Capitulo 1:Minha história.
Elisa's POV
O que aconteceu comigo? E por quê?
Tudo começou na escola. Era a melhor da região, mais cara, mais bonita. Mas a menos segura.
Estava em minha aula de educação física tentando me concentrar no que o professor dizia. Meu maior problema: hiperatividade. Não consigo ficar quieta em momento nenhum.
Ele resolvera fazer aula teórica e estava a maior chatice.
Comecei a brincar com o meu chaveiro da mochila enquanto o professor falava alguma coisa sobre "Como os músculos reagem..." com sei lá o que. Pensei no que faria com o meu namorado hoje até que as meninas começaram a gritar e me tiraram dos meus devaneios.
Elas tinham se levantado e apontavam, freneticamente, para o outro lado do pátio onde havia uma coisa enorme. Me arrepiei toda quando vi que ele tinha chifres e era um verdadeiro armário. Aquela coisa não corria, mas parecia pronto para chegar aos 100 quilômetros. E a parte pior, olhava diretamente para mim.
–Ó deuses! –Murmurou um garoto ao meu lado. Ele tinha músculos bem definidos, olhos amendoados, aparência atlética e cabelos loiros.
Ele pegou rapidamente um arco e uma flecha de dentro da mochila e mirou bem no peito daquilo. A flecha saiu em uma velocidade inacreditável e acertou na mira. O monstro mugiu e cravou os olhos no menino.
–Se possível deixei a situação pior. –Ele olhou para mim. –Tem alguma saída perto daqui?
–Humm... Você sabe onde fica a lanchonete? –Falei tentando ignorar os gritos exasperados das garotas e, agora, do professor.
Ele fechou a cara e agarrou meu braço.
–Me mostre. –Ele continuou com aquela expressão dura, difícil de ser interpretada. –Por favor.
–Tanto faz. –Olhando para ele nem me lembrava que estava prestes a morrer.
Rapidamente ele me puxou e saímos correndo para fora daquela escola.
O minotauro, como o garoto explicou, continuava nos perseguindo, mas quando ele chegava mais perto de nós, nos desviávamos entrando em uma rua. Ainda bem que não resolvemos entrar em um beco!
–Eu... Já não agüento mais! –Exclamei. Nunca fui muito boa em correr na educação física, mas ele não tinha nenhuma marca de suor.
–Então teremos que parar. –Ele não parecia ansioso para fazer isso.
Levou-me para dentro de uma pequena porta e mandou ficar escondida.
–Mas... E você?
–Esgrima. –Ele fez uma careta. –Nunca fui muito apegado, mas não há escolha. –Ele pegou uma pequena faca em seu cinto e se preparou.
–Qual é o seu nome mesmo? –Perguntei olhando para a rua.
Pelo canto do olho vi que ele deu uma risada.
–Anderson. Por que a pergunta agora?
–Se você morrer mesmo pelo menos soube seu nome. –Disse e recuei ao ver o monstro chegando raivoso.
–Me deseje sorte. –Murmurou Anderson.
–Boa sorte. –Mas ele já tinha ido.
A luta demorou muito tempo entre batidas de espada contra chifre. Muitas vezes Anderson se desviava de carros, árvores e postes que o minotauro jogava, mas não desviou quando ele lhe deu um tapa. Foi tão forte que rachou a parede.
Não era mais eu no controle. A fúria tomou parte de mim e soube o que faria agora. Coloquei as pontas dos meus dedos no chão e usei toda a minha concentração naquilo. Só nisso.
Uma fenda, imediatamente, se abriu no chão onde o monstro estava. Ele caiu mugindo e tentando agarrar em qualquer coisa sólida, mas ela se fechou e não vi mais nada a não ser uma rachadura de dois metros no asfalto.
Acho que não dá pra notar.
Olhei para Anderson que olhou para mim.
–Não vou nem perguntar como você fez isso. –Ele deu um sorriso.
–Seria bom...
–Temos que entrar em contato com o acampamento. Tem dracmas de ouro?
–Ahn... O que?
–Nada... Esquece. –Ele remexeu sua mochila até encontrar uma moeda dourada do tamanho de um biscoito. –Você sabe onde existe uma fonte ou sei lá... Lava-jatos?
–Tem uma fonte na praça... Mas para que você quer...
–Apenas me leve até lá. –Ele disse me interrompendo.
O levei até a pequena praça a duas avenidas de distancia.
–Perfeito! –Disse com um sorriso satisfeito. Ele jogou a moeda em um pequeno arco-íris que se formava ali que ao invés de atravessá-lo, desapareceu. –Ó deusa, aceite minha oferenda.
Ele brilhou.
–Quíron, acampamento meio-sangue.
Rapidamente uma imagem de campos de morango apareceu... E... Tinha um centauro nela.
–O que aconteceu criança? –Ele olhou para Anderson preocupado.
–Eu... Humm... –Ele olhou para mim. –Chalé de Hades.
–O QUE?Ó deuses... –Olhou para mim depois se voltou para Anderson. –Mais um? Bom... Você já pode vim para o acampamento. Temos poucas pessoas para treinar. Acho que você pode me ajudar.
Ele fez uma reverencia e passou a mão na imagem.
–Vamos?
–Aonde? –Perguntei.
–Você faz perguntas demais! –Ele concluiu e me pegou pelo pulso, me levando para dentro de um táxi.
Ele falou para o taxista ir em direção de Long Island.
Paramos em um lugar bem parecido com aquela imagem que eu havia visto.
–Tem certeza senhor? Aqui não tem nada!
–Espero que tenha sido bem claro. –Ele lhe entregou um bolo de dinheiro. –Sem perguntas.
O motorista assentiu e acelerou quando saímos do carro.
–Bem... Aqui vamos nós. –Ele olhou para mim e viu minha expressão assustada. –Calma... Ahn...
–Elisa.
–Elisa. Isso não tem nada demais. Apenas um acampamento para crianças realmente perturbadas.
–Crianças realmente perturbadas. Que legal. –Murmurei. –Só quero te fazer uma pergunta... –Falei quando estávamos subindo a colina.
–Faça. –Respondeu ele.
–O que você quis dizer com chalé de Hades? –Perguntei totalmente tonta com o sol ofuscante.
–Você vai descobrir. –Ele disse com um meio sorriso no rosto.
Foi ai que eu vi um lindo lugar. Com as praias no litoral, pequenas estruturas parecidas com chalés gregos em um canto mais afastado, um lindo bosque à direita e um casarão branco e azul no meio de todos. Espalhados por ali haviam forjas, onde garotos faziam espadas, uma arena, varias pessoas lutavam e mais algumas coisas que não identifiquei.
–Posso saber uma coisa? –Falei.
–Depende. Se eu souber...
–Por que isso aqui parece com uma escola militar?
–Ah... –Anderson começou a rir. –Tenho certeza que não vai parecer daqui uns dias. Siga-me, por favor, ok?
–Ok. –Respondi ainda estupefata com o que via.
Uma sombra veio por cima de mim e eu olhei para ver o que era.
–Peleus? Calma. Somos nós... –Ele parou de falar quando o dragão se curvou diante de mim. Anderson me olhou assustado. –Quem... Como... –Ele parecia com muitas perguntas na garganta, mas reduziu a apenas segurar meu pulso e sair correndo em direção ao casarão.
Chegando lá, vi o centauro.
–Quíron! –Exclamou Anderson. –Temos que falar AGORA! –Quíron falou para entrar na casa enquanto eu fiquei fora.
Foi ai que eu percebi um velho senhor sentado na cadeira. Ele jogava um jogo de cartas com o vento. E quando eu digo vento, quero dizer vento mesmo! Mãos invisíveis seguravam o baralho e jogavam tranquilamente.
–Ah... Você chegou. –As cartas caíram quando ele falou isso. –Sou o Sr. D. Bem vinda ao acampamento, querida. –Ele deu um sorriso travesso. Chamas rochas brilharam em seus olhos.
–Espere... Você é o Dionísio dos mitos?
–Mitos? Não. Dos mitos não, eu sou o da realidade. –Ele disse asperamente.
–Ahn... Tipo... Deuses não exis... –Uma mão tampou minha boca antes que eu terminasse minha frase.
–Acho melhor não terminar essa frase se quer viver. –Anderson sussurrou em meu ouvido. –Sr. D! Que saudades! –Ele tirou as mãos de minha boca que passaram para minha cintura. Minha pele estremeceu com o toque, porque a sua mão queimava. Sr. D revirou os olhos. –Quíron quer falar com você. –Ele sussurrou novamente.
Dei a meia volta e entrei na pequena sala.
Depois de um tempo conversando com Quíron, segui Anderson para o local dos chalés.
–Humm... O que você acha dessas coisas dos deuses e tudo mais? –Ele me perguntou.
–Muito estranho. –Respondi olhando para o chão.
–Você se acostuma. –Ele passou a mão no meu queixo fazendo levantá-lo. –Você é muito mais bonita quando olha para frente. –Me deu um sorriso. –Ai está seu chalé! –Ele apontava para uma construção negra e afastada das demais.
–Você está brincando certo? –Perguntei duvidosa.
–Não. Você... Humm... É filha de Hades, Elisa.
Aquilo me pegou de jeito.
–Co-como?
–Pensei que isto já estava obvio!
Minhas pernas tremeram e caíram diante do chalé.
–Você vai se acostumar, calma.
–Calma... –Murmurei. –Você só precisa ter calma.
