Sinopse
Sasuke Uchiha
Diziam que o misterioso Cavaleiro Vermelho não era um simples mortal. Que fizera um pacto com o demônio, em troca de se tornar um guerreiro invencível. Sakura, porém, podia sentir com todo o seu ser que as sombras do enigmático e fascinante Uchiha ocultavam um segredo muito mais profundo...
Sakura Haruno
Feito um vendaval, Sakura invadiu o castelo Konoha para reivindicar o Cavaleiro Vermelho como marido! E Sasuke percebeu que sua vida mudaria para sempre. Mas uma mulher tão ardente e cheia de luz iria aceitar viver uma paixão envolta pelas trevas?
Naruto não me pertence e esta historia maravilhosa é da Deborah Simmons e todo crédito é dela, apenas estou adaptando para o universo de Naruto.
Sakura sentia-se como um verdadeiro presente de Natal! Ou talvez uma iguaria deliciosa, aguardando o momento de ser devorada pelos cavaleiros famintos que se moviam lá embaixo como um punhado de cães raivosos e famintos. Todos, sem exceção, tinham se empanturrado de vinho, cerveja e comida. Agora pareciam ansiosos para receber um prêmio especial. Até se poderia pensar que as festas de fim de ano já haviam chegado, tal a maneira como se banqueteava aqui, na corte do rei .
A cena lhe causava tamanha aversão que Sakura não conseguiu controlar a expressão nauseada do rosto. Porém ao perceber a aproximação de sua aia, virou-se imediatamente de costas. Não queria ser vista assim, vulnerável e impotente, quando sempre soubera enfrentar qualquer situação. Mas Tsunade, tendo carregado-a no colo desde que nascera e a acompanhado ao longo da vida, podia reconhecer o estado de ânimo que a dominava a distância.
– Que foi, minha lady? - a mulher indagou baixinho.
– Que foi? Sakura sorriu amarga, a voz normal mente melodiosa vibrando de raiva e desprezo. – Sinto-me o prêmio de um torneio, toda embrulhada e enfeitada - num gesto irritado, passou a mão pelo ves tido bordado e pela capa debruada de arminho -, esperando ser entregue ao vencedor.
– Minha lady... - Tsunade sussurrou, o tom aflito implorando cautela.
Impaciente, Sakura cortou-a no meio da frase.
– Nestes últimos meses, desde a morte de meu pai, nossas terras só têm feito prosperar sob a minha direção. Entretanto, em vez de receber uma recompensa pelos meus esforços, parece que eu serei a recompensa dada a algum patife imundo, louco por dinheiro. E tudo isso apenas porque nosso bom rei Naruto decidiu assim.
– Minha senhora! - a aia protestou, chocada.
– Não é justo - Sakura reclamou pela enésima vez.
Não importava o quão bem administrava as propriedades que lhe haviam sido deixadas pelo pai, ou quantos pretendentes conseguira recusar, ou quantas colheitas fartas extraíra das plantações, ou como a vida em seu castelo transcorria calma e serena, na santa paz de Deus. Pois todos esses resultados espetaculares tinham sido em vão. Em menos de um ano o rei lhe enviara uma intimação, ordenando-lhe casar-se.
– Pare de se lamuriar. Podia ser pior. Pelo menos você poderá escolher o próprio marido. E dentre todos os cavaleiros mais nobres do reino, diga-se de passagem.
– Ha! Grande coisa! Essa honra me foi concedida apenas porque tenho dinheiro suficiente para pagar pelo privilégio. Ou por acaso você acha que o rei me permitiu escolher porque me estima profundamente?
– Chega - Tsunade tornou a avisar. - Pare com essa conversa tola e perigosa e fique quieta. Pelo menos uma vez na vida, comporte-se e faça a opção com sabedoria, usando a cabeça em vez do mau-humor.
Sakura sorriu de leve, sem se ofender com as palavras da serva. Além de Tsunade ter sido mais do que uma verdadeira mãe ao longo do tempo, era impossível conter a língua da velha senhora, mesmo se tentasse.
–Não se preocupe. Vou escolher com sabedoria. Aliás, tenho um bom plano.
Horrorizada com o que acabara de ouvir, Tsunade deu um passo para trás.
– Oh, Deus tenha piedade de nós! - Os anos de experiência lhe haviam ensinado que os planos da sua ama sempre acabavam em grandes confusões. À beira do pânico, juntou as mãos numa súplica angustiada. Minha lady, por favor, deixe suas idéias mirabolantes de lado. Esqueça os planos arriscados. São perigosos.
– Estou apenas aceitando o seu conselho - ela respondeu docemente, um brilho malicioso no olhar. – Vou decidir com sabedoria. O rei me deu liberdade para escolher um marido dentre todos os cavaleiros do reino, não é? Ele disse que eu posso optar por qualquer um de seus cavaleiros. E isso inclui todo o reino, certo? Sakura fez uma pausa, ignorando a expressão confusa da serva.
– Minha lady...
– Portanto já tomei uma decisão.
O sorriso vitorioso iluminando o rosto angelical não era um bom sinal, Tsunade pensou temendo pela sorte da ama. Desde o berço, Sakura Haruno demonstrara possuir uma personalidade marcante e o fato de ter crescido na companhia de três irmãos, sem a mãe por perto para lhe incutir maneiras delicadas, só fizera acentuar o caráter destemido. Agora, depois da morte dos dois rapazes mais velhos por causa de uma febre, do terceiro ter sido morto durante a última Cruzada e do pai haver falecido recentemente, Sakura se tornara a única sobrevivente da família Haruno. Ela provara ser mais resistente, forte e inteligente do que qualquer um deles, além de mais teimosa e cabeça-dura também.
No fundo do coração, a velha criada acreditava que o casamento com um homem decente iria fazer bem à sua protegida. Ser guiada por uma mão firme, mas gentil, conceber filhos e criá-los, poderia contribuir para trazer à tona a natureza suave da jovem. Talvez o decreto do rei Naruto fosse mesmo para o bem. Afinal Sakura já completara dezenove anos e até o momento não demonstrara qualquer interesse em procurar um marido. O único problema era que se esquecera de levar em consideração a natureza determinada daquela a quem amava como a uma filha.
– E se ele não aprovar a minha opção, presumo que ficarei livre para voltar para casa - Sakura concluiu com um ar triunfante.
Tsunade tentava raciocinar rapidamente, procurando entender que plano seria esse. Por algum motivo obscuro, sua senhora acreditava que o rei lhe negaria permissão para casar-se com o cavaleiro escolhido.
– Minha lady, você não teria coragem de selecionar um homem já casado?
– Não! Eu sequer tinha pensado nessa possibilidade juro! - Sakura ficou em silêncio alguns segundos, como se considerando tal alternativa. Então descartou a idéia. - Não, não creio que Naruto aceitasse um caso assim. Mas ele será contra a minha escolha. Terá que ser!
A velha criada inspirou fundo preparando-se para ou vir o pior. Precisava saber o resto da história, embora tivesse certeza de que não iria gostar nada do que estava para escutar.
– E quem será o eleito? - indagou ansiosa.
Experimentando a primeira sensação positiva do dia, Sakura passeou o olhar desdenhoso vagarosamente pelos cavaleiros lá embaixo antes de fitar a aia.
– Vou escolher o barão Sasuke Uchiha - Cheia de expectativa, aguardou a reação de Tsunade, que com certeza iria cumprimentá-la pela demonstração de engenho e inteligência. Entretanto, em vez de palavras de admiração, a criada só teve tempo de: arregalar os olhos antes de cair desmaiada no chão.
Sakura ergueu a cabeça e jogou os ombros para trás ao entrar no salão agora vazio, à exceção de Naruto, da rainha, alguns poucos servos e conselheiros. O rei tinha concedido a graça de uma audiência em particular, porém não sabia se devia considerar a atitude uma bênção ou uma maldição. Se Naruto pretendesse contrariar a sua decisão, com certeza seria mais difícil fazê-lo na frente de muitas pessoas. Já perante um grupo pequeno... Não, não queria pensar em derrota. Um guerreiro nunca se deixa abater.
O rei ainda era um homem bonito. Alto, pernas longas, cabelos louros e olhos azuis. Contudo Sakura se ajoelhou diante dele sem a menor emoção. Jamais se sentira atraída por qualquer homem.
– Boa noite, Sakura Haruno. Espero que você tenha apreciado sua estada na corte.
– Sim, claro, meu lorde - ela respondeu forçando um sorriso.
– Também espero que tenha usado seu tempo de maneira sensata para escolher um marido dentre meus cavaleiros reunidos aqui. - o rei sorriu, como se a situação o divertisse.
– Meu lorde não limitou a seleção dentre os que se encontravam presentes na corte - Sakura falou procurando manter-se calma. - Posso me casar com qualquer um de seus cavaleiros, não posso?
Embora surpreso, Naruto concordou com um breve aceno de cabeça.
Apesar de firmemente decidida a levar o plano até o fim, parecia cada vez mais difícil pronunciar o nome do eleito. Foi com muito esforço que as palavras ganharam vida.
– Então escolho para marido o barão Sasuke Uchiha, de Konoha.
O anúncio teve o efeito esperado. As pessoas ao redor não fizeram a menor questão de disfarçar o choque que sua escolha causara e logo os comentários, sempre associados ao barão, enchiam o ar.
O Cavaleiro Vermelho... o próprio diabo encarnado... feiticeiro... praticante da magia negra... – sussurravam vozes anônimas.
Embora Sakura já tivesse escutado todos esses rumores antes, as palavras a desassossegavam mais agora porque, de certa forma, lhe diziam respeito.
Determinada a não se deixar abater, ergueu a cabeça e fitou cada um dos presentes com altivez. Todos a olhavam horrorizados. Todos, exceto o rei e sua esposa, é claro. Naruto conseguiu disfarçar a raiva rapidamente e Sakura conteve um sorriso triunfal. Se o rei estava zangado, era porque se sabia derrotado. E é claro que não poderia voltar atrás na palavra empenhada, ficando portanto obrigado a liberá-la do compromisso de arrumar um marido.
Quando estava a ponto de dizer algo, Naruto foi interrompido pela esposa, que lhe sussurrou alguma coisa no ouvido. Talvez a rainha estivesse tentando apaziguá -lo, Sakura pensou esperançosa. Afinal Hinata sempre fora considerada uma influência benéfica sobre a personalidade rígida do marido. Embora prestasse atenção à esposa, o rei mantinha os olhos azuis fixos em Sakura. Aquele olhar penetrante dava a impressão de enxergá-la por dentro, medindo suas forças e fraquezas, avaliando-a, desvendando-lhe os segredos da alma. Por fim Naruto começou a rir. Sakura respirou aliviada, certa de que o rei achava tudo muito engraçado. Claro que sairia daquela audiência vitoriosa.
Logo poderia ir para casa como uma mulher livre!
– Pois então que seja! - Naruto falou em alto e bom som. - Uchiha é o escolhido.
Sakura quase não podia acreditar no que acabara de ouvir. Estava certa de que sua escolha seria contestada ou que, pelo menos, fosse forçada a selecionar outro pretendente. Mas nunca, nunca lhe passara pela cabeça que o rei a deixaria casar-se com o Cavaleiro Vermelho, um recluso capaz de fechar as portas de seu castelo a todos os que viviam do lado de fora das muralhas sombrias que cercavam a propriedade. Por um instante ela sentiu o chão fugir sob os pés, porém manteve-se firme.
Naruto apenas sorriu diante de seu assombro. Obviamente a tentativa de trapaceá-lo acabara desagradando-o e ele não hesitaria em puni-la pelo comportamento ultrajante. Oh, Deus, Tsunade tinha razão. Conseguira se meter numa enrascada ainda maior do que antes... a não ser que... a não ser que...
– Muito naturalmente eu esperava que sua escolha recaísse sobre um dos barões que lhe foram apresentados durante sua estada aqui. Porém, como você mesma fez questão de ressaltar, dei-lhe permissão para selecionar um marido dentre todos os meus cavaleiros. Sua escolha foi incomum, inesperada, e Uchiha é alguém que eu não iria sugerir. Entretanto não vejo motivo para negar esse desejo de seu coração. - As palavras do rei exalavam um sarcasmo sutil, fazendo-a estremecer. - De qualquer maneira acho que você fará bem a Uchiha. Um anjo de luz para o nosso Cavaleiro Vermelho. Talvez você consiga domá-lo, hein? - A pergunta fora feita à audiência, que não hesitou em rir nervosamente.
Hinata sorriu serena e Sakura logo percebeu que não teria ajuda feminina naquela questão delicada.
– Muito bem, então - o rei concluiu satisfeito. que sua jornada seja tranqüila. Pode partir amanhã mesmo e chegará a Konoha antes do Natal.
Sakura não sabia o que dizer. Partir tão cedo assim? Com muita dificuldade conseguiu se recompor o suficiente para murmurar agradecimentos vazios. Então fez uma mesura e saiu do salão, ainda sem conseguir acreditar que estava para se casar com um homem de quem conhecia apenas a fama e os rumores assustadores que o cercavam.
Sakura Haruno estava arrumando a bagagem quando Tsunade apareceu.
– E então, minha lady? - a aia perguntou trêmula, a respiração suspensa.
Ela não se deu ao trabalho de virar-se e continuou ajeitando os vestidos dentro do baú.
Partimos amanhã de manhã... para Konoha.
A Serva começou a se lamentar baixinho, como se entoando um canto fúnebre. Por fim Sakura voltou-se para fitá-la.
Por favor, não me venha com essa história de desmaiar de novo. Tenho outras coisas mais importantes para fazer do que ficar levantando-a do chão.
Mas, minha lady, por quê? Por que você foi escolher aquele monstro, quando na corte estavam reunidos os cavaleiros mais bonitos do reino?
Apesar de bonitos, todos agiriam como meu dono, Sakura pensou irritada. Nunca em sua vida se submetera a um senhor. Seu pai e seus irmãos sempre a tinham deixado entregue a si mesma. Jamais fora forçada a cumprir ordens de terceiros, a seguir outras inclinações que não fossem as próprias. Portanto não pretendia começar agora, decidiu guardando os chinelos com raiva.
– Mas o Uchiha! - Tsunade fez o sinal da cruz. Ele é o mal encarnado! Dizem que é alquimista, praticante de magia negra, um adorador... do diabo! E por isso que o chamam de Cavaleiro Vermelho, porque tem parte com o demônio! E agora que se enfurnou em Konoha, recusa-se a sair das suas terras. Porém manda buscar magos e feiticeiros para aprender os segredos da magia. Depois descarta-los e conjura os espíritos para realizar seus propósitos negros. Dizem que aqueles que entram em seu covil... jamais retornam. - Tsunade baixou a cabeça como se não suportasse o peso do que acabara de dizer.
Percebendo o pavor da criada, Sakura abraçou-a carinhosamente.
– Rumores! Quanta bobagem! Todos os grandes cavaleiros costumam alimentar lendas sobre si mesmos com o objetivo de despertar medo no coração de seus inimigos. Este Cavaleiro Vermelho é um mortal comum. Você vai ver. - Ela deu um tapinha nas costas de Tsunade e obrigou-a a sentar-se num banco enquanto voltava à tarefa de arrumar a bagagem.
– Mas por que, minha lady, por quê? - a velha serva tornou a insistir. - Era esse o seu plano... nos mandar direto para os braços do mal?
– Admito que alimentei esperanças de que o rei rejeitasse minha escolha, porém Naruto recusou-se a aceitar que eu havia levado a melhor e resolveu me dar uma lição. - Sakura colocou uma Bíblia sobre os vestidos dobrados e fechou um dos baús.
Tsunade recomeçou a choramingar e a balançar a cabeça de um lado para o outro.
– Pare com essa tolice agora mesmo - Sakura ordenou, esforçando-se para não perder a calma. - Não se preocupe quanto ao tal cavaleiro terrível. Prometo-lhe que não ficaremos em Konoha o bastante para ser mos maltratadas.
A serva fitou-a intrigada, sem entender o comentário. - Você acha que O Uchiha quer uma esposa espiando suas atividades macabras? Não, acho que não. Ele não demonstra qualquer interesse pela vida na corte e nem parece se preocupar com dinheiro. Tenho certeza de que se recusará a me aceitar como esposa. Assim poderei voltar para casa, livre e solteira - falou aparentando mais certeza do que sentia.
– Isso seria loucura! Nem mesmo o Cavaleiro Vermelho poderia desafiar uma ordem do rei!
Sakura deu de ombros e voltou a atenção para a bagagem, terminando de ajeitar as últimas peças de roupa.
– Ouvi dizer que Uchiha vive de acordo com as próprias leis,
– Sim, só que certamente não se oporá ao rei – Tsunade insistiu.
– Se ele não se opor à ordem de Naruto, então nos casaremos. Na minha opinião, tanto faz ter um brutamontes para marido como outro qualquer. – Ela bateu a tampa do baú com tanta força que a madeira quase se partiu em duas.
O ar estava gélido na manhã seguinte e Sakura apertou a capa forrada de pele de encontro ao corpo, procurando calor e conforto. Shikamaru, um dos homens do rei, liderava o pequeno grupo, composto de seis guardas e três servos. Uma figura magra, de baixa estatura, logo lhe chamou a atenção.
– Quem é aquele? - indagou curiosa.
– O padre, claro - Shikamaru respondeu secamente. - Assim teremos certeza de que o casamento foi mesmo realizado. Talvez o rei suspeite de que não haja sacerdotes em Konoha...
Irritada com a insolência do comentário, Sakura se afastou a galope, esforçando-se para não se deixar do minar pela inquietude.
Embora tivesse usado a reputação tenebrosa do Uchiha na esperança de escapar da imposição de Naruto, ela não acreditava numa só palavra do que se dizia sobre o Cavaleiro Vermelho. A experiência lhe ensinara que fofocas se espalham depressa e são sempre exageradas. Portanto tinha certeza de que os rumores terríveis não passavam disso: rumores. O fato de não haver capelão em Konoha não significava que o Uchiha o espantara de lá com suas práticas de magia negra.
Sakura quase riu alto e de repente a presença do sacerdote no grupo lhe pareceu bastante divertida. Talvez o Cavaleiro Vermelho decidisse manter o pobre homem no castelo, mas certamente não para oficiar a cerimônia de casamento. Afinal pode-se levar um cavalo até a água, mas não se pode obrigá-lo a beber. Ela escolhera o barão Uchiha, porém ele não a escolhera. Assim, com ou sem padre, não conseguia imaginar alguém forçando-o a casar-se.
E então, ficaria livre para voltar para casa...
Estava claro que Shikamaru não a apreciava nem um pouco e a cada dia que passava forçava a marcha dos cavalos, como se o grupo estivesse indo direto para uma batalha, não para um casamento.
Tsunade choramingava e reclamava de pura exaustão, porém Sakura mantinha-se firme. Quanto mais cedo chegassem aos domínios do Uchiha, mais depressa poderia tomar o caminho de casa.
Contudo, ao se aproximarem de Konoha, uma sensação estranha começou a dominá-la. A paisagem era Imponente, rude. Vastas planícies se estendiam a perder de vista e uma floresta lúgubre impunha sua presença ameaçadora. Entardecia quando Sakura, pela primeira vez, colocou os olhos sobre o castelo do Cavaleiro Vermelho e apesar de todas as suas resoluções corajosas, sentiu um aperto terrível no coração.
O Sol se punha no horizonte, lançando sombras pro fundas sobre as velhas paredes de pedras. A construção maciça e retangular lançava suas torres negras para o infinito, desafiando os céus. Uma névoa úmida e cinzenta se espalhava pelos arredores, como se saída do nada, envolvendo Konoha num manto fantasmagórico.
O efeito era tão arrepiante que Sakura se sentiu vacilar e por um momento perguntou-se se o Uchiha não teria mesmo poderes sobrenaturais, poderes que o permitiam comandar os elementos da natureza e fazer com que uma névoa espessa escondesse seu castelo de olhos curiosos e visitantes indesejáveis.
Os lamentos angustiados de Tsunade arrancaram-na daquela espécie de torpor. Ao reparar que os servos se benziam e o padre murmurava palavras incompreensíveis, orações ou maldições talvez, Sakura deixou a hesitação de lado e foi em frente.
Então aguardou que os guardas do rei cruzassem a ponte levadiça. Pelo menos teria o calor de um fogo e a maciez de uma cama para confortá-la. E quem sabe amanhã, quando tomassem o caminho de casa, também se veriam livre da neve. Claro que, apesar do mau humor constante,Shikamaru não se recusaria a acompanhá-las até Suna. Porém, se ele tivesse coragem de recusar, não pensaria duas vezes antes de implorar o auxilio de alguns homens de Konoha. Afinal seria a esposa rejeitada do senhor do castelo.
De repente Shikamaru aproximou-se a galope, uma expressão furiosa no rosto.
– Negaram-nos permissão para cruzar a ponte – ele informou espumando de raiva.
– Por quê? - Embora estivesse ansiosa para escapar do frio intenso, Sakura decidiu que aquele tipo de tratamento rude era motivo para celebração. Quem sabe o Uchiha se recusaria a vê-la? Talvez pudesse partir para Suna ainda mais cedo do que imaginara.
– Porque o castelo já está fechado para a noite e todos os visitantes são proibidos de entrar até amanhã de manhã.
Sakura inspirou fundo, pronta para fazer um comentário qualquer, quando ouviu um gemido angustiado. Tsunade balançava perigosamente sobre o cavalo, como se estivesse a ponto de desmaiar. Em questão de segundos estava ao lado da aia, amparando-a com o braço.
– Que bobagem é essa? - perguntou com altivez. - Exijo falar com o barão Uchiha agora mesmo!
– Foi o que eu fiz - Shikamaru respondeu irritado. - Mas meu pedido foi recusado até amanhã.
Conformado, apesar de furioso, o emissário do rei mandou os servos erguerem o acampamento sob as sombras do castelo.
Outro gemido de Tsunade exigiu a atenção de Sakura.
– Pare com isso, ou vou deixá-la cair no chão - avisou, impaciente com os chiliques da criada.
– Oh, minha lady, é como temíamos. O Cavaleiro Vermelho é uma criatura das trevas.
– Se ele fosse uma criatura das trevas, então deveria estar aqui, apreciando os arredores. Ele é uma criatura da grosseria, isso sim! Nunca ouvi dizer que alguém negasse abrigo a visitantes. E pensar que estamos aqui por ordem do rei! Este Cavaleiro Vermelho é ousado demais.
Embora a idéia de dormir outra noite ao relento, quando uma cama macia estava ao alcance das mãos, a incomodasse, a atitude desafiadora do Uchiha impressionava. Aliás, ia bem de acordo com seus planos.
– O homem é um demônio, marque bem minhas pa lavras - Tsunade murmurou num tom lúgubre.
– E você marque bem minhas palavras - Sakura devolveu, um sorriso triunfante nos lábios. - Ele é um homem mal-educado e rude que não hesitará em desafiar as ordens do rei amanhã! E então... então poderemos ir para casa.
Na manhã seguinte, a ponte levadiça foi finalmente abaixada sobre a vala profunda que cercava o castelo e o grupo liderado por Shikamaru pôde entrar em Konoha. Acostumada ao movimento incessante de Suna, Sakura ficou surpresa ao descobrir o pátio quase deserto. A construção parecia vazia! Sabendo como Tsunade interpretaria aquela ausência de pessoas, evitou fitar a serva.
Mesmo considerando a lenda criada em torno do Cavaleiro Vermelho um punhado de bobagens, Sakura não conseguiu evitar a sensação desagradável, beirando ao pavor, que a invadiu ao ouvir a ponte levadiça sendo alçada de volta. Por um instante sentiu-se trancada dentro do um covil, à mercê de feras...
Determinada a enfrentar a situação a qualquer custo, procurou dominar o medo enquanto um guarda os conduziu à parte interna do castelo. Porém o salão de Konoha não lhe trouxe conforto algum. Imenso e escuro, cheirava a fumaça e mofo, sendo possível enxergar camadas grossas de sujeira acumuladas nas paredes. Que tipo de homem seria esse, capaz de deixar a própria casa nestas condições? As janelas estreitas estavam fechadas, quase não deixando passar os raios tímidos de Sol, in suficientes para romper a escuridão.
Falta de iluminação adequada não era algo incomum, especialmente em construções antigas como o castelo de Konoha, mas em geral o problema era contornado com o auxilio de velas e tochas, deixadas acesas durante o dia inteiro. Entretanto, apesar do tamanho impressionante do salão, quase não se viam velas.
Sakura estremeceu e olhou ao redor, procurando enxergar através das sombras. Embora a lareira estivesse acesa, o fogo baixo de pouco servia para oferecer calor e conforto. De onde estava, a outra extremidade do salão era impenetrável, imersa em trevas sufocantes. Sakura recusava-se a fitar Tsunade que se aproximara do sacerdote como se buscasse proteção.
O grupo permaneceu em silêncio, a atmosfera opressora envolvendo-os como um manto. Dentro do silêncio pesado ouviam-se apenas os passos impacientes de Shikamaru. O emissário do rei andava de um lado para o outro sem disfarçar a irritação crescente. Acostumado a ser tratado com uma certa deferência, não se conformava com o descaso mostrado pelo barão Uchiha, especialmente depois da noite passada ao relento.
Quando Shikamaru parecia a ponto de explodir, um servo anunciou que o Cavaleiro Vermelho mandara lhes servir uma refeição. Mesmo ainda sendo um tanto cedo para o almoço, os homens se atiraram à comida, como se es tivessem famintos não só de alimentos mas de algo que lhes desse uma sensação de normalidade.
– Vamos, coma, minha lady - Tsunade murmurou puxando a jovem para o seu lado.
Porém Sakura sentia-se incapaz de comer; não quando tinha consciência da gravidade da tarefa que a aguar dava. De repente seu plano lhe parecia ousado demais, incerto demais para alcançar o sucesso. Além de tudo o castelo do Uchiha a perturbava profundamente, inquietando-a ao extremo. Até o momento presente, o homem fazia jus à sua reputação.
Um único servo ia e vinha da cozinha, trazendo travessas, fatiando a carne assada, servindo cerveja.
– Onde estão todos? - ela indagou assombrada, sem na verdade esperar qualquer resposta. Acostumada ao movimento do salão principal em Suna, onde as vozes das damas, cavaleiros, servos e visitantes se misturavam numa alegre algazarra, era impossível não se ressentir desse silêncio lúgubre. O castelo era muito quieto, o eco das paredes vazias transformando qualquer barulho num Bom ameaçador.
– Ele é inumano, pode estar certa disso - Sakura sussurrou horrorizada.
– Não é inumano viver na pobreza - Sakura retrucou, um ar pensativo no rosto. - Só agora percebi como sempre tomei certas coisas como garantidas. O castelo que meu pai construiu quando jovem ainda está em ótimas condições nos dias de hoje, cheio de luz, belas pinturas, tapeçarias delicadas. E também muitos servos cumprindo suas obrigações...
– Grande parte disso se deve a você, minha lady. Os homens, quando deixados por sua própria conta, em geral acabam se descuidando da comida e da limpeza. - Tsunade foz uma careta de desagrado.
– Concordo inteiramente. - Pelo pouco que Sakura conseguira ver até então, o castelo Konoha parecia Imundo. Uma grossa camada de sujeira cobria o chão e o ar tinha o cheiro desagradável de alimentos estragados e lixo acumulado. As paredes estavam pretas de fumaça, as mesas sujas e ásperas. Os pratos usados na refeição nadavam em gordura e ela se perguntou se o resto do castelo também estava naquelas tristes condições.
Servida em pratos limpos ou não, a verdade é que a comida tinha um gosto intragável. Depois de provar o primeiro pedaço da carne, Sakura deu-se por satisfeita e mordiscou uma fatia de pão enquanto os outros continuavam a almoçar. E como almoçaram. A refeição deu a impressão de durar para sempre, servindo apenas para aumentar seu estado de agitação.
De qualquer maneira todos pareciam mais relaxados com os estômagos cheios, à exceção de Shikamaru e Sakura, cada qual mais furioso do que o outro.
– Vamos, minha lady, beba alguma coisa – Tsunade insistiu, procurando acalmá-la.
– Não quero nada, quero apenas dar esse caso por encerrado. Mal posso esperar que o Uchiha apareça para resolver o assunto. Assim poderemos ir embora logo!
– Psiu! - A criada apontou discretamente na direção de Shikamaru.
Sakura ignorou o aviso.
– Por que a demora? Por que somos obrigados a aguar dar aqui como mendigos depois de termos sido forçados a passar a noite do lado de fora do castelo?
– Minha lady, por favor, cuidado com a língua. As paredes têm ouvidos. Não seria sensato desafiar a ira do Cavaleiro Vermelho.
– Pois não me importo se ele é o próprio diabo encarnado. Se não formos admitidos na sua presença he rética neste instante, partirei para Suna. Claro que as sim a ordem do rei perderá o valor.
Tsunade cobriu o rosto com as mãos, apavorada, enquanto Shikamaru fuzilava Sakura com o olhar. Como se aguardasse o momento certo para interferir, um servo chamado Lee deu um passo à frente.
– Se minha lady e este cavaleiro fizerem o favor de me acompanhar, meu lorde está pronto para recebê-los agora.
Por um momento Sakura pensou em levar Tsunade também, mas acabou decidindo que o melhor era deixá-la no salão, na companhia dos outros. Se o Cavaleiro Vermelho fosse metade do que os rumores envolvendo sua reputação afirmavam, provavelmente a criada desmaia ria de novo.
Lee os conduziu através de um corredor gelado até li ma escada em espiral. Era quase impossível enxergar os degraus, tão espessa a escuridão. O castiçal levado pelo servo silencioso de pouco adiantava e ela mal percebeu quando pararam diante de uma porta de madeira maciça. Então Lee abriu-a e fez um sinal para que entrassem.
Sakura presumiu que estivessem nos aposentos do Cavaleiro Vermelho, no próprio covil da fera. Depois do frio penetrante do corredor, o calor dentro do quarto imenso era mais do que bem-vindo. Ela aproximou-se da lareira para estendeu as mãos para aquecê-las, enquanto olhava ao redor curiosa. Se houvessem janelas, deviam estar hermeticamente fechadas porque o único foco de iluminação vinha do fogo pálido. Com muita dificuldade, percebeu que as paredes eram pintadas de vermelho claro e as cortinas de veludo acompanhavam o mesmo tom. Na verdade, um ambiente perfeito para Uchiha considerando todos os rumores, é claro.
Sem tachas ou castiçais para aliviar as trevas, estavam todos envolvidos numa escuridão quase total.
Bem longe deles, envolto pelas sombras mais pesadas, destacava-se a figura de um homem altíssimo, ladeado por dois cachorros enormes.
Seria o Uchiha? Sakura focalizou bem os olhos tentando enxergá-lo melhor, porém por mais que se esforçasse, não conseguia vê-la com nitidez. Contudo não linha dúvidas de que, apesar de sentado, era um homem muito, muito maior do que Shikamaru. Além da altura, era impossível distinguir as feições do rosto, a cor e o comprimento dos cabelos ou mesmo as roupas que o desconhecido usava. Embora o instinto lhe dissesse que es tava frente a frente com o Cavaleiro Vermelho, ainda assim não podia ver nada além de uma silhueta escura.
Toda aquela circunstância incomum era bastante inquietante. Que tipo de homem seria ele? Será que pr curava assustá-los propositalmente? Sakura jamais temera a noite e nunca acreditara nas histórias fantásticas que se contavam sobre o barão Sasuke Uchiha. Mesmo assim não conseguiu evitar os tremores que a sacudiram da cabeça aos pés, como um aviso carregado de maus presságios.
Se estivesse presente, Tsunade, com certeza, teria caído desmaiada no chão.
Notas finais do capítulo
Naruto não me pertence e esta historia maravilhosa é da Deborah Simmons e todo crédito é dela, apenas estou adaptando para o universo de Naruto
