Declaração: Estas personagens da série televisiva"The Lost World by Arthur Conan Doyle" são da autoria de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.

Nota da autora: Esta história foi principalmente baseada nos detalhes do sumário da 4º Temporada.

A Criança

Marguerite encostou-se ao balcão respirando o ar quente e doce da selva. Lá fora, o ambiente estava estranhamente silencioso. De facto, a única coisa que Marguerite conseguia ouvir provinha da Tree-House - era a leve música do gira-discos e as vozes suaves dos seus companheiros. Subitamente alguém atrás dela despertou os seus sentidos apurados após três anos no Planalto - arrepiou-se ao sentir uma respiração pesada. Esta virou-se bruscamente e deu de caras com Lord John Roxton.

- Assustei-te? - Perguntou este delicadamente.

- Não...não. Claro que não - respondeu Marguerite.

- Estás bem?

- Porque não haveria de estar?

Lord Roxton observou-a por uns instantes. Os seus olhos verdes estavam inquietos e a sua boca contraía levemente. Roxton optou por não perguntar nada. Se insistisse ela afastar-se-ia como sempre fazia. Suspirou. Sabia que as coisas continuariam assim mesmo que eles se casassem - ela seria sempre a Marguerite Krux que enfiava os seus problemas algures dentro da sua alma e criava uma barreira a todas as pessoas que gostavam dela. O seu temperamento às vezes era tão desesperante que Roxton pensava em desistir. No entanto, depois dos acontecimentos do último mês, este mal conseguia pensar nos defeitos dela. Aborrecida ou furiosa, ele via sempre a sua beleza interior e a ternura que esta conseguia alcançar quando queria.

- Marguerite, anda juntar-te a nós. O Challenger está a acabar de consertar o chuveiro mas estamos todos ali.

Marguerite afastou-se do balcão e avançou rapidamente até à sala. Veronica, Finn e Malone estavam espalhados em cadeiras a rir e a fumar. A chegada de tabaco proveniente de uma das aldeias, era uma bênção para aquela gente. Estavam todos bem-dispostos e relaxados nas suas cadeiras.

- Ah, Marguerite - sorriu Malone - Café?

- Sim, obrigada - na face de Marguerite desenhou-se um sorriso na visão daquela verdadeira luxúria.

Roxton e Marguerite juntaram-se às conversas. Em breve Marguerite afastou os seus pensamentos negativos enquanto ria e bebia café com os seus companheiros.

A conversa foi interrompida pela chegada de Challenger. Este atirou com um pano para a mesa.

- Raio de chuveiro, o trabalho que aquilo me deu...acho que vamos começar a tomar banho no rio - praguejou

- Então George - começou Finn - Não me lembro de o ver desistir tão rapidamente de um projecto.

Challenger encostou-se à mesa.

- É que existem certos projectos que realmente tornam-se cientificamente impossíveis...

- Challenger, Veronica! Alguém? - Uma voz fez-se ouvir bem alto vinda de fora da Tree-House.

- É a Assai - reconheceu Veronica. Levantou-se e inclinou-se sobre o balcão - Assai? O que se passa?

- Desliguem a corrente por favor. Preciso de falar com vocês.

Finn desligou a corrente e o gira-discos. Passado um pouco ouviu-se o elevador a subir e Assai entrou dentro da casa com um ar preocupado. Estava sem fôlego e durante uns inquietantes minutos sentou-se na cadeira para recuperar da corrida.

- Assai estás a deixar-me nervosa! – Exclamou Marguerite – O que é que aconteceu?

- Tenham calma – disse Assai – Não aconteceu nada de grave mas sim algo…estranho. Apareceu ontem uma criança na nossa aldeia. Era muito de noite e estava tudo silencioso. Havia vigias por todos os lados porque nos últimos tempos temos sido atacados por aldeias vizinhas para nos roubarem comida e água. A seca que está a assolar o planalto é horrível. Estamos no cúmulo do desespero. Enfim, a criança quase que ia sendo morta por ser um intruso na nossa aldeia. Alguns até pensaram que poderia ser uma cilada mas depressa afastámos essas ideias negativas. Hoje de manhã ela adoeceu. Mas o que ela diz…

- O quê? – Perguntou Ned – O que é que ela diz?

- Acho que é melhor irem vê-la.

Todos se entreolharam perante a preocupação de Assai. Roxton deu o primeiro passo agarrando nas suas armas e no seu chapéu. Imediatamente começaram todos a procurar as munições para saírem.

Veronica, após reunir as suas coisas puxou Assai para o seu quarto. Agarrou-lhe na mão com um ar sério olhando-a nos olhos.

- Assai como é que ela é? A criança.

- Porque perguntas? – surpreendeu-se Assai – A verdade é que ela é estranhamente parecida contigo. Por isso é que me surpreendo com a tua pergunta! Tens algum pressentimento?

- Não… - disse Veronica – Não é nada Assai.

Assai manteve-se calada olhando para os olhos profundos de Veronica. Ela sabia que algo estava mal.

- Assai – começou Veronica – Eu conto-te. É que eu ontem…

Veronica foi interrompida por Finn que se encontrava à porta.

- Assai, V desculpem interromper mas estamos todos à espera. Challenger diz que convém partirmos agora ou não teremos tempo para regressar de dia.

Veronica acenou e seguiu Finn até à sala. Todos se encontravam silenciosamente à espera. Malone lançou um ar de preocupação para Veronica mas ninguém disse nada. O silêncio manteve-se quando desceram no elevador e entraram no caminho mais rápido até à aldeia dos Zanga. Embrenhados nos seus próprios pensamentos, o único som que se conseguia ouvir da expedição era o dos passos e de ramos a estalar levemente.

- Não sei o que se passa mas parece que caiu uma nuvem negra sobre nós desde a chegada de Assai – murmurou Malone para Challenger, que seguia um pouco atrás.

- Sim é normal – respondeu Challenger – A explicação é bastante fácil.

Malone olhou-o com surpresa.

- Sabes que nos últimos tempos existe uma onda de paz por aqui. Os últimos acontecimentos devastaram-nos emocionalmente. Reencontros, a busca pelo passado, a luta pela sobrevivência, até mesmo o teu regresso e o nosso desgaste pessoal a nível sentimental. Por vezes mais do que pessoal, quando isso implica mais do que uma pessoa.

- Referes-te à Marguerite e ao Roxton? – Perguntou Malone lançando olhar sobre os dois.

- Não só. – Respondeu Challenger – A verdade é que isto tudo implicou um fim em que todos nós sentimos uma paz – como um descanso para a mente. Foi mais saudável assim. Por isso podes verificar que todos nós andamos mais pensativos – revivendo acontecimentos tanto bons como maus. A vinda da Assai quebrou essa paz temporária.

Malone acenou.

- Tens razão. Sabes, às vezes parece que estamos numa constante luta entre o bem e o mal. A vinda para este planalto ajudou-me a crescer mentalmente. Nunca pensei que esta experiência pudesse enriquecer os meus conhecimentos tal como o fez.

- Não podias estar mais correcto – respondeu Challenger com um breve sorriso.

A expedição avançou pelo caminho até chegar à aldeia. Esta estava anormalmente alerta – as crianças não saíam para a rua e os restantes estavam de olhos postos neles com um ar desconfiado, apesar de estarem acompanhados de Assai.

- Não sabia que tinha havido tantos ataques – comentou Roxton

- Mas têm. Sabem que entrámos num período de seca extrema – os campos e os rios estão secos, o cultivo está completamente parado. Vamos buscar água muito longe daqui e corremos o risco de nos cruzarmos com habitantes vizinhos – quando a fome aperta a luta aumenta – a sobrevivência está no nosso instinto. Já perdermos dois homens e uma mulher mas também já conseguimos afastar muitos desta zona – explicou Assai

A expedição seguiu Assai por entre as pequenas cabanas de madeira. O calor intenso obrigava a população a refugiar-se debaixo das árvores enquanto faziam o seu trabalho – alguns cosiam, outros metiam carne a secar ao sol, outros lavavam a roupa em grandes tigelas com muito pouca água.

Por fim Assai parou, em frente a uma das cabanas. Duas pessoas estavam sentadas à porta e deixaram-nos passar. Entraram todos, invadidos por uma escuridão súbita. As janelas estavam todas tapadas com panos e pequenas velas iluminavam o espaço. Quando os olhos se habituaram ao escuro, conseguiram ver uma pequena cama encostada ao fundo de tudo, e rodeada por muitas pessoas.

Veronica foi a primeira a avançar. Todos abriram uma fresta para ela. Veronica encostou-se à cama e observou a pequena criança adormecida. De repente recuou e quase tropeçou na Marguerite.

- O que foi? - perguntou esta última

Veronica lançou outro olhar. Por baixo de um pano branco, podiam ver-se os cabelos loiros da criança. A sua face adormecida era muito semelhante à de Veronica - tinha um nariz e uma boca pequena e bem desenhada - e quando Veronica recuou mais um pouco esta abriu uns olhos iguais aos dela.