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Fruto Proibido

Obs1: Saint Seiya não me pertence, como todos devem saber. Por ser um fic de Universo Alternativo os personagens deverão sofrer algumas alterações em suas personalidades.

Obs 2: : O nome Carlo foi dado ao personagem Máscara da Morte pela escritora Pipe. Portanto, todos os créditos à ela.

Obs 3: Esse é um fic Kamus e Milo. Há muito tempo não escrevo um fic com esse casal, mas gosto dos dois juntos. Na verdade, como devem saber, gosto de todos com todos D.

Obs 4: Esse é um fic de presente de aniversário para a Shiryuforever94. (Dia: 29/04). Fofa, Parabéns pelo seu dia. Tu sabes que te adollo né? Beijinhos e espero sinceramente que curta o seu fic.

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- Que pedaço de mau caminho! – O seminarista que segurava a correspondência levou uma das mãos ao rosto. Olhou para a foto que segurava na outra mão e soltou-a como se fosse uma batata quente. – Oh, eu... Sinto muito, reverendo padre.

O superior do seminário disfarçou um sorriso e assentiu com um gesto de cabeça.

- Pode ir agora, Aiolos. O irmão Shaka Virgo lhe arranjará uma tarefa menos... perturbadora. Você irá encontrá-lo na biblioteca.

O noviço pediu licença e retirou-se. O padre superior suspirou, pensando não pela primeira vez que talvez Aiolos não tivesse a verdadeira vocação para ser padre.

- Bem – refletiu ele em espanhol, que era a sua língua nativa. – isso só o tempo dirá.

O seu olhar pousou sobre a fotografia no topo de uma pilha de cartas, logo em cima de um importante telegrama. Pegando a foto, observou o belo rosto masculino de intensos olhos azuis.

Realmente, que pedaço de mau caminho, pensou. Em seguida, murmurou uma prece de agradecimento pelo fato de Kamus Aquarius ser bem diferente do impetuoso e volúvel Aiolos. Se um homem tão atraente quanto esse houvesse sido designado para escoltar o noviço durante uma longa viagem, o superior do convento ficaria preocupadíssimo; com Kamus, porém, não existiam motivos para preocupações.

Aos vinte anos de idade, Kamus Aquarius era o orgulho do Seminário de los Santos. Embora jovem, sabia manter os pés no chão, sem entregar-se a fantasias absurdas. Era inteligente, bem-educado, obediente; ao mesmo tempo, sabia defender as próprias idéias, e era independente sem ser atrevido ou desrespeitoso. Kamus representava o tipo ideal de jovem homem que a escola do seminário tentava formar.

Mesmo assim, o padre superior não pôde deixar de sentir-se apreensivo em relação ao futuro de Kamus. Santa Maria mãe de Jesus, rezou o padre em pensamentos, enquanto enfiava no bolso do hábito a foto do homem e o telegrama, proteja Kamus das maldades do mundo, e o conserve fiel e si mesmo.

Enquanto o superior do seminário rezava na solidão de seu escritório, o sol matinal banhava os campos que faziam parte das terras que pertenciam ao Seminário de los Santos. O único som que perturbava a tranqüila quietude local era o canto dos pássaros pousados nos galhos das árvores que ladeavam os altos muros de pedra dos prédios do seminário.

Mas, de repente, um trovejante tropel ecoou no ar. À margem do riacho que flanqueava os estábulos, surgiram duas figuras montadas a cavalo. Curvadas sobre as montarias, os corpos esguios acompanhando os movimentos dos cavalos, os cavaleiros estavam obviamente se divertindo.

- Consegui ultrapassar você, Kanon! – gritou um dos jovens. – Coma poeira, agora!

- Não é justo! – respondeu o outro, rindo, tentando alcançar o amigo. – Você sabia que o Dragão Marinho iria recuar diante daquele último obstáculo!

Kamus Aquarius diminuiu a velocidade de sua montaria. Sentado ereto na sela francesa de couro feita sob medida, por encomenda, ele conduzia o cavalo com habilidade de um cavaleiro experiente.

- Não me venha com conversa fiada, mon ami. Se o Dragão Marinho recua diante de obstáculos difíceis a culpa é sua, pois você quem o treinou.

- Humpf! – resmungou Kanon, aproximando-se.

Os dois jovens dirigiram-se juntos até o estábulo, onde um homem idoso logo apareceu para recebê-los.

- Dê uma porção extra de ração aos animais, Dohko. – pediu Kamus ao cavalariço, depois de desmontar. – Eles merecem.

- Não sei se o Dragão Marinho merece, Dohko, mas pode lhe dar a porção extra mesmo assim. – riu Kanon.

Kamus sorriu e prendeu de volta no coque baixo, na altura da nuca, uma mecha de cabelos ruivos que havia escapado do penteado durante a cavalgada.

Os dois jovens encaminharam-se para uma das entradas laterais do seminário, conversando e brincando com a intimidade de amigos de longa data. Os dois trabalhavam como professores leigos no seminário. Kanon era mais velho que Kamus e dava aulas há mais tempo; fora contratado pelo padre superior há cinco anos, como professor-assistente para os meninos mais novos. Na mesma época, Kamus começara um curso especial por correspondência na Universidade do México, para tornar-se professor.

Mas não haveria aulas hoje. Padre Shura, o superior do seminário, declarara feriado escolar. Ao lembrar-se do motivo do feriado, Kamus ficou sério.

- Preciso terminar de arrumar as malas, Kanon. – disse ele, parando de falar em espanhol e começando a falar em inglês.

Kamus era especialista em línguas; além de francês, sua língua natal, falava espanhol, inglês e italiano fluentemente.

Kanon era grego de nascimento, mas sua mãe era mexicana e seu pai fora um executivo norte-americano, e ele passara a maior parte da infância num subúrbio de San Diego, na Califórnia.

- Si, é verdade. – murmurou Kanon, com tristeza.

Ele ia sentir falta de Kamus. Desde que fora designado para o trabalho – não o trabalho de dar aulas, mas o seu verdadeiro trabalho, do qual Kamus não fazia idéia – sabia que esse dia chegaria. Mas quem teria sido capaz de adivinhar que ficaria tão amigo do filho de don Kamie Aquarius? Os dois eram como irmãos, embora tivessem passado e personalidade muito diferentes. Isso sem mencionar a diferença física, refletiu Kanon, olhando para Kamus.

Kanon era alto, loiro, de rosto redondo. Kamus era alto também, mas ruivo, de rosto oval; sua beleza era original, parte top model, parte angelical. Todos os alunos tentavam imitá-lo, com variados graus de sucesso. Os meninos que tinham cabelos compridos usavam coques baixos, na altura da nuca. Os que tinham cabelos curtos rezavam para que eles crescessem logo, para também poderem prendê-los num coque igual ao do belo professor de línguas estrangeiras. Muitos alunos tiravam fios das sobrancelhas para imitar a curva natural, elegante, das sobrancelhas de Kamus, assim como procuravam imitar-lhe o jeito gracioso e sereno de andar.

Só Kanon conhecia o espírito agitado e curioso que se escondia sob a fachada angelical e até mesmo um pouco fria de Kamus. Só ele estava a par da luta interna que o amigo travava consigo mesmo todos os dias para encaixar-se no modelo de perfeição que os bondosos padres tentavam incutir nos alunos.

O mesmo modelo de perfeição que don Kamie exigia de seu único filho.

E agora chegara o dia de colher os frutos da longa estadia entre os muros protetores do seminário. No dia seguinte Kamus Aquarius deixaria o Seminário de los Santos para sempre, a fim de cumprir o papel para o qual fora preparado durante todos esses anos: tornar-se marido do homem escolhido por seu pai. Sim, de um homem. Kamus, apesar de tudo, sempre fora tratado como uma mulher por seu pai, o motivo, ninguém sabia. E iria se casar com um homem que ele jamais encontrara pessoalmente.

Kanon estremeceu. Dever e obediência faziam parte da vida no seminário. Mas entregar o próprio futuro, sem questionamentos, nas mãos de um pai que pouco via o filho, parecia coisa dos tempos medievais!

Por outro lado, Kanon sabia quais eram os costumes das antigas famílias de elite do México. Ele mesmo não pertencia a nenhuma família de elite; mas depois de ter passado anos dando aulas no exclusivo colégio interno do Seminário e los Santos, aprendera a ver como funcionavam as coisas.

Em grande parte da América Latina, os filhos das famílias ricas eram tão cuidadosamente protegidos quanto flores raras de estufa. Mantidos virgens e inocentes atrás de altos muros guardados pela família e pela Igreja, eles ficavam à espera do dia em que se casariam com as mulheres ou homens escolhidos por seus pais.

E no Seminário de los Santos, Kamus Aquários era a "flor" mais protegida de todas.

- Será agradável reencontrar tio Shion – disse Kamus, de repente, interrompendo os pensamentos de Kanon. – Só o vi uma vez, no casamento do primo Mu. Ele foi bastante gentil comigo. Ele... ele conheceu a minha mãe.

Kanon notou a ligeira hesitação do amigo. Uma hesitação, sem dúvida, provocada pela dor que Kamus tentava ocultar sempre que mencionava a mãe. Ela havia morrido quando o filho tinha apenas quatro anos. Depois do triste acontecimento a criança fora deixada a cargo de uma série de babás e governantas, até chegar à idade de ser mandado para um colégio interno.

Raramente Kamus falava da perda que sofrera. Uma única vez, num momento de fraqueza, confessara a Kanon que havia passado a maior parte de sua infância num estado de perpétua ansiedade, ávido por detalhes sobre a mãe que nem chegara a conhecer direito.

- Seu tio lhe contou algo sobre sua mãe? – indagou Kanon, com gentileza.

- Sim, ele me contou algumas coisas. Mas não o suficiente para... para me satisfazer. – Kamus forçou um sorriso. – Bem, agora chega de jogar conversa fora! Já terminei de arrumar as malas que vão ser enviadas para Roma, mas ainda preciso arrumar a maleta de mão que irá comigo, no avião. Será que você pode me ajudar a decidir o que devo levar?

- Claro que posso, seu tolinho! Nunca estive noivo de ninguém, mas o meu irmão mais velho já se casou. Por isso sei direitinho o que você vai precisar levar para que Carlo, o seu noivo, ache você deslumbrante.

Kamus abriu a porta de seu quarto e convidou o amigo a entrar. Estava sorrindo, mas por dentro sentia-se invadido por emoções conflitantes.

Por que as coisas tinham de ser desse jeito? Por que Carlo Cancerini e ele não haviam se encontrado pelo menos uma vez antes de ficarem noivos? Disfarçando um suspiro, Kamus lançou um olhar discreto à fotografia de um rapaz bem-arrumado, antes de jogá-la dentro da maleta.

Até que ele é bonito, eu acho, embora se pareça demais com um daqueles modelos que aparecem em propagandas de pasta de dentes...

Carlo Cancerini, filho mais velho de um milionário industrial italiano, mandara-lhe o retrato no mês anterior, logo depois do anúncio oficial do noivado. Junto com o retrato viera um anel de esmeralda. A esmeralda era tão grande que se um cavalo a engolisse acabaria engasgando e morrendo sufocado! Kamus pegou a caixinha de veludo preto, da qual nunca tirara o anel, e também a guardou na maleta. Só iria colocar o anel no dedo quando chegasse a Roma.

Acompanhando os presentes, Carlo enviara uma carta que só podia ser descrita como bem-educada e formal. Na certa o rapaz imaginara que havia mencionado o mais importante sobre si mesmo na carta.

Mas não havia.

O que importava a Kamus saber que ele tinha um diploma da Universidade de Bolonha? Que dirigia um carro esporte de luxo? Que passara as férias de inverno esquiando nos Alpes? Tudo isso Kamus ficara sabendo durante o ultimo telefonema que recebera do pai.

O que ele realmente desejava saber era algo bem diferente. Por exemplo... O que fazia Carlo rir? O que o fazia chorar, se é que o jovem italiano chorava? Quais eram suas esperanças, seus medos, seus sonhos? O que o deixava zangado? O que lhe despertava a paixão?

Kamus lançou mais um olhar ao sorriso perfeito do rosto na fotografia. Ah! Duvido que alguém com um rosto desses saiba o significado da palavra paixão!

Na verdade, Carlo, continuou ele, em pensamentos, nem parece que você tem um cérebro e uma alma por detrás desse sorriso de anúncio de pasta de dentes. Talvez não tenha, mesmo...

Franzindo a testa, Kamus colocou uma pequena pilha de roupas íntimas de algodão branco sobre a fotografia.

- Caramba, você vai levar isso? – protestou Kanon, indicando as cuecas.

- Oui, vou. Por quê?

- Deus! Até parece que eu não lhe ensinei nada, meu amigo! Essas roupas íntimas são boas para o Seminário de los Santos, mas não para o seu noivo. – argumentou Kanon, tirando as peças de algodão da maleta.

- Verdade? Por acaso você sabe algo sobre o meu noivo que eu não sei?

- Deixe de tolices. O que eu quero dizer é que conheço o mundo lá fora, e você não conhece. O seu noivo é um homem, certo?

- Certo.

- Por bem, qualquer homem, em especial um italiano jovem e viril, gosta de ver seu.. er... homem... usando peças íntimas mais... mais... sensuais, entendeu? O que há de errado com você afinal? Não se lembra do que vimos naqueles filmes que contrabandeamos para dentro do seminário?

Kamus sorriu. Depois de ter sido promovido de professor assistente a professor titular, Kanon recebera autorização para usar o Jeep Cherokee do seminário. De vez em quando ele ia até a cidade, que ficava a vinte minutos de distância e onde havia uma videolocadora para atender às necessidades dos turistas que freqüentavam a região.

Sem que padre Shura ou qualquer outra pessoa do convento soubesse, vários filmes hollywoodianos haviam sido levados às escondidas para o quarto de Kamus. Tarde da noite, quando o resto do seminário dormia, os dois amigos haviam assistido alguns como Batman, O Príncipe das Marés, Máquina Mortífera e Peggy Sue – Seu Passado a espera, além de alguns clássicos como Casablanca e Matar ou Morrer.

- Os filmes foram um complemento interessante para os documentários educativos que você alugou. – riu Kamus. – Se Aldebaran adivinhasse a finalidade que demos ao presente que ele me mandou...

Kanon também riu. Aldebaran era o meio-irmão mais velho de Kamus, filho de uma amante brasileira que don Kamie tivera antes de casar-se com a mãe de Kamus. Embora Kamus raramente visse Aldebaran, gostava muito dele.

Pelo jeito, Aldebaran gostava bastante do irmão caçula, pois costumava lhe mandar presentes caros de aniversário e Natal. Um dos presentes mais apreciados fora o aparelho de DVD, que Kamus fingia usar para "fins educativos".

- Se nenhum de nós dois contar a verdade, Aldebaran nunca saberá de nada. – argumentou Kanon. – Mas por falar em presentes... Deus, quase me esqueço! Espere aqui, eu já volto.

O jovem loiro correu até o seu próprio quarto, que ficava ao lado.

Assim que o amigo saiu, Kamus aproximou-se da maleta em cima da cama e olhou mais uma vez para a foto de Carlo. Num gesto de desafio, tornou a colocar as peças íntimas de algodão dentro da maleta e fechou-a.

Kanon voltou logo em seguida com um pacote embrulhado em papel azul. Entregou-o a Kamus, mas não permitiu que ele o abrisse, dizendo:

- Você só pode abrir o pacote quando já estiver no avião, a caminho de Miami. Ah, como eu gostaria de estar indo com você, para ver a sua expressão quando descobrir o que tem aí dentro! Pena que eu não possa ir junto... Só espero que o meu presente o ajude a lembrar, quando estiver se sentindo sozinho ou nervoso, que ainda sou seu amigo e gosto muito de você.

Os olhos de Kamus encheram-se de lágrimas. Abraçando o jovem loiro, murmurou, emocionado:

- Ah, Kanon, como vou sentir sua falta!

O último dia de Kamus no seminário passou rápido. Primeiro houve uma missa, onde rezaram para que ele viajasse em segurança e tivesse um casamento feliz.

Depois veio o almoço em sua homenagem, durante o qual os alunos e os outros professores fizeram discursos de despedidas. Era óbvio que Kamus era muito estimado por todos os homens do convento. Por diversas vezes ele precisou conter as lágrimas quando seus alunos se aproximaram para dar-lhe abraços de adeus.

Muitos lhe entregaram presentes que mostravam a influência dos padres: um rosário de contas de ametista, um livro de orações com capa de couro, uma imagem de Nossa Senhora numa moldura de prata...

O resto da tarde também passou depressa, com todo mundo participando de jogos no pátio do seminário. Até padre Shura entrou na brincadeira, ajudando a equipe dos padres a ganhar a corrida de revezamento – erguendo as volumosas saias do hábito para poder correr melhor.

Mais tarde houve uma segunda missa, seguida pelo jantar. Depois, todos os alunos, professores e padres dirigiram-se para os seus quartos, incluindo Kamus e Kanon. Ainda não eram nem nove horas da noite, mas o dia escolar começaria na manhã seguinte. As meninas já estariam na classe quando Kamus começasse a se aprontar para esperar o carro que o levaria até o avião particular que o pai mandaria para buscá-lo.

- Kamus?

Kamus e Kanon pararam à porta do refeitório e viraram-se.

- Sim, reverendo? Deseja falar comigo? – indagou Kamus, fitando o padre Shura.

Kanon fez menção de afastar-se, mas o superior do convento o impediu.

- Fique, Kanon. Preciso falar com você, também. – O padre tirou dois envelopes do bolso do hábito, dizendo: - Chegou um telegrama do seu pai para você, Kamus. – Ele entregou um dos envelopes a Kamus, e acrescentou:

– Já nos despedimos no meu escritório depois da missa, hoje de manhã, por isso não preciso repetir o quanto o estimamos aqui no seminário e o quanto vamos sentir saudades suas. Mas enquanto você se prepara para passar sua última noite nesse lugar, eu gostaria que você se lembrasse do primeiro tópico de nossa conversa em suas orações. Recorda-se do que eu lhe disse?

Kamus forçou um sorriso e assentiu com um gesto de cabeça. Como poderia não recordar as palavras do padre? Não permita que o curso do mundo o seduza.

Ah, sim, o curso do mundo... Kamus esforçou-se para que o seu sorriso não se transformasse numa careta de amargura.

Padre Shura deu-lhe um rápido abraço, desejou-lhe boa noite e completou:

- Vaya com Diós.

Assim que Kamus se afastou, o superior do seminário suspirou. Sabia que o filho de don Kamie teria uma vida dura pela frente. Embora fingisse ignorância, estava ciente de que tipo de "alto executivo internacional" era o principal benfeitor do colégio.

Tornando a suspirar, o padre voltou-se para Kanon, comentando:

- Eu me preocupo muito com ele...

- Kamus não é mais uma criança, reverendo. – observou Kanon.

- Em idade, não, mas no resto... Bem, nós fizemos a nossa parte. Agora suponho que devamos deixá-lo nas mãos de Deus.

Nas mãos de Deus e nas mãos de don Kamie Aquarius, pensou o jovem loiro, antes de indagar em voz alta:

- O que o senhor queria falar comigo, padre?

O padre entregou o segundo envelope a Kanon, explicando:

- Recebi isso junto com seu telegrama. É uma foto e um currículo resumido do motorista que chegará amanhã para levar Kamus até o avião, junto com o acompanhante dele.

- As precauções de sempre, certo? – murmurou Kanon, abrindo o envelope para olhar a foto.

Deus! Nunca vira um homem tão bonito em toda a sua vida!

- Ele é um pedaço de mau caminho, não é? – brincou padre Shura, ao ver que o jovem arregalava os olhos, espantado.

Kanon aquiesceu, sem dizer nada. O homem não era um dos auxiliares habituais de don Kamie, mas era óbvio que havia uma explicação para isso. O sujeito iria escoltar Kamus para fora do país, e talvez houvessem paparazzi perto do avião. Kamie Aquarius jamais permitia que alguém fotografasse seu filho.

Mas esse homem bonitão não era nem mexicano e nem italiano. Era um grego, um deus grego, sem dúvida.

E que belo deus grego!

Kanon virou a foto e leu o que estava escrito atrás:

Nome: Milo Scorpio

Nascido em: Athenas, Grécia

Altura: 1,85 m.

Peso: 84 kg

Informações adicionais: faixa preta em caratê, piloto licenciado (EUA, México, Guatemala, Panamá); formado em engenharia pela UCLA – Universidade da Califórnia, Los Angeles; Trabalha como autônomo.

Kanon tornou a olhar o rosto na foto antes de devolvê-la, com relutância, ao superior do convento. Pela segunda vez no mesmo dia, desejou viajar com Kamus Aquarius. E nem foi pelo loiraço da foto. Na verdade, era ciúmes de seu Kamus.

Kamus deitou-se e apagou a luz do abajur. Estava cansado, mas sabia que iria demorar a pegar no sono. O conselho de padre Shura não parava de ecoar-lhe na mente: Não permita que o curso do mundo o seduza... Não permita...

"O curso do mundo". Palavras aparentemente simples, mas cujo significado mais profundo Kamus compreendia bem demais: "Não permita que o mundo do seu pai se transforme em seu mundo!"

Era evidente que o padre desconfiava que o filho de Kamie Aquarius sabia muito mais do que seria conveniente saber.

Kamus virou-se na cama, tentando se lembrar de quando começara a suspeitar da verdade. Imagens do pai invadiram-lhe a mente... Recordou-se da forte presença masculina que o consolara na época da morte da mãe. Ouviu um riso alto e sentiu-se carregado sobre os ombros largos durante o passeio na fazenda dos Aquarius, quando tinha seis anos de idade. Viu um sorriso de felicidade e orgulho estampar-se no rosto do pai, na igreja, no dia da sua primeira comunhão.

Ah, como havia adorado o pai!

Mas logo a adoração havia se transformado em desapontamento, tristeza, raiva e amargura.

O telegrama que recebera dizia que era Aldebaran quem o encontraria no Aeroporto Internacional de Miami. Don Kamie já estava na Itália:

NEGÓCIOS EM ROMA PONTO PREPARATIVOS PARA O CASAMENTO PONTO EU E OS CANCERINI ESPERAREMOS VOCÊ NO AEROPORTO LEONARDO DA VINCI PONTO BOA VIAGEM PONTO BEIJOS PONTO PAPAI PONTO

Os lábios de Kamus curvaram-se num sorriso amargo. Negócios em Roma? Oh, claro... Mas ele duvidava que tais negócios tivessem qualquer coisa a ver com os preparativos para o casamento. Os negócios deviam ser ilegais, isso sim!

Continua...

Está aí o primeiro capítulo do fic. Como é fic de aniversário ela tem que sair mais rápido que as outras né? Então o segundo capítulo virá em breve. Deixem reviews dizendo o que acharam e não se esqueçam que Dedinhos Felizes Digitam Mais Rápido -

Agradecimentos à Akane M.A.S.T. pela betagem e à P-Shurete pelo ânimo. Sem as duas eu nunca conseguiria começar esse fic. Um abraço a todos. Muk-chan \o/