Sala Precisa
A garota ruiva dormia um sono pesado no tapete de pele de urso. O lençol de seda enrolava-se em suas pernas e envolvia seu corpo. Parecia uma deusa, o cabelo embaraçado, as mãos torcidas próxima ao peito, os olhos semicerrados. O corpo dela estava nu, nada que ele não tivesse visto, por isso parecia ainda mais fascinante vê-la coberta pelo lençol.
Controlando seus movimentos para que ela não acordasse, ele aproximou-se. Sentou ao lado dela, a calça verde de cashmere era tão macia que ele tinha a impressão de que os pêlos do tapete a atravessavam, mas era só impressão, ele sabia. A luz entrava pelo vitral colorido, dava cores ao chão de pedra cinza, a sala estava esfriando já que a lareira havia se apagado há algum tempo. Ele pensou em acendê-la, mas desistiu.
Levantando a mão ele tirou os cabelos loiros que lhe caiam nos olhos. Eles estavam crescendo e ele já não usava mais gel, tornando impossível deixá-lo no lugar, mas ela preferia assim. A mão caiu em seu colo, os dedos dele pareciam frágeis, ele passou a contraí-los, alguns pontos estalaram. As unhas dele estavam curtas, ela havia cortado na noite anterior.
Levantando a mão ele tirou os cabelos ruivos do rosto dela. Era tão macio quanto sua calça, ele sorriu com esse pensamento. As mãos contornaram os olhos dela, as maçãs do rosto, a boca. A boca dela era vermelha e fazia um contraste imenso com a pele pálida que ela tinha. Agora ele passava a mão em seu pescoço, ele podia sentir o sangue pulsando em suas veias. Ele via as veias através da pele dela.
Um arrepio percorreu o corpo dela, as pálpebras tremeram levemente. Ele retirou a mão, a mão estava a três centímetros dela. Ele podia sentir o calor que ela emanava, a ponta dos dele começavam a formigar. Ele queria tocá-la. A respiração dele era pesada, a dela era profunda. Ele pensou em levantar para não acordá-la, mas não podia se afastar.
Passaram-se alguns minutos. Os olhos azuis dele não tinham outro foco. Existia apenas ele e ela. Ele, ela, e a luz que entrava pelos vitrais coloridos. A mão dele voltou a tocar seu rosto, mas agora era mais rígida, ele queria que ela acordasse, queria assisti-la abrir os olhos e fechar imediatamente por causa da luz que agora era abundante. Ele queria que ela acordasse e dissesse para ele que estava com frio. Ele queria que ela pedisse para ele acender a lareira, para ele poder recusar. Ele não recusava nada a ela.
Mas ela nunca fazia o que ele esperava. Ele notou quando a respiração dela mudou. Ela não abriu os olhos, mas seus lábios se esticaram através dos dentes formando o sorriso que ele tanto gostava. Os olhos dele se perderam na boca dela e ele não viu quando ela abriu os olhos. Ele apenas sentiu a mão dela tocando a dele. A sensação o agradava. A mão dela estava sempre quente, diferente da dele. Ela era totalmente o contrário dele.
Draco apertou a mão dela. O sorriso no rosto dela cresceu mostrando os dentes brancos que refletiam a luz do vitral. Ela se aproximou dele, os lábios dela tocando os dele, as mãos dela no pescoço dele, ele dentro dela. O brilho do sol era o brilho deles.
Ela pediu a ele que acendesse a lareira, e ele o fez. Eles ficaram lá mesmo. Sabiam que tinham que ir embora, que iriam desconfiar deles e que mais cedo ou mais tarde alguém descobriria, mas eles não queriam. Não queriam se despedir. Eles não queriam fingir que não se conheciam. Eles não queriam fingir que não gostavam um do outro.
Não agora que ele gostava dela e que ela gostava dele.
