MINI PRÓLOGO
- Há apenas uma vaga – ele disse olhando de um para o outro – Faz muitos anos que não aceito aprendizes. Infelizmente, a diretora é a favor de que todos os professores devam aceitar aprendizes – ele levantou o queixo sem deixar de encarar os jovens – Eu estava torcendo para que não houvesse inscrições, assim não precisaria lidar com vocês... Estudantes. Imaginem, então, qual foi a minha alegria quando vejo que houve interessados... A prova que realizaram era para excluir um dos dois e, para aumentar ainda mais minha alegria, vocês fizeram a mesma quantidade de pontos.
Ele fez uma pausa e jogou os cabelos negros e oleosos para trás. Os dois jovens olhavam apenas para o ex-professor de poções deles. Não emitiam um som.
- Então fui obrigado – Snape fazia questão de marcar certas palavras – a convidar os dois a acompanharem minhas aulas durante esse ano letivo e, ao final, decidir quem ficará. Farão uma prova. Uma prova muito difícil. A partir dela e das minhas observações eu decidirei quem será o meu aprendiz. Alguma dúvida?
Os dois balançaram a cabeça, ainda em silêncio.
- Senhorita Granger, - ele disse de forma fria – não pense que por ter sido salvo por seu amiguinho, isso influenciará na minha escolha.
- Não penso isso, professor Snape – ela disse, a voz baixa. Hermione esperou que ele dissesse que também não seria influenciado por ser padrinho de Draco, que estava sentado ao seu lado em uma veste impecável.
Só que Severus Snape nada disse. Hermione mordeu os próprios lábios.
- Agora, retirem-se da minha sala e voltem na próxima semana.
Os dois levantaram e saíram. A porta fechou-se atrás deles e ambos seguiram pelos corredores de Hogwarts, que estava completamente vazia, afinal, as aulas teriam início apenas na outra semana.
- Poupe seu tempo, Granger... E o tempo de Snape.
- Medo de perder novamente para um Grifinório, Malfoy? Afinal... Há quanto tempo sua casa não ganha uma taça? Seja na competição das casas ou no quadribol?
O loiro lançou um olhar fulminante para ela. Apressou o passo e parou na frente dela, inclinou-se para olhá-la com raiva e frieza. Hermione apenas ergueu uma sobrancelha.
- A vaga será minha, Granger.
- Isso é o que veremos, Malfoy.
- Eu não vou jogar limpo.
- Diga algo que ainda não sei... – ela rebateu, em tom de deboche. Draco estreitou os olhos cinza e virou-se. Seguiu seu caminho e desapareceu em um dos corredores. Hermione esperou que ele se afastasse. Aquele ano seria, sem dúvida... Interessante.
SETEMBRO
- Hermione, sentiremos sua falta! – Gina disse, abraçando a amiga. Ao seu lado, Harry e Rony, ambos trabalhando como aurores, enquanto a ruiva tinha iniciado uma carreira como artilheira no Holyhead Harpies.
- Tem certeza que passará um ano tentando uma vaga para trabalhar com o seboso? – Rony perguntou, levando um tapa na cabeça de Harry. O moreno ainda tinha bem viva as lembranças de Snape.. – Aiii, Harry! Desculpe, desculpe... De qualquer forma... Um ano convivendo com Malfoy? Sabe que não precisa disso, Mione...
- Concordo com o Ron nessa... – Harry disse, sua mão sobre os ombros da namorada – Você recebeu convites de vários departamentos no Ministério!
- Acontece que quero trabalhar como curandeira e saber mais sobre poções é fundamental! É um diferencial na minha carreira. Ser aprendiz de Snape conta muito, sabiam? Ele é referência nessa área.
O ruivo rolou os olhos, mas puxou a amiga para um abraço.
- Se o Malfoy te provocar, se ele falar qualquer coisa ou tentar qualquer coisa, você vai nos chamar?
Hermione queria dizer que podia dar conta de Draco Malfoy muito bem, mas apenas concordou com Rony. Depois da caça às horcruxes havia entre os três um elo ainda mais forte. Ela e o ruivo tentaram namorar por alguns meses, só que foi um desastre. Eram muito melhores como amigos.
Harry despediu-se e a garota entrou no trem ao ouvir o apito.
Quando terminara Hogwarts, três anos antes, não pensara em voltar para aquele trem. Não como estudante, pelo menos. Muitas carreiras passaram pela sua cabeça, ela tinha NIEMs suficiente para escolher qualquer uma. Foi fazendo trabalho voluntário no Saint Mungus que acabou optando por curandeirismo pediátrico.
Um curandeiro com especialização em preparo de poções daria ótimos créditos para ela. Por isso, trancou sua formação como curandeira e foi tentar a vaga como aprendiz de Snape. Era uma oportunidade de ouro. Ela só não contava que Malfoy concorresse à mesma vaga, que fizesse os mesmos pontos e, agora, teriam que disputar entre si. E Hermione sabia quem tinha mais chances. Snape sempre deu preferência à Draco Malfoy.
Ela sentou-se na cabine que havia sido reservada para ela e Draco, já que ambos não eram mais estudantes. Encontrou o loiro sentado, olhando pela janela. Ela não o cumprimentou e não pensava em ser educada. Apenas ajeitou seu malão, pegou um livro e começou a ler.
Quando deu por si, já tinha chegado em Hogwarts. Hermione não parara de ler por um minuto sequer. Era realmente um CDF sem graça aquela garota... Não que houvesse muito que fazer. Draco apenas olhara pela janela o tempo todo. Seu pensamento imerso na bagunça que sua vida havia se tornado.
Seu pai preso. Sua mãe foi solta após cumprir alguns meses de cadeia. Ele também ficou uns meses naquele lugar horrível. Porém, conseguiu ser liberado. Afinal, não tinham matado ninguém. No entanto, cumpriu pena por ter permitido a entrada de Comensais em Hogwarts.
E também por que... Fechou os olhos com força. Mas nada poderia apagar o peso que ele carregava e o motivo por estar ali, o principal motivo por ter aceitado ser aprendiz de Snape.
Quando percebeu, estava sozinho na cabine. Retirou-se e seguiu até uma carruagem. Notou que alguns estudantes olharam para ele de forma assustada. Obviamente sabiam que ele era Draco Malfoy. Olhou-os com superioridade. Ajeitou a gravata com as cores da sonserina e sentou-se no mais completo silêncio.
Hermione chegou ao Salão Principal sob olhares e dedos apontados. Claro que sabiam quem ela era. Alguns vieram conversar com Hermione, perguntar sobre Harry, sobre a guerra e sobre as horcruxes. A garota respondia educadamente e com um sorriso no rosto.
- Boa noite, senhorita Granger – Minerva disse, sorrindo – Como está?
- Estou bem, diretora. Ansiosa pela oportunidade de tentar a vaga, apesar de saber que Snape não vai facilitar.
- Snape nunca facilitou, não é mesmo? Mas tenho certeza que ele será justo com você e – ela interrompeu-se, olhando um ponto sobre o ombro de Hermione – Oh, senhor Malfoy. Venha até aqui que preciso falar com os dois antes do processo de seleção.
- Boa noite, diretora – o rapaz falou, sem lançar um único olhar para Hermione.
- Acompanhem-me – ela falou, lançando o olhar de um para o outro – Vocês terão um lugar na mesa dos professores. Aqui – ela apontou onde dois pratos já estavam postos em uma das pontas – Eu... Bem... Conheço muito bem os dois e sei que no passado... No passado tiveram suas diferenças. – ela ajeitou os óculos - Agora, no entanto vocês não pertencem mais às casas – a diretora disse, encarando a gravata do ex-sonserino que não se abalou – Essa disputa não deveria existir entre vocês...
- De qualquer forma estaremos disputando algo... A vaga – Draco disse, jogando os cabelos para trás. Hermione o olhou incrédula. Até Minerva McGonagall ficou alguns segundos sem saber o que dizer.
- Sim, senhor Malfoy... Espero, no entanto, que haja respeito. De ambas as partes... Entenderam? – Hermione assentiu, mas Draco deu de ombros – Depois do jantar Filch levará vocês até o aposento que irão compartilhar no sétimo andar.
- Compartilhar? – ele perguntou, sem esconder o tom de desprezo.
- Sim, . Vocês dividirão um aposento. Filch explicará após o jantar. Tenho uma seleção para conduzir. Aguardem em seus lugares – a diretora apontou para as cadeiras e retirou-se. Draco bufou e sentou em uma delas, Hermione na outra.
- Era o que me faltava... Dividir um aposento com...
- Com...
- Com você. – ele disse, olhando-a com frieza. Jogou os cabelos para trás.
- Ainda arrogante... Achei que um tempo em Azkaban pudesse mudar algo nessa sua cabeça oxigenada...
Draco fingiu não ouvir a ofensa. Ajeitou a gravata que não precisava de nenhum ajuste.
Quando o jantar foi encerrado, eles foram conduzidos por um Filch ainda mais resmunguento para os aposentos. Draco xingou a diretora em pensamento... Por que tinham que ficar tão longe de tudo? A única vantagem era estarem próximo da Sala Precisa... Se bem que entrar lá não era um pensamento que agradava o loiro.
Já Hermione relembrava o caminho que fez por tantos anos com seus amigos para chegar até a Torre da Grifinória. Lembrava-se do quinto ano e da Armada de Dumbledore, dos treinos escondidos. Sorriu de forma nostálgica.
- Patética... – Draco murmurou, notando a reação dela. O loiro andava com a mão nos bolsos. A morena abriu a boca para reagir, mas foram interrompidos pelo pigarreio alto de Filch.
- Se os pombinhos já pararam com a troca de elogios será que eu poderia mostrar o aposento? Tenho mais o que fazer!
- Não parece... – Draco respondeu.
- O que disse, Malfoy? – o zelador aproximou-se do loiro, seus poucos dentes pareciam ainda mais amarelos e seu hálito mais forte. Aquilo não causou nenhum medo no loiro, que apenas encarou Argus, meneando sua cabeça. Agora, era o zelador que precisava olhar para cima – Cuidado com sua língua... Você não é mais o garotinho do papai.
- Cuidado com a língua, seu aborto! Suas ameaças não me causam medo nenhum por que você está certo: não sou mais o garotinho do papai.
Hermione olhou para Draco, que tinha os olhos cinzentos escuros de fúria. Involuntariamente, deu um passo para trás, chamando a atenção dele.
- Você ainda vai pagar por isso, moleque... – Filch sibilou, devolvendo a intensidade do olhar do rapaz loiro.
- Isso é o que veremos – Draco rebateu, a voz baixa. Hermione desviou o olhar quando ele a encarou.
O zelador abriu uma porta, os três entraram e depois ele disse, de forma ainda mais ríspida:
- Vocês dividirão esse quarto. Pensem em uma senha. A mala de vocês já está aqui – ele virou-se e saiu batendo a porta de forma estrondosa.
- Seguinte, Granger: eu quero e vou conseguir essa vaga. Essa competição vale muito mais que a bosta de uma taça. Estou aqui para ganhar – ela cruzou os braços e meneou a cabeça – Nós dividiremos esse espaço. Apenas isso. Você não fala comigo e eu não perco meu tempo falando com você. Está entendido?
- Não sabia que você dava as ordens por aqui, Malfoy.
- Deveria saber, já que não passa de um sangue sujo – ele respondeu, friamente. Antes que Hermione pudesse falar mais alguma coisa, o loiro já tinha pegado seu malão e andava em direção a um dos quartos.
Ela balançou a cabeça e foi para o quarto que ficava do lado oposto.
- Estejam na minha sala 15 minutos antes da aula começar para receberem as orientações – Snape apareceu tão de repente, que Hermione quase derrubou seu café. Draco, porém, não se assustou com a inesperada aparição. O ex-sonserino apenas assentiu com a cabeça.
- O que será que ele quer? – ela perguntou, sem realmente pensar para quem estava dirigindo a palavra.
A resposta que recebeu foi o silêncio.
- Sentem-se – Snape disse, no seu habitual tom de frieza – Vocês serão responsáveis por manter a sala limpa e organizada entre minhas aulas. Como não é detenção, poderão usar as varinhas. Aqui está o calendário das aulas – ele disse, e, com um floreio, dois pergaminhos voaram em direção aos jovens – Granger, você será responsável por organizar a sala às segundas, quartas e sextas. Malfoy, fica com terça e quinta.
- Mas isso não é justo, professor! – Hermione protestou, visivelmente indignada. Severus Snape simplesmente recostou-se na cadeira, cruzou as mãos sobre o peito e levantou uma sobrancelha.
- O que disse, senhorita Granger? – ela corou na hora e desviou os olhos, mas repetiu com a voz um pouco menos esganiçada.
- Isso não... Bem... A divisão não está igual, professor. É... eu.. Eu ficarei responsável por três dias, enquanto Malfoy, por dois...
- Eu sei fazer contas, Granger – Snape disse, enquanto Draco soltava uma risada baixa e irônica. Porém, o loiro calou-se sob o olhar severo do professor de poções – Você, como minha aluna por seis anos, Granger, deveria saber que não gosto de interrupções. E nem de ser contrariado. Se a senhorita tiver algum problema com a forma como eu arranjo suas tarefas... – ele apontou a porta. Hermione olhou para Snape, ergueu o queixo e falou:
- Nenhum problema, professor.
E Hermione ouviu, novamente, como ela ficaria responsável pela organização/limpeza da sala três dias na semana. E também como seria a tutora da Lufa-lufa e Grifinória. Ela pensou em protestar, mas fechou a boca antes que qualquer palavra saísse. Claro que ela confiava nos alunos de ambas as casas, porém era de conhecimento geral que ambas também abrigavam um maior número de nascidos trouxas. Dessa forma, seus aprendizes de primeiro e segundo ano teriam muito mais dificuldade que os nascidos em famílias de sangue puro. Era claro para ela que a separação feita por Snape era totalmente parcial.
E como poderia ser diferente?
OUTUBRO
Hermione não viu o mês de seu aniversário passar. Tampouco comemorou com seus amigos, apesar de ter recebido corujas o dia inteiro – o que irritou Draco profundamente. Ela gostou disso e pediu que seus amigos mandassem corujas, mesmo que não houvesse nada para contar.
E foi com o "bom" humor de Draco que Hermione deparou-se naquela manhã de sábado.
- Será que seus amiguinhos não têm mais o que fazer a não ser enviar corujas?
- Será que você não tem mais o que fazer ao invés de reparar na minha correspondência? – ela rebateu, levantando uma sobrancelha.
- Sim, tenho muito mais o que fazer – Draco respondeu, olhando-a com firmeza – acontece que é bem difícil eu me concentrar nas minhas atividades se essas malditas aves não param de entrar aqui ou de bicar as janelas!
Hermione deu de ombros e saiu para tomar seu café-da-manhã. O loiro, no entanto, permaneceu em seus aposentos fazendo suas tarefas.
Querendo evitar outro conflito, Hermione passou o dia fazendo suas tarefas na Biblioteca. Saiu para almoçar com seus amigos e voltou para Hogwarts apenas à noite. Tanto ela quanto Draco poderiam circular livremente pelo castelo, inclusive sair quando quisessem.
Quando retornou, já passava da meia noite. Entrou em silêncio. Alguns archotes iluminavam a sala comum que havia entre os quartos. Encontrou na mesa os livros de Draco, assim como seus pergaminhos. O loiro dormia no sofá. Ela notou que ele parecia ainda mais pálido, se isso fosse possível. Os fios loiros e finos caíam sobre o rosto e as almofadas em que ele apoiava a cabeça.
Hermione precisava admitir que Draco Malfoy sabia vestir-se bem. Apenas ele parecia misturar roupas impecáveis com um desleixo que o deixava... sensual. A camisa entreaberta, deixando uma parte do seu peito à mostra. A calça preta que se ajustava ao corpo esguio. As mangas de sua camisa estavam dobradas até o cotovelo e Hermione não pôde deixar de reparar que não havia ali nenhuma tatuagem de caveira.
Claro que Hermione sabia que Draco não era Comensal, mas sempre gostara de conferir as informações ela mesma... A garota não sabia quando se aproximou tanto, apenas notou que estava bem próxima quando ouviu que ele começou a murmurar algumas palavras e mexer-se no sofá.
Um pesadelo.
- Não, tia... Eu... eu realmente não sabia... eu não tinha certeza...
- Malfoy? – Hermione o chamou. Aproximou-se um pouco mais... O loiro estava suando. Ela o tocara uma única vez: quando deu um soco nele no terceiro ano. Será que tentava acordá-lo com um rápido toque? Seus dedos a milímetros do braço nele – Malfoy, você está tendo um pesadelo. Acorde.
Ela hesitou, sem saber se deveria tocá-lo ou não. Porém, os pedidos dele pedindo que a tia não fizesse algo continuaram. E ela sabia muito bem do que Bellatrix era capaz.
- Malfoy, acorde! – ela pediu novamente. As palavras dele tornaram-se incompreensíveis, até que o loiro, ainda dormindo, rasgou sua própria camisa. Receosa, Hermione deu um passo para trás. Porém seus olhos estavam fixos no peitoral e abdômen que ela não achara que seriam tão definidos.
As luzes bruxuleantes dos archotes deixava a cena toda mais... Perfeita.
Certo, ela pensou consigo mesma, aquilo não podia continuar. Balançou a própria cabeça e voltou a se aproximar, seus dedos tocando o braço dele.
- Acorde, Malfoy! – disse um pouco mais alto – Merlin, Malfoy! – ela inclinou-se e sua mão foi instintivamente para a testa dele ao notar que o loiro parecia arder em febre.
Assim que o tocou novamente, viu que os olhos dele se abriram. Fúria. Tentou se afastar, mas logo sentiu as mãos deles fechando-se ao redor do seu pescoço. Em questão de milésimos de segundos, ele estava em pé. Raiva.
Sentiu seu corpo chocar-se contra a mesa. Aquilo doeu, mas não respirar era o pior. Suas mãos no punho dele tentavam afrouxar o aperto. Claro que não adiantava. Sua voz não saía claramente.
- O que pensa que está fazendo, Granger?
- Eu... – ela queria dizer que não conseguia respirar. Tudo estava mais escuro? Quando a sala começou a girar?
Draco notou que fazia muita força e afrouxou a pressão, mas sem soltá-la. Sem saber exatamente o porquê, ela começou a se explicar. Era como se algo nele a fizesse falar a verdade sem questionamentos.
- Eu cheguei de Hogsmeade e te encontrei dormindo. Você começou a falar sozinho... Um pesadelo... Eu fui te acordar e você pareceu febril. Você está quente, Malfoy... Eu comecei a fazer o curso de curandeira e...
- Poupe-me de mais um de seus discursos intermináveis, Granger – Draco falava em voz baixa. A frieza de sua voz contrastando com sua pele quente – Eu fiz uma pergunta e você já a respondeu – eles se olhavam nos olhos. Castanho amedrontado contra cinza tempestuoso.
Draco Malfoy nunca havia tocado uma sangue-ruim. Ele aprendeu a lição com seu pai, que havia aprendido com seu avô, que havia aprendido... E Draco notou que não havia nada de tão ruim em tocar uma nascida trouxa. Granger tinha a pele macia e cheirava a baunilha. Baunilha era seu sorvete preferido.
Balançou a cabeça e afastou-se dela rapidamente, soltando-a. Hermione levou a mão até o próprio pescoço e respirou profundamente.
Um silêncio mortal caiu entre ambos. Havia apenas o som do archote crepitando.
Draco olhou para baixo e viu o que tinha feito com a própria camisa. Sua varinha estava sobre a mesa, atrás de Hermione. Caminhou até lá e viu que ela retesou o corpo... Uma lembrança invadiu sua mente: lembrou-se da primeira vez que notou como sua mãe ficava receosa e temerosa quando estava com seu pai. Só depois ele foi entender que isso acontecia por que ele já havia batido nela. E, ainda criança, Draco jurou que jamais machucaria uma mulher de forma covarde. Ele tinha acabado de quebrar a própria promessa.
- Merda...
O xingamento foi tão baixo que Hermione não ouviu, mas virou-se para ele. A varinha entre seus dedos. Estava preparada. Ele pegou a própria varinha e deu dois passos na direção dela, Hermione fez posição de defesa. Sua varinha erguida. Draco simplesmente rolou os olhos.
- Deixe-me ver seu pescoço – era uma ordem.
- Eu posso me curar sozinha, Malfoy.
- Eu fiz a merda, Granger. Eu corrijo – ele disse. E Hermione realmente pensou em rebater, mas aquela sensação que deveria obedecê-lo surgiu novamente. Abaixou a varinha e jogou seus cachos para trás.
Baunilha. Ele mordeu os próprios lábios e focou-se no pescoço. Aquela tampouco era uma boa ideia. Viu a marca dos seus dedos e percebeu que tinha exagerado. Muito. Fez um feitiço mental e curou-a.
- Obrigada... Bem... – Hermione começou, escolhendo as palavras – Se precisar tem poção anti-térmica no banheiro... Vou deitar... – ela olhava para todos lugares, menos para ele – E também poção do sono sem sonhos... – lançou um rápido olhar para ele, para o peito dele e saiu rapidamente em direção ao seu quarto.
Draco arrumou suas vestes e foi até o banheiro. Pegou a poção para dormir sem sonhos e a tomou. Olhou sua própria imagem no espelho.
- Não faça merda, Draco Malfoy... Não faça merda... – olhou pela janela e viu o céu estrelado e a lua crescente se ocultando entre as nuvens. Jogou água no seu rosto, pensando que não poderia fazer merda, pois ele mesmo já estava afundado em muita...
- Você precisa arrumar sua lição, está vendo? Você trocou esses ingredientes aqui... Não prestou atenção na aula? – Hermione ouvia a forma como Draco falava com um estudante do primeiro ano da Corvinal. O menino tinha os olhos esbugalhados de pavor. Todos ali sabiam quem era Draco Malfoy – Sabia que tenho autoridade para te dar detenção?
- S-sim, senhor Malfoy – o menino disse.
- Hoje é sexta-feira, eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui... Corrigindo essa porcaria de lição.
- Malfoy! – Hermione exclamou, já cansada da forma como ele tratava o estudante – Carter é nascido trouxa! Ele não tem experiência nenhuma nisso e não conhece nada do procedimento de preparo de poções.
- Ser nascida trouxa nunca te impediu de ser uma sabe tudo intragável, Granger...
Hermione estreitou os olhos e colocou as mãos na cintura.
- Será que os dois podem, por favor, parar com essa discussão? Acho que o senhor tem um compromisso, senhor Malfoy...
Draco olhou com raiva para o professor de poções, depois para o estudante:
- Refaça. E você – continuou, olhando para Hermione – jamais desafie minha autoridade perante os estudantes – dizendo isso, ele saiu da sala.
- Turma dispensada – Snape falou, querendo dissipar a confusão.
Hermione agradeceu quando não encontrou com Draco naquela manhã de domingo. Teria o dia apenas para si. Tampouco iria estudar. Leria, claro, mas qualquer livro que não tivesse nada sobre poções.
Antes disso, tomaria um longo banho. Deixou que as águas escorressem, enchendo a banheira. Jogou as essências de baunilha e ligou o rádio, que funcionava magicamente. Entrou na água aquecida. O vapor tomando conta do ambiente. Não pôde reprimir um suspiro.
Encostou a cabeça na beirada da banheira e fechou os olhos. Adormeceu em algum momento e não notou quando Draco entrou...
O loiro abriu a porta e logo sentiu o cheiro de baunilha dominando todo o local. Tinha tido uma noite longa e suas olheiras eram nítidas na pele clara. Agradeceu por ser domingo, mas não agradeceu sentir aquele cheiro. Não quando sua cabeça latejava de dor.
Só que não pôde evitar e foi até o banheiro, apesar de sua mente dizer: não faça merda e siga para seu quarto.
Ele não seguiu para seu quarto. Ele foi até o banheiro. Destrancou a porta. Sabia que ela estaria lá. Abriu a porta sem emitir um ruído.
E observou pela pequena fresta a cena mais linda que ele já tinha visto.
Hermione estava envolta pelo vapor e pela música. Ele não conhecia a banda que tocava, mas tinha gostado do som. E havia o aroma. Baunilha. O corpo imerso na água e nas bolhas e na espuma. E a impura que não parecia nada impura. Era algo... impossível.
Apoiou a mão na maçaneta, tentando controlar-se. Fechou os olhos, mas queria parar de respirar. Era viciante e extremamente perigoso.
- MALFOY! – o grito dela o tirou de seus pensamentos e ele voltou a abrir os olhos. Ela afundou ainda mais na água. O rosto dela estava corado de vergonha. – O QUE FAZ AQUI? Quer dizer... Saia agora mesmo!
- Ninguém mandou você não trancar a porcaria da porta, Granger!
- Claro que eu tranquei a porta, Malfoy!
Ele continuava observando o rosto dela. Estudando-a. Analisando-a. Ela percebeu.
- Saia, Malfoy... Saia daqui ou... – o loiro empurrou a porta, abrindo-a ainda mais.
- Ou... – ele apoiou no batente e cruzou os braços – Vai me azarar? Será bem interessante você saindo da banheira para pegar sua varinha...
Aquele era um jogo perigoso que ele não deveria ter começado. Mas ele já havia mexido a primeira peça.
- Malfoy, seu filho da puta... – ela disse, após alguns segundos.
Ele sorriu de lado e meneou a cabeça. Apenas olhando as feições dela. Olhado cada detalhe, cada detalhe que jamais ousara reparar em todos os anos que a conhecera.
Hermione viu o sorriso sarcástico surgir no rosto pálido. Ela sempre detestou aquele sorriso. Por que, agora, o sorriso parecia... sedutor? E perigosamente atraente?
- Saia. Por favor.
Draco desencostou-se da parede e deu dois passos para dentro do banheiro. Ela recuou dentro da banheira. A espuma ocultando seu corpo. E o que Draco sentia exalando dela, fez com que hesitasse. Se ele continuasse aquilo não daria nem um pouco certo.
- Puta merda... - ele virou-se e saiu a passos rápidos, a porta batendo estrondosamente atrás de si.
- E como está sendo conviver com a doninha quicante? – Gina perguntou. Hermione bebericou sua Heineken, sem saber o que dizer. Desde a cena no banheiro, os dois mal se falavam. Antes havia os insultos, agora... Ela não sabia nomear. Dez longos dias.
Sua resposta foi o dar de ombros já que não confiava em suas palavras.
- Ele está te provocando? Ele tem... te xingado? – Rony perguntou de forma protetora.
- Não, Ron... Ele não tem feito nada disso. Às vezes brigamos, mas geralmente não há conversa entre nós.
Eles continuaram conversando por algumas horas, mas Hermione precisava voltar. Estava cansada e ainda tinha alguns trabalhos para corrigir. Despediu-se dos amigos e seguiu para castelo. O vento tinha se tornado mais frio e uma pálida lua iluminava o povoado.
Draco, no entanto, estava em Hogwarts, na Torre de Astronomia observando a paisagem que se estendia diante de si. Estava apoiado no parapeito da janela com um copo de uísque na mão. Aos seus pés, a garrafa recém-aberta. Viu Hermione aproximando-se do castelo. Ele sabia que envolver-se com ela era um perigo. Sabia que essa estranha atração começou quando ela o vira em um momento de fragilidade. Também começara quando sentiu o cheiro dela: algo inebriante e viciante... Tão único... Porém, sabia que nada de bom poderia surgir de um relacionamento com a Granger. Especialmente agora que...
- Malfoy? O que faz aqui?
- Preparando poções, Granger – ele respondeu ironicamente, sem se virar.
- Você está bebendo? – ela perguntou ao notar a garrafa no chão.
- Contaminou-se com a pouca inteligência do Weasley – ele ficou de frente para ela – após o encontrinho de vocês?
Hermione cruzou os braços, irritada.
- Você não deveria beber em Hogwarts e Rony é inteligente – ele soltou uma sonora risada, ela ignorou – E não foi um encontro como você está insinuando.
- E o que eu estou insinuando? – o loiro indagou, bebendo seu uísque.
- Que eu e Rony tivemos um encontro romântico. Somos apenas amigos.
- Não me interessa o tipo de relação que você tem com o pobretão, sua sang...
A morena descruzou os braços e andou até ele.
- Sua...? Continue, Malfoy – ele abaixou-se e encheu seu copo.
- Nada – falou em voz baixa, encarando o líquido âmbar.
- Eu sei o que você pensa de mim – mais um passo – Eu sei o que sua família pensa de mim. Graças à sua tia levo na minha memória e no meu corpo o que vocês pensam de pessoas como eu – ela levantou as mangas da blusa e do casaco que vestia. Draco não queria olhar, mas acabou olhando. A marca que sua tia deixara no corpo de Granger. A palavra tatuada após as sessões de cruciatus.
O loiro virou o conteúdo do copo, tornou a encher e virou de costa para ela, encarando o terreno de Hogwarts novamente.
- Deixe-me sozinho, Granger.
- Você está sozinho há muito tempo, Malfoy... E isso não vai mudar – ele não revidou. Ela falava a verdade.
NOVEMBRO
- Granger, quero tudo limpo até a hora do jantar.
- Mas... Será impossível, professor... Mesmo com magia... A poção preparada hoje grudou em muitos caldeirões, fora a explosão causada por MacAllister!
- Ou termina até a hora do jantar ou fará o trabalho do senhor Malfoy amanhã e quinta. Um preparador de poções exemplar deve sempre manter seu local limpo e organizado. Até a hora do jantar, Granger, compreendeu?
- Sim, senhor – a garota respondeu, mas sua vontade era xingá-lo.
- E quero que me entreguem um estoque de 30 frascos de veritasserum. O responsável pela melhor poção terá mais chances de conseguir a vaga como meu aprendiz – Hermione levantou a mão, mas Snape lançou-lhe um olhar tão frio que ela nem abriu a boca para formular sua pergunta. Severus saiu da sala, a capa preta esvoaçando atrás de si.
Hermione amarrou o cabelo em um coque e começou enfeitiçar a sala sem dar atenção para Draco que observava tudo calado.
- Melhor você começar a separar os ingredientes para sua poção, Malfoy.
O loiro ficou no olhar sem saber muito bem o que fazer. Sabia que Snape tinha sido injusto com ela, mas ele não deveria se importar, deveria?
Não, não deveria. Passou por ela e foi até o armário pegando todos os ingredientes necessários. Saiu da sala desejando um sarcástico Bom serviço, Granger.
Obviamente o horário do jantar veio e passou e ela ainda estava limpando caldeirões e organizando estantes. Seu punho doía de tantos feitiços que já havia lançado. Quando finalmente terminou, ouviu a voz de Snape.
- Parece que não cumpriu com suas tarefas dentro do prazo, Granger...
- Parece que sim, senhor. Amanhã e quinta ficarei responsável pelos dias de Malfoy – ela disse encarando os olhos negros do professor – Mais alguma coisa?
- Sim. Além disso, também deverá corrigir por ele os trabalhos dos estudantes do 1º ao 4º anos durante duas semanas. Algum problema, senhorita Granger?
- Não – ela disse em voz baixa, mordendo o interior da bochecha tentando calar a si mesma – Posso me retirar?
- Claro, senhorita. Uma pena que tenha perdido o jantar.
Ela não disse mais nada, apenas saiu da sala em silêncio. Sentiu uma vontade súbita de chorar. Teria que eternamente ficar provando que era capaz? Que não era uma simples nascida trouxa? Passou anos sendo humilhada por Severus, mas as coisas pareciam pior agora. Ele não fora seu professor no último ano. Apesar de ser comprovado que era um espião e que matou Dumbledore a mando do mesmo, ele passou por um longo julgamento.
Hermione sabia que as coisas não seriam fáceis com Snape e ele era o melhor em poções - não havia dúvidas - só que não tinha ideia de que ele seria tão injusto. Ao invés de ir até a torre, parou na cozinha. Não tinha desistido da ideia do F.A.L.E., mas ela tinha outras prioridades no momento. Então, não se incomodou de ser servida por elfos prestativos. Apesar disso, uma parte deles concordou em ser livre, principalmente depois da morte de Dobby e da inscrição feita na lápide por Harry Potter. Eram esses, especialmente, que a atendiam e serviam seus pratos e sucos preferidos quando ela aparecia na cozinha.
Aquela foi uma semana dos infernos. Hermione só não dizia que aquela tinha sido sua pior semana, pois sobrevivera a uma guerra. Nunca teria palavras suficientes para agradecer a ajuda que estava recebendo de Neville e Luna que haviam lhe enviado os ingredientes para que pudesse preparar o veritasserum a tempo.
Sabia que tinha coisa para fazer, mas sua cabeça estava tão cheia que não conseguiu recusar o convite da amiga para tomar uma cerveja. Apenas as duas.
- Então... – Gina começou – agora que Ron e Harry não estão aqui me diga sinceramente: como está sendo trabalhar com Draco Malfoy?
- Nós não estamos trabalhando juntos, Gina... Competimos pela mesma vaga e é bem claro qual a preferência de Snape... – Hermione deu um gole na sua cerveja – E pior é o sorriso arrogante e prepotente dele... Fica lá... Olhando tudo com aquele sorriso no rosto! Humpf! – ela bufou, terminou sua cerveja e pediu outra.
- Pelo menos é alguém bonito para se ver... Aliás... Viu o Nev? Ele também está um gato... – Hermione não conteve uma risada. Realmente Neville era o que mais tinha mudado.
- Certo... Neville eu concordo... Mas o doninha? – Hermione questionou, o tom de incredulidade...
- Então me diga três características que tornam Malfoy feio... – Gina alfinetou. Hermione corou na hora e Gina riu – Vamos, Mione... Três características... Não deve ser tão difícil assim.
- Bem... Ele... Ele... – e ela percebeu que não sabia o que dizer. Não poderia dizer que Draco tinha cabelos feios... Não... De uma forma única o loiro platinado caía-lhe muito bem. Assim como a pele extremamente alva, que realçava os olhos de um cinza intenso. E ela poderia negar para qualquer menos a si mesma – e provavelmente Gina – que Draco era bonito. A imagem do peito definido dele ainda estava em sua mente e ela se pegou algumas vezes imaginando como seriam os braços cobertos pela camisa.. Só teve oportunidade de ver até o cotovelo.
- Se continuar assim, vai cair da cadeira... – a ruiva falou, estalando os dedos na frente da amiga.
- Certo, certo... Ele é bonito, ok? Feliz? – Hermione respondeu rapidamente. Cerveja não parecia ser suficiente. Pediu um uísque pensando nele. Era a bebida que ele gostava. E ela também... Merda, Malfoy...
- E já pensou como seria dormir com o inimigo? – Gina indagou, brincalhona – Sem dúvida a ideia é... excitante... – as duas riram gostosamente.
- Qual o motivo de tantos risos?
- Aposto que estão falando de homens, querido irmão... – os gêmeos sentaram-se e não esperaram por convite.
- Ei! Vão embora! Essa é uma noite de meninas – Gina falou, cutucando Jorge que se sentara ao seu lado.
- Mas acabamos de chegar! – Fred disse, passando um braço sobre o ombro de Hermione que apenas rolou os olhos.
- Chatos! Vão embora! – a caçula tornou a falar.
- Só por que está sendo educada, maninha... Mas vocês ficarão nos devendo um uísque... – Jorge disse. Os dois levantaram-se, mas Hermione segurou o braço de Fred.
- Esperem... Preciso de vocês... Para um logro... Contra Malfoy...
Gina arregalou os olhos, enquanto os gêmeos abriram um sorriso maroto.
Hermione tomava seu café tranquilamente. Lembrava-se de todas as orientações dos gêmeos: primeiro ela deveria fingir que nada estava acontecendo, que aquele era um dia como outro qualquer - isso seria muito mais fácil se estivesse com seus amigos lá. Segundo, se ela aplicasse o logro apenas no Malfoy, desconfiariam dela, já que disputavam a mesma vaga. Essa orientação deixou Hermione ainda mais apreensiva, pois significava que alunos seriam afetados. E as orientações pareciam piorar...
Ela também deveria optar por uma casa específica: Sonserina, claro. O problema é que Draco sentava-se na mesa dos professores... Então... – e Hermione sentia um buraco enorme no estômago – professores também seriam atingidos. Só que a vontade de vingar-se de Draco era maior que tudo... E Snape também entraria no pacote.
Ela precisaria fazer tudo após uma visita de todos a Hogsmeade. Dessa forma, teriam muitos suspeitos. Era de conhecimento de todos a relação que Hermione tinha com a família Weasley, porém também era de conhecimento de todos que sempre alguém entrava com um produto proibido da Gemialidades na escola.
E ela deveria negar. Negar até o fim. Fazer-se de vítima se fosse necessário, mas nunca, jamais poderia ser pega. E não seria se seguisse passo a passo as orientações dos gêmeos.
Teria ajuda dos elfos. E os elfos estavam ansiosos, principalmente quando souberam que a mesa da Sonserina seria o alvo da brincadeira. Afinal, os estudantes daquela casa eram os que mais judiavam deles. Aqueles que concordavam em se submeterem a isso, aguentaram calados... mas nem todos.
O grupo estava animado e formou a Armada dos Elfos – uma clara homenagem a Dumbledore, Harry Potter e seus amigos. Como elfos livres, poderiam mentir... livremente. Por isso, nada contaram aos outros quando Hermione veio lhes pedir esse... favor.
Agora Hermione estava lá... Esperando pelo acontecimento. Snape, Hagrid e Sprout estavam na lista de professores que receberiam a poção. Ela tentava não pensar em Hagrid após tomar a poção, mas era meio... difícil. Mordeu os lábios para não sorrir e tomou um gole do seu café.
- A noite com seus amiguinhos foi boa? – ouviu a pergunta ao seu lado.
- Do que está falando, Malfoy?
- Deve ter sido... Fica aí... Com esse sorriso besta no rosto – ele disse, de forma debochada.
- Não imaginei que reparava nos meus sorrisos bestas – a morena alfinetou. Isso fez com o que o (lindo) sorriso irônico sumisse da face dele.
Controle-se, Hermione...
- Mas, que... – o primeiro grito foi de uma menina da sonserina. Todos se viraram para olha-la. Logo na sequência todos os estudantes da mesa começaram a exclamar aflitos. A mesa parecia um conjunto de lápis de cor infantil... Cada cabelo com uma coloração diferente.
- O que está haven- - Draco começou a protestar ao ver o que acontecia aos estudantes da sua ex-casa, porém calou-se... Aquela não era sua voz. Dessa vez, Hermione não conteve sua risada...
Por que Hermione atacou Draco onde sabia que doeria: sua vaidade.
- Foi voc- ele começou, mas calou-se. A voz sedutora, levemente rouca e arrastada tinha sido substituída por um tom agudo, que lembrou Hermione a fala de Lilá quando chamava Rony de Uon-Uon.
Ela ria mais ainda, olhando para os cabelos dele. Draco puxou alguns fios para frente e viu o tom extremamente vermelho...
A risada, antes grossa de Hagrid, tornou-se um som estranho e irritante. Seus cabelos e barba estavam de um azul forte e ele não conseguia parar de rir.
Aliás,... o salão todo ria... Exceto os estudantes da Sonserina, Draco e... Severus Snape.
- Senhori- ele parou. O salão veio abaixo em risadas, especialmente dos grifinórios. Minerva levantou-se imediatamente e dirigiu-se até Hermione.
- Professor Snape, espero que não pense em acusar algum estudante sem provas.
O olhar dele era mortal e Hermione fazia força para não rir, mas os cabelos oleosos e rosas dele não colaboravam. Ele inclinou-se e falou algo em voz baixa, no ouvido de Minerva.
- Senhorita Granger, a senhorita tem algo a ver com isso? – a garota respirou fundo, controlando a risada.
- É claro que não, Diretora. – Minerva ajeitou os óculos, sem esconder a irritação por ter Snape sussurrando em seu ouvido.
- Você é amiga dos Weasley, dos gêmeos... Poderia ter conseguido o produto com eles. Soube que se encontraram na noite de ontem
Claro que muitos acompanhavam a conversa, enquanto outros tiraravam fotos e mais fotos. As meninas com a voz grossa choravam e pediam que parassem e depois saíam correndo. As ameaças sonserinas apenas aumentam o riso no Salão.
- Isso é verdade, Diretora, mas semana passada teve passeio a Hogsmeade... Todos sabem que os gêmeos abriram uma nova filial...
- Além disso – um estudante do sétimo ano disse – eu vi nas prateleiras um produto com essa descrição...
- Sim, e já tem alguns meses... – um corvinal emendou. Snape virou os olhos e inclinou-se novamente sobre a orelha da diretora, que esquivou-se.
- Por favor, Severus! Pare com isso! – ela ajeitou as vestes – Bom... parece que as primeiras aulas com os professores... hum... Bem... Com alguns professores precisarão ser canceladas. Severus, isso é evidentemente alguma poção... Procure a cura...
Hermione encarou o prato... Achava pouco provável que Snape encontrasse algo. Se tinha algo em que os gêmeos eram bons era fazer com que o que produziam não fosse desfeito... a não ser quando o efeito acabasse... E o efeito duraria 24 horas...
Minerva começou, juntamente com outros professores, a dissipar os estudantes e encaminhá-los às aulas ou dormitórios. O Salão foi esvaziado, mas de forma barulhenta. Ainda eram ouvidos risos, flashes e xingamentos.
Hermione levantou-se e notou que Draco não estava mais no Salão Principal. Queria agradecer aos gêmeos imediatamente, mas eles falaram que Snape ficaria de olho nas corujas. Ela aproveitou que teria o dia livre e resolveu colocar seu trabalho em dia, assim como o preparo das poções pedidas por Snape.
Mal entrou no pequeno Salão Comunal, sentiu as costas chocarem contra a porta e uma varinha em seu pescoço. À sua frente, o olhar frio, irritado, cinza e hipnotizante de Draco Malfoy.
- Desfaça.
Em qualquer outra situação, ela sentiria medo. Só que a imagem dele com os cabelos tão vermelhos quanto os do Weasley e a voz esganiçada e aguda de Lilá Brown fizeram com que ela risse.
- Gran... – ele parou. Draco sentia raiva e, mais do que isso, sentia-se ridículo. Como Granger podia sentir-se ameaçada?
- Eu não tenho como desfazer algo que não fiz... Isso é a cara dos gêmeos, mas... – ela mexeu os ombros levemente.
Draco pressionou mais a sua varinha e mordeu o lábio inferior, lembrando-se que era melhor não falar. Afastou-se bruscamente e foi até a mesa de estudos. Com um floreio, conjurou pergaminho, pena e tinteiro.
Hermione não ousou sair do lugar, mas tinha seus dedos direitos posicionados ao redor de sua varinha. Draco voltou até a morena, puxou seu punho esquerdo e colocou, com força, um pergaminho na mão dela.
Virou-se e foi até o próprio quarto, batendo a porta com força. Hermione sorriu consigo mesma e leu o pergaminho. A caligrafia fina e rebuscada do ex-sonserino.
Sei que foi você.
Não vou me ocupar em conseguir provas. Eu vou me vingar.
D.M.
Aquele era um bilhete que, uma clara ameaça, que Hermione deveria preocupar-se, mas estava tão feliz com o sucesso de seu logro, que simplesmente sorriu e foi corrigir lições.
- O que está acontecendo aqui, Severus? – Minerva perguntou ao encontrar o professor de poções falando em voz alta com Hermione Granger em um dos corredores do castelo. Sua voz, assim como seu cabelo, já tinham voltado ao normal.
- Eu sei que a senhorita Granger está envolvida na confusão dessa semana, Minerva.
A diretora de Hogwarts olhou de um para outro, depois seus olhos pararam em Snape.
- Não há nenhuma prova contra ela, Severus.
Hermione mordeu o interior da bochecha. Talvez envolver Snape não tenha sido uma boa ideia, afinal repousava nele a escolha do seu aprendiz. Ela não sabia se a raiva dele era por ter caído em uma pegadinha ou por não ter encontrado como revertê-la. O olhar sobre Hermione era penetrante e ela sabia que o professor poderia facilmente penetrar em sua mente.
- Severus – Minerva disse, em tom de alerta – Espero que esse assunto esteja resolvido. Espero que a brincadeira feita por algum estudante que queria apenas um pouco de diversão não interfira na sua avaliação sobre a senhorita Granger e a vaga que ela está tentando ocupar. Estamos entendidos, Severus?
- Claro, Diretora. Só mais uma coisa, Granger – o professor falou, Minerva olhando-o como se ele fosse um estudante – Leve esses pergaminhos para o senhor Malfoy e entregue em mãos. Não quero trabalho dos meus estudantes perdidos pelo castelo – com um gesto de sua varinha, os pergaminhos apareceram ao seu lado. Hermione apenas assentiu com a cabeça, pegou os pergaminhos e voltou pelos corredores escuros.
Draco sabia que não deveria beber. Não aquela noite, mas era impossível não beber. Ele queria esquecer. Só que não conseguia. Restava apenas sentir-se entorpecido. E o uísque nunca era suficiente. Tinha pensado tantas vezes em outras drogas, inclusive drogas trouxas. Estava novamente olhando pela janela, mas dessa vez dentro do próprio quarto. Lembrou-se de sua mansão e sentiu falta de sua mãe, mas não do seu pai e tampouco de Bellatrix. Sentia raiva deles... Deles e de...
Fechou os olhos e cerrou os dentes. Estava fodido. Fingiu não ouvir a batida na porta de seu quarto. Uma. Duas. Três vezes. Silêncio por alguns segundos. Então as batidas recomeçaram. Draco não se mexeu. Apenas olhava para fora, esperando que as batidas na porta cessassem. Será que havia alguém mais insistente que Granger? Ele pensava consigo mesmo. Ouviu sua porta sendo aberta e a voz dela o chamando.
- Malfoy! Estou batendo aqui na sua porta! Você não ouviu?
- Ouvi, mas não queria recebê-la.
Hermione abriu a boca indignada diante da resposta mal educada, mas o que ela poderia esperar de Draco Malfoy?
- Você poderia ao menos virar-se para falar comigo? É um recado do Snape.
Draco bufou alto, jogou o cabelo para trás e virou-se. Cruzou os braços, ainda mantendo o copo em sua mão.
- É proibido beber em Hogwarts – ela disse, olhando para o copo.
- Assim como é proibido o uso de produtos Weasley em estudantes e professores.
- Você não é nenhum dos dois – Hermione falou. Draco gostou da resposta dela. Rápida e inteligente. Ela não corara. E tampouco se entregara. Sim, por que se Draco Malfoy tinha uma certeza era que fora Hermione a responsável pela confusão no Salão Principal na semana anterior. Ele se vingaria, claro. E seu plano já estava em ação.
Draco Malfoy caminhou até ela, olhando-a firmemente. Hermione não se mexeu e também não desviou seus olhos. Inconscientemente, apertou os pergaminhos com mais força. Draco sentiu novamente o cheiro de baunilha. Aquele cheiro que já tinha dominado todo o Salão Comunal agora estava impregnando o seu quarto.
- Qual o recado do Snape, Granger?
Ela demorou uns segundos para responder, mas depois esticou os pergaminhos.
- Pediu que eu te entregasse isso.
- Você poderia tê-los deixado lá fora... A menos que... – ele sorveu um gole do uísque enquanto Hermione engolia a saliva com força sentindo-se tensa e Draco sorriu. De lado. Sarcasticamente charmoso – A menos que quisesse conhecer meu quarto... O que seus amigos pensariam disso, Granger? – ele deu dois passos, aproximando-se mais. Descruzou os braços. Hora de mexer sua segunda peça – O que eles achariam ao saber que você anda arranjando desculpas para entrar no quarto do perigoso Draco Malfoy?
- Você é muito prepotente... – Hermione falou firmemente, disfarçando seu nervosismo e tentando acalmar-se. Acalmar seu coração que se acelerou sem motivo. Mas tinha um motivo. Um motivo com nome e sobrenome. Com olhos cinzas, cabelos platinados e um sorriso sedutor. E Hermione pegou-se desejando Draco Malfoy.
Só que ela não sabia que isso era tarde para tentar disfarçar, Draco já havia notado tudo: a tensão, o olhar, o coração acelerado... e o desejo.
- Vim aqui apenas para entregar esses pergaminhos.
Outro passo de Draco, mas Hermione estava imóvel. Ela era uma pessoa racional: bastava ir para trás, dar distância. Fazemos isso quando estamos perto de pessoas que não gostamos: damos distância. Só que ela se viu presa por aqueles olhos cinzas e... Hermione, involuntariamente, estreitou os olhos tentando identificar um outro tom nos olhos de Draco.
- Pegue os pergaminhos, Malfoy – ela estendeu a mão na direção dele.
- Eu prefiro pegar outra coisa, Granger.
Ela deveria jogar os pergaminhos na cama ou sobre a escrivaninha dele. Deveria livrar-se logo daqueles pergaminhos. Ela deveria simplesmente sair dali. Só que Hermione não se mexia.
E Draco sabia que não deveria se aproximar mais. Só que como evitar? Ele não gostava de jogos perigosos, mas seus últimos anos tinham sido para viver no limite. Sua alma já estava perdida mesmo... Que mal poderia acontecer?
Ele sabia o que poderia acontecer e a lista era bem longa... mas ver Granger daquele jeito, era impagável. E Draco sentia-se incontrolável...
- Você é um idiota, Malfoy! – a morena foi até a escrivaninha dele, deixando os pergaminhos. Quando se virou, Draco estava à sua frente - Afaste-se.
- Não.
Baunilha...
Draco colocou o copo sobre a mesa e depois apoiou suas mãos na mesa, impedindo que ela saísse pelo lado. Sua presa.
- O que pensa que está fazendo, Malfoy? Afaste-se imediatamente ou...
- Ou...? Você pode até pensar em pegar sua varinha, mas eu sou mais rápido, Granger, e vou te desarmar. – o loiro estudou o rosto dela atentamente. Hermione tinha aberto a boca pra protestar, mas fechou-a rapidamente. Estava sem palavras com aquela aproximação. Xingou Gina mentalmente. A amiga tinha razão: não havia nada em Malfoy que o tornasse feio ou menos atraente. Pelo contrário, muito pelo contrário.
- Malfoy...
O loiro apenas aproximou-se ainda mais. As ameaças dela não surtiam nenhum efeito. E só ela poderia pará-lo agora por que ele tinha um objetivo: conhecer o gosto de Hermione.
- Granger, você tem duas opções. Ou cala essa boca e aceita meu beijo... Ou peça para me afastar e vou me afastar... Só que você realmente precisa querer que eu me afaste. Saberei se estiver mentindo, Granger.
Silêncio.
- Hesitando? É apenas um beijo... – ele deu de ombros e inclinou-se sobre ela. Sua mão direita afastou os cachos dela para trás. Seus olhos percorrendo com desejo a pele alva do pescoço. Inclinou-se ainda mais. Seus lábios apenas roçando aquela região. Hermione fechou os olhos e Draco soube que ela tinha se entregado.
Só que Draco ainda não sabia que, iniciando aquele beijo, ele estaria muito mais entregue a ela do que o contrário.
A pele de Hermione estava fria em comparação a dele. Os beijos começaram ali mesmo, no pescoço. Os lábios de Draco sentindo a pulsação dela. Foi subindo até alcançar o maxilar. Hermione mordia os próprios lábios. Draco sorriu verdadeiramente diante daquela cena. Ela estava...
- Linda – ele murmurou. Hermione abriu os olhos diante do inesperado elogio – Você é linda, mas prefiro que morda meus lábios ao invés do seu.
Dizendo isso, ele levou sua mão até a nuca dela e a beijou. Imediatamente colocou sua língua dentro da boca de Hermione, pois precisava prová-la. E gostou. Muito. A morena envolveu o braço em volta dele. Draco, sentindo isso, excitou-se ainda mais. Segurou os cachos dela com a mão direita, enquanto a outra foi para a cintura. Fez com que seu corpo encontrasse com o dela e Hermione apenas ajeitou seu quadril quando sentiu a excitação dele... Aqui a excitou. Beijar Draco Malfoy estava trazendo à tona alguns instintos... animais na garota. Aquilo não a incomodou.
Pelo contrário... E eram esses contrários que estavam fazendo com que ambos se perdessem. Para quem se perde, em qualquer caminho se encontra algo. E foi assim que ele a encontrou. Ambos sabiam que aquilo era perigoso... Principalmente Draco.
Ele afastou-se. Dois, três passos para trás.
Quatro passos.
E ele sabia que nenhuma distância seria suficiente. Ela encarou os olhos escurecidos de desejo. Draco bagunçou seus cabelos e olhou para fora, nervoso. Irritado. Excitado.
- Vá embora, Granger – ela permanecia junto à mesa. Quando ele se afastou, Hermione imediatamente segurou-se à borda. Seu corpo sem ação. Vazio. Queria entender por que tinha feito o que acabara de fazer. Não fora simplesmente um beijo. Em sua cabeça uma pergunta: o que teria feito se ele não tivesse se afastado?
- Granger, você não me ouviu? – claro que ela tinha ouvido, mas a realidade do fato começou a se formar em sua mente. – Porra, Granger! – irritado, Draco pegou uma mochila que estava no chão, jogou-a sobre o ombro e foi embora.
Hermione saiu do seu torpor quando ouviu a porta bater. Voltou correndo para seu quarto. O corpo em chamas clamava por Draco Malfoy.
- Pode ser um bom legilimente, Severus, mas eu sou um bom oclumente.
- Sempre um bom aluno, não é? Pare agora com isso – o professor disse seriamente.
- Não sei do que está falando.
- Você sabe muito bem... O que fez ontem foi arriscado. E você sabe! – o tom tornando-se mais severo a cada palavra. O rapaz rolou os olhos, mas permaneceu sentado – E eu não preciso ler pensamentos, Draco... Eu notei a forma como olha para ela.
- Eu cuido da minha vida. E faço o que bem entender, quando eu bem entender.- O loiro levantou-se, irritado pelo rumo que a conversa estava tomando.
- Vocês podem ser maiores de idade, mas aqui ainda é uma escola – o professor levantou-se também - Eu sou responsável por você, Draco. Aqui dentro e lá fora.
- Você não é meu pai! E muito menos minha mãe, Severus – o loiro rebateu. Snape respirou fundo, sua paciência indo embora diante da petulância.
- Acontece que seu pai está preso e sua mãe... – sabia que Draco não gostaria de ouvir o que ele diria – Sua mãe está preocupada, mas ela não consegue lidar com sua situação, consegue? Sei que ela te escreve e que foi almoçar com ela algumas vezes, mas... Quando ela foi até a sua casa? Ela deixou você retornar à tão prestigiada Mansão Malfoy?
Draco cerrou os dentes com raiva. Simplesmente por que sabia que seu professor estava certo.
- Eu sou responsável por você e estou ao seu lado. Afaste-se da Granger. É o melhor para ambos, Draco. Já está na hora de seguir a cabeça de cima, garoto.
Draco ajeitou sua gravata, levantou o queixo e saiu da sala com sua mochila no ombro.
Hermione não sabia se agradecia ou não à ausência de Malfoy nos dias seguintes ao beijo. Via seu competidor apenas nas aulas de Snape, porém ele não lhe dirigia um único olhar. Nada. Porém...
Draco não conseguia não pensar em Hermione. Por que para não pensar ele precisava pensar em não pensar, por que, contra sua vontade ela estava lá: em seus pensamentos, com seu cheiro de baunilha no aposento que dividiam, com seu sorriso meigo para os estudantes.
E ele fingia que não a via, mas ele a via. E a sentia. E reparava como os estudantes do sétimo ano inclinavam para ver o andar dela ou como perguntavam algo desnecessário apenas para ver o decote dela, quando Hermione, ingenuamente, inclinava-se na mesa para ser prestativa.
E o gosto. O gosto dela estava em seus lábios. Por mais água, suco ou uísque que bebesse. Estava lá. O gosto de Hermione Granger. E ele gostava. E precisava de mais. E isso não tinha nada a ver com as insinuações de Snape sobre usar a cabeça de cima. A merda toda era por que ele estava usando as duas...
Ele precisava livrar-se dela... E nada como uma pequena humilhação. Uma humilhação na aula de Snape, com os estudantes da Sonserina... Uma humilhação que aconteceria, ele olhou para seu relógio, dentro de alguns minutos.
- Granger – Snape chamou – Pegue alguns bezoares naquele baú e distribua aos estudantes.
Draco parou o que fazia, um riso de deboche e ansiedade em seu rosto. Os braços cruzados. Snape notou aquilo e logo entendeu que o loiro tinha planejado algo, porém não teve tempo de impedir que Hermione abrisse o baú.
Draco esperava. Ansioso. Durante a noite, ele havia colocado um bicho-papão no baú onde Snape guardava algumas coisas. Esperava ansioso para ver o medo de Hermione Granger. Provavelmente algum animal mágico ou um dementador. Lembrou-se do terceiro ano deles, quando importunou Harry pelo desmaio no trem. No entanto, ele não esperava o que aconteceria...
Assim que abriu o baú, uma névoa saiu lá de dentro e Hermione caiu para trás com o susto. Draco riu da cena, mas a sala estava no mais completo silêncio.
- Não... – Hermione murmurou ao ver Bellatrix. A varinha em sua mão esquerda e um longo punhal na direita. Ela sorria perversamente. Logo, todos perceberam que era um bicho-papão e os sextanistas sonserinos, começaram a rir. Exceto Snape e Draco.
O professor rapidamente lançou um ridikullus e terminou a aula mais cedo. Hermione levantou-se e olhou para Malfoy. Não havia mais traço de riso no seu rosto, havia outra coisa... Mas não importava a Hermione. Ela juntou suas coisas e saiu correndo, os olhos lacrimejando.
- Essa foi uma brincadeira estúpida, Draco – Severus o repreendeu.
- Eu não estou envolvido com isso – ele disse, arrogante, ainda olhando para a porta.
- Realmente... Você não fez isso da mesma maneira que Granger não está envolvida com o incidente da poção da outra semana? O que tinha na cabeça quando pensou nessa vingança idiota?
Draco não respondeu. Ele sentia-se culpado.
Você realmente não vai contar o que aconteceu?
- Nada aconteceu, Harry... – ele continuou olhando para a amiga.
- Sabemos que algo aconteceu... Você não fica assim desde... – Rony trocou um olhar com Harry e depois encarou o chão.
- Sério mesmo? – Hermione perguntou, irritada – Nós saímos para nos divertir e... – ela soltou o ar com força, tentando se acalmar – Olhem, não quero brigar com vocês... – Sei que se preocupam comigo. Sim, algo aconteceu, mas podemos falar sobre isso outra hora? Por favor...
- Tudo bem, Mione... – Harry falou, rapidamente e encerrando o assunto. Sabia muito bem que o ruivo tentaria por mais um tempo arrancar o que aconteceu da amiga. E ambos sabiam que envolvia Draco Malfoy...
Gina chegou e cumprimentou os três. Aos poucos o bar foi enchendo e Hermione foi esquecendo-se do dia anterior. O grupo de amigos ria de forma descontraída. Alheio a um bruxo do outro lado do balcão que olhava a tudo sem perder um momento.
Draco Malfoy foi obrigado acostumar-se com a solidão, por que ele sempre teve pessoas ao seu lado. Mesmo que essas pessoas estivessem consigo por interesse. Ele andava com muitas pessoas por interesse. Porém, desde o fim da guerra ele estava realmente sozinho. Os Parkinson sumiram da Inglaterra quando o Lorde das trevas caiu, assim como tantos outros. Crabbe morto e a família Goyle presa.
Porém, ainda tinha um sobrenome de peso e precisava refazer o nome da família. Só que não era nada fácil e estava realmente sozinho. Sem amigos... Os Greengrass tentaram uma aproximação, mas mudaram de ideia em questão de segundos. Draco preferiu assim, na época, jamais seria qualquer simpatia por Astoria ou Dafne.
O mais difícil para o loiro era o afastamento de sua mãe. Sabia da preocupação dela, mas ela tinha praticamente o abandonado. Restava-lhe apenas Snape. Mas o seu professor e padrinho não poderia ser seu amigo... E muito menos ajuda-lo a saciar certas necessidades.
Draco Malfoy decidiu que essa pessoa seria Granger. Por isso a observava com os amigos. E ela sorria. Draco não dormiu a noite pensando na merda que fizera no dia anterior. Ele mesmo sentiu o sangue ferver por alguns instantes quando viu a imagem da sua tia. Ela estava morta. Era o mantra que repetia a si mesmo. Ele também estava morto, mas a raiva maior sempre fora direcionada para sua tia.
Viu quando Potter e a namorada saíram para dançar e que Hermione ficou conversando com o Weasley. E teve ciúmes. Ainda se lembrava do gosto dela e sentia falta daquilo. Ele queria poder escutar sobre o que conversavam e sentiu inveja de como ela ria tão naturalmente com o amigo. Ele falou algo no ouvido dela, que assentiu, e ele afastou-se. Draco, então resolveu que era hora de mexer sua terceira peça.
Ele jamais deveria ter beijado Granger naquela semana, mas agora era tarde...
- Granger – ele disse, sentando-se ao lado sem esperar por convite.
- Não quero falar com você, Malfoy – ela falou e continuou olhando para frente, ignorando completamente o loiro ao seu lado.
- Não sabia que gostava de uísque.
- Como se você soubesse alguma coisa a meu respeito...
Rápida e inteligente. Ele bebeu seu uísque e sorriu de lado.
- Eu sei algumas coisas a seu respeito, Granger... Sei que não parava, e não para, de estudar para provar que não é apenas mais uma nascida trouxa, você é leal aos seus amigos e aos seus ideais, você é corajosa, – Hermione segurava o copo com força, lutando para não olhar para ele – está sempre atenta às necessidades dos outros. E você, Granger, - ele aproximou-se dela e Hermione sentiu essa aproximação. Não resistiu e virou-se. Ele estava bem próximo – você é a garota mais deliciosa que eu já beijei e sei que fodi com tudo quando fiz aquela brincadeira estúpida do bicho-papão.
Draco olhava de forma penetrante para os olhos de Hermione. Sem piscar. A morena sentiu que ele podia ler seu interior como poucos conseguiam.
- Desculpe-me – ele disse, de forma sincera. Os olhos cinzas fixos nos castanhos.
- Malfoy,... eu... – o loiro colocou sua mão sobre a dela. Seu polegar passeando de forma lenta e sensual sobre a palma da mão. Um arrepio percorreu o corpo da morena. Ele sentiu. Tão perto... Um beijo. Era tudo que ele precisava naquele momento.
Fechou os olhos antes dela e não viu a expressão surpresa no rosto de Hermione. Ela deu um pequeno sorriso, fechando os olhos em seguida. Aproximou-se também, porém não chegou a beijá-lo.
- Mas que merda você pensa que está fazendo, Malfoy? – sentiu o loiro ser puxado bruscamente de si. Rony já tinha a varinha em riste e segurava o loiro pelo colarinho da elegante camisa. – Afaste-se dela.
- Melhor você se afastar de mim, Weasley.
- Parem com isso... – Hermione interveio, as pessoas observando o tumulto.
- Sem confusões, Rony. A Mione está bem – Gina falou, a mão no ombro do irmão.
- Eu sei o que pretendia. Hermione não é uma de suas vadias.
- Ela não parecia tão incomodada com minha proximidade – Draco falou, encarando o ruivo e ignorando o último comentário dele.
- Por favor, Malfoy! Cale-se! – Hermione pediu – Solte-o, Rony.
- Vamos, cara... – Harry disse. O ruivo soltou Draco com um empurrão. O rapaz apenas ajeitou suas vestes e os cabelos. Olhou para Hermione e disse:
- Vamos terminar nossa conversa em Hogwarts, Granger.
- Ela não vai com você – Rony falou, o tom imperativo.
- Hermione, o que está havendo? – Harry perguntou, olhando para a amiga.
A morena olhou para os amigos, depois para o chão.
- Eu preciso terminar essa conversa com ele, Harry.
- Conversa? Conversa? Acha que somos idiotas, Hermione? Vocês estavam quase se beijando! – o tom avermelhado já cobria todo o rosto e pescoço de Rony.
- Granger é maior de idade, Weasley. Não precisa de três guarda-costas. Vamos – e sem esperar por qualquer reação, pegou no punho dela e aparatou para fora do bar.
- Eles vão te matar... – Hermione murmurou.
- Duvido – Draco disse, começou a andar em direção ao castelo sem soltá-la. O vento estava frio. Provavelmente começaria nevar em breve. Hermione estava sem luvas e sentia sua mão gelada. Puxou seu braço, colocando a mão no bolso do casaco.
- Entendo se não quiser que a toque... – Draco sentiu-se incomodado quando ela puxou a mão da sua.
- Estou com frio, Malfoy – ele ficou em silêncio e mais tranquilo pelo problema não ser o toque dele. Enfiou a mão no bolso de seu caso e puxou um par de luvas.
- Ficarão grandes, mas... – ele deu de ombros – Use-as até chegarmos ao castelo – Hermione olhou desconfiada, porém pegou as luvas. Não falaram nada o resto do caminho, até que estavam um diante do outro dentro do aposento que dividiam. Hermione retirou as luvas e colocou-as sobre a mesa.
- Seu amiguinho sabe como acabar com um clima, não? – Draco começou, sem saber bem por onde começar. Hermione não respondeu nada: ainda dividida pela humilhação do dia anterior e as palavras delicadas dele. Então, optou por se fazer de desentendida.
- De que clima está falando? – Draco aproximou-se lentamente e Hermione viu-se naquela situação em que não podia se mexer, apenas ficar à mercê de Draco Malfoy. Aquilo não a incomodava em nada.
- Burrice não combina com você, Granger – ele falou já parado bem à frente dela, olhando com firmeza. Hermione com a cabeça inclinada para cima, sem tirar os olhos dele – E você ainda não me respondeu: estou desculpado pela cagada de ontem?
- Ainda não decidi, Malfoy – Hermione respondeu. O coração acelerando diante de tanta proximidade. Tudo nele exalava sexualidade e sentia algo em si aflorar. Algo nunca sentido antes.
- Então... Eu te ajudo, Granger – e, rapidamente, colou seus lábios aos dela com urgência. Por que ele tinha urgência em tê-la novamente. Uma de suas mãos prendia Hermione fortemente perto de si. Sua língua explorando a boca, enquanto a outra mão percorria o corpo dela. Draco soube ter essa necessidade, a necessidade de conhecer cada milímetro do corpo da morena. E mais: fazê-la apenas sua. Possessividade? Claro, ele era Draco Malfoy e não dividia aquilo que queria para si.
Draco tinha todos seus sentidos apurados. Mesmo de olhos fechados. Sentia-a contra si, excitando-se... Excitando-o.
Hermione sentiu quando os lábios dele foram da sua boca para seu pescoço: beijando-a, lambendo-a, mordendo-a. Ele tirou o casaco dela e Hermione não se opôs. Começaram a andar aos tropeços e logo estavam sobre o sofá. Ele sobre si. E a morena não sentia mais frio, pelo contrário. Seu corpo tão quente quanto o dele.
Draco ajoelhou-se sobre o sofá e tirou o casaco, desfez o nó da gravata. Hermione observava hipnotizada. Draco Malfoy parecia ainda mais bonito. O rosto levemente corado, a respiração acelerada e entrecortada, os fios loiros bagunçados, os lábios vermelhos,...
Ele começou a abrir os botões da camisa de cima para baixo... Hermione abria-os de baixo para cima. Curiosa. Queria conhecer o corpo de Draco Malfoy. E ele queria conhecer o dela, mas naquele dia Draco já tinha usado toda sua cota de delicadeza, então rasgou a blusa de Hermione.
Não pensavam.
Agiam e sentiam.
Estavam ofegantes e havia apenas olhares naquele momento. Pequenas descobertas. Draco observou o contorno dos seios contra o sutiã preto. Viu uma pequena marca branca, uma cicatriz. Ele também tinha cicatrizes. Quem não tinha?
Não dizem que sempre há calmaria antes da tempestade?
E ambos viviam aquela calmaria... Uma breve calmaria.
A barriga lisa e o resto do corpo que ainda exploraria coberto pela calça. O rosto com feições e expressões que ele nunca tinha visto e que agora... Como poderia continuar sem vê-la? Granger, sua salvação e seu veneno. Ele sabia disso.
Fechou os olhos quando sentiu a mão dela tocando seu peito. Não era mais tão magrelo quanto uns anos antes. Tudo mudou de forma drástica em sua vida.
E Hermione deliciava-se com a visão que havia diante de si. O peito bem definido de Draco. Os pelos claros que desciam e sumiam por dentro da calça social preta. Seus dedos percorreram as cicatrizes que havia em seu peito na transversal, três cicatrizes paralelas. Draco notou o olhar interrogador dela.
- Sem revelações hoje, Granger... – ele voltou a inclinar seu corpo sobre o dela, sua boca roçando a orelha da ex-grifinória – Hoje eu quero conhecer seu corpo e todos os seus desejos.
E ela sucumbiu. Logo a batalha de línguas, sussurros e murmúrios recomeçou. A calmaria deu espaço para a tempestade. Era a cor dos olhos dele, Hermione notou. Arquejou o corpo quando sentiu a mão dele fechar-se com força em seu seio sobre o sutiã e mordeu o lábio dele quando o polegar roçou seu mamilo.
Draco sentiu seu membro contra a calça e o movimento, o pequeno movimento que ela fazia com o quadril só fazia a situação ficar mais incontrolável. E tudo piorou quando sentiu as unhas dela percorreram sua pele. Ambos tinham a camisa aberta, mas ainda a vestiam. A unha o tocava com um leve roçar. Descendo lentamente e depois subindo. Para depois descer novamente até alcançar o seu pênis.
- Porra, Granger... – ele lançou o xingamento ao sentir a mão dela movendo-se ritmicamente.
A mão dele abriu o primeiro botão da calça dela. Desceu o zíper.
- ABRA ESSA PORTA AGORA, MALFOY!
- Filho de uma puta!
- O que Snape está fazendo aqui? – Hermione perguntou.
- Ignore – Draco pediu, sabendo que aquela não era a melhor solução. Sabia muito bem que seu padrinho jamais iria embora.
- Ignorar? Malfoy, você enlouqueceu? – enquanto conversavam, o som das batidas de Snape na porta não paravam por um segundo sequer.
O loiro soltou o ar pesadamente. Praguejou mais um pouco, antes de sair de cima dela. Estava quase chegando na porta, quando essa foi aberta pelo professor. Ele olhou a blusa aberta de Draco e depois para Hermione que ainda tentava se recompor. Draco deu passo para o lado, impedindo a visão dele.
- Eu já estava indo abrir, não deveria ter invadido nossos aposentos, Snape.
- Malfoy! – Hermione exclamou, ante o comentário mal educado dado pelo loiro.
- O que pensa que está fazendo? – Snape perguntou, seus olhos agora fixos em Draco.
- Precisei de ajuda para abrir a camisa e Granger, como uma boa representante da Grifinória, estava me ajudando. – a morena já tinha ajeitado as vestes e levantou-se, arrumando os cabelos o melhor que pôde.
- Você ainda não aprendeu que essas respostas irônicas não te levam a lugar algum? – Snape perguntou, os braços cruzados.
- Levam sim... Levam à impaciência do meu interlocutor e isso, padrinho, é o paraíso para mim. – o loiro tinha um sorriso debochado no rosto e Hermione olhava para os dois. Os lábios de Severus se tornaram uma linha fina.
- Junte suas coisas e venha comigo. Você não vai passar a noite aqui – Draco abriu a boca para responder, mas foi cortado – Ou vem agora ou está expulso e a vaga vai para Granger.
Draco fechou os punhos e cerrou os dentes. Olhava com toda a raiva possível para seu padrinho e professor. Vontade de azará-lo... Vontade de...
- Vá com ele, Malfoy – era a voz calma e doce de Hermione. Draco sabia que a voz dela era doce ao provar o sabor dela. Um sabor que ele não cansaria de provar.
Draco foi até seu quarto pisando firme.
- Não sabia que se entregava tão facilmente, Granger - ela corou, mas preferiu ignorar a ofensa – Você combina com alguém como o Weasley. Draco não trará nada de bom para você, tampouco para ele.
O loiro apareceu e disse:
- Granger é maior de idade e sabe o que faz, Snape. Deixe-a em paz – ele parou na frente dela e continuou falando – Ainda terminaremos o que começamos hoje – deu um beijo rápido nos lábios dela e se afastou. Snape encarou Hermione por mais alguns segundos antes de ir atrás do seu afilhado.
- Como soube? – Draco perguntou depois de descerem alguns andares e irem em direção às masmorras.
- Eu tenho olhos onde nem imagina, Draco. – o loiro olhou seriamente para o professor e pensou nos quadros que havia no Salão que compartilhava com Hermione Granger. Continuaram sem trocar uma palavra, até chegar aos aposentos de Severus – Sente-se – o jovem obedeceu, mas sua expressão irritada continuava.
- O que pensa que está fazendo?
- Beijando a Granger? – Snape ignorou a resposta irônica. Cruzou as mãos.
- Você já cometeu o erro de beijá-la uma vez. Vai insistir nisso?
- Olha, Severus, você pode ter amado uma mulher toda sua vida e optou por não ter nenhuma outra. Escolha sua. Eu não acredito no amor. Não me vejo casado por amor...
- Os pais de Potter se amavam e eu... – ele calou-se, olhando para um pequeno porta-retrato sobre sua mesa. Draco sabia de quem era a foto que estava lá.
- Eu não acredito que possa haver esse tipo de amor para mim.
- E para a Granger? – Draco desviou os olhos do seu padrinho. Depois o encarou, os olhos cinzas brilhavam, um brilho escuro e perigoso.
- Claro que para Granger sim! Ela é uma tola romântica. Vai encontrar uma cópia genérica do Weasley, namorar por anos, noivar, casar... – ele continuava falando, com fúria... A fúria cada vez maior. O tom de voz aumentando – e ter vários filhos – isso significava Granger transando com outro homem... O olhar que ela dirigira para ele, seria dado para outro - Provavelmente ter o final babaca de "eu te amo" e "viveram felizes para sempre" – ele sentia o sabor da raiva, do ciúme, da posse. Só que não podia assumir que não queria nada disso para ela.
- E você quer isso para ela depois de beijá-la na época em que a beijou? Depois do que quase aconteceu? – Draco desviou os olhos novamente. Ele sabia. Severus Snape sempre sabia.
- Severus, eu preciso disso.
- Arranje outra garota para aplacar seus impulsos, Draco. Algo momentâneo. Compre uma revista bruxa ou trouxa. Assista a um filme – Draco se sentia ultrajado com a proposta de Snape. Fechou os punhos.
- Viver com esses artifícios pode ter sido sua escolha, mas não a minha – ele fez uma breve pausa - Até terminar essa merda de disputa me afastarei da Granger. Por que sei que é capaz de tirar a vaga de mim.
- Não, Draco... Estou tentando te ajudar, mas você precisa de foco. Ela tem se saído melhor que você. A entrega das poções é na próxima semana. Você pode vencê-la, nessa?
- Claro que sim. Sou um Malfoy, um sangue-puro. – ele precisava ofendê-la, precisava aplacar seu desejo... Viveu anos sem a Granger. Aguentaria mais uns meses, alguns meses e depois... Teria a vaga e faria com que Granger não fosse de outra pessoa, por mais egoísta que isso fosse.
- Draco, - Snape começou, a voz mais calma – Você sabe que pode viver normalmente, apenas... Controle-se... Apenas mais dois anos, Draco...
O loiro fechou os olhos, tentando controlar-se. Levantou-se e pegou sua mochila.
- Eu não posso esperar dois anos, Severus,... por que eu estou morto.
Hermione imaginou que ele se afastaria dela no dia seguinte e por um tempo indeterminado. Suspirou encarando o teto do seu quarto. Respondera as corujas dos amigos dizendo que estava bem e que não havia nada entre ela e Malfoy, mas eles tiveram alguns desentendimentos e precisavam resolvê-los, ou ambos não conseguiriam a vaga. Uma mentira branca.
Olhou para as poções ao seu lado: todos os frascos contendo veritasserum estavam prontos e os frascos devidamente enfeitiçados para não quebrarem. Fechou os olhos forçando-se a dormir.
DEZEMBRO
Hermione organizou todas as poções para o transporte. Era a data da entrega para Snape e ela sabia que tinha feito um bom trabalho. A morena e Draco deveriam chegar às masmorras quinze minutos antes das aulas iniciarem. Ela já tinha tomado seu café e agora se preparava para sair.
Estava quase chegando à sala, quando viu dois estudantes correndo um atrás do outro. Desviou do primeiro, para evitar o choque e o xingou em pensamento, porém não foi rápida o suficiente...
O outro garoto esbarrou em si com muita força e ela foi ao chão. Em segundos, milésimos de segundo pensou: ainda bem que lancei o feitiço de proteção nos frascos.
Porém... o som de vidro estilhaçando fez com que o terror tomasse conta de si. Não pensou na pancada que levou na cabeça e nem nos pedidos de desculpas, até porque o menino não parou. Apenas continuou correndo atrás do outro.
- Não, não... – ela repetia a si mesma – Não... – o desespero tomando conta de si. Abriu a mochila e a caixa que continha os frascos com veritasserum... Tudo estava destruído e esparramado – Não... – repetiu inutilmente. Ela não entendia como isso poderia ter acontecido. Olhou para o relógio e já estava atrasada. Tinha ao menos que tentar, mas sabia que Snape jamais lhe daria outra chance.
- A senhorita está atrasada.
- Desculpe, professor... Um estudante trombou comigo e...
- Sente-se – ela obedeceu prontamente, colocando sua mochila no chão - As poções, senhorita Granger – ele disse apontando a própria mesa – Espero que estejam tão impecáveis quanto às de Draco.
- Como eu ia dizendo, professor, um estudante trombou em mim e os frascos com as poções se partiram, senhor...
- Então, você não cumpriu seu trabalho – ela notou o tom imperativo.
- Eu cumpri, na verdade... – ela logo foi interrompida por Snape. Draco olhava impassível para um ponto qualquer na parede.
- Granger, como a insuportável sabe-tudo que você é – ela olhou para as mãos sobre o colo – Deveria saber que todos os frascos de poção devem ter o feitiço inquebrável.
- Eu tenho certeza que enfeiticei os frascos! Verifiquei antes de ir tomar o café! Eu... eu...
- Desculpas e gagueiras não vão resolver. De qualquer forma... – Snape deu de ombros – Duvido que sua poção pudesse ser melhor que a de Draco.
- Eu realmente não sei o que houve – ela continuou, a voz quase sumindo.
- Eu sei. Você falhou. Deveria desistir agora dessa vaga como aprendiz de poções. Você não passa de uma nascida trouxa e é preciso muito mais que isso para trabalhar comigo.
Draco mordeu os próprios lábios, obrigando-se a permanecer em silêncio. Segurou os braços da cadeira com força. Hermione pensou em revidar, dizer que ele era um mestiço, não estava tão longe do mundo trouxa... Depois, pensou em desistir. Só que provaria que tinha habilidade e capacidade para estar ali como qualquer bruxo de sangue puro.
- Eu não vou desistir.
Draco observava calado Hermione. Notou como o sorriso dela sumira nos dias seguintes ao desastre no corredor. Ela se tornara séria e demorava a responder às corujas dos seus amigos. Três meses de convivência forçada fizeram com que o loiro conhecesse certos hábitos de Hermione, como, por exemplo: ela sempre lia algum livro trouxa quando chegava do jantar. E, às sextas-feiras, ela lia comendo sapos de chocolate.
Porém, desde o incidente nas masmorras os únicos livros em sua posse eram relacionados à poções.
- Você não cansa de estudar?
- Você não cansa de me atrapalhar? – o loiro que estava sentado de forma desleixada com os pés sobre a mesa de centro, ajeitou-se imediatamente.
- O que você quer dizer com isso?
- Que atrapalha essa falação e esses olhares. Estou ocupada estudando e do meu cansaço, cuido eu.
Draco resmungou um palavrão, levantou-se e foi até o seu quarto, mas quando saiu ela não estava mais lá. Deu de ombros e foi em direção à saída do castelo.
A neve já cobria boa parte do terreno de Hogwarts. A bota de Hermione afundava alguns centímetros e uma fumaça esbranquiçada rodeava seu rosto conforme ela respirava. Sabia que não deveria entrar na Floresta Proibida, mas resolveu andar na orla, sem se aprofundar muito. Ela precisava espairecer. Não conseguia parar de pensar em Draco Malfoy. Nem nos beijos e no que fizeram sobre o sofá. Ela não deixou de se perguntar até onde teria ido se Snape não tivesse aparecido. Desde quando o loiro mexia com ela dessa forma? Desde o primeiro beijo. Algo aconteceu quando se beijaram pela primeira vez.
Ouviu um barulho de passos atrás de si e parou de andar, apurando os ouvidos. Nada. Andou mais um pouco e ouviu o ruído novamente. Virou-se e seu sangue gelou ao ver a enorme figura de um lobo cinza. Maior que um lobo comum e menor que um lobisomem.
Hermione correu.
Não ousou olhar para trás ao ouvir a rápida aproximação do animal atrás de si. Pegou sua varinha e continuou correndo, desviava de galhos, mas alguns cortavam seu rosto. E, como toda cena em que a mocinha corre desesperada... Hermione tropeçou. Ela sabia que não estava muito distante da casa de Hagrid, mas aquilo de nada adiantaria. Tentou levantar, mas seu pé estava torcido.
- Merda...
Virou-se e viu apenas uma mancha cinza pular sobre si. A varinha escapou de sua mão. As enormes patas dianteiras do animal sobre seu ombro, arranhando sua pele. Cortando-a. Sentiu a respiração quente sobre seu pescoço. Dor nas costas, nos ombros... E sentiu medo. Muito medo. Tudo o que via eram os dentes afiados. Inconscientemente, prendeu a respiração. Sentiu que o lobo tirava as patas dos seus ombros, mas ainda estava sob ele. Presa. Sentiu o lobo a farejando. Ela era a presa daquele animal. E viu os olhos. Escuros. Escuros como...
O lobo ganiu e ela sentiu o sangue dele sobre sua pele.
- AFASTE-SE! – era a voz de Hagrid. O lobo rosnou, ainda mantendo Hermione sob seu corpo. Hagrid disparou seu guarda-chuva cor de rosa, mas o feitiço não acertou o animal, que rosnou ainda mais. O meio gigante vinha correndo, já estava bem próximo. Sentiu o lobo olhando para si novamente, depois o animal saiu de cima de Hermione e sumiu na floresta.
- HERMIONE! – Hagrid ajoelhou-se e ajudou a garota a se levantar – Você está ferida! O que está fazendo aqui? Sabe que a Floresta Proibida é... proibida.
- Eu apenas estava dando uma volta... – ela andou até sua varinha e a pegou do chão – Criando lobos gigantes agora, Hagrid?
- Bem que eu queria... – ele respondeu, passando a mão na espessa barba – Eu vou te acompanhar até a Pomfrey.
Quando chegaram na enfermaria, Hermione falou que resolveria aquilo sozinha com a curandeira.
- Pode ter terminado Hogwarts, mas você e seus amigos tem uma certa atração pelo perigo, não é? – a velha curandeira disse, um tom entre zangado e divertido – Tire a blusa, senhorita Granger.
- Não sabia que agora havia lobos gigantes pelos terrenos de Hogwarts – Hermione falou – Ainda mais tão perto do Castelo.
A curandeira viu o ferimento. Estava doendo. Tinha sido profundo e ainda sangrava. Três grandes cortes paralelos em ambos os ombros.
- Nunca ouvi falar de lobos gigantes naquela região. Eles vivem...
-... Vivem na Sibéria, especialmente – Hermione completou. Pomfrey sorriu.
- Claro, senhorita Granger. É melhor deitar-se. Passará a noite aqui para que eu observe se terá alguma infecção. Você não ficará com cicatriz, só que esse é um ferimento que levará alguns dias para ser curado. E será um tratamento dolorido.
- Tudo bem – Hermione respondeu. Não seria a primeira vez que passaria por aquilo. Quando a curandeira começou a aplicar a poção, fechou os olhos. Era realmente muito dolorido. Tentava solucionar um enigma: o que um lobo gigante siberiano fazia em Hogwarts?
