Laços de Sangue

São Paulo, Brasil, dias atuais.

Diante do conceituado do luxuoso Hotel Inn Soryuuha, uma enorme multidão enlouquecida se aglomerava na frente do palco e fãs gritavam eufóricos. O show deveras estava atrasado.

- Aaaah! Eu vim de longe só para ver minha deusa! Cadê a Kagura Wind?!

- Por que não a trazem logo? Eu morro senão vê-la cantar a minha música preferida!

- Queremos ver Kagura Wind! Kagura! Kagura! Kagura!

A equipe de produção e todos os seguranças faziam de tudo para conter a fúria dos fãs ensandecidos.

[...]

Dentro da sala de reuniões do luxuoso Hotel Inn Soryuuha, Sesshoumaru WaeTaisho, empresário e CEO* da Taisho Conglomerate está numa importante reunião como senhor Totosai Yamaguchi, um velho empresário do ramo hoteleiro.

- Como vai senhor Yamaguchi?

- Cof! Cof! – o velho pegou um lenço do bolso do paletó – Hunf! Melhorando!

- Então vamos direto ao ponto. O senhor é dono da Yama Hotels Company com 45% das ações junto com um grupo minoritário de 5 acionistas que totalizam 30%, enquanto que eu tenho somente 25% e, confesso que esta situação não me agrada. Eu não gosto de ter pouco.

- E o que o quer que eu faça, senhor WaeTaisho? Que lhe dê ou venda parte das minhas ações só porque está descontente? – o velho riu com sarcasmo – Não me faça rir.

- Nem perderia meu tempo. Mas eu estou interessado na sua empresa. Então, por que o senhor não coopera e a vende para mim?

- Está querendo minha empresa? Hum! Isso é novo. Mas vendê-la está fora de cogitação, por que é da minha família há mais de 100 anos.

- Oh, Verdade? Ao que me consta, – o jovem executivo pegou sua taça de vinho e bebeu um gole – sua empresa está ao ponto de falir e o senhor está tentando a todo custo sair dessa situação. O caixa da empresa está no vermelho, isso sem contar as dívidas com credores, fornecedores, e até mesmo ações trabalhistas movidas por ex-funcionários insatisfeitos com o senhor. Quer que enumere mais um dos vários problemas ou para começar estes são suficientes?

Totosai arregalou os olhos, que já tinha.

- E está diante de mim querendo mostrar que está por cima da carne-seca*! - Sesshoumaru encarou sério o homem – Lamentável!

- Como soube que estou no vermelho?! Ordenei ao meu escritório de contabilidade que não deixasse vazar nenhuma informação sobre o problema que temos.

- Tenho informantes. E não é só isso. Os outros 5 acionistas também estão sabendo que está no vermelho há meses e estão interessados na proposta que fiz a eles.

- Que-que proposta?!

- Eu vou adquirir os outros 25% e me tornar o sócio majoritário da Yama Company.

Totosai tomou todo o vinho de sua taça e serviu-se de mais. Não estava acreditando no que estava acontecendo. Sesshoumaru descobriu que sua empresa estava prestes a falir.

- Você não pode fazer isso! Estou lutando para salvar a minha empresa! É que... os bancos não emprestam dinheiro para empresas que estão no vermelho! Fica difícil reerguer desse jeito! E também não abrirei mão do meu negócio que está na minha família há gerações!

- Então larga a mão de ser orgulhoso e coopera comigo. O senhor tem um filho que logo vai estar no seu lugar. Vai mesmo entregar uma empresa cheia de dívidas como herança?

- É-é claro que não! – Totosai ficou pensativo - Shippo é meu filho mais velho...

Sesshoumaru levantou-se e foi a até a sacada olhar o show que acontecia lá fora.

- Pois bem! Se não cooperar comigo o futuro do seu filho vai ser o de uma pessoa comum. Vai ter que ralar dia a dia para colocar o pão na mesa. Vai ser um choque para ele quando descobrir que o papai não poderá bancar mais a vida de playboy que leva.

Totosai teve que engolir o orgulho. Se não quisesse ver sua família tendo uma vida humilde terá que aceitar a ajuda do jovem executivo.

- Você quer me aniquilar se aproveitando do fato de eu estar nesta situação! Não tem piedade?!

- Eu aprendi que nos negócios, não se deve ter escrúpulos. Não é do meu feitio ser bom com ninguém.

[...]

No show que acontecia lá fora, Kagura surge e canta para o público que estava impaciente.

- Olá meus fãs! – pega o microfone – Vamos! Cantem comigo!

"Puttin' my defences up
'Cause I don't wanna fall in love
If I ever did that, I think I'd have a heart attack..."

A galera foi ao delírio, pois finalmente estavam vendo seu ídolo. Kagura Wind é uma cantora famosa que foi convidada para cantar no show da cerimônia de inauguração do Hotel Inn Soryuuha na capital da cidade de São Paulo. Os fãs se apertavam na frente do palco e os seguranças mal podiam conter a multidão, além da mídia que estava presente.

[...]

Na sala de reuniões, o velho Totosai teve que aceitar a proposta de Sesshoumaru. Ele pagaria as dívidas da Yama Company e ficaria com 15% das ações, totalizando 45%, passando assim a ser o presidente. Totosai continuaria apenas como dono e com 30%, tendo ainda os outros 25% dos acionistas minoritários. Mas os planos de Sesshoumaru eram no futuro comprar os 25% dos outros acionistas e ele se tornar o dono em definitivo. Mas o velho Totosai não precisava saber disso agora.

- Admiro sua esperteza nos negócios, Sesshoumaru. Você venceu!

Os dois homens deram um aperto de mão simbolizando que o negócio foi fechado.

- Fez a escolha certa, Totosai. Assim o negócio permanece com sua família. Vamos para a cerimônia de abertura?

Eles saíram da sala e Jaken Onigumo, assistente pessoal de Sesshoumaru estava a posto com os seguranças.

- Está tudo pronto, senhor WaeTaisho.

- Ótimo!

- Papai! Por que demoraram tanto? O show já começou!

- Calma, Shippo. Falávamos de negócios.

Sesshoumaru cumprimentou o jovem.

- Shippo Yamaguchi, em breve trabalharemos juntos. Vamos que o show não deve parar.

[...]

Depois do show de Kagura, Totosai e Sesshoumaru subiram ao palco e seguravam um laço vermelho que foi cortado com uma tesoura para a inauguração do novo hotel 5 estrelas na moderna cidade de São Paulo. Era uma parceria que acabou dando certo.

- Bem vindos! – o apresentador fala ao público – Estamos reunidos para a inauguração de mais um hotel da Taisho Conglomerates! Agradecemos a presença de todos e dos nossos amigos da mídia.

No meio da multidão, uma criança que é fã da cantora fala entusiasmada.

- Tia Sango, eu vou pegar um autógrafo pra mamãe! Ela adora a Kagura!

A mulher estava perto do palco com duas crianças.

- Eu também vou pegar um pro Hachiro! Ai o celular tá tocando! - pega o aparelho da bolsa - Alô? Não tô escutando! Temos que sair daqui!

Depois da fita cortada, a multidão ficou histérica pedindo bis para que Kagura cantasse mais. Um empurra-empurra deu início e os fãs começaram a invadir o palco. Jaken ordenou aos seguranças que retirassem Sesshoumaru e Kagura dali levando-os cada um para o seu carro e saíram em disparada, fugindo dos paparazzi. Sango estava atravessando a rua com as duas crianças e a menina soltou de sua mão voltando para o meio da rua para pegar a foto de Kagura que ela segurava.

- Espera, tia! A foto caiu!

Foi tudo muito rápido. O carro que levava Kagura estava em alta velocidade e acabou atropelando de raspão a criança, lançando-a com tudo ao chão. Sesshoumaru que vinha atrás parou o carro e saiu correndo para socorrer.

- A cabeça está sangrando muito! Quem é a mãe dessa criança?! – gritou para os curiosos que se aglomeram em volta – Alguém sabe da mãe?!

- Senhor, para sua segurança, temos que sair daqui. – disse Jaken todo afoito.

- Não foi deixar essa criança aqui! Vamos levá-la ao hospital!

Sango gritava que conhecia a menina e que estava com ela, mas com a confusão e o aglomerado de pessoas em volta, foi em vão. Desesperada, ligou para a amiga.

[...]

No carro com a criança no colo, Sesshoumaru viu que a pequena segurava um papel na mão. Era foto da cantora Kagura, que ele pegou e guardou no bolso.

[...]

Rin Maeda era assistente administrativo em uma empresa de cosméticos. Neste dia ela trabalhou feito uma condenada para poder sair no fim do expediente e comemorar o aniversário da filha. Arrumou tudo rapidamente e levou o maior susto quando seu chefe praticamente jogou uma pilha de papeis em cima de sua mesa.

- Senhorita Maeda! Aonde pensa que vai? Quero estes relatórios prontos na minha mesa amanhã no primeiro horário!

Narake Onigumo era o pior tipo de chefe que pode existir na face da terra.

- Mas-mas... senhor Onigumo... eu já adiantei meu serviço. Desde que entrei aqui para trabalhar raramente saio no horário certo, sempre ficando até mais tarde e...

- Está reclamando que não pago suas horas extras?!

- Não senhor! É que hoje eu vou sair com minha filha para comemoramos o aniversário dela... até marquei para levá-la ao cinema e ao McDonald's...

- Filho se comemora aniversário só no dia que nasce! Os relatórios são mais importantes, senhorita Maeda!

Os outros funcionários olhavam inconformados com a situação.

- Mas senhor Onigumo! Isto não é justo!

O homem chegou bem próximo dela.

- Quer ficar sem o seu emprego? Assim a senhorita terá todo o tempo do mundo para ficar com sua filha. Só não lamente quando ela chorar de fome e não tiver nem uma pedra para dar de comer! – e saiu dando baforadas no charuto.

Rin olhava sem acreditar na pilha de papeis e ainda absorvia o que ouviu. Sentou-se na cadeira sem ação.

- Não acredito nisso! Justo hoje... ele está de sacanagem, só pode...

- Isto não é um chefe, é um carrasco. Pode ir! Deixa que eu cuido disso para você.

Rin viu quem lhe falava. Era Ayame, sua colega de trabalho.

- Mas Ayame, você já fez isso tantas vezes...

- E vou fazer de novo. Para isso é que serve as amigas. Vai logo, antes que o carrasco volte. Além do que, é o niver da sua gatinha. Manda um beijo e um parabéns para a Su e diz que eu a amodoro de paixão.

- Ai, obrigado amiga! Tchau.

Saiu às pressas do prédio com presente e tudo, pegando o celular da bolsa.

- Droga! Por causa da reunião agora de tarde tive que desligar o celular! Tem três chamadas de um número que não conheço e várias da Sango...

O celular toca assim que ela liga o aparelho. Era Sango, madrinha de batismo de sua filha e sua melhor amiga desde o colégio.

- Oi? Sango? Olha, eu já sai. Vou de táxi para chegar mais rápido.

- Rin...- chorando - não, não vem para casa...

- O que foi? O que aconteceu?!

- Vem para o Hospital Albert Eisntein! A Su...

- Que que tem a Suyen? O que aconteceu com a minha filha, Sango?

- Ela... foi atropelada... pegaram seu número e o meu do cartãozinho com nossos contatos que fizemos para ela caso se perdesse... tentaram te ligar mas só conseguiram falar comigo... Rin...

Ela nem respondeu e saiu correndo atrás do primeiro táxi que viu e foi voando para o hospital mencionado pela amiga. Chegando lá a encontrou na recepção.

- Cadê a Suyen?!

- Está no CTI*! Ela bateu a cabeça, sangrou muito, Rin...

- Como aconteceu? Onde vocês estavam?!

- Depois eu falo... você tem que ir lá dentro ver. O Miroku ligou, as gêmeas estão chorando e eu tenho que voltar para casa com o Hachiro... me desculpe...

- Está bem!

Identificou-se como a mãe de Suyen Ogawa Maeda e foi conduzida até o luxuoso quarto da ala do CTI* onde a filha estava. O neurocirurgião e o médico pediatra estavam presentes.

- A senhora é a responsável da criança?

- Sou eu, Rin Ogawa Maeda. Como minha filha está?

- Ela bateu a cabeça e perdeu muito sangue. Fizemos uma cirurgia de emergência, mas ela vai precisar receber uma transfusão de sangue urgente.

- U-u-uma transfusão...?!

- Sim! Preciso que chame seus familiares com o mesmo tipo de sangue de sua filha o quanto antes para que possam fazer a doação Os bancos de sangue dos outros hospitais na cidade só terão sangue do tipo do dela disponíveis somente daqui a dez horas. Cada minuto conta e é essencial para a vida da sua filha.

- Eu não tenho nenhum parente próximo...

- Ninguém?

- Não...

- Se sua filha não receber a transfusão de sangue nas próximas duas horas, eu lamento informar, poderá ser fatal.

Rin segurou a mão da filha.

- Ela... pode morrer...?

O médico apenas assentiu com a cabeça. Rin olhava para a filha deitada na cama não acreditando que aquilo tudo estava acontecendo com elas. Suyen era sua única filha e a pessoa mais importante desse mundo, quiçá* da sua vida.

- Sua menina tem o que chamamos de sangue dourado. Um tipo raro de sangue, o Rh Nulo. E só pode receber o sangue desse mesmo tipo. Qual seu tipo de sangue, senhora?

- É ...A-...

- Pense bem a respeito. O tempo é um fator crucial para salvar a vida da sua filha.

Rin debruçou sobre a filha e chorava desesperadamente. Nesse momento, Sesshoumaru entrou no quarto, pois queria saber como estava a vida da criança que socorreu. A levou para o luxuoso hospital Albert Eintein, pois era de seu amigo, o doutor Jinenji Bokusenno, que era o diretor e dono do hospital.

- Como ela está?

Ela reconheceria essa voz em qualquer lugar do mundo. Lembranças do passado surgiram na mente e um mix de sensações tomaram conta de seu ser. Rin virou a cabeça lentamente para ter certeza do dono daquela voz. E não estava errada. Era Sesshoumaru WaeTaisho.

O médico respondeu a ele que a criança precisaria de doação de sangue nas próximas duas horas. Sesshoumaru agradeceu e ia sair do quarto. Foi quando Rin levantou-se e disse:

- Espera! O senhor pode salvar a vida da minha filha! Por favor! Salve a minha filha!

Sesshoumaru olhava desacreditado para a mulher a sua frente.

- Como eu posso salvar a sua filha, senhora? Já fiz a minha parte. Estou arcando com todos os gastos do hospital e...

- Você pode doar o seu sangue para ela!

- Como?!

Rin se ajoelhou no chão, chorava com as mãos em forma de oração.

- Por favor, eu lhe peço! Doe o seu sangue para a minha filha! É o pedido de uma mãe desesperada!

A cena era lamentável, ela ali no chão implorando para um estranho salvar a vida da filha. E Sesshoumaru não entendia nada.

- Pare com isso!

- Por favor! Salve a vida dela! Vocês tem o mesmo tipo de sangue! O senhor pode fazer a doação!

- Como sabe o meu tipo de sangue? – ele ficou curioso.

- Por Deus eu suplico!

- Levante-se do chão!

- Ela pode morrer!

- Eu disse – ele a puxou pelo braço e a encarou nos olhos – Me dê um bom motivo para fazer isso?!

Rin olhava para aqueles olhos inexpressivos. E teve que dizer.

- Ela é a sua filha!