Título da fic: Marcas do Destino
Personagens principais: Mu e Shaka
Personagens secundários: Miro, Kamus, MdM, Shura, Afrodite e outros
Classificação: Yaoi, A.U., O.C.C., Angst, Dark-Lemon, Lemon, Romance
Autoras: Litha-chan e Jade Toreador

OBSERVAÇÃO: Esta fic aborda caso de pedofilia, mas não como forma gratuita e sim para exemplificar um fato que realmente acontece no mundo com algumas famílias. Procuraremos não descrever as cenas, mas faremos alguns relatos necessários para a melhor compreensão e desenvolvimento da história.

Notas explicativas sobre os personagens:

Os nomes de alguns personagens foram criados por mim e pela Jade. Somente Carlo di Angelis é de autoria da escritora Pipe. Vamos aos nomes para que vocês não fiquem perdidos no decorrer da fic, ok?

Mu de Áries - Mutisha Dzogchen Dorje
Shaka de Virgem
- Sidartha Kramahidja Swentson
Milo de Escorpião - Milo Nikos Aleksiou Sikelanós
Kamus de Aquário - Michel Kamus Monchelieu
Afrodite de Peixes - Afrodite Lindgren
Shura de Capricórnio - Guillén Shura Quesada Montoro
Misty de Lagarto - Misty Lindgren Reenê Forann

Conforme a fic for se desenvolvendo outros personagens irão aparecendo, então a medida isto for ocorrendo, nas notas explicativas, poderá haver menção sobre o nome de um determinado personagem.

Sumário:O destino tece bênçãos e tragédias nos corações de ricos e pobres, todos estão inexoravelmente presos na roda kármica da vida. O amor e o ódio queimam as marcas do destino, revelando dores e alegrias num rodamoinho interminável de emoções...

Boa Leitura...


Marcas do Destino

- Capítulo 1


Ao voltar seus belos olhos azuis para o límpido céu naquele início de tarde em Atena, Shaka em voz alta, recita um trecho da oração da dança de Tara...

"Não há homens ou mulheres,
Nem ego, nem personalidade ou consciência.
Os rótulos "masculino" e "feminino" não têm essência,
Mas maculam ainda mais este mundo enganoso."
"Muitos desejam a iluminação em corpo masculino,
Mas há poucos que, em corpo feminino, trabalhem
Pelo benefício dos seres sencientes.
Portanto, até que samsara esteja esvaziado,
Trabalharei, em corpo feminino,
para benefício de
todos os seres sensicentes"


..:..O..:..

Afrodite passou a entrada principal da sua boate, um portal de ferro com motivos arabescos graciosos, e caminhou vagarosamente pelo imenso jardim que circundava as mesinhas pintadas de branco. Adorava observar as suas amadas rosas, que, com muito custo, conseguira fazer vingar no sol forte das terras gregas. Sol esse que, a pino àquela hora do dia, era escorado por um toldo elegante que imperava por toda a área, criando uma sombra protetora às suas adoradas plantas. As cadeiras estavam todas sobre as mesas, de pernas para o ar, enquanto dois funcionários faziam uma cuidadosa faxina, lavando o chão de pedras que passava pelo centro do jardim. A casa noturna não abria nunca antes das vinte e duas horas, quando já havia um número de turistas e nativos do país aguardando na entrada.

O belo rapaz entrou na casa estilo mediterrâneo, ampla e aconchegante. Funcionava, ali, um pequeno, mas confortável restaurante e também a área do bar propriamente dita, com mesinhas elegantes ao redor de um enorme palco oval de madeira tratada.

Seus belíssimos olhos se voltaram para cima. Já fizera aquele olhar mil vezes mil, mas a verdade, como o narcisista que era, admirava não somente o seu próprio ego, mas também suas criações. E aquela imensa cúpula de vidro móvel que ficava sobre o palco, e que lhe custava uma verdadeira fortuna, era sempre o alvo da sua atenção. Não se cansava de ver como o vidro exibia o céu muito azul de Atenas. À noite, constelações e constelações brilhariam sobre o palco, enquanto seu amigo Shaka faria sua sedutora apresentação de dança indiana... Onde estava Shaka agora?

Afrodite apressou o passo, pulou para o palco e entrou na cortina lateral que havia ali, indo para o confortável camarim particular do seu amigo. Assim que entrou sem bater, sentiu o adocicado perfume de incenso e ervas impregnar suas narinas. Sorriu. O mestiço hindu nunca entrava no camarim sem acender um desse perfumes fumegantes. Lembrou-se do que o amigo lhe contara: em Sânscrito, a palavra dhúpa, podia tanto significar incenso quanto perfume, e que esse produto, ao contrário do que todos pensavam, não se originara na índia, mas, sim, com os árabes... O incenso era comercializado de modo sagrado, e, muitos dos coletores da resina da árvore Boswellia serrata, matéria prima desse adorável perfume, eram eunucos ou castos, porque acreditavam que se a resina fosse recolhida por um homem sexualmente ativo, ela se tornaria rançosa... Os eunucos trabalhavam nus, para que não tivessem condições de esconder e roubar o precioso material...

"Sidartha...".

"Meu nome é Shaka, Afrodite. Odeio meu nome de batismo".

Dite sorriu, condescendente. Pela direção onde ouvira a voz, Sidar estava no jardim interno do camarim...

Foi atrás do amigo, e o encontrou entre as plantas, pintando pacientemente suas mãos com a henna. Gotinhas graciosas iam formando uma linda mandala na mão esquerda. Aquela pintura paciente levaria horas, mas o amigo parecia não se importar com aquilo. Tinha uma paciência de guru para fazer aqueles desenhos...

"Já ensaiou hoje?".

O mestiço hindu sorriu. O sorriso maroto iluminou lhe o rosto perfeito.

"Eu já estava ensaiando quando você nem pensava em acordar".

Dite fez uma careta de desaprovação, mas na verdade, Shaka era um dos poucos que ele se permitia chamar de amigo. E não entendia bem o porquê. Odiava gente mais bonita do que ele próprio, e Shaka... Era lindo. Bem, talvez tolerasse isso porque aquela beleza lhe rendia um enorme público na boate... Todos adoravam ver a dança sensual que aquele corpo andrógeno e lindo sabia fazer como ninguém. Ele mesmo quebraria o quadril e o pescoço se tentasse.

Como se adivinhasse os seus pensamentos, Shaka perguntou...

"Quer treinar um pouco hoje?".

"De jeito nenhum, me contento em ficar atrás da caixa registradora, e despertar a admiração dos meus fãs com danças mais modernas... Mas me diga... Você nunca me contou como aprendeu a dançar assim...".

O coração de Shaka se agoniou... Coisas que ele não gostava de lembrar... Como um autônomo, respondeu...

"O templo do sol em Konarak é considerado o maior templo da cidade de Orissa, na minha terra. O templo tem um santuário, o "Deula", que é o espaço para a dança sagrada... Esse espaço foi construído como uma majestosa carruagem do deus sol, Surya, que tem 24 rodas e é puxada por 7 cavalos...".

"Você está falando sério?". Afrodite fez uma careta adorável, de quem não gostava muito de forçar o cérebro...

"Admira-me um homem rico como você nunca ter visitado a Índia antes! O templo é um tributo a grandiosidade humana. Em frente a essa carruagem que lhe falei, está o espaço destinado à dança Odissi, o Natamandira. Nas paredes do templo, figuras esculpidas formam um verdadeiro dicionário de movimentos dessa dança...".

"Você não me respondeu... Aprendeu com quem a dançar, sozinho?".

Shaka engoliu em seco. Vislumbrou os rostos andrógenos dos hiiras, que na língua Urdu queria dizer impotentes... Eunucos! Vestiam-se como mulheres, com saris coloridos, liam a sorte e dançavam nos casamentos. Eram exímios dançarinos! Eles eram minoria discriminada e perseguida por todos. Mas foram os únicos amigos seus, aqueles que estenderam a mão para ele quando fugira do pai... O pai...

"NÃO, NÃO, PAI... NÃO... EU NÃO QUERO, EU NÃO...".

Aos poucos houve na criança o silêncio da derrota e da humilhação... Anos de segredo vergonhoso que dividia na cama do pai, entre os quatro e os quatorze anos... Até que nesse segredo de dor, conseguira forças para fugir...

Saíra para as ruas de Nova Delhi...E fora recolhido, quase morto de fome, pelos hiiras. Já era velho demais para sofrer a "castração-ritual", mas sua aparência naturalmente longilínea e andrógena encantara o grupo que o adotara como um deles. O velho Rajid lhe ensinara tudo o que sabia, a dançar e a falar com sedução, a conquistar os homens como se eles fossem o que eles realmente eram: nada! Durante meses, ele, Shaka, aprendera a falar, andar e seduzir... Conquistava os turistas com um sexo tórrido feito nos hotéis de segunda categoria, para depois roubá-los enquanto dormiam... Graças aos ensinamentos dos hiiras, conseguira o suficiente para sair do seu país... As surras que ele e a mãe indiana levavam, o coito humilhante, a impotência da genitora, o pai... Tudo havia sido deixado para trás... Ele estava livre!

"O que foi, o gato comeu sua língua?".

"Não enche o saco, cara, não gosto de falar de mim mesmo! Loto a casa todas as noites, então, não me incomode!".

"Arre, depois eu é que tenho o gênio ruim!".

Shaka riu. E seu riso foi seguido pelo de Afrodite. Eram dois belos rapazes, de almas e gostos diferentes, mas verdadeiramente amigos. Os rancores entre eles dois não duravam mais do que alguns segundos...

"Só não gosto de ficar falando do meu passado, deixe ele lá atrás! O importante é que eu coloco todos os idiotas que aparecem aqui na palma da minha mão!".

Dite bateu palmas, eufórico como uma criança travessa...

"Pois é justamente sobre isso que quero lhe falar... Hoje, um grupo de empresários importantes vem aqui e eu quero que você...".

"Pode parar, Afrodite, nem comece! Temos um acordo. Eu danço, seduzo os cretinos, e depois EU escolho. Nem quero ouvir falar nada. A questão é simples. Ou eles pagam o meu preço, ou ficam a ver navios, sendo importantes ou não! Se quiser mesmo impressioná-los, dance você mesmo!".

"Eu não sei porque aquento tantos desaforos de um empregado!".

"Porque esse empregado aqui enche os seus bolsos de dinheiro. Cada cliente que arranjo, uma gorda parte fica pra você, meu adorável gigoló!".

Dite deu um sorriso malicioso e deu de ombros. O argumento era bom...

"Tudo bem... Você faz o show, como sempre... Agora, trate logo de acabar esses desenhos de henna, e depois vamos pedir pro Fred dar um banho de creme nos seus cabelos de ouro. Quero você mais lindo do que todos... Com exceção de mim, é claro!".

Riram.

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Era quase final de tarde. O céu de azul intenso estava se tornando mesclado de tonalidade alaranjadas como se informasse a proximidade da noite. Aquela reunião de empresarial já estava se passado dos limites dos aceitáveis para sua consciência!

Ter todos os responsáveis de suas filiais em uma única sala para a reunião anual era o que poderia se denominar maratona de paciência. Paciência esta que já se encontrava no limite! Quatro horas diretas de debates, relatos, informativos, gráficos, mini palestras, eram de deixar qualquer um irritado!

Seus olhos perscrutaram pela sala encontrando alguns rostos com olhares distantes. Parou os belos olhos verdes num rosto um tanto conhecido, vendo que o dono deste encontrava-se tão distraído que se dava o luxo de brincar distraidamente com uma bolinha de papel, rolando-a por sobre a mesa de vidro fumê, com um ar de enfado. Conteve um discreto riso enquanto colocava seus cotovelos por sobre a mesa, posicionando as mãos na altura de seus lábios, deixando seus olhos vagarem de seu amigo grego para o atual 'palestrante'. Sabia que se não interrompesse naquele momento, para não chamar de discurso, com certeza ficariam até altas horas da noite na sala de reunião.

"Sr. Monchelieu desculpe-me por interromper a sua fala, mas será que poderíamos continuar esta reunião na próxima semana? Minha estadia aqui será longa, e creio que podemos encerrar por hoje, não é mesmo?".

O francês responsável pela quarta filial das Empresas SNC estreitou os olhos ao entender perfeitamente o que diziam as entrelinhas daquela frase, mas não devia e nem poderia contrariar o 'chefe'. Dando um pequeno suspiro, e já depositando os relatórios por sobre a mesa, confirmou o que muitos ali dentro desejavam... O encerramento de sua fala.

"Claro, Sr. Dorje. Podemos dar continuidade a esta pauta na próxima semana. Je crois que todos desta sala non se importarão, afinal, já passamos de mais de 4hs, discutindo assuntos empresarias, non?".

"Sim, esta reunião já se estendeu por demais por hoje, então se não se importam, esta reunião está encerrada e transferiremos as pautas restantes para semana que vem".

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Já do lado de fora da sala de reunião, após todos terem sido dispensados, encontravam-se os principais membros e amigos mais íntimos daquela grande rede de empresas.

"O que me diz, Mu? Vamos lá! Hoje, você precisa descansar, se divertir, tirar esta carranca de excesso de trabalho, meu amigo!".

Milo tentava convencer o amigo a se distrair. Já fazia quatro dias que Mu se encontrava no país e não tinham tido nenhum tempo disponível para sair e colocar o papo em dia.

"Apesar de estar me sentindo cansado, mentalmente, vai dar para sair, sim, Milo. Eu não dispensaria uma saída em plena noite de sexta-feira e você sabe disto, ou já se esqueceu?".

"Esquecer-me? Impossível. Você era o único que me deixava irritado por chamar atenção por onde passava. Seu exibicionista exótico descarado".

Eram amigos há tanto tempo, que o tratamento de um para com o outro era como o de irmãos.

"Vocês também vão conosco?". Desviou o olhar cristalino para os outros três amigos que caminhavam intertidos em alguma conversa paralela.

"Hombre, eu nunca perderia uma saída destas. Bebida, música e uma boa noite acompanhado. O que eu mais poderia desejar?".

Shura falou sorrindo e piscando um dos olhos para Milo que apenas gargalhou entendendo aquele espanhol.

"Vou com vocês, mas só para acompanhar e conversar! Não me interesso pelo que vocês gostam, caspitte?".

"Ah vá, Carlo, pare de ser um italiano chato! Se você não se... Interessa pelos atrativos da casa aonde vamos, então vá apenas para conversar, jantar, se distrair com os amigos!".

Miro deu um leve tapa no ombro do italiano para que ele deixasse de ser chato, já que era um dos poucos heterossexuais do grupo.

"E você, Kamus, vai nos acompanhar também, meu amigo?". Mu se aproximou do francês, mantendo o contato com seus olhos.

"Non sei se devo ir acompanhá-los, non sou de lugares movimentados".

Ajeitava os fios ruivos por detrás de uma das orelhas, enquanto discretamente olhava Milo caminhando ao lado com Guillén e Carlo.

"Se você não for, vai deixar as portas abertas para que outra pessoa entre na sua frente e se apodere do que tanto deseja, meu amigo. Pense nisto vai... Não custa nada você ir, se divertir e ficar de olho... E me parece que a casa que Milo quer me levar para conhecer, é um local... Interessante, como ele sempre comenta".

Os olhos de Kamus fitaram o rosto alvo de Mu. Era tão visível assim o interesse dele pelo grego, que até mesmo Mu que não vivia com eles o tempo todo, havia notado?

"Tout bien Mu, Eu... Eu vou com vocês então!".

Ambos continuaram a caminhar para o hall da empresa, separando-se logo em seguida. Cada um teria que passar em casa, tomar banho, descansar um pouco para mais tarde...

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Milo não se demorou muito para ir buscar o amigo. Estava meia hora adiantado, e isto era algo impressionante em se tratando de Milo, já que o grego possuía um péssimo relacionamento com relógios e por conseqüência... horários.

A casa que ele próprio havia alugado para a estadia de Mu, era sem sombra de dúvidas uma belíssima mansão totalmente construída no estilo dos antigos templos gregos. Suas pilastras de mármore rajados e adornados eram de uma bela incontestável. Sabia que seu amigo adorava excentricidades e não mediu esforços para localizar uma mansão digna do ego dele.

"Boa noite Sr. Sikelianós, o Sr. Dorje encontra-se na biblioteca".

A educada governanta, também contratada por ele, lhe acompanhou até o aposento.

"Por favor, Sta. Trisha me chame por Milo ou Nikos, certo? Nada de sobrenomes, aqui não é a empresa que trabalho, então gosto de me sentir confortável".

A jovem, mesmo constrangida, confirmou com um menear de cabeça enquanto em seu rosto uma leve tonalidade rubra se apresentava. Ambos já estavam em frente à biblioteca e a jovem apenas se retirou deixando Miro à vontade.

Os belos olhos azuis percorreram a porta bem trabalhada. Sua aparência dava para perceber que a madeira era de lei, repleta de adornos clássicos e coroas de louro. Sim, era bela como o restante da mansão, mas também era pesada como uma boa madeira de qualidade exigia.

Ao abrir a porta pode distinguir os berros dentro do ambiente. Pelo visto seu amigo nem mesmo fora da empresa teria sossego. Não falou nada e apenas se aproximou da poltrona vendo que Mu já tinha sentido sua presença.

"Eu já disse seu bando de emprestáveis, e não estou disposto a repetir uma coisa que já estão CANSADOS de saber. Eu não posso me afastar por um só momento que vocês se perdem? Se isto não estiver resolvido até terça-feira, eu estou dizendo até TERÇA-FEIRA... alguém vai ter que responder por isto com o próprio emprego. Ouviu bem? Pois bem, agora não amole o meu saco".

Desligou o celular sem nem ao menos dar chances de respostas da pessoa com quem... gritava. Ao olhar para o aparelho, gruniu de raiva pela irresponsabilidade de seus empregados, e sem se importar muito, arremessou o pequeno objeto de encontro à parede da biblioteca e só então suspirou voltando seu rosto ainda avermelhado para seu amigo Milo.

"Se continuar assim ainda vai sofrer um infarto tão jovem, Mu! E se bem me lembro, a sua religião não ajuda a controlar gênios como o seu?".

Falava enquanto mexia em uma mexa de seu próprio cabelo que se encontrava solto e cascateando por sobre os ombros.

"Eu não posso sair do Japão que aqueles estúpidos não sabem fazer nada. Fui até bom demais querendo as coisas resolvidas na terça Milo, eu poderia ter ordenado tudo pronto para segunda-feira e acredito que não conseguiriam aprontar tudo em tão pouco tempo. E minha religião... eu tento, mas não tenho muito saco para certas coisas".

Ficaram se fitando por alguns momentos. Miro reconhecendo o amigo de longa data que dividia consigo todas as artimanhas de planos mirabolantes. E Mu, observando o grego que sempre esteve ao seu lado, um aturando o gênio forte do outro, e sempre sendo amigos quase inseparáveis.

Foi Mu que quebrou o silêncio entre eles.

"Agradeço pela maravilhosa casa Milo, ela é muito bonita, simples, mas bonita".

Não iria deixar de implicar com o grego, e para que parar se isto era o que mais lhe divertia.

"Ora seu ingrato! Eu revirei todos os bairros nobres para achar uma mansão a sua cara. Excêntrica e exótica, e é assim que você me agradece? Desalmado".

A cara feita por Milo, era de pura comédia, e nem havia se passados meros segundos, e ambos já se encontravam rindo.

"Mas é sério, a casa é muito bonita, os empregados são bastante educados, mas só tenho uma reclamação a fazer, Milo...".

O loiro já estava imaginando qual seria a reclamação e não agüentando começou a rir baixinho estourando em gargalhadas depois da confirmação.

"Os empregados são ótimos, mas você contratou a maioria mulheres, jovens e algumas senhoras e somente três homens, sendo que, estes três, tem idade para serem meus avôs. Isto foi deprimente Milo, golpe baixo o seu".

Mu estava com uma adorável cara emburrada. Não que ele não apreciasse os esforços de Milo em lhe achar e montar a casa toda, mas no tocante 'empregados', Milo deixou a desejar e muito.

"Você acha que eu seria louco o bastante para contratar belos rapazes para esta mansão? Nem em sonhos querido. Não se mistura trabalho, sexo e empregados em um só lugar".

"Olha quem fala... O senhor comportado do século. Milo, juro que você ainda vai me pagar por esta falta de consideração".

"Ok, eu pago depois, mas, você vai querer em espécie, ou em serviços corporais?".

Não conseguia ficar sério estando ao lado do amigo. Era impossível para se dizer à verdade.

Os olhos verdes passearam pelo corpo do grego como se estivesse analisando todo o 'material' e não deixou por menos o comentário malicioso.

"Quero em serviços meu caro amigo, faz-se mais de quatro dias que não escuto alguém gemer sob meu corpo".

"Hey, pode parar por ai seu engraçadinho, eu sou a espada e não a bainha. Agora, se você assim desejar... posso guardar em você a minha suntuosa espada grega".

"Sem chances grego, aqui você não tem vez não. Sai pra lá, ok?".

E mais risos eclodiram no ambiente mostrando que o clima de antes, que era tenso e irritadiço para o amigo, agora estava bem mais leve e descontraído.

"Bom, vamos parar de rir que nem duas crianças bobas, e vamos andando. Já está pronto Mu? Sei que está um pouco cedo, mas você consegue ser pior do que eu quando quer chamar a atenção em um local novo, demora feito uma mulher decidindo o que vai vestir".

O ariano caminhou até próximo ao amigo, aproximando o rosto do grego, fazendo com que seus cabelos caíssem pelo rosto do outro antes de falar.

"Só me demoro uns quinze minutos querido, afinal, tudo já está previamente separado para que EU possa brilhar esta noite e não você".

E mais uma vez implicara com o grego. Terminou de falar e depositou um rápido selo nos lábios delineados de Milo que havia estreitado os olhos com aquela provocação.

Mu se afastou ajeitando os fios por detrás de ambas orelhas e sorrindo para o grego notando o cheiro de disputa no ar.

"Sabe, cada vez que nós nos encontramos, você esta com estes cabelos mais... exóticos. Antes eram apenas alguns fios rosados, você queria modificar e tirar o ar de 'anjinho' dos fios loiros, ai depois que você tatuou essas duas pintas esquisitas na testa, pronto... desandou de vez. O que antes eram apenas alguns fios, hoje... são todos. Nunca vai cansar não?".

Mu brincando com uma das mexas entre os dedos fitou o amigo grego lhe sorrido.

"Para que parecer com um anjo, se estou bem longe disto? Gosto dos meus cabelos assim. Gosto de ser taxado de exótico, excêntrico e todos os outros nomes que percorrem as mentes das pessoas que passam por mim. Ser reconhecido com um dos melhores empresários no Japão, que mesmo tendo gostos esquisitos para os demais, como eu tenho, e mesmo assim não deixa de ser um visionário quando se refere a businesses. Então meu caro amigo... desse por vencido, não mudo tão fácil".

O grego apenas balançou a cabeça soltando um suspiro vencido. Nunca voltaria a ver os fios loiros de seu amigo. Não seriam chamados nunca mais de anjos... Anjos endiabrados, na verdade.

"Ok, você venceu, anda, vai se arrumar antes que minha beleza se acabe de tanto esperar. Quinze minutos hein, vou cronômetrar".

Riu ao ver seu amigo correndo porta afora, subindo as escadas que nem um menino travesso pulando de dois em dois degraus.

Alguns minutos mais tarde Mu já se encontrava pronto e totalmente sorridente no hall da mansão. Suas roupas eram despojadas, sociais, mas sem aquele ar que lembrava a forma de ir trabalhar. Sua calça social caqui, acompanhada de um sapato fino marrom claro, sua blusa de seda branca com mangas longas em um estilo veneziano do século XVIII, encontrava-se com os botões estrategicamente abertos deixando seu peito alvo e bem trabalhado a amostra. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo baixo e frouxo, fazendo com que duas fartas mexas laterais ficassem soltas para frente.

O Grego olhando aquele estilo torceu o nariz, mas tinha que concordar que seu amigo sabia como aparecer sem ser escandaloso. Bem, isto ele deixava por conta dos cabelos dele.

"Vamos? Já estou pronto e ainda me faltam... três minutos". Rui ajeitando os babados da manga e voltando a fitar o belo rosto de Milo.

"Sim vamos. Antes que eu tenha uma crise e te jogue na piscina para desfazer este ar irritante que você tem".

Ambos saíram rindo, indo em direção ao carro de Mu, que se encontrava estacionado na frente do jardim da mansão.

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Elegante, mas agitada, cheio de libido, como seria qualquer ambiente onde houvesse jovens ansiosos por diversão... Assim era a casa noturna de Afrodite!

Carlo, Shura e Kamus despertaram olhares de admiração e inveja quando adentraram a boate. Eram mesmo uma visão de tirar o fôlego, cada um atraindo a todos com seu estilo próprio.

Carlo, muito bronzeado com o sol da Sicília, exibia uma camisa de seda branca e calças de couro que chegavam a ser indecentes, de tão justas. Guillén, Shura para os amigos, também fazia um estilo masculino: tinha um quê agressivo e rústico. Vestia uma calça de cós alto com uma linda faixa bordô na cintura que lembrava a dos toureiros espanhóis quando reinavam na arena. Seus olhos rasgados e soturnos eram o complemento ideal para seu jeito arrogante de caminhar. Ele andava como se estivesse mesmo numa arena de touros! Kamus por sua vez, ah, sim, era mais delicado no rosto e atitudes, e, paradoxalmente, por destoar dos outros dois, também chamava muita a atenção. Estava com um terno de tweed negro, discreto, que lhe dava um ar adorável. E nem se preocupara de trocar os óculos de aros finos pelas suas lentes de contato. Provavelmente, o bruxinho Harry Potter, quando se tornasse um belo rapaz, teria aquele ar distante e intelectual! Kamus atiçava a fantasia de todos devido a sua beleza andrógena, que mexia com a libido até de santo! Seus cabelos vermelhos eram, entre os povos antigos, sinal místico de luxúria e sensualidade... Símbolo dos feiticeiros que tinham ligações com o fogo!

Sentaram-se os três colegas à mesa próxima a pista de dança, de onde podiam ver tudo sob um ângulo privilegiado...

Kamus, como sempre, não tinha consciência de sua beleza. Parecia um cisne altivo no meio de dois belos linces, Carlo e Shura. Na verdade, quase estava arrependido de ter dito a Mu que iria até ali. Fora muito constrangedor admitir ao patrão e amigo que estava indo somente para ver o que Milo fazia... Definitivamente, isso não estava certo... Largara uma bela namorada na França... Para ficar de flerte com um rapaz! O que estava acontecendo com ele? Isso era... Errado. Por mais 'modernidade' que houvesse nas atitudes de Mu e Milo, aquilo não era para ele... Mas... Por que se inquietava tanto imaginando Milo namorando os garotos na pista?

Com o pensamento, Kamus corou tanto que nem a luz estroboscópica da boate conseguiu disfarçar seu rubor. Sorte que seus dois amigos, e colegas de trabalho, o italiano e o espanhol, estavam distraídos paquerando a garçonete que os servia com um olhar coqueteiro e não repararam o seu estado de espírito...

"Cerveja, senhores? Ou vinho?".

"Pode ser cerveja pra mim e pro meu colega aqui. E você, Kamus, vai de cerveja também?".

"Prefiro um cointreau, com cereja... Por favor...".

Não era boa idéia beber, mas, a seco, não teria coragem de ficar ali, observando Milo quando ele chegasse, vendo-o chamar a atenção de todos com sua vasta cabeleira loira e aquele jeito sensual de dançar que fazia todos se sentirem feijões diante de uma pérola...

Shura bateu nas costas de Kamus...

"Mas que bebida fraca! Deixe isso para os 'entendidos', beba, 'hombre', vamos beber até cair como os três machões que somos!".

Kamus corou de novo, até a raiz dos cabelos. Por sorte, eles já eram ruivos. Sem perceber o que fazia, contra atacou o argumento do italiano:

"Alexandre, o grande, era guerreiro, militar, bebia tonéis de vinho e não era nada machão!".

Shura riu...

"Olé, muito bem, fique com o cointreau, então!".

Continuaram conversando amenidades, até que Carlos deu um a olhada tensa por cima dos ombros...

"Lá vem aquele viado de novo. Não gosto de falar com esse tipo de gente... Ele á amigo do Milo, mas não vou com a lata dele... Frutinha demais para o meu gosto!".

Kamus se virou para ver quem era e viu Afrodite, o dono do estabelecimento, se aproximando... Shura sorriu...

"Com a 'lata' não, você não vai, só com o traseiro... Até que é gostoso, e, com a conta bancária que ele tem...".

"Oras, vai dizer que você toparia sair com o cara! Tô te estranhando, meu...".

"Bem que você conversa bastante com ele... Vai dizer que não, carcamano? Quando a gente se encontrou com ele lá em Las Vegas, aquela coincidência absurda, você até que puxou conversa... Demais...".

"Sai dessa, o cara é que não desgruda de mim... Viado não tem amor próprio, fica se oferecendo... Ele é só mais um desses 'tipinhos' sem senso de ridículo...".

Kamus ouvindo aquela conversa, começou a se sentir mal. Era justamente esse o ponto! Preferia morrer a ter sua masculinidade emporcalhada, sendo motivo de chacota de todos!

Dite se aproximou mais e disfarçaram o teor da conversa. O sueco estava simplesmente deslumbrante, com seus cabelos loiríssimos, pálidos como prata sob o sol, caídos soltos pelos ombros que exibiam uma camisa de seda pura num tom rosa. A cor destacava sua pela muito alva. Era evidente, Kamus percebeu, que o belo empresário tinha mesmo uma forte queda pelo italiano... Não tirava os olhos dele. Foi gentil a ponto de, inclusive, mandar vir as bebidas por conta da casa! Estavam todos numa conversa que ficava em terreno neutro, mas Kamus percebia claramente o interesse de Dite em Carlo e, por sua vez, o interesse de Shura em Dite.

Deu um sorriso discreto sob o copo de cointreau que levava aos lábios finos. Pelo jeito, o espanhol até que arriscaria ficar mal falado entre as garotas para dar uma escapada com o sueco...

De repente, houve um burburinho agitado e alguns rostos se viraram para o lado da entrada. Kamus estremeceu. Só podia ser eles dois que chegavam! Exato! Assim que se virou para trás, viu Mu e Milo adentrando com tamanha desenvoltura que nem dois modelos de passarela conseguiriam causar tanto frisson! Mu estava muito lindo com aqueles exóticos cabelos lilases, e Milo...

Kamus sentiu um frio na barriga que odiou sentir. Infernos! O que estava acontecendo com ele?

"Oi, galera, abram alas que nós dois vamos arrasar!".

Milo foi se aproximando do dono do estabelecimento:

"E aí, Dite, tudo bem?".

Milo e Dite se cumprimentaram com um beijo escandaloso, pra chamar a atenção mesmo! Se os paparazzi estivessem por ali, tanto melhor. Com o canto dos olhos, o belo Afrodite ficou vigiando o rosto de Carlo, para ver se o italiano esboçava alguma reação de ter se incomodado com o beijo... Droga, nada, o maldito canceriano era sensível como um caranguejo mesmo! Só olhava para o seu próprio umbigo!

Kamus que estava até então paralisado com a visão do grego, que ao presenciar o beijo ardente entre os dois, sentiu seu peito se comprimir de tal forma à ponto de deixar lhe desnorteado. Estava tão nervoso com aquela imagem a sua frente que sem perceber acabou derrubando o copo de sua bebida no chão.

Os ocupantes da mesa, seus amigos, notaram o desconforto estampado no belo rosto de alabastro, já que este estava mais vermelho do que antes, mas procuraram disfarçar dando continuidade com as conversas como se nada tivesse ocorrido, como se fosse apenas um descuido da parte do francês. Quanto a Milo e Afrodite, estes continuaram a falar com normalidade, como se o beijo entre homens, em público fosse a coisa mais natural daquele mundo.

"E aí, gostoso, vamos sair depois do show?".

"Por mim podemos sair agora...". Milo abraçou o amigo e amante ocasional, acariciando os cabelos cor de trigo...

"Nada disso, Milo, quero mostrar a vocês a mais bela aquisição da minha casa... Você já o conhece, mas seus amigos ainda não tiveram este... prazer". Afrodite riu.

Milo riu também e avisou a Mu...

"Cuidado! Quando Afrodite resolve mostrar um puto novo, é porque ele quer ver nossos bolsos vazios!".

"Nada disso!". Afrodite fez um beicinho adorável. "Meu dançarino é um verdadeiro artista! E eu um mecenas! Não seja implicante seu grego safado".

Shura se meteu na conversa...

"Sei... artista igual àquela dançarina de tango que quase me levou a falência o ano passado!".

Riram todos, menos Kamus, que fingia estar muito interessado no seu copo de cointreau vazio agora, graças ao acidente de minutos atrás, para não ter que ficar encarando Milo, que, estranhamente, o estava fitando demais... Aqueles olhares insistentes de Milo foram incomodando o aquariano a tal ponto que ele acabou se irritando:

"O que foi? Por acaso pintei o nariz de vermelho?".

Milo sorriu, sedutor...

"Estava aqui pensando se você não aceitaria dançar uma música comigo... Vamos?".

"Ficou maluco? Eu... Eu...". Eu nada! A proposta o havia deixado sem palavras. Acabou não falando coisa nenhuma...

"Uma música só, Kamus... Não arranco pedaço...". Milo insistiu, exibindo seu sorriso mais lindo...

"Eu não jogo nesse time, cara, tenho namorada me esperando! Pare de fazer essas brincadeiras sem graça!".

Milo fez uma careta, mostrando a língua como um menino mal criado.

"Oras, não vejo graça naquela francesinha insossa! Não me diga que esse namoro é mesmo sério! Isso é ridículo!".

Kamus corou de novo e, mais uma vez, não soube o que responder. Milo, irritado, foi sozinho para a pista de dança. Mu olhou sério para o amigo...

"Se essa é a sua tática para chamar a atenção de Milo, Kamus, ótimo, mas não exagere. Até eu fico irritado quando me comparam com uma mulher!".

"Eu não o comparei com ninguém!". O aquariano deu um olhar suplicante ao amigo, com se pedisse socorro.

Uma vez cogitou em confidenciar a Mu que pensara em Milo com enésimas intenções, mas, céus, entre um pensamento inconfessável exposto impensadamente e a prática absoluta, havia um abismo emocional que para ele, Kamus, era impossível de se transpor!

Nesse instante, no palco, soaram tambores anunciando que a hora do número principal da noite havia chegado... Os que dançavam pararam e, aos poucos, a música barulhenta foi substituída por uma outra, instrumental, que parecia vir do próprio céu, de tão linda. As constelações da noite, que eram exibidas pela cúpula de vidro, pareciam encher o ambiente do palco de pura magia!

As luzes mudaram de tonalidades, deixando o palco iluminado com um tom dourado que dava ao local um quê surrealista... Mu sussurrou para Kamus, impaciente...

"Deve ser um daqueles garotos de programas vulgares e meti...".

Mu não conseguiu terminar o que dizia, porque a imagem de Shaka emergiu das sombras para a luz como se fosse uma aparição divina. Estava com os olhos fechados, entoando uma nota sacra de meditação, que tinha perfeita sincronia com a música. Mesmo assim, de pálpebras cerradas enaltecidas pelo k-hal negro, o dançarino era de uma beleza impressionante! Os cabelos caiam-lhe pelos ombros como uma cascada dourada e o sari indiano, amarelo e laranja, bordado com fios dourados, o fazia parecer ter sido feito inteiramente de ouro!

Lentamente, no ritmo da música, Shaka começou a ondular seu corpo, exatamente como a serpente da sedução fizera, um dia, para enganar os mortais e jogá-los para fora do paraíso...

..:..O..:..

Mu observava cada passo, cada movimento, cada detalhe que daquele ser que havia lhe tirado o dom da fala por ser tão belo e tão sensual. Dançando daquela forma, se movimentando com delicadeza, as expressões faciais, os olhos delineados, os cabelos com fios tão dourados que lhe lembravam os raios de sol, ao se movimentarem acompanhando os movimentos do corpo... Tudo naquele ser havia lhe envolvido.

Não conseguia desviar seu olhar de tão enfeitiçado se encontrava, e Milo ao seu lado, comentava baixinho para não quebrar o clima, que aquele ser belíssimo que dançava, era Shaka. O centro das atenções da casa. Que desde que chegara, todas as sextas-feiras justamente entre o virar da noite para o dia, ele se apresentava.

Mu escutava ao longe o relato de Milo sobre o loiro chamado Shaka, mas mesmo assim não conseguia evitar olhá-lo. Seus instintos gritavam a cada movimento visto. Tinha que tê-lo para si, nem que fosse uma só noite, mas tinha que tê-lo sob seu corpo, saciar seu desejo naquela carne, escutar os gemidos vindos daqueles lábios. Possuí-lo, era isto, desejava possuí-lo para aplacar aquela sensação em seu interior.

Na mesa nada mais era dito sobre o loiro, apenas restava aos ocupantes o simples ato de observar o desenrolar da dança.

Dança esta feita com maestria pelo mestiço hindu, discípulo dos hiiras, que não só aprendeu a dançar com eles, mas também com outros grupos que fora encontrando pelas regiões por onde passava.

Shaka mesmo dançando, observava os olhares sobre si. Adorava saber que no momento que aparecia, toda a movimentação do local parava. Seu ego era sempre massageado ao perceber os olhares de cobiça sobre si, mesmo que fosse ele a escolher com quem acabaria sua 'apresentação'.

Afrodite sempre acompanhava as apresentações de Shaka. Nunca cansaria de ver os passos do loiro, de tão formosos que eram, mas ele já sabia como seria o término daquela apresentação que já estava quase se findando. Seus belos olhos azuis celestes desviaram-se discretamente para o mesa de seu amigo Milo e convidados, procurando dentre eles os olhos fortes de um certo italiano que sempre lhe tirava o sono.

Carlo estava mais entretido em tomar sua bebida do que ficar observando um loiro dançando em cima de um palco, mas vez ou outra, seus olhos o traiam e procuravam a silhueta de um certo ser: Afrodite. 'Questo uomo... realmente è bello'. Não conseguia deixar de pensar nisto enquanto virava mais uma vez a bebida, sentido-a descer por sua garganta refrescando-a, mas estapeando-se mentalmente e culpando a mesma, por estar pensando isto de um homem.

Shura não sabia se olhava o loiro dançando ou se fitava o corpo de Afrodite ali tão próximo de si. Nunca havia se interessado por homens. Mas dava o braço a torcer que desde que conhecera Afrodite, estava sempre a um passo da tentação. Passara muitas noites analisando os prós e contras, brigando internamente com as doutrinas passadas por sua família, uma família de nome, Quesada Montoro. Mas mesmo assim, pensando consigo mesmo, se ele saísse com um rapaz como Afrodite, não deixaria de ser macho. Seus olhos caíram sobre as fartas nádegas do sueco e um sorriso adornou-lhe os grossos lábios.

Kamus estava alheio a apresentação. Não estava se importando nem um pouco com aquilo tudo. Seu pensamento apenas estava entre a constatação do que ele sentia em relação ao grego, e a sua tão balançada masculinidade. Havia solicitado mais uma bebida e, desta vez era, vodka pura. Seus pensamentos entre Milo e Annethe, sua namorada, eram por demais perturbadores.

A apresentação estava acabando, Shaka estava encerrando mais uma dança. O loiro ainda em cima do palco agradecia com gesto delicados e sensuais os aplausos e assovios que lhe eram direcionados.

Seus olhos vagaram pelo ambiente, enquanto em seus finos lábios resplandecia um sorriso adorável. Tudo fazia parte do jogo de sedução que lhe fôra ensinado e que desempenhava perfeitamente.

Ao longe, viu Afrodite e Milo juntamente com um grupo. Provavelmente, deveria ser aquele grupo que Dite lhe falara. Resolveu então apenas cumprimentar Milo, com quem já conversara normalmente algumas vezes e, com esse pretexto, conhecer por alto seus amigos.

Desceu suavemente pelas escadas laterais do palco. Seus movimentos, por mais delicados que fossem, sempre carregavam um quê de sensualidade e de malícia que fazia qualquer humano, hetero ou não, querer acompanhá-lo com os olhos.

Passando por entre as mesas, Shaka era gentilmente parabenizado pela performance da noite. Era também abordado por muitos, tendo suas mãos beijadas em galanteios, geralmente usados para damas, e isto sempre lhe enaltecia a sua vaidade. Nem todos podiam se gabar, para bem ou para mal, de se aparentarem com mulheres com tamanha perfeição!

Já bem próximo à mesa de Milo, onde se encontrava Dite também, Shaka sorriu mais abertamente, ao fitar o rosto do grego, e comprovar que mesmo Milo, que o conhecia um pouco, sempre tinha aquele olhar de malicia para cima dele.

Mu, que nada falara durante a apresentação toda, e que, nenhuma reação expressara até aquele momento, ao ver a aproximação do loiro divinal, se levantou para que assim pudesse fitar lhe nos olhos. Aqueles olhos belíssimos, delineados com k-hal negro que deixavam suas orbes azuis, tão brilhantes e intensas.

Shaka olhou tranqüilamente o movimento um tanto brusco de um dos senhores da mesa. Em seu cérebro, já sabia o que poderia resultar daquela situação, mas mesmo assim continuou com um jeito tranqüilo e até mesmo sereno demais para alguém como ele, traumatizado pelos abusos sofridos na infância.

"Sua apresentação foi magnífica, nunca pensei em poder vislumbrar um jovem com tamanha desenvoltura como a sua. Se não for abusar demais, eu gostaria de poder conversar a sós com você em algum lugar particular".

Na mesa, Milo discretamente colocou a mão sobre os lábios, enquanto seus olhos ainda fitavam o loiro a sua frente. Algo lhe dizia que aquilo não acabaria bem.

Um pouco mais atrás de Milo, estava Afrodite, que ao escutar o pedido de Mu, ficou apreensivo com a reação de seu dançarino. Seus olhos arregalados pediam a Shaka que desta vez cedesse gentilmente.

Os olhos azuis do loiro, após estarem fitando por alguns segundos aquelas orbes verdes, se desviaram indo de encontro ao rosto temeroso de Afrodite, e logo em seguida, aos olhos azuis brilhantes de Milo. Ao loiro, deu lhe um sorriso encantador, mas que no fundo era mais do que sarcástico para a situação que se encontrava.

Olhou Mu com atenção, de cima a baixo, notando-lhe a cor diferente dos cabelos, as pintas estranhas na testa nos lugares das sobrancelhas que não se encontravam. O silêncio em torno do grupo estava sendo irritante, mas fôra quebrado pela gargalhada sarcástica e um tanto irônica de Shaka. Sua voz suave e séria foi direcionada ao seu solicitante por atenção que já se encontrava avermelhado com suas ações.

"Posso até ficar conversando com o senhor, mas somente aqui nesta mesa, meu caro. O 'outro tipo de conversa' que deseja, não irei lhe ceder. Não gosto de ser abordado desta forma, informe-se das regras... Sou EU que escolho com quem desejo conversar, e não o contrário".

Shaka voltou a olhar para mesa com um encantador sorriso e com um gesto de cumprimento foi se retirando do local deixando para trás um Mu repleto de raiva e indignação por ter sido repudiado e principalmente na frente de seus amigos. Era uma afronta enorme para seu ego!

Virou seu rosto em direção a Afrodite, que estava com uma feição muito preocupada com a situação que presenciara. Sua voz saiu baixa e assustadoramente perigosa. Seus olhos verdes estavam brilhando demonstrando um perigo que ali poucos já haviam presenciado, somente Milo sabia o quão perigoso aquele ariano poderia se tornar em uma situação desta.

"Desculpe o ocorri...". Teve a fala embargada pela do ariano.

"Quero saber qual o valor deste traste que ousou a me afrontar. Qual o valor do serviço que seu garotinho de programa cobra quanto resolve escolher os clientes? Não estou disposto a ouvir quaisquer desculpas, apenas o que lhe perguntei".

"Mas...".

"Quanto ele cobra? Só me responda isto". Suas mãos estavam crispadas, e seu olhar para Afrodite não era nada amigável.

O sueco, dando-se por vencido, e até mesmo preocupado com um possível escândalo em seu estabelecimento, acabou revelando o quanto Shaka costumava a cobrar por seus 'serviços'.

"O valor normal é de 6.000,00Dr.". Os dedos enroscavam em algumas mexas de seu cabelo como se assim pudesse obter segurança perante aquele olhar vibrante de fúria.

"Ótimo...". Retirou a carteira de couro negro do bolso da calça, sacando em seguida um talão de cheques e uma discreta caneta dourada aparentemente de ouro. "Então farei um cheque com o triplo do que ele normalmente ganha por estes serviços, que tal o valor de 18.000,00Dr.? Creio que é mais do que ele vale por uma... foda". Falou entre dentes entregando o cheque já preenchido e assinado para Afrodite.

Afrodite somente arregalou os olhos ao ver realmente o valor no cheque. Aquilo era como se Shaka estive atendido três clientes em uma única noite, coisa que o loiro nunca fez desde que pisara ali.

Milo observara tudo calado e sem se meter. Não ousaria se interpor nos acontecimentos que viriam, não era louco o bastante para fazer isto!

Kamus estava preocupado, sua feição estava mais pálida do que o normal, e seus olhos iam de Mu para Milo e depois para Afrodite. Não poderia deixar uma coisa desta acontecer!

Shura e Carlo apenas continuavam a tomar suas bebidas como se nada de mais estivesse acontecendo. Se Mu estava disposta a gastar uma grana com o loiro metido, eles que não iriam se intrometer no assunto do amigo egocêntrico.

Mu não esperou nenhuma resposta ou fala de qualquer um ali presente, virou-se buscando no ambiente o dançarino. Seus olhos avistaram Shaka se esgueirando por detrás de uma das cortinas bordos próximas ao palco. Em seu rosto, um sorriso maligno aparecera, e suas pernas começaram a se movimentar indo em direção ao mesmo lugar que o loiro desaparecera.

O loiro estava tão distraído em seus pensamentos que não notou a aproximação perigosa daquele que ele a pouco repudiara. Em sua mente, só conseguia se lembrar dos maus tratos que sofrera, da dificuldade que fôra assumir a vida dos hiiras, tornando-se um dançarino, um sedutor. Detestava aquela vida, mas como um círculo vicioso, o que lhe dava asco, também lhe dava dinheiro e até mesmo um certo status.

Seus pensamentos foram bruscamente interrompidos ao sentir seu braço esquerdo ser fortemente agarrado e prensado, assim como seu corpo também o fôra, na parede do corredor que lhe levava ao seu camarim.

"Mas o quê...?".

"Pois bem, rapazinho, agora que já paguei o triplo do que você vale, nós dois vamos ter uma deliciosa conversa, e esta... Será do meu jeito, queria você ou não".

Shaka tinha um bronzeado muito lindo, mas, mesmo assim, sua pele se tornou lívida com o choque de ter aquele homem furioso, ali, na sua frente.

Imediatamente, veio à sua mente a imagem do pai violento. Ele fremiu de ódio e pavor, todo seu corpo rejeitando aquela situação de humilhação e submissão que ele, por já tê-la vivido muitas vezes, sabia exatamente como era.

"NÃOOOOO!".

Era o horror da infância que voltava a tona num grito desesperado de ódio e medo! Mas Mu não tinha como saber esses detalhes, e nem queria saber! Agora, tudo o que desejava era fazer o mestiço hindu aprender que NINGUÉM o afrontava impunemente!

Mu empurrou Shaka para dentro do camarim e fechou a porta. O loiro, num gesto instintivo de auto-defesa, foi para cima de Mu, tentando apanhar a chave que estava nas mãos do ariano para escapar, mas aquilo só enfureceu o ariano ainda mais:

"Você vai ficar exatamente onde está!".

Mu empurrou Shaka para dentro do camarim, jogando-o com violência sobre a cama que ali havia para as ocasiões em que ele, Shaka, resolvia dormir na própria boate.

Shaka se levantou rápido da cama, movido mais pelo desespero do que pela fúria. Atacou! Tentou socar o rosto de Mu, que, por ser um 'expert' em artes marciais, desviou rápido da trajetória do soco, mas, mesmo assim, o golpe o atingiu de raspão no rosto, o que o deixou possesso de raiva...

E a pior coisa que há nesse mundo esquecido de Deus é um ariano com raiva!

"Ora, seu...".

Mu contra atacou, dando um soco em Shaka, derrubando-no chão ao mesmo tempo em que segurava um dos braços do hindu e o torcia violentamente. Não satisfeito, desferiu um chute nas costas do mestiço, para que este perdesse o fôlego e não conseguisse mais reagir.

"Ai!".

"Pode gritar a vontade. Com a música alta ninguém vai ouvir, e o seu patrão já recebeu por você muito mais do que você merece!".

Shaka custou a recuperar o ar nos pulmões, e foi esse tempo que Mu aproveitou para se colocar sobre ele, dominando-o com seu corpo alongado, quase magro, mas extremamente forte. Arrancou o sari de Shaka, com um forte puxão, rasgando-o. Ficou agradavelmente surpreso quando descobriu que o virginiano não costumava usar roupas de baixo. Teve uma visão deslumbrante do corpo nu, deliciosamente andrógeno, exatamente como ele, Mu, gostava. As íris verdes brilharam de luxúria, e Mu forçou um beijo em Shaka, que conseguiu dar uma mordida forte nos lábios do ariano. Sangue. A resposta do empresário foi um tapa de mão virada no rosto do loiro, o que fez com que os dedos de Mu ficassem desenhados no lado direito da face bonita de Shaka.

"PAI, PAI, NÃO... NÃO, POR FAVOR,... NÃO, PAI...".

"Não... Faça isso...".

A sua voz de agora, a real, suplantou a voz das suas lembranças... O menino Shaka parecia estar ali de novo, diante do pai, hirto de medo, sem entender o porquê da violência e humilhação, mas carregando em sua alma todas as cicatrizes daquele sofrimento.

Aquele pedido, no presente, havia saído amorfo, apático, e Shaka não reagiu mais. Sentiu seus cabelos serem puxados para trás com força, enquanto Mu livrava-se de suas calças o suficiente para ter uma penetração perfeita no corpo dele que, agora dominado, estava exposto para o outro como carne no açougue!

Mu penetrou-lhe as nádegas, sem cuidado, sem preparo algum. Uma estocada só, violenta, para depois começar o martírio daquela fornicação furiosa!

Shaka estremeceu de dor. Mordeu os lábios para não gritar, mas não fechou os olhos. Lágrimas escorriam sem que o mestiço hindu cerrasse as pálpebras. Ele temia fecha-las e ver o pai na sua frente. Não queria... Não... O horror da infância e a revolta do presente bailavam em sua mente e coração como se fossem algozes implacáveis!

Mas seu pior algoz era Um, que, dotado de uma libido irrefreável, estava longe de se satisfazer com um sexo rápido. Foi um tempo interminável para Shaka, onde ele lutava com o pai, com as lembranças, com a dor do passado que se misturavam com a humilhação física do presente.

A voz de Shaka, quando Mu estava quase atingindo o seu gozo, soou num sussurro que tinha o emblema de uma maldição:

"Você não vai ter nada de mim além de um pedaço de carne... Pelo ódio que eu tenho, pelo amor que eu tenho, pela vida que eu tenho... Eu juro... Jamais vou amar você... Pode implorar o meu amor, um dia, que você jamais o terá... A lei do karma existe e agora o karma desse amor está amaldiçoando nós dois... Eternamente, somos dois amaldiçoados".

Na verdade, aquelas palavras, haviam sido as mesmas que Shaka dissera uma vez ao pai... E saíram agora, sem que mestiço hindu percebesse aquilo, como se o menino que havia nele estivesse vivendo a infância outra vez, mas o empresário arrogante que o sodomizava, não poderia entender que aquelas palavras eram um eco do passado, e não um confronto para o presente!

Mu retrucou, rindo, aumentando o ritmo da cavalgada furiosa que punia dolorosamente um e extasiava o outro!

"E o que eu mais eu poderia querer de você, puto? Sua carne já me basta! E eu não acredito em karma!".

Shaka não respondeu. E Mu também não quis falar mais, porque os gemidos de ambos ficavam cada vez mais fortes! Um arfava de dor, o outro de prazer. A respiração deles era entrecortada, cheia de ódio e sensualidade...

Mais um tempo que para Shaka parecia inesgotável se passou, até que, finalmente, sentiu dentro de si o gozo de Mu explodir com a força de um dique arrebentado, inundando lhe as nádegas e coxas. O golpe final daquela humilhação... Sentiu o corpo de Mu fremir intensamente, e ouviu a voz rouca de prazer gemer, anunciando o êxtase do seu agressor.

Shaka encolheu-se, abraçando os próprios joelhos e se colocando na cama em posição fetal. A dor não deixava pensar em se erguer. Mu, por sua vez, ainda sentia um prazer forte, como se Shaka fosse uma droga poderosa correndo por todo o seu corpo. Ergueu-se, ainda trêmulo de prazer. Deu uma olhada de soslaio para o outro, cheia de desprezo. Pegou os lençóis da cama para se limpar, porque agora percebia que tinha sêmen e sangue em seu sexo. O sangue de Shaka...

Mu estava extasiado com aquele corpo delicioso que tivera, mas, sem querer dar o braço a torcer, recompôs rapidamente suas vestes e disse, seco:

"Já tive melhores por um custo bem menor... Mas até que foi divertido".

Sem olhar para trás, abriu a porta e foi embora...

..:..O..:..

Na boate...

"Não, Kamus!".

"Porra, Milo, me solta, eu tenho que ir até lá e dizer pro Mutisha que...".

"Você não vai dizer nada pra ele! Quer bancar o bom moço, pra quê, pra foder o emprego de todo mundo aqui? Ele quanto está nervoso não mede conseqüências, você sabe bem disso!".

Kamus olhou sério para Milo...

"Eu não pensei que você fosse covarde...".

Milo passou as mãos pelos cabelos loiros e encaracolados, aflito:

"Não se trata de covardia, apenas não ponho a mão em casa de marimbondo, droga! Não vê que o garoto fez isso pra atiçar o Mu? Era exatamente isso que ele queria, aumentar o pagamento, e conseguiu! Acorde, Kamus, não são todos que são tolos e ingênuos como você, caia na real! O cara não é uma donzela em apuros é um puto de programa! Ele pediu por isso!".

Kamus respirou fundo, os lindos olhos claros, magoados, procurando as íris azul-turquesa de Milo. Ingênuo? Tolo? Era assim que Milo o enxergava? Como um idiota? Um estúpido qualquer?

"Acho que estou sobrando por aqui... Vou para o meu flat".

Milo abriu os braços em um gesto inconformado, céus... será que nunca teria uma chance com aquele cabeçudo?

"Ah, Kamus, não é justo, você veio e agora amarela e logo foge na primeira que confusão que dá!".

"Então agora eu é que sou o covarde puxa-saco de patrão?".

Milo ficou furioso...

"Não sou puxa-saco de ninguém! E só não te soco agora, cara, porque você sabe, e eu sei, que não é disso que você está fugindo... É de mim! E... Do que nós dois sentimos!".

"VOCÊ SURTOU, MILO, DEFINITIVAMENTE, O ÁLCOOL JÁ TE SUBIU A CABEÇA!".

Sem esperar pela resposta, Kamus empurrou Shura que estava na frente dele e saiu dali, espumando de raiva. No seu coração, bem lá dentro, uma vozinha mental lhe dizia, para seu tremendo desconforto, que talvez Milo tivesse razão quando gritara que ele, Kamus, estava mesmo fugindo...

..:..O..:..

Dite viu Kamus sair rápido da boate se esgueirando pela multidão, sem se despedir de ninguém... Mas que noite infernal! No bolso esquerdo da sua calça, o cheque que Mutisha lhe dera parecia queimar a sua pele. Seu coração se apertava... Será que Shaka estava bem? Ah, diabos, era um puto, não era? Sabia se virar sozinho e quando visse o cheque que haviam recebido, iria engolir o seu maldito orgulho... Além disso...

Dite não conseguiu terminar o que estava pensando, porque viu, de repente, uma figura linda como uma aparição divina surgir diante de seus olhos, desviando dos que dançavam na pista com uma graciosidade de corsa... Seu sorriso era delicioso e malévolo...

"Olá, priminho, se Maomé não vai a montanha, a montanha vem até ele...".

"Misty, mas que diabos você está fazendo aqui?".

"Justamente, o diabo quer um lugar quente, não a chatice do lar, primo! Você abre uma boate em Atenas, e achou mesmo que eu ficaria em Paris embaixo da saia da mamãe sem vim conhecer esse Paraíso? Eu não ia ficar esperando o seu convite, porque sei que ele não chegaria nunca!".

Os dois agora discutiam bem no meio da pista, esquecidos do resto do mundo...

"Não iria chamar você mesmo! Para quê? Para tia Kathy ficar gritando que eu ponho você no mau caminho?".

Misty deu um riso adorável, os cabelos eram tão claros quanto os de Afrodite, e era difícil resolver quem, dentre os dois, era o mais bonito ali. Nem uma enquête 'in loco' com os freqüentadores da boate iria resolver um dilema tão difícil... Os dois eram absurdamente belos!

Carlo, que estava mais próximo dos dois, não resistiu a vontade de alfinetar Afrodite...

"Ora, ora, então você não é o único esquisito na família...".

Olhava com atrevimento e descaso para Misty, mas este ao invés de se ofender com a antipatia do outro, sorriu, um sorriso cheio de promessas...

"Esquisito é ele, querido, eu sou... Um Deus!".

Carlo riu, mostrando aquela pseudo-indiferença heterossexual irritante, mas, na verdade, estava mesmo era flertando descaradamente com Misty, por sacanagem mesmo, só para ver Afrodite irritado! E conseguiu. Dite só faltou ter um ataque dos nervos...

"Escute aqui, Misty, eu não quero você aqui pra infernizar a minha vida, gastar dinheiro, embebedar e foder até com a própria sombra pra depois dizer a nossa família que eu sou o puto e que você é o santinho que fica tentando me colocar no caminho do bem! Já conheço bem as suas hipocrisias, eu não quero você comigo!".

Misty percebeu de imediato que a raiva de Dite era por causa do italiano ter lhe dado alguma atenção. Já ouvira as fofocas dos amigos em comum e sabia muito bem que o amor platônico e intocável na vida do seu primo era aquele italiano lindo e sem coração. Riu. Aquelas férias prolongadas iriam ser muito divertidas... Iria mostrar a Afrodite quem seria o gostoso do pedaço por ali...

"E quem disse que eu quero você bancando a minha babá? Vou para um hotel... Depois alugo um apê chegado...".

"Você não gostaria de me mostra alguns lugares onde eu poderia ficar...?". Virou-se para Carlo, quase se jogando em cima dele.

Foi Shura quem respondeu:

"Que tal no meu colo?".

Misty riu. "Deve ser o melhor lugar do mundo...".

Misty sentou-se ao lado de Shura, insinuante, mas percebeu com os cantos dos olhos que, enquanto Carlo se afastava para a pista, Dite dava para o italiano um olhar amoroso e melancólico... Ah, sim, então seu priminho gostava mesmo do machão italiano! Dite era sempre o mais belo, o mais querido, o certinho da família... Todos perdoaram a sua homossexualidade, mesmo este ainda não sabendo disto, mas não a dele, Misty, porque até nisso Dite tinha mais sorte do que ele! E agora, ah, o tolo se apaixonava pelo machão... Iria mesmo ser muito divertido ficar ali para ver Afrodite se dar mal...

Nesse instante, Mutisha chegou, os olhos ainda brilhando o fogo selvagem do sexo bem feito. Milo foi para perto dele, tenso, muito irritado ainda com a saída de Kamus...

"Tudo bem?".

"Não poderia estar melhor. Vamos arrumar companhia, beber e dançar. A noite mal começou...".

..:..O..:..

Shaka gritou de dor quando se ergueu. Uma dor conhecida e familiar, mas nem por isso, menos sofrível, porque, pior do que o martírio físico, era a sensação de fracasso e humilhação. Jurara nunca mais passar por isso e agora...

O mestiço hindu entrou vagarosamente no chuveiro e deixou que as lágrimas e o sangue se misturassem com a água quente que escorria para o ralo...

Aos poucos, sua dor e angústia foram se transformando em ódio... E esse ódio foi aumentando...

Saiu rápido do chuveiro, e, sem se enxugar, se vestiu o mais rápido que a dor lhe permitiu... Céus, que dor maldita... Gotículas de suor corriam pela sua testa, porque era grande o seu esforço para se mexer. Ainda deveria estar sangrando... Estava mesmo ferrado, diabos! Mas aquilo NÃO iria terminar daquele modo. Não daquela vez. Não mesmo. Seu ódio lhe daria forças!

Shaka apanhou o taco de baisebal com que gostava de treinar nos fim de semanas e saiu rápido para a entrada da boate, tomando o cuidado para não ser notado por ninguém. Viu ali, no livro de convidados vips, os que teriam direitos a tratamento especial. O nome que ouvira Dite dizer nas apresentações...

"Mutisha Dzogchen Dorje"

"Mutisha... Mu... Eu não vou me esquecer desse dia... E nem de você...".

..:..- O- ..:..

Continua no próximo capítulo?


Observações da fic:
Posteriormente estaremos respondendo sobre algumas curiosidades desta fic. No momento, vamos esclarecer apenas sobre a moeda corrente da Grécia.

Moeda: A moeda grega é o dracma. Há moedas de 1, 2, 5, 10, 20, 50 e 100Dr; e notas de 50, 100, 500, 1000, 5000 e 10.000. 1US$ vale cerca de 360 dracmas.
1U$ 360 dracmas
Então 5mil dólares equivalem a 18.000,00Dr., moeda local da Grécia. Mu não se importa de gastar alguns poucos dólares para ter o que deseja 'sorri'.

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- Litha – Nossa, esta fic esta me dando gosto de escrever. Não que as minhas outras não estejam, mas é a primeira fic que faço em dupla e com uma pessoa mega fofa como a Jade, e acredite ou não, conheço-a a tão pouco tempo, mas temos uma sintonia perfeita. Ta certo que sou um pouquinho dominadora né Jadinha XDD, mas ela com jeitinho sabe abaixar o meu facho escorpiano,hehehe. E não... ela não me mostra a espada suntuosa dela não 'olhando de lado para a Excalibur da Jade'. Agradeço a você por ter proposto esta parceria e por ter curtido a idéia da fic. 'sorriso feliz'.

- Jade - Gente, espero que vocês gostem da fic, mas acho que ninguém está curtindo ela mais do eu,eh,eh,eh... só não digo isso com todas as letras aqui porque a Litha vai dizer que ela está, sabe como é esse lance: somos criadoras apaixonadas pelas criaturas...

Comentem a nossa baby

Beijos
Jade e Litha