilo no coração . Não, aquilo não fora um incidente . Alcion, Askot, Lantis ... não foi um incidente .

- Vejo pelo seu rosto que isso ainda o perturba, Cléf . Quanto a isso, não há nada que possamos fazer .

- Não, Fério . Há algo que podemos fazer, sim . Olhar para trás, e aprender com isso . Como conselheiro espiritual de Cefiro, tive mais de quinhentos anos para olhar os erros de passado e evitar cometê-los de novo . Muitos dizem que devemos deixar o passado pra trás, que não devemos olhar para ele e seguirmos em frente com nossas vidas, mas há situações em que devemos remoer nosso passado e encarar mais uma vez nossos fantasmas para podermos seguir em frente .

- Eu não entendi o que quis dizer, Cléf .

- Só três pessoas entenderiam e, infelizmente, elas não estão entre nós . Mas, mudando de assunto ...

- Não foi pra isso que eu vim até aqui , Cléf . Nem fazia parte dos meus objetivos . Apenas estava passando e resolvi observar como vão as coisas . Aqueles novos guardas são um fiasco !

Nisso, enquanto andavam, eles passam pela enorme porta que levava para fora da sala de meditação de Cléf . Ao virar o corredor, Cléf vê os dois guardas que vigiavam aquele setor, desmaiados . Nocauteados seria o termo mais correto .

- Fério ...

- Ora, Cléf ... convenhamos que eu estou te fazendo um favor deixando esses sujeitos mais espertos .

- Pois bem, que tal vir até aqui e demonstrar um pouco de toda a sua esperteza ?

A voz tinha vindo do lado de fora do castelo, e assustado um pouco à Fério . Era uma voz relativamente grossa e possuía uma imposição incrível, diferente da serenidade de Cléf . Sem pensar duas vezes, ele se dirige par a origem da voz, deixando Cléf para trás . Sabendo que não alcançaria Fério, Cléf continua sua lenta caminhada . Talvez ele tivesse mais sucesso em convence-lo, Cléf pensava .

Ao atravessar o pátio principal, Fério ouviu alguns sons vindos do outro lado, e não tardou em dirigir-se naquela direção . Ao chegar lá, depara-se com vários homens . Muitos . Estavam lá, treinando . Seja com espadas, arcos, bestas voadoras, cavalos e outros animais não-convencionais, estavam todos treinando com bastante afinco, tudo isso devido a uma voz que não os deixava vacilar . Ao olhar para o lado, Fério percebe o que se passava . Lá estava ele . Sempre o mesmo . Nunca mudava .

- Rafaga !

Fério se aproxima e dá um aperto de mão forte, o qual é revidado por Rafaga com mais força ainda . Um sorriso se formava nos dois .

Rafaga era um dos poucos guerreiros que Fério respeitava, ou melhor, quase admirava . Sua dedicação, seu esforço, sua lealdade com todas aqueles que o cercavam ... isso eram coisas inquestionáveis .

Rafaga Tinha a mesma opinião quanto a Fério . Só que ele nutria um respeito por Fério maior do que o que Fério nutria por ele . Isso devido a formação e caráter de ambos . O ponto de maior admiração por parte de Rafaga era que ele, antes de ingressar na guarda de Cefiro e depois na Guarda real e depois ter se tornado Chefe da Guarda, viera de uma boa família . Ou seja, uma família que tinha condições de se auto-sustentar sem a necessidade de "braços extras", além de poder em diversos períodos "financiar" o desenvolvimento de seu filho . Já Fério não . Ele viera do campo, do povo . Não que Rafaga gostasse de usar essa expressão, uma vez que nutria um imenso amor e respeito por todos os cidadãos de Cefiro de maneira igual, mas era a pura verdade que muitas famílias necessitavam da ajuda de seus filhos para conseguir seu sustento, seja nas plantações, seja nas pesca, seja gado . Fério passou por tudo isso, e conseguiu superar todas as suas expectativas . Apesar de seus problemas, havia se tornado um guerreiro, muito bom por sinal . Uma pessoa que luta com afinco por seus interesses , e defende com igual fúria seus semelhantes . Aquele era Fério, seu amigo .

- Há quanto tempo, velho amigo . Que bons ventos o trazem ?

- O de sempre, Rafaga . Vim ver como anda treinando esses molengas !

- Meus homens estão entre os melhores guerreiros de Cefiro, se quer saber . Podem até te derrotar, se não ficar atento !

- Mesmo ? Ainda bem que você me avisou, por que aqueles dois que cuidavam da guarda de Cléf se esqueceram disso .

Rafaga baixou a cabeça, com um rosto de insatisfação, e disse :

- Você os matou ?

- Deveria ?

- SIM ! Pelo menos, não teriam que suportar uma vergonha MAIOR ! Aquele dois ERAM os meus dois melhores soldados !

- Pois é, melhor treinarem mais um pouco . De qualquer forma, como vão as coisas ? Ouvi dizer que ...

- As coisas vão bem, se é isso que quer saber .

- Não foi essa a minha pergunta .

- Ah, bem ... está indo ótimo . Melhor do que nunca . Espero ansiosamente por isso .

- E ela, como está ?

- Vai bem . Teve alguns problemas no inicio , mas conseguiu se acostumar. Mas e você ? Quando vai parar num canto ?

- Não faz meu estilo, Rafaga . O mundo é o meu quintal . A gente se vê por ai !

- Pensei que tivesse voltado ... definitivamente .

Fério para, desfazendo sua face brincalhona e olhando Rafaga com uma seriedade quase que fatal :

- Não posso . Sinto muito se o decepcionei .

- Você não me decepcionou , Fério ! Abra seus olhos ! Está jogando seu futuro fora ! Cefiro precisa de você ! Nós precisamos de você ! Eu preciso do meu velho amigo de volta !

Fério se vira e vai andando e, quando está um pouco distante, reponde :

- Não há mais lugar aqui para mim, Rafaga . Nunca houve . Foi preciso ir até lá para perceber isso .

- Espere ! Aquilo que ocorreu em Rayearth não foi culpa sua ! Foi apenas um ...

- Acidente ? Não, meu amigo, aquilo não foi um acidente . Amigos morreram . Vidas foram mudadas . Muito mudou . E tudo é culpa nossa . Quantas vezes já não estivemos sob ordens, e as executamos sem questioná-las ? Diga, quantas ? Cefiro, Rayearth ... tudo quase foi destruído ... e tudo por que não questionamos nossas ordens . Quanta destruição poderia ter sido evitada, não acha ? O que mais me doeu foi saber que tive que ir até lá para descobrir isso .

- Mesmo ? Então, está querendo dizer que tudo isso é um engano ? Que todos aqui são enganados ao defender Cefiro ? Que eu estou sendo enganado ? Está dizendo qu ...

- Por favor, pare . Não quero que esse reencontro seja o ponto de partida para uma inimizade . Não é você quem está sendo enganado . Não são os seus soldados que estão sendo enganados . Não é ninguém . Era eu quem era o enganado . Não por Cefiro, mas por mim mesmo . Enganado ao negligenciar meus sentimentos, minha verdadeira natureza . Sempre quis ser um herói em Cefiro, sempre quis lutar ao lado das lendas e tornar-me uma , sempre quis isso . Entenda que não passei a odiar você ou a Cléf, apenas percebi que eu não estaria em perfeita harmonia aqui . O que eu procuro ... está lá fora . Adeus ... ou melhor, até a próxima, caro amigo . Felicidades a você e a todos !

- Espere, Fério ! Vai desistir de tudo só por que não consegue entrar em paz consigo mesmo ? Deixe-me ajudá-lo, então ! Se é o equilíbrio perfeito o que você tanto procura, então façamos isso, juntos !

E, enquanto se distanciava mais e mais, Fério para, olha para trás e responde mais uma vez :

- Obrigado . Obrigado . E obrigado . Não sei como te agradecer . Mas eu não posso fazer isso . O mundo, a natureza, a liberdade ... é o meu jeito de ser . É o caminho que eu devo trilhar . Se fizesse isso junto comigo ... se eu permitisse que você me ajudasse a encontrar o que eu tanto procuro ... de uma maneira ou de outra eu acabaria tirando-o do seu caminho . O caminho que você deve trilhar . E isso é algo que eu não iria me perdoar jamais . Não se preocupe . Isso não é um Adeus . Muito menos um até logo . Entenda isso como um "Eu voltarei, Rafaga . Nos veremos em breve, caro parceiro, amigo , irmão" .

- Fério ...

* * * * * *

Do palácio, Cléf observava tudo . Por mais que fosse contra seus princípios, por mais que lhe doesse, ele havia escutado a conversa . As palavras de Fério, o seu lamento ... havia ouvido tudo . Quando Fério partiu pela primeira vez, quando ele disse que não podia permanecer mais naquele lugar, ele não entendeu . Ou melhor, entendeu algo um tanto quanto diferente . Achou que ele precisava de um tempo para esquecer tudo aquilo, achava que ele precisava retornar as suas origens ... tudo errado .

Naquele momento, ele havia entendido tudo . Havia descoberto o por que de não conseguir entender o problema de Fério : ele estava olhando na direção errada . Todo o tempo ele procurara uma explicação, um motivo para tudo o que havia acontecido . Ele chegou ao pensar de pensar que o único culpado era o povo de Cefiro, mas no seu intimo, percebeu que só havia um culpado : ele mesmo .

* * * * * *

Apesar dele mesmo ter delegado funções especificas aos seus subordinados, Rafaga fazia questão de vistoriar o todo o palácio antes de se retirar . Depois de examinar algumas salas, ele sai no corredor que leva a sala de meditação de Cléf . Enquanto vai se aproximando da porta, ele lança um olhar mortal pra cima dos dois guardas que estavam vigiando a porta . Eles entenderam o recado, e sentiram um calafrio na espinha durante o resto da noite;

Rafaga estava prestes a dar meia-volta, quando houve algo . Parecia um barulho bem baixo, como se fosse um ... soluço .

- Vocês dois, tem meia hora para descansar, depois disso retornem .

Obedecendo as ordens de seu comandante, eles partem dali .

Rafaga, aproveitando que está sozinho, abre com cuidado a porta e a fecha em seguida, confirmando suas suspeitas, por mais improvável que ele achasse a hipótese de estar certo : lá estava Cléf, sentado nos degraus, de cabeça baixa ... chorando .

Ele está mesmo vendo o que está vendo ? Será possível ? Cléf estava mesmo chorando ? Não pode ser ! Aquilo não podia ser verdade ! Guru Cléf, conselheiro espiritual de Cefiro, chorando como se fosse uma criança ! O que havia acontecido com Cléf, o sábio , Cléf, o imponente, Cléf, o que possuía a maior paz de espirito em toda Cefiro ?

Jogando seus pensamentos para outra hora, ele se aproxima, pensando em ajudar .

- C-Cléf ...

- Me deixe, Rafaga .

- Mas ...

- Saia daqui .

- Tem certeza de que está bem ?

- SAIA DAQUI AGORA !!!!

Aquilo o havia assustado . O que havia acontecido com ele ?

- O que está havendo, Cléf ?

- Não está havendo nada ! Deixe-me em paz ! Eu preciso ficar sozinho !

- Não está agindo como geralmente é, Cléf .

- Saia daqui ! Não venha me dizer como devo agir ! Quem você pensa que é, heim ? Eu percorri toda essa terra incontáveis vezes . Eu vasculhei cada canto, cada parte em busca de mais e mais conhecimento . Eu estou vivo a muito mais tempo do que você, e consegui enorme poder e conhecimento com isso ! E você, o que fez ?

Diante do que acabara de ouvir, Rafaga se vira e anda em direção a porta . No entanto, antes de sair por completo, ele volta e fala :

- A minha vida inteira eu te admirei . Desde pequeno eu sonhava em estar aqui, ao seu lado, protegendo o povo de Cefiro . Sempre . E você foi uma das minhas grandes inspirações . Não me faça descobrir que eu estive errado esse tempo todo .

Ele se vira e, quando estava prestes a cruzar a porta ...

- Rafaga ... espere ... fique ... por favor ...

Ele retorna para onde Cléf estava, e observava friamente aquele homem à sua frente . Não era uma boa visão .

- M-me desculpe, Rafaga . Me desculpe pelo que acabei de dizer . Me desculpe se eu não correspondi as suas expectativas – dizia ele, com a cabeça abaixada e a voz quase sumindo .

- Cléf ... o que houve ? O que está acontecendo ? Por que isso ?

- Por que isso ? Você quer saber por que isso ? Isso é por minha causa !

- Sua causa ? Mas do que você está falando ?

- Não entende ? Tudo isso, tudo é minha culpa, Ragafa ! A morte de Zagard, Lantis e os outros, a destruição causada em Rayearth, é tudo minha culpa !

- Ficou louco, Cléf ? Mas que história é essa ? Você não teve culpa de nada ! Zagard se sacrificou de livre e expontânea vontade, assim como Lantis ! Os outros foram lá por sua própria vontade, também !Ninguém, em momento algum, agiu forçado . Ninguém ! Como é que você tem culpa nisso, Cléf ? Vamos, diga ! Ficar se culpando não vai adiantar em nada ! Deixe o passado para trás, homem ! Temos um povo para reconstruir !

- Percebo que você não entendeu nada, Rafaga . Vou te explicar, mesmo que isso aumente minha tristeza . Eu estou vivo a mais de quinhentos anos, Rafaga . E não duvido que viva mais . Quantos anos você viverá ? Sejam quantos forem, eu viverei mais . E sabe por que? Por que eu sou o responsável pelo planeta . Minha é a obrigação de defendê-lo, custe o que custar, de qualquer maneira . Minha longevidade não é baseada no capricho dos anos, mas na própria longevidade do planeta, pois fui escolhido por ele . Batalhei por ele . Antes de ser conhecido como Guru, vasculhei todos os cantos do planeta, almejando tornar-me sábio o suficiente . Vasculhei bibliotecas, aprendi novos idiomas de diferentes regiões ... mas eu falhei com o planeta . Tão sábio me tornei, e mesmo assim não fui capaz de cuidar dos filhos deste planeta, não fui capaz de educá-los corretamente, não fui capaz ensiná-los .... e tudo isso aconteceu . Todos os outros não morreram por que tomaram suas decisões . Eles morreram por que eu não fui capaz de ajudá-los .

- Espere, Cléf . Você não acha que está exagerando um pouco ?

- Rafaga ... eu estou há mais de quinhentos aqui, e com todo esse tempo que eu tive, o que foi que eu fiz ? Eu tive tempo, mas não soube utilizá-lo corretamente . Vá, Rafaga . Deixe-me .

- Mas ....

- Por favor . Eu preciso ficar só . Vá para casa, sua esposa o espera . Não se preocupe . Sou apenas alguém que mesmo passando pelo capricho dos anos não pode morrer ....

* * * * * *

Tarde da noite . Com uma força habitual, ele batia na porta .Logo em seguida, ela é aberta, revelando uma bela mulher . Sua pele morena, junto do brilho de seus olhos, a tornava mais bonita . Ele a toma pela cintura, beijando-a apaixonadamente . Ambos se afastam, e ficam saboreando o momento por mais alguns segundos, e tornam a se beijar .

Em seguida, ele adentro ao estabelecimento, libertando um suspiro que implorava para ser liberto . Tirando a bainha de sua arma e a colocando encostada na parede, ele aproveita, para retirar algumas partes de sua armadura. Em seguida, ele senta em uma das cadeiras que haviam ao redor da mesa. Silêncio total . Nos segundos seguintes, ele ficara totalmente quieto, enquanto a mulher o encarava . Então, ele resolve quebrar o silêncio :

- Querida ...

- Sim ?

- Não vai servir o jantar ?

- Você está com fome ?

- Sim .

- Muita ?

- Sim .

- Pois bem, eu lhe darei de comer ... depois que se lavar .

- Como ? – ele disse, num tom crescente de voz . Ela não deixou por menos .

- Ninguém come nesta casa e senta na minha mesa cheirando mal, entendeu ?

Tamanha era a imposição de voz, que ele no mesmo instante se levantou e se dirigiu até o local do banho . Para sua surpresa, algo faltava : água . Havia se esquecido de reabastecer o reservatório interno, e começava a se odiar por isso .

Convencido de que ela não o deixaria comer por nada nesse mundo, ele rapidamente cruzou a cozinha, atravessando a porta .

- Aonde vai ?

- Até o rio .

* * * * * *

Poucos minutos depois, ele já estava lá, despido . Embora a água estivesse incrivelmente fria, ele não tinha escolha . O rio passava perto de sua cabana, e este era abastecido por uma cachoeira . Ignorando o frio, ele começava a se esfregar . Era incrível o poder de persuasão das mulheres, ele pensava .

Nisso, ele houve um barulho na água . Antes que possa se virar, sente duas mãos tocando em seu rosto, e um corpo tocando em suas costas . Um corpo bastante quente ...

- Sabia que está fazendo muito frio aqui fora ?

- Eu sei, mas se não me lavar corretamente, minha esposa não me deixar por os pés em casa .

- Seu malvado ! – ela dá um beliscão na bochecha dele – Eu não sou tão má assim !

- Você bate como uma mulher .

Irritada, ela encrava a unha nas costas dele, fazendo aquele guerreiro experiente realmente sentir dor .

- Eu sou uma mulher !

- Jura ? Eu não percebi ...

Uma vez que estava atrás dele, ela o abraça fortemente, mas de uma maneira calorosa . O corpo dela encostando em seu corpo é mais que suficiente para esquentá-lo .

- Então, agora você percebeu ... ?

- Realmente – ele dizia para si mesmo – essa noite vai ser longa ...

* * * * * *

Uma vez de banho tomado, Rafaga estava sentado à mesa, esperando pela refeição prometida . Sabendo da fome de seu marido, Caldina tratava de "empilhar" o máximo possível de comida em seu prato . Logo depois de servi-lo, ela o estava acompanhando .

Ele comia verazmente, ignorando que havia uma dama na mesa .

- Aham !

Ele ignorou.

- Aham !

Ele ignorou .

- AHAM !!!

E, mesmo assim, ele ignorou . Comia com tanta vontade, para o desespero de Caldina . Ela sabia que ele era um guerreiro, e muitos guerreiros não tinham bons modos . O hábito do combate, da guerra, da luta, muitas vezes não lhes permitia a chance de praticar boas maneiras . Mas Rafaga era diferente . Ele tinha modos . Ele sabia se portar à mesa ... às vezes .

Ignorando os modos dele, ela percebia uma expressão diferente em seu rosto . Embora comesse verazmente, parecia que estava preocupado com outra coisa .

Quando ele terminou de comer e tratou de fazer uma espécie de higiene bucal (coisa que ela tinha tornado um hábito para ele, ele tratou de sair para fora . Poucos depois de comer e arrumar as coisas, ela também saiu . Lá estava ele, deitado na grama, olhando para o céu .Ela tratou de arrumar um lugar ao lado dele, observando a vista .

- Bela vista, não ?

- É . bela vista .

- Tudo bem com você, querido ?

- Hã ? Ah, sim . Tudo bem . Eu estou bem .

- Jura ? E por que essa cara ? Parece preocupado ...

- E estou .

Nesse instante, Caldina frisou . Seu corpo congelou por completo, não deixando-a se mover . Por alguns instantes ela ficou assim, parada, imóvel, sem falar nada . Até que ...

- O-o que é d-dessa v-vez ...?

Percebendo a preocupação em seu olhar, ele tratou logo de acalma-lá .

- Não se preocupe – ele a puxou para perto dele, deitando o corpo dela sobre o seu – não tem nada a ver com Cefiro .

Depois de dizer isso, notou que Caldina parecia mais calma . Ótimo .

- Mas, então , o que foi que houve ?

- Fério .

- FÉRIO ?!?!? Mas ... faz tanto tempo que eu não o vejo ... pensei que ... estivesse morto ...

- Não . Está bem vivo .

- A julgar pelo seu tom de voz ... ele ainda não superou aquele problema, não é ?

- Que problema ?

- Ora, o trauma de Rayearth .

- Trauma ... será que ele tem um trauma ? Será mesmo que ele tem um problema ?

- Querido ... está me assustando ...

- Me desculpe . É que ... hoje ... as coisas ... tudo foi tão estranho . Fério surgindo, conversando comigo, com Cléf ... Cléf ... ele ... ele parecia tão , tão ... deprimido . Não estava bem . Acho que não devia tê-lo deixado só ...

- E eu ? Como fico ? Você me deixaria aqui , sozinha ?

Ao ouvir isso, ele notou um tom frio na voz dela, quase como um choro .Em seguida, ela pega a mão dele e a passa pela sua barriga . Não demora muito para ele sentir algo .

- Hã ? Chutou !!! Ele tem saúde !!!

- Vai com calma, foi só um chute . Ainda falta muito para ela nascer .

- Ela ? Você disse ela ? De jeito nenhum !!! Será um menino ! Um homem ! Um macho !

- Vá sonhando ...

Rafaga a empurra para o lado, e se coloca encima dela em seguida, imobilizando-a por completo;

- Menino !

Caldina move de corpo de modo que sai de onde estava, e logo em seguida se coloca encima dele, que estava de costas;

- Dama !

Mesmo em desvantagem, Rafaga estende seus braços e segura Caldina, apertando-a;

- Guerreiro invencível !!!

Imobilizada, Caldina aproxima sua cabeça da de Rafaga e o morde na orelha;

- Lady!

- Aí !

Rafaga diminui a força dos braços, o que faz com que Caldina solte sua orelha . Tão logo ela faz isso, ele a empurra, fazendo ela sair de cima dele . Rapidamente, ele coloca seu corpo totalmente encima dela, de forma que não consegue sair . Ele aproxima seus lábios do ela, aproveitando a falta de reação dela;

- Que tal um guerreiro nobre, poderoso, justo, educado, bonito, que luta pelo bem de seu povo é faz muito sucesso entre as donzelas ?

- Hmm ... melhorou .

Após ter conseguido vencer Caldina, Rafaga a estava beijando . Realmente, ele a amava, mas havia algo mais nisso . Ele tentava esquecer, ele queria esquecer aquele dia . Não queria se lembrar daquele dia . Naquele dia, parte de seu ídolo morreu . O grande homem, aquele exemplo de pessoa inabalável, aquilo havia sido deixado para trás . Naquele dia, Rafaga aprendeu, e da maneira mais dura, que até grandes homens podem ser vulneráveis a seus sentimentos .

* * * * * *

O mal reconhece o mal . Bonita frase . Ótima para se ensinar . Perfeita para contar para as crianças .

Mas, deixando a filosofia de lado, isso poderia ser definido como relativo . Será que uma pessoa pode ser considerada má ? Qual é o real conceito de mal ?

É fácil apontar exemplos . Basta olhar o nosso redor, e teremos vários exemplos de pessoas más . Ou melhor, "vilões" . Pessoas que praticam o "mal", mas que talvez não sejam exatamente más . Como disse uma pessoa certa vez, "Não existem pessoas verdadeiramente más . É muito difícil . Somente os mais esforçados conseguem" .

Bela frase . Ótima para se ensinar as crianças .

Mas, então, o que é o mal ? Provavelmente o lobo dos três porquinhos não era mal, apenas queria se alimentar . O mesmo podia se dizer do gigante do pé de feijão, visto que apenas estava protegendo o que era seu . Aliás, vale ressaltar que, nesse caso, o "vilão" se tratava do próprio João, que havia roubado um bem do gigante .

Mas, então, João era "mal", e o gigante era "do bem" ? Melhor não ficar julgando isso, uma vez que trata-se de um conto infantil . Melhor usar um exemplo mais real .

Digamos, um ladrão que assalta um banco . Ele entra, aponta uma arma, pede o dinheiro, foge(se for possível) e vai usufruir do roubo . Ele é mal ?

Digamos que sim . Dessa forma, estaríamos dizendo que ele é a pior das criaturas, que não está apto a viver em sociedade . Ele seria um animal, que mataria seus semelhantes por puro prazer, ou para obter algo . Deveria ser morto ao nascer, pois desde o nascimento já era considerado maligno .

Que coisa, não ? Pois é, quem disse que é fácil definir o que é o "mal" ? Talvez o ladrão não seja, mas numa coisa muitos concordam : seus atos foram .

Vendo as coisas dessa forma, poderia ser dito que o mal é algo que prejudica outra pessoa, mesmo intencionalmente . Falando dessa forma, estaríamos assumindo que a pessoa não é má, mas as ações dela, sim .

Pois bem, ninguém disse que seria fácil . Nunca foi . É fácil associar o "mal" a "vilões", como acontece freqüentemente . Também é fácil ensinar as crianças a associar o mal a pessoas rabugentas, nervosas, impacientes e outras coisas mais .

Definir o que é o "mal" não é nada fácil . Não mesmo .

Mas em uma coisa provavelmente a maioria, senão todos, concordam a respeito do "mal" : ele chama atenção . Muita . Pode ser de imediato, pode demorar um pouco, mas acaba chamando .

E tem mais coisa estranha quanta ele, a qual muitos também concordam : as pessoas parecem saber quando ele vai chegar . Quem é que nunca disse a cérebre frase "algo de mal vai acontecer" ?

Definir o "mal" não é fácil, mas podemos concluir duas coisas : mais cedo ou mais tarde ele acaba chamando atenção ... e sempre dá um sinal de quando está próximo . É só prestar um pouco de atenção, que você vai perceber ...

* * * * * *

Dias . Anos . Horas . Segundos . Milênios . Estações . Tanto faz . Para alguém em especial, tanto faz . Isso não conta .Ficar ali, durante tanto tempo, não faz a menor diferença . O que faz são seus atos . Isso é que é o mais importante .

Era isso que corroía internamente aquele homem naquele instante . Era aquilo o real motivo de sua aflição . Se os atos de um homem criam seu próprio destino, o que dizer de um que não tem que se importar com o próprio tempo ? Simples homens, em curtos períodos, já foram capazes de influenciar povos inteiros, que diria então alguém que tem a eternidade para agir .

Que diria então alguém que tem a eternidade para não agir .

Dilema difícil . Afinal, o que ele realmente fizera ? O que ele realizara durante todo esse tempo ?

Uma eternidade para agir não é pouco tempo .

O que ele fizera ?

Nada .

Uma maneira bem estranha de ver as coisas, aliás . Mas provavelmente ele estava certo . Afinal, estando ali ou não, estaria fazendo o que ele sempre fizera : nada .

Nada pelo mundo . Nada pela região . Nada pelo povo .

Proteger o mundo dos monstros ? Alguém teria feito isso, e melhor . Talvez não tão melhor, mas faria .

Acalmar o povo ? Esquece .

Garantir a tranqüilidade do planeta ? Hã, hã .

Guiar espiritualmente o povo, mantendo assim a estabilidade de Cefiro ?

Péssima tentativa .

No fim, era isso o que ele concluía . Era tudo isso o que havia feito . Tão pouco, com tanto tempo . Podia ter educado o povo . Podia ter saído de dentro daquele enorme templo, e levado toda aquela cultura que permanecia ali dentro para todos os outros . Podia .

Seria um era de ouro . Um mundo de paz . Uma verdadeira Utopia . Um mundo em que todos seriam verdadeiramente iguais, um lugar onde o medo misturado com o poder da crença não criaria criaturas horrendas que aterrorizariam todos, por que o medo não existiria . Em seu lugar, existiria a razão .

Belo sacerdote ele havia sido . Guia espiritual de Cefiro ... hunf ! Que piada . Como pode se considerar um guia espiritual, sem não soube aproveitar o que o povo de Cefiro tinha de melhor ? Em sua eterna "religiosidade" de "guru", acabara por trancafiar o espirito dos cefirianos, inibindo sua maior capacidade : o poder de, com a crença, romper barreiras, ultrapassar as alturas e continuar a sonhar, indefinidamente . Que patético ele havia sido . "Guru Cléf" ... hunf !!!

Lá estava ele, caído naquele chão frio, se lamentando . Não da dor física, fruto de uma jorramento de sangue na altura do estômago, o qual parecia sangrar em suas costas também, gerando uma poça de sangue, a qual atingia todo o corpo de Cléf . Enquanto gemia, aquela poça se estendia por parte daquela sala fria . Ele podia sentir seu sangue, o qual batia em seu rosto caído, frio .Sentia sua alma, sua vida sendo levada naquele instante . Não resistiria . Não sobreviveria mais do que aqueles instantes . Seus últimos instantes seriam uma última prova de seu total fracasso como guardião de Cefiro ....

* * * * * *

Ela estava flutuando naquele lugar . Não, ela não estava . Não seu corpo .

Aquilo era um sonho, e ela sabia disso . Já havia passado por aquilo antes . Mas nada como aquilo .

Havia algo estranho ali . Algo ... Maligno, Diabólico .

Algo como ela já havia visto antes . Ela podia sentir aquilo . Gritos . Aqueles gritos . De dor, Agonia, tristeza ... todos aqueles gritos . Os quais ela havia ouvido, há muito tempo . Não esperava ouvi-los novamente . Não, não esperava . Eram coisas com as quais ela havia convivido há muito tempo, quando era uma criança . Não, não esperava .

Um grito cortara seu pesadelo . Um grito emitido por ela mesma .

- GIORVEL !!!!

O grito saíra por instinto, fruto de um medo muito intenso, sem igual . Ela própria não o havia escutado .

Mas alguém havia escutado . Alguém que estava ao seu lado, na mesma cama . Alguém que sempre estava atento a todas as coisas . Alguém que sabia o significado daquele nome que fora pronunciado, um nome esquecido, um nome proibido . Seus pensamentos ferviam naquele instante . Tanto tempo, ele pensara, tanto tempo para aquilo acontecer . Quanto tempo fazia ? Dez ? Quinze anos ? Ele só se lembrava de que era um garoto quando aquilo acontecera . Ele havia vivido aquilo, aquele terror . Toda aquela dor, aquele sofrimento, as cicatrizes profundas que aquilo havia deixado nos sobreviventes ... não, aquilo não poderia acontecer novamente .

Enquanto Caldina tentava se controlar, depois de acordar do pesadelo, Rafaga já se colocava de pé e, rapidamente, vestia sua armadura de guerra . Enquanto fazia isso, notava que sua esposa se recuperara parcialmente, visto que o encarava . Não era um olhar normal, se bem que numa situação dessas ele não esperava por isso . Era um olhar que era, ao mesmo tempo, triste, desesperançoso, preocupado e vazio .

Enquanto terminava de se vestir, ele analisava a situação . Chances de vitória ? Ele não sabia . Sobrevivência ? Ele não sabia . Sobreviventes ? Ele olhara mais uma vez para sua esposa, e mais para baixo, pensando na criança que ela carregava . Ainda estava no começo do processo, segundo a anciã . Sabia que suas chance de sucesso eram extremamente baixas, mas, pelo bem daquela criança, pelo bem de seu filho, pelo bem dos que viriam, pelo vem de todo o povo presente e futuro de Cefiro, a vitória teria que ser alcançada incondicionalmente, de uma maneira ou de outra .

Ele se aproxima dela, e segura sua face com ambas as mãos, e a beija . Suas mãos massageavam sua face de uma forma totalmente agradável, em antítese as suas mãos grossas e calejadas de guerreiro . Não era um beijo . Era muito mais do que isso . Era a única forma de, naquele instante, demonstrar todo o seu amor para aquele que ele jurou amar e proteger .

De igual forma, ela sentia aquilo sendo passado . Sentia também o medo que ele sentia, embora fosse orgulhoso demais para se expressar . Sentia cada emoção que circulava pelo seu corpo, passadas por aquele beijo . Sentia a dor que ele sentia naquele momento, a incerteza de não voltar . Com lágrimas no rosto, ela se levanta, enquanto seus braços circundam seu pescoço, apertando-o, de forma que não o deixavam escapar . De igual forma, ele a abraçava de uma maneira doce e suave, negando totalmente a força que possuía nos braços . Não era mais um beijo . Nunca fora . Era uma expressão total de amor .

Quando terminaram, ele se abaixou, e acariciou sua barriga . Em seguida, ele a beijou . Em meio àquela tristeza momentânea, um breve alegria, seguida de outra incerteza : viveria ? Ou melhor, viveria para segurar esta criança ?

Ele se afasta da barriga e, abaixado, se ajoelha, em sinal de reverência, tomando a mão de Caldina e beijando-a educadamente;

- Obrigado, minha rainha . Este humilde servo se despede, pois sua presença é necessária em outro lugar . Em outro lugar, o mal precisa ser detido .

Levantando-se reverencialmente, ele se afasta, pega sua bainha e arma que estava encostadas na parede, e abre a porta da casa, saindo dela .

- R-rafaga ... querido ... meu amor ...

Ao ouvir aquelas palavras, ele se vira rapidamente, e a encara . Uma lágrima escorria pelo seu olho esquerdo, mas sua face demonstrava uma expressão mais calma, mais ... alegre .

- Não se preocupe, Milady . Este humilde servo não falhará em sua missão . Este servo retornará , depois de punir adequadamente o infiel que ousou macular o doce sorriso de Milady .

E, com isso, ele se virou, e correu .

Com a mão sob o peito, lágrimas corriam pelo seu rosto . Não obstante, ela se ajoelhou ali, em sua porta, uniu as mãos ... e começou a rezar . Tinha que faze-lo . Era a única coisa que podia fazer naquele momento . Era esse o poder daquele lugar . O poder da crença . ela tinha que acreditar . Tinha que acreditar . Ele prometeu . Ele sempre cumpria suas promessas . E, mesmo que fosse impossível, ela tinha que acreditar, tinha que crer naquilo .

* * * * * *

Dúvidas ?

Melhor não .

Não era o melhor momento . Não era o momento .

Afinal, ele sabia, ele conhecia os dons especiais de sua esposa . Não se referia a habilidade combativa dela . Referia-se a seus poderes psíquicos .

Sim, era verdade . Caldina era uma psiônica . Uma das poucas e raras psiônicas existentes em Cefiro . Uma pessoa dotada de habilidade mentais incríveis, ao contrário da maioria da população . Suspeitava-se de que Cléf também fosse um, possuindo algum poder psíquico, mas nada fora provado . Eles eram raros, mas sua versatilidade era incrível . Desde os mais "simples e comuns", como ler a mente dos outros e controlá-los, passando por alguns "não tão comuns", como levantar alguns objetos e criar ilusões, chegando até a alguns "realmente raros", capazes de feitos incríveis, como voar incrivelmente rápido só com o poder da mente, desaparecer em um lugar e aparecer em outro, levando outros consigo, e dezenas de outros poderes, relatados pelo povo Cefiro ao longo de sua história .

Caldina tinha a capacidade de criar ilusões, fato que lhe garantiu o titulo de Ilusionista . Para uma guerreira, era uma arma mortal . E não era só isso : possuía a capacidade de comandar mentes mas, como seu nível nesse poder era fraco, não eram todos os sujeitos a esse poder .

Mas uma coisa se sabia sobre os psiônicos, ou psíquicos, como alguns costumavam chama-los . Eles tem a capacidade inata de pressentir algo errado . Costumam ver "algo" nos seus sonhos e, embora não seja algo muito bem claro, eles sabem o perigo que espreita essa visão . Já houveram boatos de Psiônicos que tinha o Dom psíquico de prever o futuro, podendo descobrir o que aconteceria daqui a algum tempo quando quisessem, mas isso nunca foi confirmado .

Rafaga sempre procurou estar "por dentro" de vários assuntos de Cefiro, embora não se comparasse ao nível de conhecimento de Cléf . Mesmo sendo um guerreiro, em constante treinamento, isso nunca o deteve .

Ele conhecia a história dos psiônicos ... entre outras histórias . Uma, em especial, ele havia presenciado, ou melhor, tomado parte . Uma história de muito tempo atrás ... a qual ele preferia esquecer .

O grito de Caldina serviu apenas para alertá-lo . Em uma fração de segundos, todo aquele conhecimento veio à tona . Todas aquelas memórias, tudo aquilo . Todos os que presenciaram aquela tragédia fizeram o possível para esquecê-la, obtendo sucesso . Ele não . Não conseguia esquecer daquilo . Talvez não fosse exagero dizer que se tornou um guerreiro para evitar que aquilo acontecesse novamente .

Sua esposa havia esquecido, ele sabia, mas nesta noite, havia se lembrado . O nome ecoou pela sua cabeça antes de chegar até sua garganta e se propelir para fora, chegando até os ouvidos de seu amado . Ao ouvir o nome proibido, o nome que quase todos haviam esquecido ... ele não hesitou . Sabia que ela só se lembraria daquilo por um motivo muito forte, se realmente sentisse aquele mal chegando .

Agora, lá estava ele, correndo, em direção ao seu destino . Não tinha tempo para hesitar .

Não . Não tinha tempo para olhar para trás . Precisava vencer . Tinha que vencer . Era um guerreiro . Tinha uma missão nobre e sagrada : combater o mal, qualquer mal que viesse a afligir Cefiro, independente de qual seja a forma ou nome pelo qual ele se apresentasse . Para isso, havia treinado . Não só ele, mas outros também . Outros que haviam sobrevivido ao massacre e se preparado para algo assim .

Ele era Rafaga . Capitão da Guarda Real, melhor guerreiro de Cefiro e seu defensor .

Este ... este é Rafaga .

Ele fizera uma promessa para aquela mulher, para a rainha que comandava seu o interior de sua alma, de seu coração .

Mais do que isso, ele fizera uma promessa com o planeta .

Cruzando os campos do paraíso velozmente, aquele homem guia a mão direita para trás alcançando o cabo da espada . Nesse exato instante, o Ovum que se encontra nas costas de sua mão brilha . Ele pode sentir aquilo, aquela sensação fervilhante . Mesmo correndo, ele puxa a espada da bainha que se encontrava em suas costas e, com toda a sua força, a arremessa para o alto . A espada desaparece nos céus, como ele esperava .

- FALCON !!!!

Um raio cruzou os céus naquele instante . Um raio poderoso .

E, então, ele surgiu .

Um falcão . Mas não um falcão qualquer . Era apenas um pouco maior que um falcão comum, na verdade, mas um aura prateada circundava seu corpo, e seus olhos brilhavam num tom prateado, também .

O corpo de Rafaga começou a brilhar, enquanto ele corria . Em determinado momento, quando o falcão estava sobre ele, Rafaga salta e, durante o salto, o brilho em seu corpo aumenta, ao ponto de cobrir todo o seu corpo, de forma que a única coisa que pode ser vista é uma luz com forma humana . A luz lançasse velozmente em direção ao falcão, entrando em seu corpo . Nesse instante, a aura torna-se mais clara, porem, começa a brilhar numa intensidade muito mais forte . A criatura ganha mais altura, numa velocidade cada vez maior .

Se alguém pudesse se aproximar da ave, notaria algo curioso : seus olhos . Eles não eram comuns . Era como se estivessem pegando fogo, como se houvesse uma chama ardente dentro do pássaro, superada apenas pela pura determinação de um homem ...

Continua ....

E a seguir :

(Fério) - Como é ? Esse cara voltou ? Mas o que ele está pretendendo fazer ?

(Rafaga) – O que você acha ? Terminar o que começou !

(Caldina) – Querido, tenha cuidado !

- Ora, ora, mas o que temos aqui ? Venha até mim, filhote . Vejamos quanto tempo as crianças resistem aos jogos dos adultos !

- Ninguém aqui e mais criança, monstro maldito !

(Rafaga) – Hã ? Você também não se esqueceu ?

NÃO PERCA NO PRÓXIMO CAPÍTULO DE RAYEARTH 3 –THE MOVIE :

"A Batalha Suprema da Vida de Rafaga : O Meu Inimigo, Aquele que Eu Jurei Destruir"

- Desta vez você morre, desgraçado !!!!