*Confortare - Javert & Éponine
"Coragem é a graça sob pressão" - Ernest Hemingway
*Coragem - traduzido do latim.
Os pingos de chuva que caíam do céu como um milagre naquele noite escura de Junho molhavam os barris de pólvora e as poucas armas dos garotos das barricadas. Eles não pareceram perceber tal fato enquanto lutavam contra o Exército do Rei.
"Quem está aí?"
"A Revolução Francesa!"
Pois bem, metade da Revolução Francesa morreu naquela noite, e seus corpos foram largados sobre móveis velhos, bandeiras destroçadas e no pavimento encharcado de sangue. Ninguém se importou em dar a Revolução Francesa funerais adequados ou até mesmo uma única oração.
No meio deste caos eminente, surgira ela. Ela, a garota Thénardier mais velha, Éponine. Mas é claro que nenhum dos revolucionários a reconhecera, nem mesmo seu velho amigo Marius; suja e esguia como era, facilmente conseguiu se passar por um menino rebelde. Tudo para proteger o garoto que amava, e que não a amava.
"Um coração que amava alguém. Um coração que não amou ninguém"
Mas ele não era um revolucionário, nem um garoto rebelde. Ele era o ilustre Inspetor Javert da Primeira Classe de Paris, e não era tolo como os rapazes que pareciam ter esperança de que sairíam dali vivos naquela noite. Ele a reconheceu, e ele falou com ela. Ambos estavam disfarçados; ela, por um propósito e ele, por outro completamente diferente. Pessoas diferentes de mundos diferentes com sentimentos diferentes que cruzaram um mesmo caminho.
No primeiro minuto, ele admirou sua coragem. No outro, achou-a uma tola. E no seguinte, apaixonou-se por sua coragem, o que era inútil, sendo que a coragem da jovem Éponine já era destinada a outro. Não por ela, mas por sua coragem.
Mas será que ambas não eram a mesma coisa?
"Coragem é a dor, e coragem é o amor"
"Coragem é o que precisamos ter quando escolhemos amar alguém"
Para ele, coragem era Éponine Thénardier. Ela estava ali, debaixo da chuva, vestida como um garoto e empunhando uma arma, tudo para proteger o garoto por quem já tivera os sentimentos mais castos que ela achava que um ser humano poderia ter. Bem, ela estava errada. O Inspetor Javert também possuía sentimentos castos por ela, e não era amor.
Era admiração.
Ele admirava sua coragem e bravura, apesar de as duas serem praticamente a mesma coisa.
Mas ele sabia que admiração e amor não eram a mesma coisa, e ainda assim ele tentara salvá-la.
"Vá embora", ele tentou dizer. "Volte para a sua casa, para o lugar ao qual você pertence, para a sua família, ou até mesmo para as ruas, mas vá embora".
"Não", ela respondera, respirando pesadamente e com lágrimas nos olhos. "Eu não tenho casa; eu não pertenço a lugar algum. Minha família não liga para a minha existência, e eu já vivi tempo o suficiente nas ruas. Eu ficarei, e morrerei ao lado dele, ou talvez para salvá-lo. Será melhor assim".
"Coragem é a teimosia"
"Coragem é a obrigação"
Ele a vira morrer. Vira seu belo rosto coberto de sangue e sujeira, e vira o garoto Marius cantar para ela enquanto morria. Ele vira a vida se esvair de seu corpo, e também vira toda a sua admiração se esvair junto da alma da tola e leal garota Thénardier. "Coragem", ele pensou, "é a loucura de amar alguém".
"Coragem vem do coração"
"Coragem é a graça sob pressão"
