Entrei em meu quarto absolutamente furiosa. Afinal, quem James Potter achava que era para insinuar coisas sobre mim? Andando de um lado para o outro na minha sala comunal de Monitora Chefe, tomei a primeira escada e fui para meu quarto. Sim, porque a sala comunal dos monitores chefes era a mesma. E eu dividia ela com quem? Oh sim, ele, James Potter, a sina da minha vida.

Bufando, larguei minha mochila em cima de minha cama, e fui em direção ao banheiro, onde joguei uma água no meu rosto e lentamente, olhei para cima e dei de cara com meu reflexo no espelho.

Porque ele me atormenta tanto, Merlin? Não sou feia, para ele ficar me gozando e tirando sarro da pobre feinha. Mas eu também não sou uma deusa para ele babar por mim. Não, longe disso. Na verdade me acho extremamente comum, ou tão comum quanto uma ruiva possa ser. Não me leve a mal se você é ruivo, mas meu cabelo é extremamente ruivo. Não um laranja, mas vermelho. Qualquer lugar que você olha e eu estou nele o que você nota é: Bam, lá está a Evans. Meus olhos verdes, bem, muitos dizem que é um charme. E nisso eu concordo. Tenho os olhos do meu pai, e sempre achei o verde muito bonito. É um verde esmeralda, forte, vivo.

Decidi por fim, tomar um banho para enfim poder relaxar.

Depois do banho, me dirigi para a sala comunal de novo, que graças a Merlin, estava vazia, afinal os alunos saiam de Hogwarts hoje para as férias de Natal. E eu fiquei. Sozinha, porque não tenho mais família. Tuni me rejeitou, não me considera mais sua irmã desde meu sexto ano, quando meus pais foram assassinados por Comensais da Morte.

Dei um suspiro resignado ao encarar a pilha de relatórios dos monitores em cima de uma escrivaninha, me esperando. Ah, Potter seu inútil. Foi para casa passar o Natal com a família e deixa todo o trabalho para mim, não é?

Mas, disse uma voz em minha mente, ele lhe avisou que iria para casa porque seus pais estavam doentes, e que iria ler esses relatórios quando voltasse para Hogwarts.

É, ela não tinha muitos motivos para reclamar dele. Ele fazia tudo o que ela pedia, lia os relatórios, ia nas reuniões, resolvia os problemas que ela não podia resolver, o único problema era a presença constante dos amigos dele ali naquela sala.

Mas isso eu também não posso reclamar, pensei desanimada. Aprendi a gostar deles e ver que eles já não são mais aqueles pirralhos mimados que sempre foram. Remus era um fofo e sempre foi meu amigo. Sirius era um irmão para mim, e era legal ver Potter ter acessos de ciúmes sem nenhum motivo. Peter era engraçado, com suas perguntas fora de hora. Marlene, minha melhor amiga, se aproveitava de minha bondade e também estava sempre dando uma passada por aqui.

Uma hora depois, terminei meu trabalho, e muito cansada para fazer meus deveres, resolvi ir dormir logo. Na real, porque eu estava tão cansada? E eu estava ouvindo um zumbido estranho. Deve ser mais uma loucura de ruiva sardenta. Atirei-me na minha cama, me enrolando nos cobertores, fiz um aceno de varinha e as luzes se apagaram. Mas eu não conseguia dormir apesar do cansaço.

Meus pensamentos começaram a me levar para caminhos que eu sempre tento evitar. Três assuntos que eu não gosto de lembrar. Potter, Potter e Potter. Brincadeira. Meus pais, a guerra que aumentava a cada dia, e o futuro.

O futuro na real me assustava a cada dia que passava. Onde uma sangue-ruim iria conseguir um trabalho no meio de uma guerra? Desde que meus pais haviam sido assassinados, foi como um choque de realidade para mim. Nada é tão fácil quanto a gente quer. Eles não iriam voltar se eu ficasse chorando, também. Então, eu evitava ficar triste. Minha irmã havia gritado comigo que a culpa deles morrerem havia sido minha afinal a aberração da família era eu.

E mesmo tentando com muita força evitar, a memória do dia em que cheguei em casa e encontrei um crânio verde com uma cobra saindo de sua boca flutuando acima do telhado me amedrontou tanto que comecei a gritar enquanto corria para entrar em casa, no mesmo instante em que Petúnia e seu noivo, Válter, chegavam e corriam também.

Depois do choro, veio as acusações.

-A culpa é toda sua, aberração! Maluca! Esquisita! Eu perdi meus pais por você ser uma esquisita! Volta pro seu mundinho de faz de conta e não volta nunca mais! Seu monstro!

Ela berrou isso, na frente de toda a vizinhança que estava no enterro, olhando a desgraça dos Evans. Os vizinhos pobres, os vizinhos humildes do bairro. Os vizinhos da casa um tanto quanto acabada. Os vizinhos sem carro. Os vizinhos agora mortos.

Os aurores tiveram um pouco de trabalho para apagar a memória dos que haviam visto a marca negra em cima da casa, mas eu não ligava. Juntei todas as minhas coisas, tudo que possuía, embalei, e como haviam aurores lá, pedi para que me ajudassem a diminuir o tamanho de todos os pacotes e no final, saí arrastando meu malão pela madrugada até me afastar o suficiente para pegar o Nôitibus Andante, que me levou até o Caldeirão Furado, que é onde eu me instalo agora, quando estou de férias, e onde eu trabalhei durante o verão para ter dinheiro para meu material. O pouco que eu havia herdado dos meus pais, eu resolvi guardar, criando um cofre no Gringotes e depositando tudo de valor que eu tinha deles, para um caso de necessidade.

Foi nessa época que eu acabei me tornando amiga de Sirius. Ele me encontrou afogando as mágoas na Torre de Astronomia e se juntou a mim. Afinal, como ele mesmo disse: "Pimentinha, beber sozinho é mais triste do que beber para esquecer a dor."

E desde esse momento singelo nos tornamos amigos. Já Remus, foi alguns anos antes disso. Eu estava no meu 4º ano e tinha sido azarada por alguns amigos de Snape, que eu ainda considerava um amigo naquela época, e fui para a enfermaria para Madame Pomfrey reverter o feitiço e remover as bolhas que ardiam dolorosamente em meu rosto.

Depois que a enfermeira havia revertido o feitiço, eu vi Remus, pálido e com aparência doentia deitado em uma cama. Eu estava muito desconfiada dele já. Afinal, eu havia notado que ele sempre faltava as aulas na lua cheia. Cada vez com uma desculpa pior. Afinal, quem tinha tantos parentes para morrerem a cada mês?

Me aproximei e comecei a conversar com ele, e sem querer deixei escapar das minhas desconfianças, quando eu disse:

-Por que você sempre falta as aulas na lua cheia?

Ele imediatamente tentou desviar do assunto, mas eu sou Lily Evans e não desisto quase nunca.

Depois de tanto incomodar o pobre coitado, ele desabafou:

-Eu sou um lobisomem, pronto, assumi, agora pode sair correndo e não olhar mais na minha cara de tanto medo.

Mas eu não senti medo. Como eu poderia sentir medo de um garoto tão meigo? Remus era tão... fofo, tão querido, sempre disposto a ajudar no que a gente precisasse, e além do que, ele não era como seus amigos, que azaravam qualquer um. Ao contrário do que ele achava, eu o abracei e chorei por ele sofrer de licantropia. Ele, muito assustado, me abraçou de volta e me disse que eu não precisava chorar por isso.

E foi até bom que ele tivesse me contado isso, porque no ano seguinte fomos nomeados Monitores da Grifinória e nos tornamos mais próximos ainda.

Já Peter não tem muito o que falar. Acho que na real os "Marotos" andam com ele por algum motivo que eu ainda não descobri. Afinal, eu preciso admitir que os marotos são todos bonitos. Exceto Peter. Todos são talentosos e inteligentes. Exceto Peter.

Não, espera aí, eu disse mesmo que todos são bonitos, talentosos e inteligentes? Ah meu Merlin, não conte James Potter nessa lista. Aquele realmente acha que só porque é artilheiro e capitão do time de Quadribol, é melhor que alguém? Tudo bem que ele tem um corpo que nossa, eu vi um dia quando assistia a um treino deles, quando ele tirou a camisa suada e revelou aquela barriga deliciosamente malhada, não com um tanquinho perfeito, mas um exatamente do jeito que eu achava mais bonito, suave, mas que mostrava o quanto ele era malhado. Passei a assistir todos os treinos. Ops. Merda. Vocês não leram isso! É só uma ilusão. Eu não acho o Potter gostoso não. Tá, eu acho sim, afinal não tem como negar que ele é realmente um tesão...

Não sei bem quando percebi que dormi, só sei que quando acordei, estava me sentindo estranha. Minha cama estava mais macia, e eu ouvia uma respiração ao meu lado. TINHA ALGUÉM DORMINDO COMIGO? Vou fingir que não acordei que isso seja um sonho, que isso seja um sonho. Mas dai eu ouvi a pessoa se mexer na cama, que tinha espaço suficiente para nós dois, bocejar, sair do quarto, e voltar algum tempo depois. E eu imóvel. Fingindo que estava dormindo. Senti uma mão passar pelos meus cabelos, e logo depois, a cama afundou ao meu lado e eu soube que a pessoa estava deitando novamente. Só respirei aliviada novamente depois de cinco minutos, quando percebi pela respiração agora ritmada e tranquila da outra pessoa, que ela havia dormido novamente.

Lentamente abri meus olhos. Eu estava em um quarto que não era meu. Mas ele tinha coisas que eram minhas. Como minha varinha, em cima do criado mudo ao meu lado, roupas espalhadas pelo chão, que claramente, eram minhas, e mais outras... pera aí... ISSO NO CHÃO É UMA CUECA?

Por Merlin o que eu fiz na noite passada?

A luz entrava pela janela, me mostrando que o dia estava amanhecendo. Que estanho, parecia que eu tinha recém dormido. Arrisquei um olhar para debaixo do cobertor e me tapei depressa. Eu estava pelada. Peguei minha varinha e convoquei silenciosamente a peça mais próxima a mim. Era uma camiseta, muito grande pra mim, mas eu não liguei e coloquei ela, puxando, para ficar completamente vestida. Só então, nervosa, olhei para meu lado. Seja quem for, estava de costas, e que costas... Musculosas, um pouco bronzeadas, e era moreno. Um cabelo bagunçado, que eu sentia que era familiar.

Não, que não seja ele. Que não seja ele. Que não seja ele. Eu rezei, indo em direção à porta, com minha varinha na mão, e minha calcinha já colocada. Opa.

A camiseta era grande, era quase uma camisola, era claro, pelo perfume, delicioso, diga-se de passagem, que estava nela, que ela pertencia ao desconhecido que habitava a cama que eu havia compartilhado.

Dei de cara com um corredor em cores claras, e nele haviam 3 portas. Abri uma e dei de cara com um banheiro. Abri outra e dei de cara com um quarto vazio. Abri a ultima e meu queixo caiu. O quarto era de um tom azul bebe e tinha vários ursinhos de pelúcia espalhados, seja pelo chão ou em prateleiras. Tinha um roupeiro, uma cadeira de balanço, uma cômoda e um berço, e nesse berço, um lindo bebê estava dormindo. Me aproximei mais, e meu coração nesse momento estava completamente arrebatado pelo lindo menino que dormia sossegado.

Ele deveria ter em torno de 9 meses. Talvez mais. Talvez menos. Era fofinho, estava com um pijaminha de vassouras, suas bochechas eram coradas, e seu cabelo, preto e bagunçado, assim como o do homem que dormia na cama. Ele era pai da criança então. Mas e eu? O que eu estava fazendo ali?

Na cadeira, havia um exemplar do Profeta Diário. Temerosa, eu peguei ele e olhei a data. Para então ofegar tão fortemente que o bebê acordou.

Dizia Quinta-feira, 26 de março de 1981.

26 de março de 1981.

1981.

Não podia ser possível. Noite passada mesmo era dia 23 de dezembro.

De 1977.

Então eu estava no futuro? E o mais importante: a quem pertencia esse futuro?

Fui tirada de meus pensamentos com o começo de um choro do menino, e meu instinto materno falou mais alto e quando eu me dei por conta já embalava a criança em meus braços.

Espera um pouco, desde quando eu tenho instintos maternais? Olhando em volta no quarto do bebê, vi que tinha um espelho atrás da porta, agora fechada e levei um susto com o que eu olhava. Uma linda mulher segurava o bebê carinhosamente e este estava com a cabeça docemente pousada entre seu pescoço e seu ombro. Um fato: a mulher era ruiva. Ela tinha olhos verdes. Ela era Lily Evans. Mais conhecida por mim como eu.

Então eu vou ser assim daqui a 4 anos? Hm, legal, to bonitona... Depois desse pensamento, comecei a rir, e a criança tirou sua cabeça do meu ombro pra olhar interrogativamente para mim. Com seus olhos incrivelmente verde esmeralda, e um olhar inteligente e cativante.

-Mam...a- ele disse com um pouco de dificuldade, e eu sorri para ele. Quem não amaria uma criança linda como essa?

Ah esse meu filho era demais.

Opa. Meu filho? Meu. Filho.

Ah caraca. Até ontem eu tinha 18 anos, e eu estava em Hogwarts. E era 1977, só para constar.

Mas não estava ligando muito para isso. Saí do quarto com o menino, que pelo o que estava escrito na porta, se chamava Harry.

Sempre quis colocar o nome do meu filho de Harry, se eu tivesse um filho, é claro. Mas agora parece que eu tenho um. E ele está com fome. Bem, vamos alimentar a ferinha.

Fui explorando a casa desconhecida até achar a cozinha. Na real, foi mais fácil do que eu esperava. A casa era pequena, confortável, aconchegante. Perfeita.

Abri os armários como se fosse dona da casa, porque na real, eu acho que era, mas tudo bem. Achei leite e uma mamadeira, e dei para o pequeno Harry, enquanto embalava ele tranquilamente em meus braços. Ele havia dormido novamente e eu me dirigi a sala para depositá-lo no sofá quando ouvi vozes. Duas. De homem. No andar de cima. Peguei minha varinha, apontei para o alto da escada e me dirigi na direção do barulho de risos.

Cheguei na porta do quarto de onde eu acordei, e o barulho havia cessado. Coragem, Lily Evans, você é ou não é uma Grifinória?

Respirando fundo, abri a porta do quarto somente para me deparar com ele vazio. E uma porta, que eu não havia notado antes, estava aberta. E dela, eu ouvia o barulho de água caindo. Alguém estava tomando banho. O meu querido acompanhante, pensei, sarcástica. Não me segurando, comecei a arrumar o quarto, juntar as peças de roupa que estavam caídas pelo chão, e não percebi que o barulho do chuveiro havia parado. E nem que o homem estava na minha frente. Estava juntando uma calça que deveria ser minha, do chão, quando me deparei com o par de pés. Fui subindo o olhar, e me levantando ao mesmo tempo. Passei o olho pela toalha presa na cintura, pelo peitoral malhado e um pouco molhado.

Então, finalmente, encarei ele. E gritei.

-Lily? Lily, o que aconteceu, meu amor?- perguntou um James Potter estupefato. Mas ah, eu posso te garantir que ele não estava mais assutado do que eu. Como assim, um dia eu durmo com raiva dele e no outro eu acordo nua na mesma cama que ele? E eu tenho um filho com ele?

Espera... Eu olhei pra minha mão esquerda e lá estava. Pelas Barbas de Merlin, eu estava casada com James Potter!

N/A: E dai a dona Monique não posta nada por um tempo quando tem uma ideia absurdamente louca e resolve postar uma história do nada. A história tem continuação. E a continuação está a caminho. Provavelmente não vou postar amanhã, porque tenho que fazer trabalho escolar. Mas sábado, quem sabe, é claro, que vocês, quem se prestar pra ler, vão poder apreciar o final da história, ou o meio dela. Ainda não sei quantos capítulos ela vai ter. Mas acho que não vai passar de 3. É isso. Beijos. Até mais. Adoro reviews.