Prólogo

Eu ainda me recordo da primeira declaração amorosa que James Potter me fez. Estávamos em nosso terceiro ano e naquela época os meninos de nossa idade já tinham superado a aversão a garotas que todos os seres do sexo masculino costumam ter durante a infância.

Recordo-me também de que, nesta fase da vida, jovens rapazes chamavam a atenção das mocinhas com implicâncias bestas, puxões de cabelo, piadinhas e toda sorte de infantilidade irritante. James Potter não fazia diferente e era mestre nisso. Talvez por este motivo que eu o tenha odiado pela maior parte de nossa vida escolar...

- Hey, Evans! – aquele menininho magricela de treze anos, usando uns óculos que pareciam ocupar a maior parte do rosto me abordou no meio de um corredor. Lembro de ter respirado fundo e ter entoado meu mantra mentalmente.

Você quer ser uma monitora no futuro, não mate seu colega de classe. Você pode socar Potter, mas não deve socar Potter.

- Pois não, Potter? – Eu era uma criança meio metida, sabe? Gostava de manter um ar de superior, usar uma linguagem que não era própria da minha idade e fingir uma polidez que não possuía. Fazia-me sentir como se fosse mais inteligente do que realmente era. – O que você quer de mim?

- Eu queria pedir desculpas por hoje cedo... – hmf, 'Hoje cedo'. Naquele dia, ele tinha me levado ao limite e me feito estourar na frente de Minerva McGonagall. Tentei o atingir com um feitiço e acabei por transformar nossa querida professora numa leitoa. Levei a primeira detenção de minha vida, ou seja, imaginem o atrevimento dele de mencionar 'Hoje cedo'.

- Certo, agora que já se desculpou, porque não vai...

- E pedir desculpas por todas as outras coisas que andei fazendo também. – ele coçou a cabeça, parecendo envergonhado e eu olhei para ele atônita. Não por ele estar envergonhado - ele devia se envergonhar mesmo por fazer o anjinho ruivo que eu era sofrer tanto – mas, por ele estar pedindo desculpas. Nunca havia visto Potter se desculpar por nenhuma de suas maldades e agora ele estava se desculpando por todas que havia me feito!

- Desculpas...?

- É. Você me desculpa? – ele enrubesceu.

- Porque você está me pedindo desculpa, Potter? – recuperei a pose imediatamente, pensando na possibilidade dele estar me enganando... Ou me distraindo enquanto Sirius Black preparava um balde de banha de porco para jogar nos meus cabelos.

- É que... Meu pai me disse que eu fazer da sua vida um tormento não vai fazer você gostar de mim... – Isso foi bonitinho. Eu não achei bonitinho na época, mas hoje eu reconheço. Quando eu tiver filhos, vou tomar o cuidado de ensinar isso a eles bem cedo, para que eles não transformem a vida de nenhuma pobre menininha num inferno.

- E porque você iria querer uma coisa dessas? Você não gosta de mim. – Como eu disse, eu queria parecer inteligente. Mas, na verdade, eu não era muito.

- Eu gosto de você. Muito. Quer namorar comigo? - O pobre menino falou tudo às pressas, quase se engasgando com as palavras. E eu, claro, fiz a única que considerava sã diante daquela situação:

Estuporei Potter e saí correndo para o meu dormitório antes que pudesse ser atingida pela maldita banha de porco.