Disclaimer: Naruto pertence ao Kishimoto Masashi e esta fanfic não tem fins comerciais.

Rate: M - Mature: Violência, Sexo, Violência Sexual, Palavrões. Se algum destes temas lhe afeta ou você tem menos de 16 anos, por favor, não leia.

Warnings: Contém Yaoi (relação homossexual entre homens). Se você é contra, vá tomar no seu cu porque eu não devo satisfação a gente preconceituosa. Se você apenas não curte, só saia e procure outra fic. Drama, Angst e Psicológico.

Pairings: ItaNaru, SasuNaruSasu.


Dementia

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Adentrou no café. O sino delicadamente avisou a entrada do cliente. A cafeteria que Naruto combinara de se encontrar com Itachi Uchiha escondia em sua estratégica localização uma humildade bastante parecida com a que o rapaz carregava em suas atitudes. Por trás do antigo balcão amadeirado havia um cardápio amarelado, com um design claramente antigo; a cafeteria limitava-se a cafés e chás, além de biscoitos, bolachas e bolos simples. Quem mantinha aquele lugar apenas continuava com o negócio por algum apego emocional. Ainda assim, a cafeteria possuía um charme inigualável.

O cheiro de café, um pequeno espaço com não mais que cinco mesas redondas, cadeiras também em madeira antiga e a iluminação fraca auxiliada por abajures de luz âmbar. Uma das paredes do café era repleta de livros de todos os tipos – a maioria parecia tão amarelada quanto o lugar. Era propício para uma conversa como aquela. Para completar, não havia mais ninguém além do Uchiha naquele lugar; nem o balconista: Atrás do balcão havia uma porta semiaberta, e imaginou que fosse necessário chamar para ser atendido.

Naruto encontrou Itachi sentado numa das mesas, lendo um pequeno livro de Schopenhauher. Se não fosse uma situação tão delicada, reclamaria da falta de opções. O olhar de Itachi, do livro para os seus olhos azuis, gelou ainda mais o seu estômago nervoso. Sentou-se impetuosamente na mesma mesa.

- Gosto de você, Naruto. – Itachi retrucou, retornando o olhar ao livro. Não percebeu o rubor que tomou conta da face do loiro. – Sempre soube que era visionário.

Naruto não sabia o que era visionário, mas decidiu não questionar. Respirou fundo, tentando desviar os sentimentos desconhecidos. Itachi era um assassino, segundo Uchiha Sasuke, seu amigo mais próximo, mas não havia outra pessoa para recorrer quando este mesmo amigo encontrava-se internado num hospício.

- O Sasuke me disse que havia algo estranho com o hospício. – Naruto falou baixinho, tentando encontrar forças. – Disse que ouvia gritos, que planejavam destruí-lo. Não me disse muitos detalhes, mas parecia transtornado. Você acha que é loucura dele?

Itachi fechou o livro e o colocou em cima da mesa, cruzando os dedos das mãos sob o queixo. Encarou o rosto do rapaz com seriedade.

- Você acha?

Naruto piscou, confuso e intimidado com o olhar do Uchiha. Há três anos visitava a casa dos Uchiha, ocasionalmente esbarrava com o rapaz mais velho. Tinha medo dele; Sasuke repetia que ele era um assassino, que assassinara seus pais, mas nunca dissera o que realmente aconteceu. Ouviu falar por um e outro que conspirara para danificar o carro que os levou à morte num terrível acidente. Diziam que era por dinheiro, mas, mesmo após o acidente, eles continuavam levando uma vida repleta de amenidades. Eram ricos, de fato, mas esta riqueza nunca fora esbanjada. E Naruto se encontrava com um Itachi vestido com roupas simples – mas nunca deselegantes –, dentro de um café tão humilde quanto o seus gestos. Fosse o que fosse, o motivo não era dinheiro.

- Não. Não acho. – Respondeu depois de alguns segundos, mas com convicção. Itachi sorriu ao observar a certeza do garoto.

- Então acho que devemos investigar. Peça um chá, eu pago. Você não deve ser o tipo de pessoa que gosta de café.

- Naruto agradeceu, e um rompante de esperança afogou sua insegurança diante do suposto assassino.


Sasuke e Naruto não eram mais do que colegas até serem forçados a trabalhar juntos no ano em que Kakashi, seu professor de literatura, montou equipes de três pessoas com a sala inteira. A ideia era unificar mais a turma e trazer uma competição saudável; atualmente Naruto percebia que havia um interesse maior naquela didática. Sasuke não socializava com ninguém desde a morte dos pais, aos oito anos de idade, e seu silêncio foi lentamente quebrado pelas bobagens infantis do loiro e doçuras da menina ruiva que os acompanhou até o fim do ano, a Sakura. Tinham onze anos nessa época.

Entretanto, mesmo com tantas brincadeiras e alegrias, Sasuke mantinha em seu âmago uma amargura que Naruto e Sakura não conseguiam alcançar. Os anos se passaram e mesmo com mais intimidade, com amigos e com um mentor como Kakashi Hatake, nada parecia preencher aquele vazio deixado na criança órfã. Vazio este que foi consumindo tudo o que conquistara, aos treze anos, com a volta de seu irmão mais velho à sua casa.

Desde a morte dos pais, Naruto sabia que Sasuke morava só, mas que suas contas e responsabilidades documentais eram resolvidas por seu irmão mais velho. Entretanto, o moreno odiava aquilo. Chamava-o de assassino, e não explicava mais nada. Naruto sabia o quão doloroso era estar só, também era órfão e até os nove anos ele vivia num orfanato. Então apareceu o professor Iruka, que o adotou; e mesmo que fosse um pai relativamente ausente, cuidava muito bem dele quando podia. O rapaz de trinta anos procurava alguém pra dividir a casa e a vida. Era um pouco mais sensível que os demais, e sentia que estava na hora de ter um filho. Decidiu adotar o Naruto pela sua idade: Às vezes o professor tinha que visitar os pais fora do país e precisava que ele pudesse ficar sozinho em casa. Às vezes brigavam, mas Iruka sempre lhe mostrou o certo e o errado, e Naruto tinha certeza que era amado pelo seu novo pai.

Naruto achava que compreendia a dor de Sasuke até perceber que havia mais do que solidão no rapaz; havia ódio. Um ódio que consumia todas as suas realizações, suas alegrias, sua vida. E Sasuke era um aluno-exemplo. Um modelo de perfeição - até Naruto descobrir que sua perfeição utilizava dor e angústia como sustento. Uma raiva tão grande a ponto de projetar uma imagem de força e superação, frieza e competência. E Sasuke alimentava-se desse ódio para se tornar uma pessoa cada vez melhor, fazendo com que Naruto passasse a entender esta tristeza como um combustível para sua evolução, e aceitá-lo do jeito que era. Seu maior arrependimento desde aquele acontecido.

Sakura, sua amiga de infância – e secretamente a primeira garota que se apaixonou – sempre se encantou por ele, mas, com o passar do tempo, seu encanto transformou-se em compreensão. Hoje, prestes a fazer dezesseis anos, é visível que o maior sentimento que a ruiva alimenta pelo rapaz é pena.

Sasuke Uchiha, digno de pena. É até difícil de acreditar.


Voltou pra casa com um nó no estômago. Conversara com Itachi sobre algumas suspeitas, e o rapaz levantara a possibilidade de abusos sexuais dentro da instituição. Preocupado com o irmão, levantara a ficha criminal de todos os psicólogos e psiquiatras, e descobrira que o psicoterapeuta que tratava Sasuke por seis meses antes do acontecido que o arrastara ao hospício estava sendo julgado por abuso. E ele continuava trabalhando lá, no hospício. O problema era mais intenso do que poderia pensar. Naruto não sabia se ficava mais impressionado com a possibilidade de seu amigo ter sido violado física e psicologicamente ou com a frieza do irmão ao levantar aquelas possibilidades sem o menor traço de emoção no rosto.

Trancou a porta e sentou-se no sofá, emocionalmente cansado. Por um momento, pegou-se imaginando o amigo sendo abusado. Sua pele branca, seus gritos, sua dor. A cena mental o fez correr até o banheiro da casa e vomitar o chá que havia tomado.

As mãos tremiam. E a angústia que sentira se transformara em revolta. Naruto esmurrou o azulejo do banheiro até o sentimento de ódio se dissipar; mas aquele maldito nó no estômago permanecia ali. E a imagem de Sasuke, da forma como o encontrou naquele dia fatídico. Não pôde evitar as lágrimas e o sentimento de culpa. Gostaria de tê-lo protegido como um dia fora, quando queria escapar de uma aula e Sasuke inventava desculpas esfarrapadas para cobri-lo. Mas não era mais sobre infantilidades colegiais. A vida de Sasuke estava em jogo, e sua saúde mental estava profundamente doente.

Reuniu forças. Retirou o celular do bolso e procurou o número de seu antigo professor. Havia muito tempo, mas não custava tentar.

- Alô? – A voz grossa e distinta do outro lado da linha fez Naruto sorrir.

- Professor Kakashi? – Perguntou animadamente.

- Naruto? – O professor perguntou por impulso. – Quanto tempo. Como você está?

- Não muito bem, professor. Preciso conversar com você. Poderíamos nos encontrar amanhã?

- É sobre o Sasuke? – Kakashi disparou a pergunta, certeiramente. Naruto ficou em silêncio, pensando se realmente deveria. Kakashi complementou. – Eu estava mesmo precisando falar com você. Acho que tem algo a mais para se preocupar com ele.

- Você... Acha? – O rapaz estava confuso com a repentina informação.

- Sim. Talvez somente você possa salvá-lo desta situação. Amanhã ao meio dia no Ichiraku Ramen, pode ser?

- Claro. – O coração de Naruto disparou. – Ótimo. Te vejo lá.

- Até amanhã, Naruto.

Desligou o telefone. Naruto estava ainda atônito com a informação que o Uchiha lhe dera, e um profundo medo o invadiu. Medo de saber o que realmente acontecia, medo de saber o quanto Sasuke estava destruído. E medo de sentir uma culpa que jamais poderia ser consertada. Aquela mesma culpa que sentiu quando viu aquela cena sangrenta que quase tomou a vida de seu melhor amigo.

Resolveu tomar um banho e tentar ir dormir, mesmo sabendo que não conseguiria. Era importante que estivesse em boas condições. Por Sasuke. Por Sasuke. Por Sasuke.

Fechou os olhos.

Por Sasuke.

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Etc: Então, esta é uma fic não-betada extremamente doentia. Vai ter um monte de absurdo e angústia aqui, se você não gosta dessas coisas psicológicas, nem continue. Vou escrever capítulos curtos pra poder dar continuação, se não eu procrastino e desisto no meio, e não quero isso. Espero que a Gih goste, porque essa fic é pra ela.

Sou poligâmica em fandons; curto muito Yaoi, mas não tou aqui pra fazer parte de guerrilha Yaoi.

Enfim, espero que curtam e um beijo pra quem leu.