Renegade.
I'm letting go.
Era tudo tão inebriantemente simples. Era um suspirar, o caminho que o ar abria até os meus pulmões. Era um sorriso doce, que moldava os meus rosados lábios, repuxando meus olhos. E eu sabia que o castanho neles estaria brilhando em sua forma costumeira. Eu era simples e, temo em admitir, patética. Ainda assim, era tudo tão caoticamente estranho, pois eu suspirava e sorria de forma nada sincera.
Acredito que por ser uma escritora de baixo calibre, de romances com capa de papelão que são vendidos em bancas de jornais, eu ainda conseguia trazer toda a imaginação e – se assim posso dizer – simulação de sentimentos para a minha vida, afinal, até certo ponto eu era como algumas personagens: perdida, ligeiramente apaixonada, só, introspectiva, porém que não gosta de preocupações desnecessárias, então sou o tipo de personagem que sempre anda com um tolo sorriso nos lábios e que esconde no fundo de sua mente aquela apática tristeza.
Não, esta não é minha biografia, não tenho tantos fãs desesperados pra saber o que aconteceu em minha vida, sei que eles ficariam desapontados por saber que nada acontecia nela. Problemas financeiros, bons amigos, um apartamento – que divido com uma amiga – caindo aos pedaços, um amor não correspondido pelo ser mais perfeito de todo o universo... resumidamente eu sou o grande clichê de filmes americanos. Prazer, sou Yamada Rin e, se você gostar de romances água-com-açúcar a preços acessíveis, você me conhece.
Talvez eu não devesse falar isso com orgulho, mas fui eu que escrevi A Jóia de Quatro Almas, Inuyasha (inspirado no meu bom e velho amigo), Rumiko Takahashi (não posso dizer que este é um romance romântico ao qual vocês estão acostumados, mas enfim.), O Terrível Naraku e O Monge. A maioria dos meus livros são uma representação fantasiosa da minha tediosa vida, tenho sorte que eles ao menos gerem interesse em uma pequena editora e que chega a pequena quantidade de dinheiro para permitir que eu pague alguma coisa do aluguel. Meu laptop poderia ser mágico e realizar tudo o que eu escrevesse nele, seria tão mais fácil. E antes que você me pergunte, sim, eu tenho um laptop e ainda assim não consigo pagar todas as minhas contas... certas coisas são mais necessárias e digo que na batalha entre tecnologia e contas de papel, a tecnologia sempre vai me vencer.
Mas estou apenas enrolando para não entrar no assunto importante, assunto este que seria a explicação do por que diabos eu estou escrevendo algo sobre mim que não seja a minha biografa. Meninas sempre precisarão de diários e, com meus 28 anos, eu ganhei o meu primeiro. E não sei o porquê escrevemos algo que sentimos para apenas um pedaço de papel saber, então decidi que não seria em um pedaço de papel, ou ao menos um pedaço de papel real. Então meu pedaço de papel irreal é o meu bloco de notas mental e os aplicativos do meu computador, auxiliados com a internet. Prefiro que pessoas me respondam e não esperar eternamente pela resposta de algo chamado "Diário" e que é totalmente imaginário. Ou foi assim que tudo isso começou, agora as coisas estão tão drasticamente diferentes. Acho que sinto falta da ideia simples de um diário na internet... Porém, o que eu encarava como um simples diário, se tornou algo tão maior...
Tudo o que conto aqui, aconteceu a cerca de dois anos atrás e, o que eu achei ser um simples diário, acabou encontrando seu caminho para uma editora e se tornando um livro de alguns pensamentos meus apanhados durante tantos problemas. Mas achei necessária uma breve introdução a cada novo 'capitulo', sendo possível situá-los nos pensamentos que passaram e passam em minha mente.
Como as meninas fazem, acho digno começar a explicar o que acontecia com os dizeres já tão cultuados pela nossa cultura.
Querido Diário...
Ontem, dia 14 de janeiro, eu finalmente cansei. Era apenas mais uma típica noite, mas uma noite em que eu consegui entender tudo... vou apenas pegar minhas anotações mentais e as coloco aqui.
Ele me aborrecia! Em todo aquele fatídico jantar ele apenas conseguia falar –entre garfadas volumosas- em seus bíceps, tríceps e o caralho a quatro! Nem me perguntou nada, absolutamente nada! Ele era apenas mais um cretino e eu sabia, então por que eu continuava ali? Sorrindo e acenando como se fosse o assunto mais maravilhoso do universo?
Ah sim... era por causa dele. Tudo o que fazia em minha vida girava em torno dele. Sendo que eu me aproximava e afastava esporadicamente, pois era doloroso vê-lo e não tê-lo e, quando longe, respirar parecia impossível. Podia afirmar sem medo de que ele era a minha vida, era tudo o que eu precisava. Mas o som do meu querido e amado celular me despertou dos insistentes devaneios e interrompeu o entediante monologo dele.
- Sim? – Minha voz saia naquele timbre normal, calmo.
- Essa podia ser a sua ligação do hospital. – Aquela voz me deixava inquieta.
- Kaede-san? Sim, sou a sobrinha dela... aconteceu alguma coisa? – Percebi que minha voz ficou trêmula.
- Já disse que você é uma ótima atriz?
- Um acidente? – Peguei um pouco de ar para continuar, meus olhos se encheram de lágrimas. – No hospital? Já estou indo!
- Te espero no bar então. – Ouvi a voz dele animada antes de desligar o celular.
Não ouvi as preocupações desnecessárias do homem a minha frente, apenas corri para fora do restaurante e peguei um taxi. Senti uma agonia crescente, queria vê-lo logo, ouvir sua bela voz brincando comigo e as mãos brincando com meus cabelos. Junto com a agonia, o medo de saber que ele não era meu... Apenas me tornei consciente de mim ao ouvir meu salto contra a curta escada de madeira. Acenei para o bartender e prossegui para a minha costumeira mesa. Uma morena acenava para mim, sorrido cordialmente, como sempre.
Eu ainda não entendia como havia chego ali, naquele ponto em minha vida, com amigos tão incríveis e belos, tanto por dentro como por fora. Sangô, a morena de olhos escuros, era minha melhor amiga e, arrisco em dizer, a cola que mantinha aquele grupo unido assim como Miroku. Miroku era o belíssimo moreno de olhos azuis escuros, ele tinha aquele sorriso galanteador que fazia qualquer mulher flutuar, mas com suas sempre decadentes cantadas. E lá estava ele, com o olhar cansado que oprimia meu coração. Os olhos âmbar semicerrados e a boca ligeiramente pressionada severamente.
- Chegou rápido. – A voz quase melodiosa de Sangô me deu as boas vindas.
- Sem trânsito. – Sorri sem graça, não podia admitir que praticamente corri para cá. – E esta chovendo, acho.
As sobrancelhas dele se ergueram, como sempre fazia quando estava surpreso com alguma coisa.
- Acha? Pensei que a chuva era algo visível que nos molha e traz frio. – Novamente a voz dele brincando comigo.
Me sentei ao seu lado e, rapidamente, a garçonete trouxe o meu drink, sorri para ela e beberiquei ele por alguns segundos.
- Eu não prestei atenção... – Sussurrei sem graça. – Então Miroku, quais são seu planos para hoje?
- Hum... – Ele pareceu pensar por um tempo, mas sorriu. – Não tenho planos para hoje, tenho que finalizar alguns trabalhos...
- Algum trabalho que atenda pelo nome de Ayame? - A voz fria e imperturbável de Sesshoumaru chocou a mim e a Sangô, não pelo tom, mas pelo conteúdo.
- A RECEPCIONISTA? - Incrível como os gritos em uníssono não são reais apenas em filmes.
- Você não tem limites!
- Nem mesmo bom gosto!
- Garotas, ela é bonita... - Nunca vi Sesshoumaru defendendo alguém, mas tínhamos que concordar com ele... ela era exótica, assim como uma outra mulher. Apenas essa segunda me enchia de revoltado ciúmes.
- Mas tão tontinha!
- Infantil!
- Com uma paixão platônica pelo... Kouga... - Revirei os olhos impacientes.
- Me parece que alguém aqui esta com ciúmes... - Sim, Miroku esperava que a conversa mudasse de sentido para voltar a falar com alguma moral... Nós éramos bons amigos e nisso não existia dúvida.
- É apenas a sua imaginação, Miroku. - Sangô sempre intervinha pela minha pessoa e isso me deixava aliviada.
- Então o Kouga, Rin? - Levantei meus olhos para ele.
Como ele conseguia manter aquela pose? Manter aquele simples olhar que, mesmo frio, fazia com que todo o gelo do meu mundo derretesse. Acho que é o poder dele, ao menos o poder sobre mim, sobre Kagura, para falar toda a verdade era o poder dele sobre todas as mulheres que tivessem uma quedinha por homens maravilhosos e inalcançáveis. Porém isso não incluiria Kagura. Apenas me incluiria e o resto da população do mundo... eu era apenas mais uma na multidão, sempre fui e isso não iria mudar.
- Kouga é apenas um conhecido da editora, mais nada. - Minha voz saiu sutil, temo em afirmar que macia, tão contraria aos meus sentimentos e pensamentos no presente momento.
- Parece que Rin tem uma queda por rapazes comprometidos, não é mesmo, Sesshoumaru? - Tava demorando para ela aparecer.
Sempre tão bem vestida, atraindo olhares e recebendo bebidas de graça. Temo em dizer que queria ser Kagura quando crescer, só assim eu teria um Sesshoumaru para mim, ou um projeto dele. Porém o sorriso que se formou em meus lábios durante aquela conversa não desapareceu, tornou-se tremulo por alguns segundos, mas persistia em não me abandonar, em não deixar a máscara cair. Se eu tinha alguma qualidade, essa qualidade era a perseverança, ou simplesmente a burrice.
- Boa noite, Kagura. - Como sempre, eu e Sangô sussurramos tentando nos distrair daquela sensação incomoda que sempre surgia quando a namorada de Sesshoumaru o beijava e roubava o meu lugar.
Sim, eu tive que me levantar depois daquele pseudo-insulto, totalmente sem graça, e me sentar ao lado de Sangô. Aquele não era o problema, o problema era ter que ficar olhando Kagura o beijando a noite inteira. Aquilo realmente era um porre! Sesshoumaru nunca demonstrava nenhum sentimento por Kagura, mas ainda assim ele nunca demonstrava nada por ninguém.
De certa forma, toda essa imparcialidade dele era o que me cativava, assim como os raros sorrisos ou não tão frios olhares. Foi quando que, revirando meu copo vazio, eu levantei meus olhos e aquelas orbes douradas estavam brilhando para mim.
O não tão frio olhar.
Sorri de forma despreocupada. Não tinha como não sorrir depois daquele olhar, porém Kagura também percebia aqueles olhares e quando ela percebia, logo o puxava para mais um de seus beijos sem graça. O que diabos ele via nela? Eu conseguia entender o fascínio dela por Sesshoumaru, só não entendia o que acontecia com ele!
Conheço Sesshoumaru dês dos meus 6 anos de idade. Ele foi meu vizinho por anos, melhor amigo por duas décadas. Se alguém me conhecia melhor do que eu, esse alguém era Sesshoumaru. Porém, em todos esses anos, ele continuava uma incógnita pra mim. Por todos esses anos eu achava que sabia o que se passava atrás dos olhos brilhantes de Sesshoumaru, mas então eu entenderia o que ele via em Kagura. Eu entenderia o porquê ele me via apenas como uma amiga.
No meio dos meus pensamentos revoltados contra a belíssima mulher a minha frente, a mesma conversa se tornou presente na mesa. Aquele ar sufocante e palavras vagas. Sempre que Kagura estava próxima, alguma coisa no nosso grupo morria. No meu mundo morria. Talvez fosse por causa disso que me levantei da mesa de forma abrupta, só percebi um insignificante brilho de surpresa nos olhos de Sesshoumaru, mas talvez fosse minha imaginação fértil trabalhando novamente.
- Rin? - A voz tremula de Sangô tornou ainda mais real que minhas atitudes eram atípicas naquela noite.
Não. Eu não conseguiria ser a Rin sorridente que esquece seus próprios sentimentos pelo bem maior. Naquela noite eu seria egoísta. Naquela noite eu subiria para meu apartamento – dividido com Sangô – e me permitiria chorar por todos os anos que passei ao lado dele. Esperava chorar até não haver mais água no meu corpo, até minhas lágrimas formassem um rio e secarem a mera imagem do iceberg que era Sesshoumaru. Só assim eu poderia finalmente me afastar de toda aquela situação.
- Me lembrei que ainda não finalizei o livro e tive uma ideia perfeita para o final. - Sorri. Mais mentiras.
Estava me tornando uma profissional em esconder meus sentimentos, em mentir. Assim como ele. Um gosto amargo invadiu a minha boca ao pensar naquilo. Talvez, por estar me tornando como ele, eu nunca poderia tê-lo. Ao menos não tê-lo da maneira que sempre quis.
- Achei que você já tinha até enviado para o editor... - Aquele tom impessoal me irritou profundamente. Precisava parar de contar tudo para ele.
- Apenas mandei a ideia do final, mas posso mudar ainda. - Novamente o meu sorriso não foi abalado e isso me encheu de raiva por mim mesma. - Boa noite para todos.
Sai quase que correndo dali. Se me demorasse sabia que iria me arrepender da ideia e aceitaria assistir, por mais uma noite, o belo espetáculo que era ver o homem dos seus sonhos com outra. Se ela ao menos merecesse alguém como ele, se ela fosse legal com o resto do pessoal, talvez... porém, meus pensamentos foram novamente chutados para fora da minha mente. Eu tinha mania de ser desastrada ou coisas estranhas realmente me perseguiam.
O ocorrido fora o seguinte: chuva. Muita chuva. Eu apenas precisava sair do bar (que ficava praticamente no porão do meu prédio) e subir as escadas que davam para a calçada e então subir a escadas do prédio em que eu morava. Mas nesse curto percurso eu consegui me superar de forma tão absurda que me impressionava. Nessa chuva e nos poucos passos que me separavam das escadas para o prédio, eu consegui me chocar contra algo. Algo moreno. Algo grande. Algo com um sorriso maravilhoso. Algo que me salvou de sujar minha roupa na calçada.
- Pressa e chuva não combinam. - Ouvi uma voz que tremia com o riso contido. Era uma voz bonita, em nada se comparava a de Sesshoumaru, mas ainda assim.
- Na verdade, eu que não combino com nada. - Ri sem graça, ainda sentindo os braços quentes dele me segurando.
Minha visão clareou e eu vi alguém que eu nunca esperava esbarrar em uma triste noite de chuva. Se eu sou uma paupérrima escritora, ele poderia ser comparado com Gandhi, ou até mesmo com o Deus da literatura.
- Koyama Bankotsu! - Tapei minha boca rapidamente, minhas bochechas queimavam e, provavelmente, meu rosto estava tingido de vermelho. - Mil perdões!
- Calma... - Ele riu.
- Calma? Você é Koyama Bankotsu! - Esqueci nossas diferenças na hierarquia da literatura. - Eu simplesmente amo os seus livros!
- Ao menos alguém gosta... - A risada dele era uma das coisas mais deliciosas do mundo.
Acho que esqueci a chuva, a tristeza e quem estava na minha frente. Minha personalidade agitada e meio violenta se sobressaíram. Dei um leve soco no ombro dele. Ele pareceu surpreso, mas não insultados ou qualquer coisa... Koyama Bankotsu era um ser humano e isso me assustava.
- Seus livros são divinos. Tenho todos os que foram publicados e os manuscritos que escaparam na internet. - Meu sorriso foi morrendo aos poucos. - Me perdoe. Devo estar parecendo uma louca fanática, prometo que não vou invadir sua casa e te manter prisioneiro.
- Que bom. - Novamente a risada. - Se quiser me torturar por algumas horas eu acho digno ao menos saber o nome da minha perseguidora.
- Eu realmente não tenho educação. - Ri juntamente com ele. - Sou Yamada Rin. Tento escrever, mas acho que nunca chegarei aos seus pés.
- Existem tantos escritores melhores que eu. - Estranhamente eu parei de sentir os braços quentes dele. - Bom, é melhor sairmos da chuva se não vamos ficar doentes.
- Lógico... - Novamente a vermelhidão tomou conta do meu rosto. - Obrigada e foi um prazer...
- O prazer foi meu.
E tão rápido como começou, terminou. Levantei meus olhos e Bankotsu não estava mais lá, porém encontrei um olhar brilhante entre a chuva. Sesshoumaru. Só. Corri para o prédio e entrei. Fechei a porta e me encostei nela. Molhada. O coração acelerado. Nada no meu mundo parecia normal. As coisas nunca aconteciam como deviam.
Bem patético não? Porém "patético" era a palavra da minha vida. A palavra que melhor me define. Encostada na porta há horas atrás, depois de um banho, e horas sem dormir, eu finalmente entendi. Eu falava para mim mesma que nós éramos só amigos, agora sei que sou só amiga. Agora posso finalmente seguir em frente. Voltar a perceber a chuva e parar de julgar todos os homens com quem eu saia e talvez eu finalmente iria me divertir, me apaixonar.
Eu mal dormi, fiz o que havia prometido: chorar até que meu corpo não contivesse mais nenhuma forma liquida. Passei a noite sentada na janela, olhando para as vielas abandonadas, e, logo pela manhã, meu celular tocou. Koyama Bankotsu, logo no inicio da manhã. Aparentemente, jogou o meu nome no google, fez algumas ligações e quer me ver para tomar um café no fim da tarde.
Quem sabe... Bankotsu pode mudar de ideia sobre mim e decidir que não quer me ver mais e talvez Sesshoumaru finalmente me veria... mais do que amiga.
To see if you hold onto me.
I'm in doubt of what is thought and what is real.
RE-EDITADA: Estou editando a história completamente e, assim que acabar, voltarei a postar novos capitulos, sei que demorei muuuito e a história ta quase no final, mas to de volta e pronta pra lançar mais conteudo!
Até :)
