Prólogo

Inglaterra, 1865

A única fonte de iluminação na sala de estar naquela noite era uma pequena lamparina dourada apoiada no centro da mesa de mogno. Nem mesmo a lareira estava acesa, apesar do vento gelado, típico de fim de outono, que agitava as folhas das árvores do lado de fora da casa. Todas as janelas altas de madeira estavam fechadas e com o trinco voltado para baixo, de modo que nem mesmo a luz da lua, muito alta e redonda no céu, podia entrar no aposento.

Sentado à ponta da mesa estava o jovem conde de Greenville. Não que Uchiha Sasuke realmente se denominasse um lorde, considerando que havia herdado o título da pior maneira possível, embora todos o admirassem pela longa linhagem de nobreza em sua família. Na verdade, Sasuke não se dizia conde desde os seis anos de idade, quando, por direito, o título passou a ser realmente seu. Apesar de ser bastante jovem e ter rosto bonito e traços finos, era sisudo de uma maneira que rapazes de menos de trinta anos geralmente não o são. Sentado ali, observando as sombras bruxuleantes e pouco definidas que a lamparina projetava nas paredes, parecia nada mais do que entediado, embora o assunto no momento fosse considerado de grande importância.

Bem, pelo menos para o homem que o havia procurado.

– O que faz Orochimaru pensar que farei o que ele me pede? – perguntou Sasuke, por fim, após um bom tempo em silêncio.

O homem que ele havia recebido naquela noite não havia se sentado à mesa com Sasuke; em vez disso andava de um lado para outro ao redor de sua cadeira, sem parar um minuto sequer, ansioso. Apesar de não demonstrar, aquilo estava começando a deixar Sasuke irritado.

– Ora, meu lorde, sabe muito bem o que ele lhe dará em troca. O calhorda que o senhor procura? – ele ergueu as sobrancelhas enfaticamente, tentando parecer respeitoso e persuasivo. – Orochimaru sabe onde está. Foi rastreado desde que o senhor nos procurou.

Sasuke voltou-se em sua cadeira para encará-lo, sem demonstrar realmente nenhuma surpresa, embora o assunto lhe houvesse despertado o interesse. Todo homem tem o seu preço, era o que seu falecido pai costumava dizer, e Orochimaru tinha o talento de descobrir qual era o de cada um. Ainda assim, como Sasuke apenas o olhava, sem se alvoroçar como ele queria, o homem ficou um tanto frustrado e nervoso.

– Quero saber por que Orochimaru quer que seja eu a fazer esse serviço. Por que não o faz você mesmo, Kabuto?

Finalmente o homem se cansou de perambular de um lado para o outro e puxou uma cadeira ao lado de Sasuke, afundando-se nela e inclinando-se para frente com ansiedade.

– Você vive fora da Inglaterra. Quem haverá de desconfiar do conde de Greenville no período em que você estiver sumido com a moça? – disse Kabuto, deixando a formalidade de lado. – Além do mais, soubemos que você pretende partir para a América depois de encontrar o que está procurando. Se for reconhecido, não poderá ser preso depois que partir. É habilidoso, vai fazer as coisas direito. Depois, só precisará despachá-la.

– Despachá-la? – ecoou Sasuke, sem inflexão na voz.

– É, bem, precisará ficar um tempo com ela. Navegando, talvez. Creio que não a procurarão no mar, muito menos em um navio seu. Ou leve-a para a França. Depois que as negociações terminarem, você a manda de volta para nós. Imagine o quanto pagarão pela filha de um duque!

Sasuke refletiu por uns instantes. Depois ergueu uma sobrancelha para Kabuto, e ele soube, satisfeito, qual seria a resposta do conde.

– Está bem, eu aceitarei o acordo – assentiu Sasuke, por fim. – Contudo, só cuidarei deste assunto até Orochimaru encontrar alguém para negociar com a família e assumir a tarefa de cuidar da moça, depois eu estou fora. Não quero nem saber desses aborrecimentos. E há mais uma condição: a dama terá que ser entregue em segurança à família depois que as negociações forem encerradas.

Kabuto franziu o cenho, surpreso.

– O que é que há? – perguntou ele com rispidez. – Está cheio de escrúpulos agora?

Sasuke lançou-lhe um olhar de desprezo que o intimidou.

– Não sei se ainda não percebeu, mas não sou da sua laia. Não faço esses serviços baixos a que você está acostumado. Só estou fazendo essa concessão porque há algo de que preciso em jogo.

Na verdade Sasuke não admitiria aquilo em voz alta, nem mesmo para si mesmo, mas era um cavalheiro, e jamais seria conivente com um ato de violência contra uma mulher. Não era um bandido, não era um pirata. Estava apenas comprando uma informação que procurava havia muito, que precisava para que pudesse por em prática seus planos pessoais e depois sair para sempre da Europa. Ele tinha as habilidades, mas nunca as usava para objetivos de vilania como aqueles.

– E preciso saber onde ele está antes que a moça seja devolvida. Ela não irá simplesmente voltar para casa e manter a boca fechada a respeito de seu raptor.

Kabuto forçou um sorriso.

- Não se preocupe com isso, Orochimaru resolverá tudo. E então, temos um acordo?

Sasuke notou que Kabuto havia estendido a mão para que ele a apertasse, mas o conde apenas a olhou de relance. Depois levantou os olhos e o encarou com a inexpressividade que lhe era de costume.

- Parece que sim.


N/A: Eu queria experimentar algo diferente do que fiz até hoje, e então, pam, saiu esse projeto novo. Século XIX, damas enluvadas, ninjas saltitantes e confusões para todo lado. Quem me conhece sabe que adoro uma primeira pessoa, mas essa fic está em terceira, espero que não tenha ficado ruim demais.

Agradeço àqueles que acompanham minhas outras fics, e peço paciência pela demora com as atualizações. Afinal de contas, estou tentando dar o melhor de mim, e este ano eu começo o terceiro ano do ensino médio, que é dureza.

Espero que gostem,

Plim Plom.