Capítulo I

"O ódio, tal como o amor, alimenta-se com as menores coisas, tudo lhe cai bem. Assim como a pessoa amada não pode fazer nenhum mal, a pessoa odiada não pode fazer nenhum bem."

Seria fácil começar essa história com um 'era uma vez' e termina-la com um 'e foram felizes para sempre'. Se você está atrás de uma história bonita, cheia de amor, emoções e trocadilhos, você veio ao lugar certo. A vida apesar dos apesares é a coisa mais valiosa que temos e só um idiota diria o contrário. Mas se você está atrás de tudo isso e uma história com final feliz, eu sugiro que vá procurar isso em outro lugar. Essa é uma história de amor, mas eu não diria que ela teve um final feliz para qualquer uma das pessoas que estão fazendo parte do enredo.

O correto seria começar a contar essa história a partir de 1° de setembro de 1971, mas tanto quanto aquela época não é tão importante quanto o agora, eu não tenho disponibilidade e muito menos saco, para conta-los tudo pelos mínimos detalhes. São sete longos anos de momentos marcantes, transições e coisas sem o menor sentido. Portanto, eu acho justo começar a contar essa história a partir de 1° de setembro de 1977, que é quando a coisa começou a fazer um pouco mais de sentido para os dois protagonistas desse fiasco, digo, história de amor. Portanto, eu acho que deveria começar dizendo que... Não foi culpa de ninguém. Sério. As coisas simplesmente acontecem porque precisam acontecer. Não foi culpa de ninguém os dois terem acabado juntos ou terem sido mortos no final das contas. Sim, mortos... Não, eu não estou falando de Romeu e Julieta, tanto é que isso é história de trouxa. Eu estou falando de bruxaria. Estou falando de como Lily Evans e James Potter acabaram ficando juntos! Preciso adiantar que não foi nada épico como Romeu e Julieta. A família deles pra começar não era inimiga, o senhor e senhora Potter – pais de James – não faziam mal a uma mosca sequer e os pais de Lily Evans estavam ocupados demais para dar a mínima para quem a filha namorava, tendo tantos impostos para pagar, a festa de noivado da filha mais velha – Petúnia – e fazer a lista do supermercado. Segundo, foi um namoro bom, um namoro saudável... Eu sei que é difícil de acreditar, mas eles se entendiam do jeito deles – um jeito complexo e não muito comum – e terceiro e último, a morte deles foi três vezes mais digna. Mas a morte deles fica para o último capítulo dessa história... Vamos ao que interessa.

Primeiro de setembro de 1977, eu não estava lá, mas aqueles dois, ah sim, estavam. Era um dia chuvoso e bem nublado e eram apenas 11h da manhã, mas ao que parecia a situação iria permanecer daquele jeito por um longo tempo, se Lily Evans tivesse sorte, a viagem inteira.

"Lily, poderia, por favor, me ajudar com meu malão? Está meio pesado" Se ela tivesse prestado atenção – pelas barbas de Merlin, se ela tivesse sequer escutado – a garota ruiva de doces olhos verdes que olhava melancolicamente a chuva cair do lado de fora, teria prontamente ajudado a amiga que a acompanhava na cabine.

"Lily, o que custa poxa, eu não tenho um namorado forte e bonito para colocar meu malão no maleiro" Por falar nisso, nem Lily Evans tinha namorado. Mas não era nisso que ela pensava – até porque, como eu citei, ela não havia sequer escutado – e se for pra ser honesta, não havia realmente um pensamento fixo na cabeça confusa de Lily Evans. A verdade é que Lily Evans sempre foi uma menina interessante... Não apenas no sentido de divertida, simpática e extremamente gentil, mas interessante no sentido peculiar. Havia algumas coisas em Lily que as pessoas tinham dificuldade para entender, como sua boa vontade em ajudar o próximo, uma paciência que nem os Hufflepuffs tinham, a forma como ela conseguia cativar todo mundo, e também, é claro aquela mania dela de ficar devaneando e pensando na vida e se esquecer do mundo real.

"LILY EVANS!"

"Merlin Marlene, eu não sou surda..." Reclamou cruzando os braços sobre o peito "Você me assustou sabia? Não deveria ficar fazendo isso com as pessoas".

"Ah perdão mademoiselle Evans, mas já tem um ano que estou te chamando pedindo ajuda para colocar meu malão no bagageiro e nada de você ter a dignidade ou boa vontade, para me ajudar!"

"Mas que é isso você é uma bruxa ou não é?" Replicou Lily e apontou a varinha para o malão de sua melhor amiga e o levitou até o bagageiro. "Como num passe de mágica, não é verdade?"

"Pra ser sincera eu nem mesmo me lembrei disso." Disse rindo da própria burrice enquanto sentava-se de frente para Lily "Às vezes me esqueço de pequenos detalhes como esses, de que posso fazer magia...".

"O que é de fato engraçado levando em conta que você é sangue-puro...".

"Ah você sabe, eu nunca fui do tipo inteligente." Marlene disse sem ressentimentos em sua voz enquanto olhava para suas unhas. "Sabe da Dorcas?"

"Ah, por favor, para. Você tem certeza absoluta que não sabe onde Dorcas está?"

"Sentada no colo do Diggory" Marlene suspirou "Aquela sortuda de meia tigela... Ela costumava ser minha companhia nas festas. Vou ter que procurar uma nova parceira.".

"Nossa, eu juro que tentei não ficar ofendida, mas é meio difícil depois dessa." Lily disse a olhando de forma indagadora e franzindo o cenho.

"Ora Lily, não é como se você e sua mania de garota politicamente correta a permitisse ir para as festas, paquerar os gatinhos e beber comigo." Marlene disse toda tristonha. "Dorcas é a parte bonita do grupo sabe? Eu precisava dela solteira até meu ultimo dia de vida, em vista de que, ao que parece, nunca terei um namorado".

"Não seja tão dramática Lene, você é tão bonita quanto Dorcas" Lily disse carinhosamente "E por que você precisa de Dorcas solteira, afinal? Não é como se vocês ficassem grudadas nas festas o tempo todo".

"Mas é Dorcas quem me apresentava os gatinhos mais velhos né..." Marlene replicou.

"Não sei se você sabe, mas nós somos os mais velhos esse ano e você já conhece a turma inteira. Vai ser fácil pra você."

"Conheço a turma toda, até porque eu cresci com maior parte deles né Lily." Marlene debochou parecendo um tanto chateada por Lily não dar tanto valor àquela situação, quanto ela. "Não quero esses garotos, são chatos, metidos e eu já namorei uma pequena parte dentre eles."

"Ah claro, uma pequena parte..." Lily soltou uma risadinha em forma de provocação. "Merlin sabe como foram poucos... Merlin sabe o quanto você é pura, casta e inocente."

"Não é pra tanto né... Até porque eu aceitei que não sou mais virgem, após Jack McCartney ter, bem, aberto minha porta de trás" A garota corou drasticamente, enquanto Lily fazia uma careta e murmurava algo como 'desnecessário', mas sem se deixar abater – Marlene nunca se abatia por nada que não fossem garotos – ela prosseguiu "Mas eu não tive muitos namorados Lily, você tem que admitir...".

"Jack McCartney e mais uns vinte".

"Talvez encontros, mas não namorados" Marlene disse veemente e irredutível "De namorados eu só tive Jack McCartney, Rupert Berry, Gabe Newton e Henrie Brown... Não é um número grande".

"É, creio que não" Lily disse ainda se divertindo com a situação "Bem, eu só tive um namorado durante toda minha vida..." Soltou um longo suspiro ao se lembrar das tardes ensolaradas que passava ao lado de Ian Chang, um garoto asiático de Ravenclaw pra lá de gentil "Por algum motivo, que eu não sei, meus relacionamentos não se estendem... Apenas Ian e bem, ele se formou. Achou melhor que terminássemos" Lembrou-se chateada.

"É... Ouvi dizer que ele até mesmo já se casou" Marlene, como sempre, sem papas na língua comentou, até ver a besteira que havia feito. "Ah Lily, Merlin, perdão... Eu me esqueci completamente".

"Quê isso... Eu já o esqueci, deixei isso pra trás" Disse Lily verdadeiramente e deu tapinhas de conforto sobre as mãos da amiga, porém achou melhor levar o assunto para outro rumo. Não se sentia bem ao falar de garotos com suas amigas, tinha uma visão muito séria e muito formada sobre relacionamentos, garotos, amassos e dentre outras coisas e por causa disso, seu ponto de vista muitas vezes era muito criticado por elas. "Sabe Lene, estou um pouco atrasada, pra ser honesta. Em 30min os monitores irão se reunir para que eu possa passa-los as instruções já que eu sou a monitora chefe" Disse toda orgulhosa e estufando o peito para exibir o reluzente broche "Eu deveria ir... Vejo você depois, sim?".

"Promete que não vai sumir como Dorcas? Eu vou acabar por ficar sozinha pelo resto da viagem... Como no ano passado e no retrasado. Eu odeio o fato de você ser monitora, Dorcas ter um namorado e Emmeline morar em Hogsmead".

"Você anda muito resmungona" Lily disse antes de bater a porta do compartimento atrás de si.

Precisava estar em alguns minutos no compartimento, se levasse em conta a dificuldade para se locomover com o trem em movimento, mais as pessoas que ficavam passeando pelos corredores e para finalizar a capacidade de Lily esbarrar em pessoas indesejadas e falantes, conclui-se que chegaria ao vagão dos monitores em 20min. Decidiu se apressar, portanto. Foi pé ante pé, tomando muito cuidado para não tropeçar em seus cadarços que pareciam ter decidido que era uma excelente ideia desamarrarem naquela situação, segurando-se em qualquer lugar que pudesse para garantir que não pagaria o maior mico de sua vida – depois é claro de ter rolado escada abaixo no quinto ano, por ter sua visão tampada pela pilha de livros que carregava – e ficou satisfeita ao ver que aquela missão estava sendo mais fácil do que ela esperava... Até que tudo deu errado. Porque para Lily Evans nada era perfeito e como informei antes, essa história de amor é um completo fiasco. Sim, ela se esbarrou com o cara que no último capítulo dará a vida por ela, mas não quer dizer que foi um encontro feliz ou que tampouco ela fizesse graça desse encontro.

"Finja que não o viu Lily... Potter pode perfeitamente lhe ignorar. Potter pode ter tomado vergonha na cara, durante as férias não é verdade? Ele pode ter finalmente entendido o significado da frase 'Não Potter, não sairei com você nem amanhã, nem no passeio de Hogsmead e nem nunca'. Sim, ele pode...".

"Seu cadarço está desamarrado Evans" A voz de James Potter soou aos seus ouvidos. Ela não podia culpa-lo e até porque era demasiado cedo para começar a gritar, mas também tinha que levar em conta o fato de que James Potter a perseguia desde que começara a usar sutiã a chamando para encontros e com tentativas frustradas de conseguir um beijo dela. É claro que ele faria questão de mexer com ela... Um ser subdesenvolvido como Potter que era incapaz de entender que ela não queria sair com ele de jeito nenhum provavelmente também não conseguiria evitar dirigir a palavra a sua pessoa.

"Eu já tinha visto Potter..." Disse entredentes e tentando não olhá-lo. Quem sabe assim, se ela não visse aqueles cabelo horrível despenteado e aqueles óculos do século passado, ela não ficasse menos irritada? Porque Potter tinha uma espécie de dom... Ele a irritava. Ele podia simplesmente espirrar, mas estava a irritando de alguma forma. A verdade é que desde o princípio, James Potter e Lily Evans se odiaram. O problema é que James Potter acabou por evoluir um pouco de seu sentimento pela ruiva de olhos verdes, embora não pudesse se dizer o mesmo de Lily Evans. Eu avisei que eles eram um completo fiasco e que não tinham nada a ver com Romeu e Julieta.

"E por que não amarrou? Você pode acabar tropeçando..." Havia uma certa inocência na forma como James falava, o que deixou Lily realmente irritada. Odiava aquilo, quando ele bancava o Santo, quando fingia ser um bom garoto. Potter no seu ponto de vista era uma criança pequena e ela era a babá – não que isso se deva ao fato dela ser monitora, não tem nada a ver – porque quando as pessoas – no caso da metáfora, as pessoas no geral são os pais – davam as costas ele infernizava, fazia o inferno na Terra e quase a punha doida e depois quando eles voltavam, eles só pegavam a parte na qual ela sacudia Potter pelos ombros e perguntava por que cargas d'agua ele existia, por que diabos ele sentia prazer ao vê-la surtar e qual era o problema dele, por que ele não poderia ser normal, como 99,9% das pessoas que habitavam aquele castelo? Aí, era ela quem era apedrejada! A ruim, chata, má Lily! Por que ela não ama o Potter como 99,9% da escola? Por que ela não pode simplesmente assumir que ele é incrível e que tudo isso é recalque? Por quê? Por quê? Ah, que Merlin lhe perdoasse, mas Lily desejava que elas passassem pelo menos metade da raiva que ela já havia passado com Potter no seu pé ou Potter fazendo "Potterices".

"Porque eu estou no meio de um corredor de um trem balançando Potter..." Lily disse em meio um suspiro "E além do mais, eu estou atrasada. Tenho que ir para uma reunião".

"A reunião dos monitores, certo?" Potter indagou de volta.

"Exato, com sua licença" Lily disse voltando a caminhar pelos vagões. Era um caminho um pouco distante, até o vagão dos monitores e só não praguejou porque sabia que não teria que trabalhar. Odiava fazer rondas, felizmente Merlin havia lhe enxergado e Dumbledore também ao que parecia, e a colocara como Monitora Chefe. Não queria se gabar ou ficar se achando, mas era merecido, porque havia aguentado tanta coisas naqueles anos em Hogwarts. Potter, Sonserinos metidos, Potter, gente a chamando de sangue ruim, Potter a chamando pra sair, recalcadas invejosas, meninos safados, Potter tentando olhá-la trocar de roupa, deveres intermináveis, professores chatos, "Potterices" e uma lista interminável de coisas que ela suportara com tanto afinco, tão afincadamente que ela se achava mais que digna de receber o cargo de Monitora Chefe e poder ter um gostinho de estar um nível acima, um gostinho de montar em cima dos subordinados. Porém fugindo um pouco de seu delírio sobre como ela simplesmente colocaria as pernas em cima da mesa na sala do monitor chefe, se perguntou: Por que Potter ainda a seguia?

"Potter... Por que me segue?" Disse parando abruptamente na frente de Potter.

"Pensei que talvez poderíamos ir juntos para o vagão dos monitores..." Ele deu de ombros.

"E o que é que você quer no vagão dos monitores Potter?" Disse estridentemente "Volta pra sei lá de onde você saiu e me erra, porque eu sou Monitora Chefe e agora se eu quiser eu posso te pintar de roxo ok? Ok".

"Acho que isso seria um completo abuso de poder com qualquer estudante, mas dê uma boa olhada Evans" Potter disse pomposamente e fazendo questão de dar um de seus famosos sorrisos que atingiam os olhos sempre "Não notou nada diferente?".

"Sua cabeça realmente parece maior Potter, agora desaparece da minha frente Potter. Se possível, da minha vida, do país, do planeta" Lily disse revirando os olhos e voltando a fazer seu caminho para o vagão dos monitores. Infelizmente Potter parecia decidido a fazê-la ficar irritada e baixar o nível logo dentro do trem.

"Sério mesmo... Não vê nada de diferente. Repara bem" Ele pediu parando de frente para ela, com ombros para trás e queixo para cima, adquirido uma postura séria e rígida. "Olhe bem e depois me diz...".

Ele ainda não penteava o cabelo; ainda não sabia dar o nó da gravata corretamente; não havia tido coragem de comprar um óculos novo – bem que sua irmã uma vez dissera que quanto mais rico, mais mão de vaca e Potter sem dúvidas era rico – e bem ele ainda parecia completamente com o mesmo Potter do ano passado, com aquele uniforme amarrotado e pra fora da calça e com aquele broche de Capitão que ele fizera questão de exibir para todos quando recebera... Espere, o que era aquela coisa dourada, brilhante ao lado do broche de Capitão?

"Não, não, não... Isso só pode ser uma piada e das sem graça Potter!" Lily disse irritada e cruzando os braços. "Pensa que me engana é queridinho? Eu sei que Dumbledore nunca foi normal, mas eu sei que ele valoriza muito o colégio e as regras. Ele não colocaria você, logo você Potter, como um monitor e ainda mais um Monitor Chefe. Ouça meu conselho, devolva o distintivo para Remus, Merlin sabe o quanto ele ralou e que ele merece isso mais que você" Por fim deu dois tapinhas no ombro de Potter e decidiu que seguiria seu caminho.

"O que te leva a acreditar que isso não é meu?" Potter, novamente, pensou Lily irritada. Ele em breve começaria com suas Potterices, claro, porque ele não poderia dar paz. Ele tinha que infernizar do primeiro dia de aula até o último.

"Porque você é você Potter, não há razão melhor" Lily disse rindo e ficou satisfeita ao ver que ele ficara ofendido.

"Pois saiba que eu tenho minha carta comigo para comprovar! Quer ver?" Potter disse topetudo.

"Na certa você só copiou a carta do pobre Remus e mudou o nome" Lily disse em meio a um suspiro "Não seria a primeira vez, né?".

"Eu nunca fiz isso!" Potter defendeu-se, mas Lily não queria escutar. Mentiras eram outra Potterice que Potter adorava fazer e eram as que Lily mais odiava e menos era condescendente. Simplesmente lhe fervia o sangue ouvir Potter com aquelas falsas juras de amor, as desculpas que ele dava para engalobar Flitwick e todos os outros professores, como a vez que dissera que um cão havia comido seu dever! Que antiquado! E o pior é que em Hogwarts nem havia cães! A desculpa havia sido tão ridícula que até mesmo Black – melhor amigo de Potter e outro que adorava colocar Lily em seu limite fazendo Blackisse. - não havia perdoado a estupidez de Potter e rido até McGonagall pedir que ele se retirasse para se acalmar.

"Potter, olha só, eu tenho mais o que fazer. Eu realmente preciso ir e devolva o distintivo ao Remus! É realmente injusto você tomar isso dele" Lily disse e voltou a marchar, infelizmente, Potter decidiu que aquilo era uma excelente piada e continuou a seguindo. Não queria descer o nível, não queria mesmo, especialmente porque era um dia maravilhoso demais para desperdiçar gritando com Potter. Foi difícil para ela ignorar a presença de Potter? Sem sombra de dúvidas, mas Lily Evans era outro nível – pelo menos em dias bons e ensolarados de verão – e ela não iria decair apenas para gritar com Potter e botá-lo pra correr! Teria tempo para fazer isso mais vezes do que o recomendado, durante todo esse ano.

"Potter, essa brincadeira já passou dos limites" Disse seriamente parando na frente da porta da cabine dos monitores "Desapareça daqui e me dê esse distintivo para que eu entregue de volta ao Remus... Ainda não entendo porque um anjo como o Remus pode andar com você e Black".

"O correto seria Black e você..." Potter a corrigiu. Pobre James...

"EVAPORA DAQUI POTTER!" Lily gritou antes de abrir a porta do compartimento com brusquidão e arrancar o distintivo do peito de Potter.

"Ei me devolve isso Evans!" Potter bradou indo na direção dela para pegar o distintivo de volta, mas era tarde demais, porque Lily num pulo estava dentro da cabine e havia batido a porta na cara do mesmo, fazendo questão de lacrá-la com um feitiço.

Do lado de fora, Potter batia no vidro da porta do compartimento dos monitores, com sua voz abafada e dizia algo parecido como 'abra a porta, Evans!', porém Lily não faria isso, não mesmo. Aquilo era uma baixaria até mesmo para Potter! Onde já se vira isso? Roubar o distintivo do próprio amigo! Ah, mas Lily conversaria seriamente com Remus sobre ele escolher as amizades dele melhor.

"Bem pessoal, vamos lá, desculpe o atraso" Disse Lily ao ver que estavam todos os monitores olhando para ela, inclusive lá estava Remus sentado ao lado de Hestia Jones – a monitora de Hufflepuff – e a olhava curiosamente. "Remus, desculpe pelo transtorno, tome aqui seu distintivo. Potter não vale nem o prato que ele come, ah Merlin!"

"Hm... Obrigado Lily, mas ér, esse distintivo não é meu." Remus disse seriamente "É do James".

"Bobagem, não precisa encobri-lo, eu já saquei qual é a dele" Lily suspirou e sentou-se "Espero que não tenha começado sem mim".

"Não, não começamos, afinal, nenhum dos monitores havia chegado ainda" Hestia disse a olhando. "Ér, Lily, não vai deixar James entrar?"

"Hestia, pelas barbas de Merlin, por que eu deixaria Potter entrar? Estamos todos aqui, só faltava eu e por falar nisso, sinto muito pessoal, eu sei que deveria estar dando o exemplo, mas é que Potter é uma pedra no meu sapato".

"Lily!" Amus Diggory, o outro monitor de Hufflepuff e namorado de uma de suas melhores amigas – Dorcas Meadowes – a chamou "James Potter, falta ele. Ele é o Monitor Chefe".

"Mas que diabos" Lily riu "De jeito nenhum gente... Potter não é o Monitor Chefe."

"Sim, ele é." Remus se ergueu e foi até a porta do compartimento e com um simples balançar de varinha a porta estava aberta e por ela passou um James Potter com a expressão no mínimo furiosa. Ele estendeu a mão e Remus depositou o distintivo na mão do amigo.

"Eu te disse Evans..." Potter cantarolou.

Lily não podia acreditar no que estava vendo. Seus olhos pareciam mentir. Deu uma boa olhada ao redor, lá estavam as duplas de monitores oras! Remus Lupin e Alice Hamilton de Gryffindor, Amus Diggory e Hestia Jones de Hufflepuff, Benjy Fenwick e Marta Barrel de Ravenclaw e para finalizar Snape e Alecto Carrow como monitores de Slytherin.

"Isso... Isso... Não, não pode ser!" Lily indagou "Isso só pode ser uma brincadeira de muito, mas muito mau gosto" Lily balançou a cabeça negativamente passando a mão entre as madeixas ruivas "Potter, não pode ser o monitor, ele não pode, ele não é! Ele é um safado que fez a nossa tarefa como monitores um verdadeiro inferno!".

"Às vezes você fala algo coerente não é mesmo Evans? Vamos seguir com essa porcaria logo e cair fora daqui" Alecto Carrow disse, embora suas palavras soassem mais como rosnados. Lily costumava compará-la com um cão raivoso com Severus, na época em que os dois eram amigos. Mas era uma época esquecida, tanto para ele quanto para ela. Era até difícil de acreditar que ela já amara como um irmão uma pessoa como Snape. Contudo, não era hora de pensar em Severus, ou melhor, Snape.

"Não, não, não. Potter admita agora mesmo que você está zombando de todos nós! Isso não é possível".

"Evans, eu não sei quantas vezes eu vou ter que dizer que eu sou o novo monitor chefe, para que isso enfie na sua cabeça!"

"Provavelmente o mesmo tanto de vezes que eu disse que não quero sair com você!"

"Uuuuuhh, agora o bicho vai pegar..." Alguém, atrás dela, disse em meio um murmúrio para os outros. Lily tinha certeza que era Marta Barrel, ela tinha uma melhor amiga maldita, Rita Skeeter, e não haviam pessoas em Hogwarts que gostavam mais de um escândalo que as duas.

"Olha, vamos resolver isso como pessoas civilizadas" Remus, propôs se metendo no meio dos dois "Lily, é sério, o James é o novo Monitor Chefe, não é uma piada ou qualquer coisa do tipo".

"Mas Remus...! Potter é um safado ordinário e vagabundo, por que ele seria o monitor?"

"Eu estou aqui ainda...".

"Infelizmente né Potter! A porta por falar nisso é a serventia da casa!" Lily rebateu para James. Uma característica marcante de James Potter era o quanto ele era apaixonado por Lily Evans, portanto não importava o quanto ela perdesse a cabeça com ele, o esmurrasse e gritasse com ele, era realmente raro que ele perdesse a cabeça com ela.

"Eu vou ter uma conversinha com Dumbledore, quando chegarmos no colégio. Ah se vou..." Lily disse irritada "Como isso é possível? Esse lugar era pra ser seu Remus!"

"É Lily, talvez, eu queria muito, mas James merece também... Ele tem ótimas notas".
"Não se trata apenas de notas Remus! O que o Potter fez todos esses anos afinal? Pontos pra Gryffindor no jogo de quadribol? Bah, qualquer idiota faz isso!"

"Ei, ei, eu quero ver você em cima de uma vassoura e fazendo o que eu faço Evans!" James rebateu irritado. É, ele não costumava perder a cabeça com Lily menos quando ela metia quadribol no meio.

"A conversa não chegou no zoológico Potter!" Lily irritou-se e uma série de risadinhas encheu o compartimento, pelo menos da parte de Remus, Amus e Snape que entendiam o que ela queria dizer. Potter, no entanto, a pessoa que ela queria que tivesse entendido, estava confuso. "Remus, se eu fosse você viria comigo. Vai ser uma longa conversa com Dumbledore, é sério...".

"Ah, pois me chame, por que eu bem que gostaria de saber o que ele estava pensando ao me nomear Monitor Chefe" James disse parecendo realmente irritado àquela altura da discussão "Acha que estou gostando? Me divertindo? Vou perder minhas noites livres monitorando detenções e acumulando mais serviço, como se frequentar praticamente todas as classes, não fosse o bastante e ser capitão do time de quadribol, também".

"Há! Potter, nem vem que não tem! Você está adorando! Vai se livrar das detenções, poder salvar o pescoço do seu cúmplice e daquela marmota que segue vocês para cima e para baixo!" Lily disse alterando-se. Não queria descer o nível, mas Potter estava implorando por uns bons tapas e berros. Ah se eles estivessem num canto isolado, ela iria atingi-lo nos países de baixo. E ei, não malicie, Lily é realmente uma garota casta.

"Sabe Evans, eu nem tinha pensando nisso? Você me deu uma excelente ideia" Potter disse fazendo-se de pensativo. Lily sabia que àquela altura, ela já estava vermelha de ódio.

"Todos estamos nervosos e um pouco confusos com os últimos acontecimentos" A voz de Amus Diggory surgiu e Lily pôde ver que ele havia se levantado e ocupado o lugar entre ela e Potter que outrora Remus – que havia desistido – estava. "É realmente uma surpresa que James seja o escolhido para Monitor Chefe, em vista que outras pessoas se dedicaram tanto para conseguir o cargo..." Lily notou um pouco de revolta na voz de Amus e não podia culpa-lo. Se sentiria realmente humilhada se Potter fosse escolhido para algo, ao em vez dela, e definitivamente não merecesse tal oportunidade. "Mas não há nada que possamos fazer no momento, então, o que acham de darmos início à reunião?"

Ainda contragosto, Lily aceitou, mas tudo isso porque pretendia resolver e distribuir todas as tarefas de todos os monitores para que pudesse voltar para sua cabine e ficar com suas amigas, embora Lily tivesse certeza que Dorcas estava com Marlene naquele momento – já que o namorado dela estava ali com eles – apresentando os amigos de Amus para Marlene. Não podia acreditar na situação que estava vivendo, não podia acreditar que estava aguentando Potter dando opinião em tudo o que ela fizesse, uma coisa era Amus, Hestia, Alice, Remus e até mesmo Alecto opinarem – Snape não, porque ele não merecia sua atenção e nem mesmo Marta – e outra era Potter, achando que realmente era Monitor. Era óbvio que havia um equívoco naquilo, era óbvio!

"Então, fica combinado que Amus e Hestia irão fazer a ronda nas segundas, Alice e Remus nas terças, Eu nas quartas, Benjy... Benjy, acorda Benjy! Obrigada, Marta, enfim, Benjy e Marta nas quintas e Alecto e Snape nas sextas" Lily disse arrumando seus papéis com o nome de todos e o dia de suas rondas "E as detenções uma dupla cada semana. Perguntas?"

Para a não- surpresa de Lily, Potter levantou a mão.

"Desembucha Potter" Disse sem paciência alguma.

"Não seria um pouco mais justo se cada dupla aplicasse detenção um dia na semana, assim como nas rondas? Porque é meio puxado esse lance de passar a semana inteira aplicando detenções. Eu pelo menos acho".

"Eu disse perguntas, não sugestões, a reunião está encerrada. Benjy, Marta, a primeira ronda é de vocês" Lily disse se colocando de pé.

"Eu acho que a ideia de James é melhor, e até porque aplicaríamos detenções quatro vezes por mês. Sendo que por semana, aplicaríamos cinco, porque todo dia tem alguém de detenção" Alice disse toda querida e daquele jeitinho que lembrava uma fada. Lily amava Alice e amava ainda mais quando ela se permanecia quieta.

"Ótimo, se preferem assim... Reunião encerrada" Lily disse novamente.

"Ah e outra coisa..." Potter que parecia não entender a língua de Lily – isso talvez explicava o fato de ele chama-la para sair repetidas vezes, ele não entendia sua língua – prosseguiu "Seria legal também se pudéssemos distribuir entre todos nós a função de monitorar os passeios a Hogsmead... Como em turnos. É muito chato passar o passeio inteiro monitorando, assim todos nós poderíamos curtir o passeio".

"É verdade. Minha namorada ficou furiosa ano passado por causa disso" Amus comentou e Lily bateu a própria mão no rosto.

"Sim, sim, veremos isso também" Lily disse e antes que Potter tivesse outra ideia brilhante e arruinasse seu legado como Monitora Chefe, saiu da cabine e bateu a porta com força.

Hogwarts era grande, na verdade, um castelo enorme construído há mais de mil anos atrás, mas ele não parecia ser grande o bastante para Lily Evans e James Potter.

"Ei Evans, viu o James?" Lily já sabia quem era, aquela era uma costumeira frase do barrigudinho tiete dos Marauders – o grupo ridículo de James Potter, Sirius Black, Remus Lupin e o tiete agregado, Peter Pettigrew.

"Vi Pettigrew, estava no vagão dos monitores, embora eu esteja em uma prece silenciosa para ele ter escorregado e se arrebentado todo".

"Ah tá, obrigado Evans".

Se era guerra que Potter queria, então era guerra que Potter iria ter.