Esclarecimento: Gravitation e seus personagens são de propriedade de Maki Murakami®.
CERTAS COISAS
Por Andréa Meiouh
Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim...
Uma das coisas que mais detestava era voar de avião. Não gostava de ficar ali, sentado naquele espaço fechado, de poltronas apertadas, mesmo com todo esforço das aeromoças. Elas eram solicitas e sorridentes... Aliás, todas eram, afinal quem não o conhecia? Ele era Yuki Eiri e apostava que elas já haviam lido ao menos um livro seu.
No entanto, o motivo real de Yuki não gostar de aviões era que, durante as viagens, pegava-se a pensar na própria vida. E não gostava nada, nada do que via. Não gostava da pessoa que havia se tornado: amarga, superficial. Mas... o que poderia ter feito? Como poderia conviver com a dor, a culpa, a vergonha? Dia após dia, levara sua vida como pôde, construindo ao redor de si um muro intransponível até mesmo para sua família. E num piscar de olhos, olhos intensamente azuis, tudo virava de pernas para o ar.
Virou o rosto para a poltrona ao lado e contemplou a figura adormecida de Shindo Shuuichi.
Cada voz que canta o amor
Não diz tudo que quer dizer
Tudo que cala fala mais
Alto ao coração
Silenciosamente
Eu te falo com paixão
Eram completamente diferentes, como água e óleo, dia e noite, porém estavam inexplicavelmente ligados um ao outro. Quando estava com Shuuichi, lembrava-se de si mesmo, anos atrás, antes de tudo acontecer. Nunca mais seria aquele jovem sonhador. Tinha medo de entregar outra vez o coração e sofrer. Escrevia sobre romance e amor, mas era atormentado por estes sentimentos a cada instante.
Shuuichi sabia disso. Então por que insistia em segui-lo? Dificilmente tinha uma palavra amiga ou o elogiava. Admirava a coragem e a determinação de Shindo. Ansiava a cada instante por um pouco do carinho e atenção que ele lhe dispensava, embora retribuísse todos os gestos do rapaz com palavras e atitudes rudes. Por que não ele desistia?
'E o que teria acontecido comigo se ele tivesse desistido?', pensou, deslizando os dedos delicadamente pelos cabelos rosados. Aquele menino doce e ingênuo havia tomado seu coração de tal forma que Yuki desconfiava que já não poderia viver sem ele.
Eu te amo calado
Como que ouve uma sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas
Que eu não sei dizer
Amava-o. Amava-o pura e simplesmente. Era uma inevitável atração a qual ele não pode resistir e lutar. Não era o destino que havia escolhido e agora não podia escapar. Não havia mais retorno.
Mas não se sentia pronto para um relacionamento, não do jeito que Shuuichi merecia. Queria poder ser o ombro amigo nas horas de dificuldade, o corpo quente para aquecer e livrar do frio da solidão. Queria estar do lado dele a cada momento de alegria e vitória. Queria acompanhar a brilhante carreira que certamente ele teria.
Mas ainda não podia. Não enquanto ainda estivesse repleto de seus demônios interiores. Enquanto não se livrasse da dor que o consumia lentamente. Enquanto ainda convivesse com a culpa, não poderia amar Shuuichi como gostaria. Um dia... Um dia, faria tudo que desejava...
E com os olhos fixos no extrovertido cantor, enfim adormeceu.
FIM
N/A:
Até a próxima,
Andréa Meiouh