Prólogo
— O esperma real foi extraviado — disse Jasper.
O príncipe Edward Cullen ouviu as últimas palavras do secretário pessoal e oficial da família real e ficou preocupado. Desviou o olhar da bela vista de Laguna Beach, que se via do seu apartamento de frente para o mar, franziu os olhos e fitou o homem baixinho e todo engomado, que sempre lhe trazia notícias da família, comunicados e insistentes críticas de sua mãe a respeito do seu estado civil.
— O esperma de quem? — perguntou ele, porque Jasper poderia estar se referindo a um de seus quatro irmãos.
Jasper pigarreou.
— O seu, Alteza — disse ele, esticando o pescoço porque sentia o colarinho branco apertá-lo. — E... Tecnicamente, ele não foi extraviado.
Totalmente confuso, Edward sacudiu a cabeça.
— Isso tem algo a ver com aquelas malditas reservas de esperma, que a minha mãe exigiu que fizéssemos?
Jasper abaixou a cabeça e ajeitou o paletó.
— Para dizer a verdade, senhor, tem sim. Como sabe, sua mãe exigiu que o senhor e seus irmãos fornecessem... Hã... Exemplares de esperma, quando completassem 18 e 25 anos, e...
Edward sacudiu a mão com impaciência. Lembrava-se muito bem de que sua mãe exigira as amostras para preservar a linhagem da família, caso seus irmãos e ele morressem inesperadamente.
— Vá direto ao ponto.
O olho esquerdo de Jasper começou a tremer espasmodicamente. Aquilo era um péssimo sinal, pensou Edward, sentindo a preocupação aumentar. Jasper estava a serviço da família desde que sua mãe era adolescente, e poucas coisas conseguiam deixá-lo tão nervoso.
— Como o senhor sabe, a rainha é a governante mais progressista que a ilha de Marceau já teve — declarou Jasper com orgulho.
Edward soltou um suspiro.
— Você não está fazendo uma declaração para a mídia, Jasper. Estamos falando sobre a minha mãe. Eu sou filho dela. Vá direto ao ponto.
— Sim, claro — disse Jasper. — O senhor tem um primo distante, na Carolina do Norte. Ele está conduzindo uma pesquisa genética e pediu a ela que mandasse material genético da família para ser pesquisado.
Edward ficou pensativo, tentando se lembrar.
— Carlisle— disse ele, lembrando-se do homem que usava óculos com grossas lentes e que sempre parecia estar fora do ar. Ele era primo de um primo.
— Dr. Carlisle. Exatamente. O seu esperma foi mandado para o laboratório onde ele trabalha.
Edward sabia que o seu esperma deveria ter sido escolhido pelo fato de que seus quatro irmãos e seus filhos homens precisariam morrer antes que ele chegasse a um palmo do trono. Ele se deliciara com isso durante toda a sua vida adulta. Os seus dois irmãos mais velhos suportavam o peso da perspectiva de ter que assumir o trono, com toda a falta de liberdade e de privacidade que isso implicava.
No passado, a família fora constituída por seis irmãos Cullen, mas seu irmão mais moço, Jacques, morrera afogado. Depois de tantos anos, a perda de Jacques ainda era um vazio do qual a família não conseguira se recuperar, apesar das tentativas de sua inquieta irmã, Alice. Graças à sorte que tivera na ordem de nascimentos, Edward conseguira abrir um negócio e se manter solteiro, com um mínimo de interferência.
— Então Carlisle perdeu o meu esperma?
O olho de Jasper recomeçou a tremer.
— Receio que seja mais grave do que isso. — Ele fez uma pausa e tomou fôlego. — Aparentemente o seu esperma foi indevidamente utilizado em um procedimento de fertilização in vitro.
O coração de Edward parou. Ele olhou para Jasper. Não podia ser verdade.
— O meu esperma foi usado em quê? — rugiu ele.
Jasper não se abalou. Estava acostumado a lidar com os rompantes da realeza.
— O seu esperma foi usado em uma fertilização in vitro, por engano. O lado positivo é que a mulher é saudável, solteira, tem 30 anos, e a gestação está progredindo normalmente.
Edward deu as costas a Jasper e foi até o bar. Pegou uma garrafa de uísque e serviu dois dedos de bebida em um copo. Bebeu e sentiu o líquido lhe queimar a garganta como fogo. A sua vida passou diante de seus olhos.
Ele sempre fora extremamente cuidadoso quando se tratava de contracepção. Depois de ter visto seu irmão, príncipe Michel, enfrentar suas batalhas, ele resolvera que jamais concordaria com um casamento ou uma carreira forçados, por qualquer motivo.
Agora, graças à interferência progressista de sua mãe, iria ser pai. O pensamento martelava em sua cabeça como um sino dissonante.
— Com quantos meses de gravidez ela está? — perguntou Edward.
— Doze semanas, senhor.
— O que você sabe a respeito dela? — perguntou ele, servindo-se de mais uísque.
— Eu tenho um dossiê — disse Jasper, tirando uma pasta de dentro do seu portfólio de couro. — Isabella Swan, 30 anos, nunca se casou; cabelos louros, olhos azuis. Mestrado em ciências da computação...
Edward engoliu o uísque.
— Uma maníaca por tecnologia — resmungou ele. — A mãe do meu filho é maníaca por computadores. Ela sabe que eu sou o pai?
— Ainda não — disse Jasper. — Mas o Dr. Cullen sente que tem o dever de dizer a ela...
— Carlisle deveria ter medo de ser enforcado com a própria língua. — disse Edward, falando em tom inflexível como o aço. — Ele vai fechar a boca até que eu resolva o que fazer.
Fez-se um profundo silêncio.
— Existe alguma dúvida quanto ao que o senhor vai fazer, Alteza? — perguntou Jasper.
O dever se avolumou dentro do peito de Edward. Dever. Ele sentiu o gosto amargo da palavra e tomou mais uma dose de uísque.
— Relaxe, Jasper. Não há dúvida de que eu vou me casar com Isabella Swan. Qualquer outra escolha me foi roubada.
