Disclaimer: O anime/mangá "Naruto" não me pertence, ele é de propriedade exclusiva do Masashi Kishimoto.

Warning: Descreve a relação entre duas pessoas do mesmo sexo (MaleXMale).


"Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor; o Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento." - Machado de Assis.

Capítulo 1 – Importância Imaculada

Ele era um verdadeiro prodígio.

Estudioso e inteligentíssimo; formou-se com as notas mais altas de sua turma na Harvard Business School¹. Todo esse esforço fora feito para que se tornasse o novo presidente da grande Sharingan Corporation, empresa do ramo tecnológico fundada pelo seu velho tio-avô, Uchiha Madara. Esse trono foi passado de geração para geração até que chegasse às suas mãos. A princípio, o cargo era reservado ao seu irmão mais velho, Itachi, mas o primogênito havia se recusado a dirigir os negócios da família, optando por dividir o seu tempo em trabalhar como professor de Filosofia e dirigir uma organização não governamental chamada Akatsuki, uma instituição que desenvolvia projetos sociais para minimizar a violência em Tóquio.

Aos 20 anos, ele havia se casado com a modelo mais bonita do Japão: Haruno Sakura.

Os dois sempre estiveram próximos, desde crianças, e para ele, seu relacionamento e matrimônio eram bastante convenientes. Quando a garota de cabelos cor-de-rosa, aos 17 anos na época, passou a demonstrar um interesse além da amizade, o moreno decidiu que poderia dar a ela uma chance, porque dentre todas as garotas que conhecia e que imploravam por sua atenção, sua amiga e parceira de estudos era a menos irritante.

O homem bem sucedido tinha tudo – dinheiro, fama, carros importados, um emprego lucrativo e uma mulher linda –, menos o que realmente queria.

Uchiha Sasuke não era feliz.

Por ser uma figura pública, era constantemente perseguido pelos fotógrafos e jornalistas. Desde pequeno fora obrigado a construir uma reputação e uma imagem exemplar para não prejudicar a empresa, os negócios e a representação da sua família perante o mundo corporativo; e era exatamente esse o ponto que o tornava tão infeliz. Tudo o que ele queria e desejava não era visto com os bons olhos e era considerado moralmente incorreto.

Ele não estava reclamando de viver rodeado de luxos. Na verdade, ele gostava de ostentar objetos caros, de bom gosto e extremamente elegantes. O dinheiro era como uma prostituta barata pronta para lhe oferecer as melhores satisfações e fantasias que se pode desejar – e para ser sincero, ela era a única cortesã que ele poderia querer, porque ele não estava muito interessado na sedução feminina.

Ele gostava de homens.

Ou melhor, Uchiha Sasuke gostava do seu psicanalista – o loiro de pele bronzeada e incríveis olhos azuis, com o corpo desenhado por músculos firmes e uma bunda tonificada. Ele amava ainda mais aquela voz profunda e ligeiramente rouca gemendo no seu ouvido, enquanto transavam...

Seus maus pensamentos foram interrompidos pelo som vibratório do seu celular em cima da mesa. No visor brilhante, o nome "Uzumaki N." estava escrito abaixo de uma imagem de um gato de pelos alaranjados, que lambia os beiços com os olhos acobreados brilhando em malícia.

Deslizando o aparelho para abri-lo, ele atendeu:

- Oi?

- Isso é maneira de me atender, teme²? – diversão escoou pela fala do outro. – Deixa para lá! Você vai vir para a minha casa hoje? – perguntou com uma nota de ansiedade na voz.

- Não vou poder, tenho um jantar com alguns acionistas à noite, não sei que horas estarei livre. – ele franziu a testa em desconfiança para o tom.

- Ah... Então 'tá bom... A gente se fala mais tarde, 'tá?! Me liga quando estiver menos ocupado. Te amo! – disse apressadamente antes de desligar, sem ao menos esperar por uma resposta.

Sasuke encarou o telefone com uma sobrancelha erguida em descrença. "O que foi isso?", perguntou-se, estranhando a atitude do homem.

Analisando com mais atenção, a situação anormal estava se desenrolando por, pelo menos, três meses. A desatenção e distanciamento de Naruto estavam começando a lhe coçar um nervo – não que o loiro já não agisse dessa forma normalmente, mas nesses últimos tempos parecia ter piorado a níveis extremos. Ele definitivamente não estava gostando disso. Havia algo no seu interior lhe dizendo que o psicanalista estava o traindo. O que tornava o fato irônico, porque o Uzumaki era seu amante há quase cinco anos.

Sasuke o conheceu quando tinha 29. Na época, ele estava sofrendo com a pressão de uma queda repentina das ações da empresa na bolsa de valores. A frustração e o estresse acumulados pela vida desgastante, fez com que o seu desempenho profissional caísse consideravelmente, devido ao cansaço físico e mental. O moreno não sentia fome, tinha crises de insônia e ainda andava extremamente irritadiço – muito mais que o habitual –, mais tarde, a tensão causou dores musculares e enxaquecas tão graves que ele mal conseguia se levantar da cama.

A esposa, preocupada com o seu bem-estar, recomendou que entrasse em contato com alguém que pudesse ajudá-lo e lhe passou o telefone de uma clínica famosa. Depois de muito hesitar, ele decidiu que precisava de uma consulta antes que fosse tarde demais. O Uchiha precisava trabalhar, mas as condições de sua saúde lhe atrapalhavam.

Quando ele entrou no consultório e viu os fios dourados, os olhos azuis escondidos pelas lentes de um óculos e o sorriso de raposa, logo decidiu que teria aquele homem. Forçou-se a deixar a culpa e o casamento de lado para conquistar o coração do psicanalista bem-humorado e sedutor que era Uzumaki Naruto. Depois de um ano relutando por inúmeros motivos – empresário casado; relação médico e paciente; etc. –, o outro cedeu.

Naquela noite, o Uchiha se sentiu realizado, porque ele tinha dinheiro, fama, carros importados, um emprego lucrativo, uma mulher linda como um alicerce para a sua reputação e um amante maravilhoso.

Com o loiro, Sasuke se sentia em paz.

Os dois se amavam, mas tinham plena consciência de que o relacionamento era complicado. Naruto era psicanalista e escritor famoso, adorado por muitos que acompanhavam as suas obras românticas e de autoajuda. O público sabia sobre a sua sexualidade, porque o seu parceiro nunca fizera questão de esconder nada de ninguém; ao contrário do corvo.

Agora, nos três últimos meses, o Uzumaki estava agindo de forma estranha e muito incaracterística; mais distante e menos atencioso, sumia frequentemente, e o moreno não conseguia entrar em contato com ele por horas, e, quando conseguia, as conversas eram sempre curtas. "Muito suspeito para alguém tão tagarela", pensava com o cenho franzido em desconfiança.

O sangue fervia só de pensar no homem com outra pessoa. Infelizmente, ele não poderia tomar posse de alguém que não lhe pertencia, e isso o estava deixando louco.

Levando os dedos para massagear as têmporas, ele tomou uma decisão: apareceria de surpresa no apartamento de Naruto e pegaria qualquer coisa que ele pudesse estar escondendo. Ninguém fazia um Uchiha de tolo e saía impune; ninguém!

Para ser sincero consigo mesmo, a verdade era que tinha medo de perder o Dobe³, apelido carinhoso que Sasuke usava para chamar o loiro. Ao lado do psicanalista não existia qualquer coisa que o incomodasse, não existiam enxaquecas; não existia estresse; não existia receio. No apartamento pequeno, que pertencia ao outro homem, ou no consultório, havia um pequeno mundo só deles, que ninguém era capaz de entrar. Lá não havia uma imagem para manter, nem um casamento para se preocupar ou uma família para agradar. No entanto, tudo parecia ameaçado agora.

"Por quê?", ele se indagava.

O Uzumaki nunca reclamou do acordo que tinham. Ele sempre fizera questão de frisar que compreendia as suas necessidades e por esse motivo, Sasuke não conseguia entender o súbito ataque de frieza. Exteriormente, não demonstrava nada do que pensava, mas o seu interior estava uma guerra de confusos sentimentos e suspeitas. Ele queria/precisava entender o que estava acontecendo e esta noite, tiraria todas as dúvidas a limpo.

Desviando seu olhar perdido na parede oposta, ele voltou a prestar a atenção no relatório de lucros mensal do computador à sua frente. Por mais que ele quisesse achar as respostas de suas indagações, ele ainda tinha trabalho a fazer.

(***)

- Parabéns, Sr. Uchiha! Se a empresa continuar a crescer desta maneira, tenho certeza que você vai levar o nome da Sharingan Corporation a patamares que nem seu tio e nem o seu pai sonharam em alcançar. – Mitokado Homura disse energeticamente, estendendo a mão para cumprimentá-lo.

Aceitando o gesto, Sasuke somente balançou a cabeça afirmativamente; sem um sorriso.

- Obrigado, Sr. Mitokado. – ele agradeceu.

Despedindo-se do restante dos acionistas, o moreno observou as figuras se afastarem da área reservada para reuniões no Tsukiji Fish Market. Assim que foi deixado sozinho, ele tirou o celular do bolso do paletó e ansiosamente discou o número de casa. Dois toques depois, ele ouviu a voz de sua esposa:

- Moshi-moshi?

- Sakura? Sou eu, Sasuke. – ele rodou o resto do conteúdo de seu copo de saquê.

- Oi, querido, algum problema? Você vai voltar para casa? Já são meia-noite e quinze! – sua voz soou preocupada.

- Por isso mesmo estou ligando. Estou muito cansado para dirigir e acabei bebendo um pouco a mais no jantar de hoje, por isso vou ficar em um hotel por aqui e amanhã cedo volto para casa. – ele informou em tom de finalidade, anunciando indiretamente que não queria discussão sobre o assunto.

- Tudo bem. Tem certeza que não quer deixar o carro em algum estacionamento e pegar um táxi? – contrariando qualquer aviso silencioso, ela perguntou, fazendo-o respirar fundo para conter a irritação.

- Não. Eu vou ficar bem, não se preocupe. – ele esfregou a testa com a ponta dos dedos para amenizar a dor de cabeça incômoda. – Durma bem, querida.

- Você também... – ela murmurou tristemente. – Te amo.

Ele não respondeu, optando por desligar o telefone. Colocando o dinheiro em cima da mesa para pagar a conta do jantar, ele se dirigiu até o estacionamento para pegar a sua Lamborghini Murcielago preta. Ao entrar no carro, ele pensou novamente sobre o que estava prestes a fazer e ponderou um momento antes de ligar o automóvel, ouvir o delicioso e suave ronco do motor vir à vida e tomar o caminho em direção ao apartamento de Naruto.

(***)

Em menos de vinte minutos, o moreno estava parando o veículo no subsolo de um prédio simples, em uma vaga que o amante fez questão de reservar, para quando ele viesse visitá-lo. Acionando o alarme, Sasuke se dirigiu à recepção, a fim de pegar o elevador. Uma olhada na parede espelhada, ele ajeitou o terno alinhado preto, Yves Saint Laurent, com detalhe de couro sintético na lapela, antes de apertar o botão para o sexto andar.

Em seu chaveiro, ele procurou pela cópia da chave que o Uzumaki havia lhe entregado, abrindo a porta logo em seguida, para encontrar uma sala em plena escuridão.

- Naruto? – ele chamou, acreditando que talvez o homem estivesse no quarto ou no banho, mas o silêncio e a solidão do lugar lhe mostraram o contrário.

Estranhou, porque já era bem tarde e não havia ninguém no apartamento pequeno. Caso o loiro estivesse, ele teria saído de onde quer que estivesse no momento, para verificar quem estava entrando em sua casa. O Uzumaki não dormia cedo e mesmo se tivesse, de fato, ido dormir, ele teria acordado com o chamado do Uchiha.

Cerrando o punho esquerdo, ele tentou controlar os pensamentos indesejados que nublavam o seu raciocínio. Ligando a luz, ele viu o ambiente aconchegante e mediano do cômodo. A decoração era simples, com dois sofás de pelúcia na cor salmão, uma mesa de café no centro com um notebook desligado em cima e uma estante de madeira clara com uma TV de plasma 42 polegadas, um minissystem, alguns livros, muitas fotografias e pequenos troféus que ele havia ganhado ao longo de sua carreira de escritor e psicanalista. Havia alguns CDs caídos em cima do tapete felpudo branco, que ele logo tratou de recolher e colocar no lugar.

Ouvindo um miado baixo, que o fez olhar para o lado, Sasuke encontrou um gato gordo, com pelos alaranjados longos e olhos acobreados, quase vermelhos, indo a sua direção. Inconscientemente, ele sorriu para Kurama e o pegou no colo. O animal havia sido um presente seu para o Uzumaki, mas ironicamente, o bichano não gostava muito do dono e preferia a atenção do corvo, deixando o loiro enciumado.

Colocando a bola de pelos em cima do sofá, o empresário retirou o paletó e se fez mais confortável, a fim de se jogar no estofado e apertar os olhos à procura de diminuir a dor de cabeça latejante. Respirando profundamente na tentativa se acalmar, ele sentiu um peso no seu colo, e, erguendo as pálpebras, viu o felino tentando encontrar uma posição aconchegada em cima de suas coxas. Acariciando a pelagem macia, ele encarou o teto por um tempo, refletindo sobre o que faria e tentando não questionar sobre o paradeiro do rapaz de olhos azuis. Ele estava resistindo ao impulso de ligar para o celular do mais novo e agir como uma namorada neurótica. O Uchiha não tinha o direito de cobrar nada e isso o deixava ainda mais nervoso.

Ele ficou nessa posição por, sabe-se lá quanto tempo, e só acordou para a realidade quando ouviu a porta da sala se abrir. Ele viu fios dourados espreitarem pela abertura mínima, com receio, e quando os orbes cerúleos o viram sentado, Naruto deu um leve pulo de surpresa.

- Sasuke, que susto! – ele colocou a mão no coração, para acalmar as batidas frenéticas. – Achei que alguém tinha tentado invadir meu apartamento, porque eu tinha certeza que apaguei as luzes dessa vez. – ele se aproximou e se inclinou para cima do corpo imóvel, que só moveu as íris analíticas para acompanhar os movimentos da figura reluzente que era seu amante.

O loiro colocou as duas mãos no encosto do sofá, em cada lateral da cabeça morena, e lhe deu um selinho carinhoso, fazendo-o sentir o leve gosto de álcool.

- Esse gato não pode te ver, não é mesmo? – ele murmurou divertido. – Parece até alguém que eu conheço. Você quer um café? Eu pensei que você tinha dito que não viria hoje. – disse a voz se distanciando, indo para a cozinha.

O sangue ferveu com a força da sua raiva.

Colocando Kurama de lado, ele se levantou e caminhou determinado a discutir com o homem de frente:

- Onde você estava?! – seu tom trovejou pela casa.

O Uzumaki pulou com o susto, de novo, e arregalou os olhos pela quebra repentina do silêncio. Ele olhou para a figura alta e pálida, que segurava o batente da porta com tanta força, que as articulações dos dedos ficaram ainda mais brancas.

- O que você tem? – o loiro franziu a testa, ignorando a pergunta. Ele se virou para pegar o pó e o coador de café que estavam no armário.

- Eu perguntei onde você estava. – a voz ficou ainda mais grave.

- Saí com um amigo. – disse naturalmente como se não desse a mínima para o estado de espírito do outro.

- Que amigo? – o Uchiha estava ficando cada vez mais irritado. Na sua cabeça, a suspeita de mais cedo estava ficando tão clara quanto uma certeza e ele não suportava essa ideia. Seu estômago torceu e na sua garganta se formou um bolo com a imagem mental que ele involuntariamente estava construindo.

- Gaara, é obvio.

- O que ele está fazendo em Tóquio? – perguntou com desconfiança.

- Ele veio me ajudar. – deu de ombros.

A atitude indiferente fez seu sangue borbulhar ainda mais e, antes que pudesse se conter, ele agarrou o braço bronzeado com uma pressão de causar contusões.

- Fale direito comigo, porra! – rosnou com o rosto a milímetros da face com cicatrizes em forma de bigodes de raposa.

- Calma lá, bastardo! – o loiro bateu na mão que o segurava com a colher, mas isso não fez com que o moreno amenizasse o seu aperto. – Eu não acho que o fato de eu ter saído com um amigo que está me ajudando é motivo para você fazer esse estardalhaço todo... Agora me solta! – exigiu, sendo prontamente ignorado.

- E ele está te ajudando em quê? – afrouxou os dedos, mas não soltou o membro do outro.

- Estou com alguns pequenos problemas pessoais que não lhe dizem respeito. – explicou Naruto, puxando o braço de distância para terminar de fazer o café. – É algo profissional, não se preocupe.

Sentindo a aura escura atrás dele não abrandar, o Uzumaki decidiu dar sua total atenção para o homem. Pegando a mão direita do mais velho, antes que o corvo pudesse se afastar, ele apertou os dedos em um ponto entre o polegar e o indicador para massagear o acúmulo de tensão em um nervo ligado à cabeça. Instantaneamente, o moreno sentiu a enxaqueca latejante abrandar, fazendo-o fechar os olhos em gratidão.

- Esse tipo de emoção negativa te deixa tão estressado... – murmurou, levando a mão livre para massagear a nuca do outro, ganhando um gemido de deleite em troca. – Ele é apenas um amigo de infância e nada mais; você sabe disso...

Abrindo os olhos para poder encarar os orbes azuis, ele viu a súplica muda para que lhe desse um voto de confiança, mas ainda assim, sentia-se inseguro. Apanhando o rosto bronzeado, ele colou os lábios para lhe dar um beijo apaixonado, fazendo as línguas se tocarem em uma dança lenta e sensual, como se ambos quisessem marcar território sobre a única pessoa que amavam. Com um último selinho, Naruto se afastou, pegando o bule com água fervendo e derramando sobre o pó escuro dentro do coador.

- E então, o que te fez mudar de ideia sobre vir aqui hoje, teme? – o timbre rouco quebrou o silêncio reconfortante da cozinha.

Sasuke não respondeu, envergonhado por ter de admitir que estivesse louco de ciúmes e esperava pegar o loiro o traindo. Ele reconhecia que não estava raciocinando corretamente no momento, mas não conseguia se ajudar, quando a sua imaginação estava tirando o melhor dele e o cegando de raiva. Sentando-se em um dos bancos altos do balcão no centro do cômodo e fingindo não ter ouvido a pergunta, ele olhou para a figura esguia e alta do seu amante fazer o café.

Com a falta de resposta, o Uzumaki o olhou pelo canto dos olhos analiticamente, antes de dar um sorriso repleto de diversão ao se deparar com o semblante perdido, quase sem graça, do moreno.

- Você não vai se explicar? – ele tentou segurar um riso presunçoso, mas não conseguiu. Ele sabia exatamente o que o fez vir, mesmo sendo tão tarde.

- Você já sabe! – o Uchiha acusou, ficando irritado pela provocação e com o fato de que nada passava despercebido pelos olhos do homem.

Deixando a bebida de lado por um instante, Naruto caminhou até o moreno para afundar os dedos bronzeados nos picos rebeldes na parte traseira da cabeça do empresário. Deu-lhe um beijo suave na nuca, antes de descer as mãos, acariciando as costas tensas.

- Vai tomar um banho e me espere nu em cima da cama. – murmurou, tornando a voz ainda mais grave e sedutora. – Eu vou te fazer uma massagem. Não é à toa que está com enxaqueca de novo. – ele bateu a ponta do nariz na têmpora esquerda do outro num toque reconfortante, antes de se afastar.

E era justamente por esse motivo que, com Uzumaki Naruto, o grande empresário Uchiha Sasuke não tinha problemas nenhum.

(***)

Uma sensação de formigamento, que surgira a partir do seu baixo-ventre e se espalhara por todo o seu corpo, fez com que ele despertasse. Arrepios nadavam pela sua pele pálida e, antes que ele pudesse se segurar, um gemido longo saiu de sua boca, devido à sensação prazerosa que correu desde a planta dos seus pés até o último fio de cabelo negro. O moreno abriu os olhos ônix sonolentamente para encontrar um volume no lençol, subindo e descendo, na região onde ficava o seu pênis. Mordendo o lábio inferior, ele segurou outro som que queria escapar para fora da garganta. Puxando o pano laranja, ele encontrou olhos azuis sorridentes o encarando, enquanto a boca sugava o seu membro com tanta vontade, que o fez engolir em seco.

Era uma boa maneira de acordar.

Ele viu a língua rosa rodar a cabeça regurgitada e lamber as gotas de pré-gozo que saía pela fenda. Sem nunca desviar o olhar, ele assistiu os fios dourados se mudarem e Naruto se mover para chupar as bolas negligenciadas, fazendo o Uchiha revirar os olhos em deleite. Seu abdômen se apertou com o sentimento de constrição em volta do pênis rígido e ele desejou mais que tudo, poder gozar.

Sem nunca deixar de trabalhar, o loiro tateou por baixo do edredom e pegou uma garrafa de lubrificante. Com a mão esquerda, ele espalhou o líquido nos três dígitos da direita, fazendo o corvo ofegar em antecipação. Com um simples toque na coxa de pele leitosa, o Uzumaki pediu silenciosamente para que o amante mantivesse as pernas afastadas e com os joelhos para cima. Ele passou os lábios sobre a base de seu comprimento, antes de sugar a ponta com força; Sasuke gemeu outra vez. Ao sentir algo gelado contornar a sua entrada, o moreno agarrou o travesseiro abaixo de sua cabeça para não perder o autocontrole. Um dedo o penetrou, entrando em saindo com movimentos ritmados, quase o fazendo implorar...

Não era suficiente.

Rebolando o quadril estreito, o empresário quase fez o outro engasgar com o pênis que entrou fundo em sua boca. Entendendo o recado, o loiro colocou outro dígito, massageando as paredes internas para encontrar um ponto específico da zona erógena. Quando ele localizou a próstata, o corvo se torceu involuntariamente com a sensação de fogo líquido correndo por suas veias. Para potencializar o prazer, o Uzumaki sugou ainda mais profundamente o membro rígido, contraindo as bochechas para minimizar a entrada do ar e criar a impressão de aperto em torno da ereção.

O estímulo duplo era quase impossível aguentar. O Uchiha não continha mais os sons, ele murmurou o nome do amante com a voz estrangulada e choramingou palavras desconexas em fôlego curto. Sem perceber, olhos negros se fecharam para prolongar o sentimento de suas entranhas se torcendo em excitamento. Ele mordeu o torço da própria mão para abafar um grito, quando seu corpo tremeu em intensos espasmos antes de gozar. A visão ficou branca sob as pálpebras e ele tentava a todo custo, recuperar o ar perdido em algum momento que ele não poderia dizer especificamente.

Os dedos e a boca se afastaram do corpo pálido para que Naruto pudesse engatinhar por cima da figura estonteante do homem e observar com carinho a expressão relaxada no rosto naturalmente tenso. Sorrindo, ele depositou os lábios avermelhados na boca do outro em um beijo rápido e cheio de significados.

- Bom dia, bastardo! – cantarolou não cessando o contato. – Hora de levantar!

O loiro se ergueu da cama, fazendo o Uchiha abrir os olhos, surpreso. Ele viu o corpo bronzeado e forte andar pelo quarto em direção ao banheiro com uma ereção perceptível por dentro da boxer cinza.

- E quanto a você? – franziu a testa em confusão, apoiando-se nos cotovelos para ter uma melhor visão do amante. O moreno não estava disposto a acabar com a sessão de sexo na primeira hora do dia.

- Eu resolvo isso depois. Você precisa voltar para casa, já são onze e meia e, pelo que eu saiba, hoje é o dia em que você e sua esposa saem para almoçar fora. – deu de ombros com indiferença, abrindo o armário e olhando o interior com dúvida.

Desistindo de procurar algo para vestir, ele começou a recolher as peças que estava no chão, jogando-as em direção ao dono sem qualquer cerimônia. As restantes, que lhe pertenciam, ele dobrou e depositou em cima da poltrona da cor creme no canto do cômodo.

- Por que eu sinto que você está me expulsando? – ele se levantou da cama, receosamente.

- Porque eu estou! – Naruto caminhou até o banheiro adjacente ao quarto. O moreno ouviu o som distante de líquido escorrendo e ele deduziu que o amante estava enchendo a banheira. – Afinal, você não quer que a Sakura desconfie, não é mesmo? – o loiro gritou do toalete.

Sasuke apenas soltou um suspiro resignado, optando por agir com sensatez.

Sentindo seu corpo melado e grudento, devido à sessão de sexo oral pela manhã, ele decidiu que precisava de um banho também e andou até onde o Uzumaki estava. Vendo-o distraído ao medir a temperatura da água, o corvo não resistiu ao impulso de provocá-lo e empurrou o outro homem para dentro da banheira. O loiro deu um grito surpreendido antes de cair, para subir à superfície com um olhar irritado.

- O que "diabos" foi isso, bastardo? – rosnou.

Ignorando a pergunta e o tom aborrecido, ele entrou na banheira, encaixando-se entre as pernas torneadas e bronzeadas e lhe acariciando as coxas com as pontas dos dedos. O Uchiha se inclinou para dar um beijo na boca carnuda e fazer com que Naruto se esquecesse momentaneamente sobre o porquê de estar nervoso. O loiro molhou as suas costas com a mão em formato de concha e agarrou os cabelos negros da sua nuca, sem desgrudar os lábios por um único instante sequer, agindo como se nada tivesse acontecido.

- Tem certeza que não quer terminar o que começamos? – Sasuke sussurrou rouco, puxando as pernas do amante para aproximar os quadris.

Antes que o loiro pudesse resistir à tentação, um ruído começou do quarto. Ambos logo reconheceram o toque do celular do moreno, fazendo-os suspirar em resignação.

- Vá atender! – Naruto ordenou, se afastando com uma expressão estranha. O Uchiha deduziu que fosse impaciência, mas não tinha plena certeza.

- Eu ligo para ela depois e digo que estava no banho. – respondeu, querendo intimamente voltar ao que estavam fazendo, mas sabendo muito bem que a ligação havia destruído qualquer clima que havia entre eles.

Os dois terminaram o banho em um silêncio incômodo. O moreno, sem outro jeito, vestiu as roupas do dia anterior, enquanto o loiro só trocou a boxer cinza por outra azul marinho para andar seminu pela casa – não que o Uchiha fosse reclamar desse último fato, afinal, ele adorava admirar a bunda bonita enquanto o Uzumaki se movia.

Pegando suas chaves e a carteira, ele se dirigiu até a cozinha para se despedir. Surpreendentemente, ele não teve que fazer muito para acabar com o clima estranho, porque o amante lhe deu um abraço com o olhar brilhando em carinho e algo mais que o empresário não conseguia reconhecer.

Sem delongas, Uchiha Sasuke saiu do apartamento sem dizer uma única palavra, como sempre acontecia.


Harvard Business School¹ - escola de pós-graduação da Universidade Harvard focada em administração de empresas.

Teme² - imbecil; babaca.

Dobe³ - estúpido.

Tsukiji Fish Market⁴ - mercado de peixes e restaurante, ideal para grupos grandes e reuniões com horário marcado.

Moshi-moshi⁵ - alô.

Lamborghini Murcielago⁶ - modelo desportivo de carro que foi apresentado em 2001 como linha 2002; forte, leve e extremamente rápido.

Yves Saint Laurent⁷ - Empresa francesa de alta costura, famosa por revolucionar a moda com seus smokings femininos.