Sentia-se louco por deixar-se consumir do desejo daquele jeito. O que era apenas um devaneio se tornara doentio de uma hora para outra. Precisava vê-la. Precisava provar, de uma vez por todas, seu sabor. Saiu na espreita. Voltaria antes que alguém desse por sua falta.
De alguma maneira, sabia bem em qual dos abrigos ela trabalhava. Entrou sem alardes, e logo avistou a silhueta de cabelos rosados, agora presos. Pelo visto, era a única que fazia turno noturno por ali, logo, não haveria terceiros para lhe impedir. Aproximou-se silenciosamente, bem como um shinobi deve ser. Tocou-lhe os ombros com tal suavidade que nem ele mesmo conhecia. Ela assustou-se, arregalou as esmeraldas brilhantes que carregava no olhar e virou-se para a figura que lhe assustara. Realizou que aquilo era uma miragem. Um sonho. Um produto de sua mente extremamente esgotada. Até poderia ser verdade seu devaneio se a miragem não a pegasse pela cintura e a levasse pra bem longe dali. Ela não ousara falar nada. Estava confusa. Apesar de aquilo ser real o bastante para ser pura e simplesmente criação da sua cabeça, era simplesmente impossível. Ela tentara matá-lo não fazia muito tempo. O que, afinal, ele queria com ela?
Ele havia parado, enfim. Ambos quietos. Ele, extremamente contido. Ela, assustada. Se ele extravasasse tudo que sentia ali , iria assustá-la mais ainda. E se ela o arremessasse o turbilhão de perguntas que tinha para fazer, era bem capaz que perdesse sua vida. Uma fagulha de coragem surgiu nela, que resolveu falar, mas logo foi interrompida por ele, em quem também foi atingido pela mesma fagulha. Ele fez para que ela se calasse, não hesitou em aproximar-se e lhe tocar os lábios com tamanha ferocidade, como se nunca tivesse beijado ninguém antes. Ela retribuiu com a mesma intensidade, e agora havia entendido que não era preciso fazer perguntas. Não era preciso falar nada. Seu desejo sempre fora recíproco, por todos aqueles anos. Por mais que tivesse demorado para que ele demonstrasse algo. Por mais que, hoje, ele fosse um desertor. Um assassino. Criminoso. Beijando-o, lembrou do jovem que lhe entregara uma carta de amor. Lembrou de como o recusou, por quê o recusou. E de repente seu recuso fazia total sentido.
Não era preciso palavras. A selvageria de ambas as partes era devido a todos os anos de repressão. De beijos a toques, de toques a boca, de boca a ação. Era tudo muito justificável, apesar de intangível. A paixão e o libido pairavam pelo local, mesmo que ao ar livre. Fizeram da forma mais animal possível, até se cansarem o bastante a ponto de dormir profundamente.
Ela despertou na manhã seguinte. Permaneceu de olhos fechados, apenas tentando convencer-se que aquilo havia sido coisa da sua cabeça. Tomou coragem e os abriu. Deparou-se com a floresta. Deparou-se com sua imagem nua, suas roupas jogadas. Deparou-se, também, com a ausência dele. Poderia sustentar sua ideia de loucura se não fosse um pequeno artefato da vestimenta dele que havia esquecido ao ir embora. Havia sido real, então. Sorrira.
"Ninguém, nem em um milhão de anos desconfiaria."
N/A: Apesar de saber que as pessoas quase nunca leem as notas do autor, eu precisava dizer algumas coisas a respeito. Primeiro, essa fanfiction é a minha primeira aqui com esse username (eu já tive outros há uns anos atrás, mas eu só escrevia coisas desastrosas...) e não foi das minhas preferidas, porém eu tinha essa ideia em mente faz um tempo, depois de ter ouvido um álbum do Lovage (projetinho musical do Mike Patton com a Jennifer Charles). E outra, eu adoro histórias inconclusivas, que deixam no ar um "quê" de curiosidade. Apesar de ter escrito algo no gênero, acho que não sou um Bukowski da vida ainda hahaha. Ah, e sim, reviews são sempre bem-vindos. :)
