Título: Always Keep Fighting
Autora: Mary SPN
Beta: TaXXTi - Obrigada pela betagem relâmpago e pelo apoio!
Protagonistas: Jared Padalecki / Jensen Ackles – J2 / Universo Alternativo
Sinopse: Ainda que tudo pareça estar perdido, a esperança pode ser encontrada em um gesto, ou uma palavra... O importante é continuar lutando.
Nota da autora: O plot desta fanfic surgiu por causa da maravilhosa campanha que Jared vem fazendo em prol das pessoas com problemas de depressão, vícios, automutilação e tendências suicidas. Para quem não o acompanha nas redes sociais, não consigo postar o link da campanha, mas procurem no google por represent . com . jared (tirem os espaços entre os caracteres). A propósito, Jared também passou a usar o facebook, o que foi a melhor coisa EVER. Ele tem sido um fofo postando vídeos sobre a campanha e interagindo com os fãs.
Momento fangirl à parte, quando comecei a pensar sobre este plot, me veio à memória que há alguns anos uma amiga ficwriter me sugeriu que escrevesse algo assim, onde um dos Js fosse depressivo e o outro um atendente do CVV. Eu não fui capaz de escrever o plot na época, porque a inspiração não ajudou. Então, mesmo que ela já não escreva nem leia mais fanfics, os créditos vão para a Michelle. Já o desenvolvimento da história, é todo por minha conta. Deixem-me saber se gostaram, ou não. Ah, a fanfic será curtinha, provavelmente 3 capítulos.
Always Keep Fighting
Capítulo 1
Jensen.
O despertador tocou pela terceira vez e Jensen pensou em atirar seu celular contra a parede; mas ao invés disso, apenas se virou de bruços, enfiando o rosto no travesseiro e gemeu em frustração.
Já eram quase sete horas e tinha que se levantar, embora o seu corpo protestasse contra qualquer movimento. Quantas horas havia dormido? Duas? três? Já não se lembrava que horas eram da última vez que olhara no relógio durante a madrugada insone.
Assim eram quase todas as suas noites. Os remédios já não faziam mais efeito, então desistira de tomá-los, simplesmente porque estava cansado. Cansado de tudo.
Não se lembrava exatamente quando a sua vida tinha se tornado um fardo. Era gay desde que se conhecia por gente, embora os seus pais homofóbicos preferissem ignorar o fato. Tinha poucos amigos, por causa do seu jeito reservado, mas até um ano atrás, sua vida era perfeita.
Aos seus 26 anos, era formado em Finanças e tinha um bom emprego como chefe do departamento financeiro de uma grande empresa; um namorado lindo e carinhoso, morava em seu próprio apartamento, e pretendia adotar um cachorro.
Então tudo desandou. Descobriu que o seu namorado o traía; de repente, viu diante de si uma daquelas cenas ridículas de novela, onde o namorado traído volta mais cedo de viagem e encontra a pessoa amada na cama com outro. Na prática, sentindo na própria pele, não era nada engraçado. Mas isso tinha sido apenas o começo.
Dias depois, foi demitido do seu trabalho, com a alegação de que a empresa precisava de alguém com mais experiência no cargo. Jensen tinha certeza de que não tinha nada a ver com aquilo, e sim com o fato do seu gerente tê-lo visto com seu namorado em uma festa, uma semana antes. Sua competência nunca fora questionada até descobrirem que era gay.
Pensou em processar a empresa, na época, mas não tinha provas e também sabia que seu pais não suportariam a "vergonha" de ver um filho gay se assumir publicamente.
O fato de procurar outro emprego e ser rejeitado várias vezes, somado à rejeição e traição do namorado, fez com que o loiro se sentisse um inútil. Como se nada do que fizesse fosse bom o suficiente. Com o passar do tempo, um misto de frustração, tristeza e desânimo se apoderou do seu ser. Já não se reconhecia mais.
Quando, meses depois, Jensen passara um final de semana inteiro trancado em seu apartamento, sem falar com ninguém, sem se alimentar ou sequer tomar banho, seus pais interferiram e praticamente o obrigaram a ir morar na casa deles. No início, até foi bom, a companhia dos seus pais e o movimento constante na casa o distraíam dos seus próprios problemas, mas não por muito tempo.
Jensen passou a se sentir cansado o tempo todo e isso fez com que parasse de uma vez de sair com amigos, se isolasse em seu quarto e se afundasse ainda mais em sua própria amargura. Desde a traição do seu ex, já não namorava mais, nem mesmo para sexo tinha vontade, e já não gostava da imagem que via diante do espelho.
Já houve um dia em que se achara bonito e até acreditava nos elogios e nas cantadas que recebia. Não mais. Tinha deixado a barba crescer mais que o habitual, assim como os cabelos, que antes usava bem curtinhos e arrepiados. Não se preocupava mais com sua aparência, pois não queria ser enxergado. Só queria que as pessoas o deixassem em paz.
Jensen finalmente se levantou e foi tomar um banho. Depois de se vestir, foi para a cozinha tomar café e teve que ouvir seus pais conversando sobre o quanto a filha da nova vizinha era bonita e que já estava na hora de ele, Jensen, arranjar uma namorada. Que talvez assim ele voltasse a se arrumar e saísse um pouco de dentro de casa.
O loiro ignorou os comentários, já havia aprendido a desligar sua mente. Anos de prática tornaram sua audição seletiva. Passou por eles sem dizer nada e foi até a oficina que ficava ao lado da casa.
Depois de várias tentativas frustradas, acabou desistindo de encontrar um novo emprego e passou a fazer um bico ali, na oficina do seu pai. Como quase não saía de casa, precisava de pouco dinheiro para se manter. Fazia o trabalho manual, e deixava que seu pai e outro funcionário atendessem aos clientes. Quanto menos contato com pessoas, melhor.
Trabalhava em um carro e já era quase final da tarde quando sua tia, Samantha Ferris, apareceu na oficina. Jensen sempre gostara muito dela, era muito querida, atenciosa e divertida, mas ultimamente a estava evitando também.
- Humm... Com um mecânico lindo desse jeito, imagino que a clientela do seu pai deve ter aumentado – Samantha comentou ao se aproximar do carro em que Jensen estava trabalhando.
O loiro largou as ferramentas e sorriu, apesar de não estar com a menor vontade de conversar com ela. Diferente de outros tempos, em que conversavam sobre tudo e davam muitas risadas juntos.
- Hey – Cumprimentou sem muita animação.
- Como você está? – Samantha logo percebeu que ele estava ainda pior do que a última vez que o vira.
- Eu estou bem.
- Você sempre foi um péssimo mentiroso, Jensen. Venha cá, dê um abraço na sua tia – Samantha o puxou para seus braços. – Vamos sair um pouco? Tomar um café?
- Eu ainda tenho trabalho a fazer por aqui – Jensen olhou para o carro que estava consertando.
- Só 15 minutos, meu anjo. Tenho certeza que o seu pai não vai se importar – Samantha insistiu.
- Tia Sam, eu realmente não estou com disposição para sair. Me desculpe - Jensen tentou responder com educação.
- Eu sei - Samantha cruzou os braços. - Mas eu também não estou disposta a desistir. Vamos lá, querido. Por favor?
Jensen bufou, mas acabou concordando. Faria qualquer coisa para ela ir embora logo e largar do seu pé.
Tirou o jaleco da oficina que usava por cima das roupas e foi lavar suas mãos, antes de saírem.
Foram no carro de Samantha e ela parou na cafeteria mais próxima. Pediram café expresso e pãezinhos de queijo fresquinhos, e Jensen percebeu o quanto estava faminto, já que não tinha comido quase nada no almoço.
- E então? Tem algo que você queira me falar? – Samantha perguntou, desistindo de esperar que seu sobrinho iniciasse uma conversa.
- Não. Eu não tenho nenhuma novidade, você sabe – Deu de ombros.
- Você faz o meu coração apertar, sabia? - A mulher falou, olhando bem dentro dos seus olhos verdes e tristes.
- Não precisa sentir pena de mim, eu estou bem.
- Você está longe de estar bem, Jensen. Quando foi a última vez que namorou, que saiu com os amigos, ou que foi à procura de um novo emprego?
- Eu não preciso de um novo emprego. Já tenho um.
- Claro. Como se passar horas na oficina com seu pai fosse uma boa opção. Jensen... E quanto à sua carreira? Você se dedicou, estudou tanto pra isso?
- Eu fiz muitas entrevistas de emprego, tia Sam. Parece que eu não sou bom o suficiente.
- Não é bom o suficiente? Jensen...
- Eu realmente não quero falar sobre isso – Jensen a interrompeu e percebeu que o seu apetite pelos pães de queijo já não existia mais. Só queria voltar para casa.
- Eu entendo. Mas você realmente precisa tentar, querido. Falar sobre o que sente é um grande passo na cura da depressão. Eu só quero poder te ajudar de alguma maneira.
- Eu não preciso de ajuda, só quero poder ficar quieto no meu canto. Será que é pedir demais? – Jensen se controlou para não levantar a voz.
- Jensen, você já ouviu falar no CVV?
- O quê?
- Eu tive um aluno na universidade ano passado, um dos meus preferidos, muito falante, um doce de pessoa – Samantha sorriu ao se lembrar dele. – Ele era voluntário nessa organização.
- Do que se trata? – Jensen não estava realmente interessado. Só queria que ela concluísse logo para poderem ir embora.
- É um grupo de apoio emocional, onde tem pessoas dispostas a conversar sobre o que você quiser. Eu sei que você não gosta de falar sobre os seus problemas, por isso eu acho que é uma boa opção. Você pode ligar anonimamente, a hora que quiser. Sempre vai ter alguém lá pra te ouvir, sem te julgar, nem questionar. Você deveria tentar. Pode te fazer bem.
- E que tipo de pessoa se voluntaria pra algo assim? – Jensen riu, sem humor. – Sério? Ficar ouvindo os problemas dos outros?
- Talvez alguém que já passou por algum problema e precisou de ajuda, ou simplesmente alguém disposto a ajudar... eu não sei. Promete pra mim que vai ao menos tentar? – Samantha o olhava, esperançosa. Era difícil demais ver alguém que tanto amava carregando toda aquela tristeza.
- Eu prometo – Jensen concordou apenas para deixa-la feliz.
xxxxxx
Jared.
Jared bebeu sua xícara de café quase de um só gole ao ouvir a buzina do carro de Zack em frente a sua casa.
- Esse seu amigo vive com pressa? – Sharon, a mãe de Jared reclamou.
- Eu é que estou atrasado – Deu um beijo estalado na bochecha da sua mãe. – Comportem-se vocês dois – Falou, roubando uma torrada do prato da sua mãe e dando um beijo no topo da cabeça do seu pai, antes de sair correndo.
Jared era recém formado em TI, mas atualmente trabalhava com seu amigo Zack em uma escola de informática. Dava aulas de programação para adolescentes, o que não era exatamente o emprego dos seus sonhos, mas gostava de lidar com pessoas, e preferia isso a ficar confinado em um escritório o dia inteiro. Os horários eram flexíveis e assim podia se dedicar a outras coisas.
Essas "outras coisas" incluíam dar aulas de iniciação à informática aos idosos da sua comunidade, coisa que sua mãe havia lhe arranjado e que Jared fazia com muito prazer. Era interessante acompanhar as pessoas que antes sequer sabiam ligar um computador, de repente estarem navegando na internet e encontrando nela um novo tipo de entretenimento. Segundo sua mãe, isso também o ajudava a praticar um dom que antes Jared não possuía: a paciência.
Uma noite por semana, também era voluntário em um dos Centros de Valorização da Vida. Fez todo o treinamento e o trabalho consistia em ficar lá por algumas horas, atendendo ligações e conversando com as pessoas. Basicamente, ouvindo seus problemas e tentando dar algum apoio emocional, sem conselhos ou julgamentos.
No início fora difícil, já que Jared sempre gostara mais de falar do que de ouvir, o que, segundo dona Sharon, também estava fazendo dele uma pessoa melhor.
Sua mãe também era voluntária no CVV, além de organizar eventos beneficentes, fazer visitas em asilos, orfanatos, e apoiar a comunidade LGBT. Seu pai não era voluntário, nem agia diretamente, mas também ajudava a arrecadar fundos para as doações e campanhas que Sharon participava.
Seu irmão Jeffrey, como médico, também fazia sua parte. Jared tinha muito orgulho da sua família, e se considerava muito feliz e abençoado.
Mas nem sempre fora assim. Até mais ou menos dois anos atrás, seus pais não aceitavam sua homossexualidade, mal conversavam dentro de casa, pois cada um vivia em seu próprio mundo, ocupados demais para se importarem. Uma tragédia teve que acontecer para que um dia Gerald reunisse a família e decidisse que algo precisava ser feito.
Seu primo mais querido e mais próximo dos seus pais se suicidara, e isso chocou toda a família. Só depois do ocorrido, vieram a saber que ele era gay e que já não aguentava mais viver sob pressão, escondendo quem realmente era. O mais doloroso é que ninguém percebeu que ele precisava de ajuda, talvez por estarem ocupados demais com suas próprias vidas medíocres.
Demorou para que Jared e o restante da família se recuperassem daquela tragédia, mas ajudar os outros foi a maneira que encontraram de dissipar a dor.
Agora eram uma família unida, e trabalhavam pelo mesmo objetivo. A homossexualidade de Jared já não era mais vista como algo errado, e seus pais faziam questão inclusive de conhecer os seus namorados. Embora, com a vida corrida que levava, Jared já nem tirasse mais tempo para isso. Há muito tempo não namorava e quase já não tinha mais vida social. Mas não podia reclamar, era feliz assim.
Depois do trabalho na escola de informática, no final do dia, Jared voltou para casa apenas para tomar um banho e jantar com sua família, antes de ir para o CVV, que ficava há duas quadras da sua casa.
Como sempre, chegou lá bastante animado. Era gratificante quando recebia ligações e realmente podia ajudar alguém, mas muitas vezes também recebia trotes de pessoas mal intencionadas.
Atendeu prontamente quando o telefone tocou, mas ninguém falou nada, só havia silêncio.
- CVV. Centro de Valorização da Vida. Em que posso ajudá-lo? - Perguntou, e ao não receber resposta, a primeira coisa que passou pela sua cabeça era que fosse um trote. Mas ao ouvir o som da respiração desregular do outro lado da linha, Jared sabia do que se tratava. Provavelmente alguém que tivera coragem de fazer a ligação, mas não sabia o que dizer ou perdera a coragem de falar. Não era a primeira vez, e não seria a última.
- Olá. Tem alguém na linha? - Insistiu. - Eu sou Jared, posso ajudar em alguma coisa? - Esperou mais alguns segundos, sem resposta. - Se você não disser nada, eu terei que desligar pra não deixar a linha ocupada, mas... Eu estarei aqui pelo menos por mais três horas essa noite, então... Se você quiser ligar pra bater um papo, ou falar sobre qualquer coisa, eu estarei aqui, pronto pra te ouvir - Jared sorriu. - Sem contar que as horas demoram demais pra passar quando ninguém liga e eu já estou cansado de jogar candy crush no meu celular, então... Ligue de volta quando você sentir vontade, eu vou estar aqui esperando. – Jared falou e, ao não obter nenhuma resposta, desligou o telefone.
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Jensen.
Os dias seguintes tinham sido angustiantes. Jensen praticamente se arrastava para fora da cama todos os dias; só queria poder dormir o dia todo, ou quem sabe para sempre, assim não precisava pensar no quanto a sua vida era infeliz.
Depois do jantar, voltou para o quarto, que era o seu refúgio, e olhou para o papel que estava sobre o criado mudo, com o número do telefone do CVV, que sua tia Samantha tinha lhe informado. Pegou o papel na mão, e por um momento ficou curioso. Falar sobre o que sentia com um estranho qualquer talvez pudesse trazer algum alívio. Ou não.
Num impulso, pegou o telefone e discou o número. Esperava que demorassem a atender, mas no segundo toque já ouviu a voz muito simpática de um atendente.
"CVV. Centro de Valorização da Vida. Em que posso ajudá-lo?"
Jensen abriu a boca, querendo falar, querendo pedir ajuda para tirar toda aquela angústia de dentro do seu peito, mas sua voz se recusava a sair. O que diria, afinal? O homem do outro lado da linha sequer o conhecia, por que estaria interessado em seus problemas? O que pensaria de alguém que, com 27 anos, se sentia um fracassado e não conseguia encontrar um motivo para seguir em frente? Que era um covarde? Jensen sentia vergonha de si mesmo por ser tão fraco.
"Olá. Tem alguém na linha?" - O atendente insistiu. "Eu sou Jared, posso ajudar em alguma coisa?" - Ele continuou a falar e Jensen se lembrou do que sua tia Samantha dissera:"Sempre vai ter alguém lá pra te ouvir, sem te julgar, nem questionar."
"...Sem contar que as horas demoram demais pra passar quando ninguém liga, e eu já estou cansado de jogar candy crush no meu celular, então... Ligue de volta quando você sentir vontade, eu vou estar aqui esperando."
Jensen ouviu o telefone ser desligado e percebeu que já se sentia um pouco melhor apenas por escutar Jared, com sua voz animada, falando sem parar, sem nem mesmo ter certeza que havia alguém do outro lado da linha. De de repente ficou curioso. Ele parecia mesmo disposto a conversar… Poderia pelo menos tentar?
Continua...
