Prólogo

Abria lentamente os olhos, piscando-os algumas vezes, até acostumar-se com a claridade que invadia seu quarto. As cortinas vermelhas, de veludo, que se estendiam até o chão, foram postas de lado, permitindo que os raios de sol entrassem e lhe dessem um "Bom Dia" mudo, que ela retribuía com um bocejo, a mãozinha delicada cobrindo os lábios finos e avermelhados.

Sentou-se na cama, o corpo pendendo para frente. Esfregou os olhos uma, duas vezes, e só depois de estar completamente desperta foi que ela a viu: parada, a poucos metros de distância, uma menina de olhos esmeraldinos encarava-a — quer dizer, ela achava que era uma menina. Seu cabelo cor de pétalas de flor era longo, que nem o da mamãe, e não curto, como o do papai. E isso só podia ser um indicativo de que tratava-se, sim, de uma garota, que nem ela.

Pôs os pés descalços no chão e sentiu o tapete beijar-lhes. Aproximou-se, com certo receio, da garota de olhos cor de pedra preciosa, que também se aproximava de si. Balançava lentamente a cabeça, que nem ela, tentando entender a situação em que ambas encontravam-se.

E paradas, uma em frente a outra, esticou um dedo para tocar-lhe o rosto, e a menina fez o mesmo. Imaginava se sua pele era quente que nem a dela, e se juntas, poderiam tornar-se amigas e brincar em seu quarto, com suas bonecas de porcelana. Era uma alma solitária, e por mais que o Sol e a Lua fossem seus amigos, sentia falta de alguém para conversar com ela e secar suas lágrimas quando chorava contra o travesseiro.

Nunca fora capaz de entender o que havia acontecido para parar ali, trancada naquele quarto, numa torre tão alta que transformava as pessoas lá embaixo em formiguinhas. Via a vida passar assim, desse jeito, os dias indo e ela só.

Ao invés do contato, previsto por ela, sentiu seu dedo afundar. Encolheu rapidamente a mão, seu rosto tão assustado quanto o da menina à sua frente; nenhuma das duas, no entanto, queria desistir do toque.

"Vai ver ela é tão solitária quanto eu", pensou, e juntando toda a coragem de seu pequenino ser, estendeu, novamente, o dedo indicador. A outra fez o mesmo, e quando vira seu dedo afundar, não o recolheu, como da última vez — o afundou mais ainda, e quando deu por si, estava em outro lugar.

Um vasto campo estendia-se em sua frente. Estava, finalmente, livre de seu cárcere, e conseguia sentir os raios de sol beijando-lhe o rosto e o vento brincando com sua roupa de dormir. Abalançava-lhe os cabelos, e girando cento e oitenta graus, viu água. Um rio, tão azul quanto o céu, estava a poucos metros de distância de si.

A menina correu contra o vento, a grama alta fazendo cócegas em suas pernas. Sentia a terra úmida bater contra a sola de seus pés, e a sensação de liberdade, vida, apenas deixava- a mais feliz. Corria por entre flores de mil e uma cores, e os pássaros cantavam a doce canção da primavera, e pela primeira vez em sabe-se lá quanto tempo, sentiu o peito queimar com um sentimento puro, como da vez em que sua mamãe contara para ela a história da Rainha das Fadas da Primavera — e ela sorrira tanto quanto sorria agora.

E quando chegou no rio, espantou-se:

A menina estava lá, e olhava para ela. Os olhos esmeraldinos do tamanho de pires. Estava decidida a juntar-se a ela, sua salvadora, aquela que a trouxera para aquele lugar tão lindo quanto os mundos de sua imaginação. Pulou na água. A menina desaparecera, e ela não sabia nadar.

Batendo os braços, foi perdendo a força, afundando lentamente, enquanto o ar escapava-lhe dos pulmões e a água entrava, sugando toda a sua vitalidade.


Ahn, olá.

Essa é uma história que eu tenho em mente desde os meus - pasmem! – doze anos de idade. Eu já sei o seu começo, parte do meio e o final, e esse é o meu primeiro projeto relativamente longo. Não tão longo assim, no entanto: estou acostumada a escrever histórias de apenas um capítulo, ocupando menos de uma página do word. Quando o prólogo bateu quase duas páginas, senti alegria.

Eu sei que o começo é confuso, mas francamente espero que vocês não desistam da história. Reviews são muitíssimo bem vindas, assim como críticas construtivas. Nos vemos no próximo capítulo!