Todo mundo tem uma versão de "E se Norma tivesse sobrevivido? E se Alex Romero, o cavaleiro em armadura reluzente, tivesse chegado à tempo?". Essa é a minha versão.
Os personagens, obviamente, não me pertencem. Só estou levando eles pra brincar um pouco.


Depois de tudo que tinha feito, depois de toda a negação, Norma Bates estava finalmente presa em um ponto onde negar não era uma opção. Não poderia mais esconder as mentiras embaixo de um tapete e fingir que os problemas não existiam.
Alguns momentos antes, ela acordou em uma cama que não era a dela, num quarto que não reconhecia. Fios estavam ligados a seu corpo, um bip insistente e uma luz ofuscante que fez uma dor lancinante explodir em seu crânio, começando por trás de seus olhos. Seu coração disparou. Ela não sabia onde estava, ou por que estava ali. Em segundos, ela sentiu mãos em seu braço. Mãos quentes e gentis segurando as dela, e uma voz calma e suave dizendo-lhe que estava tudo bem, que ela estava bem. Ela não fazia ideia do que tinha acontecido. Reconhecia a voz, sabia que ela devia lhe trazer calma, mas não entendia por que. Poucas coisas eram capazes de deixá-la com medo, mas não saber a estava matando.

Ela estava com medo e agitada, e Alex temia que pudesse se machucar com o cateter do soro pelo jeito que estava se mexendo. Parecia que ela não o enxergava, agindo como se ele fosse um dos fantasmas que ela tanto tentava combater em seu sono nos pesadelos a que ele se acostumara a aplacar. Para alívio dele, a médica logo apareceu à porta e se encaminhou para Norma ao ver seu estado.

"Olá, Sra. Romero, é muito bom vê-la acordada!" a jovem morena disse com uma voz animada.

"Quem é você? E...eu preciso ir pra casa, preciso ver meu filho..." Norma murmurou.

"Lamento, Sra. Romero, não posso liberá-la ainda. Agora, sei que está assustada e confusa, e deve ter muitas perguntas. E eu responderei todas elas, mas precisa ficar calma e me deixar checar seus sinais vitais, ok?"

Ela segurava Norma contra o colchão com cuidado e delicadeza, ao mesmo tempo em que checava os monitores e o soro em seu braço.
Norma tentou outra vez puxar o fio de medicamento e a médica pegou um pequeno frasco no bolso de seu jaleco, tirando dali também uma seringa. Enquanto tentava segurar Norma com uma mão, ela abriu a embalagem da seringa e depois mediu uma quantidade de um líquido amarelado do vidrinho, que inseriu no tubo que desaparecia no braço da paciente.
Alex estava a certa distância, assistindo a médica falar com Norma numa voz doce enquanto esperava o remédio fazer efeito. Parecia estar funcionando.

"É Bates" a loira sussurrou numa voz quase infantil.

"O quê?", a doutora perguntou, olhando diretamente para ela pela primeira vez desde que entrara.

"É Norma Bates, não Romero", ela explicou mais alto dessa vez. "Vou manter meu nome."

"Oh. Tudo bem então, Sra. Bates", a jovem médica sorriu para ela. "Vou ouvir seus pulmões agora. Pode se sentar só um pouco, por favor?"
Ela colocou o estetoscópio nos ouvidos e pressionou a outra extremidade, redonda e metálica, contra as costas de Norma, pedindo para que ela respirasse fundo, o que Norma fez obedientemente.
Alex observava enquanto a jovem de rabo de cavalo falava com Norma em um tom maternal, como se ela fosse a mais velha das duas, enquanto escutava os pulmões da outra e checava novamente os sinais nos monitores. Então, com um aceno satisfeito, fez Norma deitar-se se novo e ajeitou os cobertores ao redor dela. Norma, por sua vez, pareceu não notar a presença de Alex durante a observação, e ele apenas manteve sua posição no canto do quarto, quieto, como se estivesse tentando fazer parte da parede.

"Quero ver o Norman", ela pediu.

"Não tenho certeza de que deva permitir isso. Mas prometo que vou saber como ele está e digo tudo a você."

"Por que não posso vê-lo?"

"Você precisa descansar agora, evitar estresse e emoções fortes, e teremos que fazer mais alguns exames amanhã. Então eu a manterei a par de tudo, explicarei tudo que está acontecendo e, talvez, possa ir para casa depois de amanhã", a médica falava num tom gentil, e parecia até animada pela recuperação da complexa paciente.

Os olhos de Norma se fecharam outra vez e ela assentiu quase imperceptivelmente, já sendo dominada pelo efeito do sedativo.

"Tente dormir um pouco mais. Vou diminuir as luzes para que fique mais confortável".

Outro aceno de cabeça, seguido por um suspiro profundo, e a médica se virou e fez um sinal a Alex para segui-la.

No corredor, ele soltou uma respiração que não notou que estava segurando. Ficou feliz em vê-la acordada de novo, finalmente, após quatro dias de dúvidas e incertezas. Mas nem mesmo a imagem de sua esposa, viva e bem, foi o bastante para afastar o sentimento de não saber em que pé estavam no momento. A médica estava a seu lado, oferecendo um sorriso simpático.

"Teve um dia difícil, Xerife. Deixe eu pagar um café para você enquanto conversamos."

Eles se encaminharam para a cafeteria, quase vazia àquela hora, e a doutora o guiou para uma das mesas simples ali. Em instantes a garçonete veio anotar o pedido deles, sorrindo para a médica.

"Oi, Nancy!" a média a cumprimentou como se fosse uma velha conhecida. O que, provavelmente, ela era. "Um cappuccino de baunilha e...?" ela virou-se para Alex.

"Só um café, por favor."

"Volto num minuto."

Enquanto a simpática garota saiu para buscar os cafés, Alex virou o olhar para a médica com centenas de questões, não sabendo por onde começar. A jovem deve ter percebido a preocupação em seu olhar pois o ofereceu outro de seus sorrisos acolhedores e brilhantes.

"Não precisa se preocupar, Xerife. Sua esposa ficará bem. Ela parece estar com uma amnésia leve, mas já era de se esperar por conta da intoxicação por monóxido de carbono. Os sinais vitais dela estão bons, apesar da agitação e do nível de estresse. Eu imaginava que acordar nos braços do marido diminuiria o estresse, e não que o criaria" ela comentou a última parte com uma nota de repreensão que poderia passar despercebida para outra pessoa como um comentário bem humorado. Para outra pessoa, mas não para Alex.

"Bem, nós... Não estávamos exatamente nos melhores termos quando..." a voz dele morreu.

"Entendo... Lamento ouvir isso" ela respondeu, não parecendo lamentar nem um pouco.

"Acha que vai melhorar logo? A amnésia?"

Nesse momento Nancy trouxe os cafés e, após colocá-los na frente deles, se retirou novamente. A médica esperou até a moça se retirar para depois responder.

"Não posso dizer quando, exatamente, mas sim, ela deve se lembrar de tudo em alguns dias."

"Que bom."

"Deve ser difícil para você. Ficar totalmente sozinho, agora, num momento delicado assim", ela falou subitamente, ajeitando-se na cadeira. "Sem contar os problemas com a anti drogas. E ainda tendo que lidar com tudo que vê diariamente na sua profissão, e então... Sua esposa nem se lembra de você."
Ela tem os olhos grandes e ávidos cravados nele. Alex não consegue manter o olhar dela. Intenso demais, firme demais. Perto demais. Ele olha para algum ponto no centro da mesa enquanto bebe um gole do café, ganhando tempo.

"Não é bem assim. Eu... Eu estou bem."

"Tudo bem..." Ela sorriu para ele com expressão de quem sabia que não estava nada bem, mas que esperaria até que ele estivesse pronto. Então baixou a xícara na mesa e pegou um guardanapo; rabiscou algo nele com a caneta que tirou do bolso do jaleco e o entregou para ele.

"Se por acaso precisar de alguma coisa, qualquer coisa, ou só... Quiser alguém pra conversar, pode me ligar. É meu número pessoal."

"Oh... " ele olhou para ela enquanto pegava o papel, quase confuso, e recebeu outro sorriso brilhante e afetuoso dela.

"Certo. Eu agradeço. Obrigado, doutora...?"

"Parker. Annia Parker. Mas me chame de Annia."

"Annia" ele concordou com a cabeça.

"É, meus pais eram loucos pela história dos czares russos." Ela riu. "Aparentemente acharam interessante dar à filha o mesmo nome da princesinha russa desaparecida."

Ele pegou a carteira para pagar pelo café tentando não pensar em czares russos ou na forma do rosto dela, mas a jovem morena alcançou sua mão, parando-o e passando os dedos muito sutilmente por seu pulso.

"Não se preocupe, Xerife. Esse é por minha conta."

"Obrigado", ele disse, a voz baixa enquanto olhava para a mão dela tocando suavemente sua pele. "Bem, eu... Eu vou...Er... Eu vou para casa. Volto amanhã para ver como está Norma. Obrigado pelo café."

"Sem problema. Tenha uma boa noite, Xerife Romero".

"Você também."

Alex deixou a cafeteria sentindo-se levemente perturbado pela jovem médica de rabo de cavalo e jeans. Ela certamente era muito bonita, com grandes olhos castanhos e um sorriso encantador. E ficaria mais que feliz em confortá-lo, do jeito que ele quisesse.
Ele saiu do prédio, caminhou pelo estacionamento até o carro de Norma respirando fundo, deixando o ar frio da noite preencher seus pulmões. Precisava clarear sua mente, fazer sua cabeça parar de girar e dissipar o cheiro do perfume da moça.
Era bom ser admirado por alguém do sexo oposto. Alguém bonita e inteligente e totalmente livre e independente. Bom até demais. Mas ele era casado, ou pelo menos ainda se considerava assim. Seus dias de boemia e de levar mulheres aleatórias para sua cama tinham acabado.

A bebida, por outro lado, não lhe faria mal algum. E, na falta de sua esposa, parecia ser a única coisa que lhe faria dormir um pouco, ainda que sem descanso. Como nos velhos tempos...

Norma estava viva e bem, e essa era a coisa mais importante no momento. Ela não estava usando seu anel, que ele pegou de volta depois de ler aquele maldito bilhete. E, apesar de certamente ter sido no calor do momento, ele não sabia como estavam os sentimentos dela por ele. Ela levou para o lado pessoal quando soube que ele e Dylan conversaram sobre internar Norman contra a vontade, e Alex sabia que não era justo ou decente tentar competir com o filho dela. Mas aquele mesmo filho havia tentado matá-la. E quase conseguiu, o que era agora o maior pesadelo nas noites de Alex.
Não tinha meios de saber como as coisas evoluiriam a partir dali, com as recentes notícias. A única coisa que ele sabia é que Norma estaria devastada e precisaria de proteção e cuidado. E ele estava disposto a protegê-la a qualquer custo. Mas ele conseguiria fazer isso, ainda que ela decidisse que aquele era o fim para eles?


Primeiro capítulo bem introdutório. Pelas minhas contas, essa história vai ter entre 15 a 20 capítulos. A maioria deles já está planejado, e virão tempos obscuros para nosso amado casal. Mas, se tiverem alguma coisa que gostariam de ver, podem pedir. Ainda consigo encaixar algumas coisas no decorrer da história ;)