"Você costuma vir aqui?"
Uma pequena voz rompeu o silêncio subitamente. Lily ergueu os olhos para encarar seu dono, um tanto assustada por ter sido interrompida em sua tímida brincadeira. Deparou-se com um menino levemente franzino, de pele clara, cabelos dourados e olhos claros, puros, embora de cores impossíveis de se identificar. O semblante dele era um tanto despreocupado: as mãos escondidas nos bolsos da bermuda escura, a ponta do tênis traçando desenhos disformes na areia suja do parque.
"Não..." ela respondeu timidamente, levantando-se e limpando as pequenas mãos sujas de areia no vestido florido, sem se importar em sujá-lo. "Não, é a primeira vez que venho."
"Hum," ele piscou calmamente, aproximando-se dela. Ao estar próximo o suficiente, retirou a mão esquerda do bolso e a estendeu, apresentando-se. "Meu nome é John. Moro na rua de trás."
Lily repetiu o gesto, apertando a mão de John.
"Olá, John. Meu nome é Lily," ela disse, embora seus olhos vagassem pelo local em que se encontrava. Era um bairro mais organizado que o seu; indicava uma classe social melhor. Pela postura de John, ela poderia jurar que seus pais possuíam dinheiro. E ela jamais havia conhecido alguém assim... "Eu... Eu moro um pouco distante daqui...", adicionou desajeitadamente. "Você costuma vir aqui todos os dias?"
"Não, apenas de vez em quando," John respondeu calmamente. No entanto, seu olhar direcionou-se para baixo e uma cor rosada invadiu suas bochechas instantaneamente. Um pouco surpresa pela mudança na postura dele, Lily abaixou o olhar, deparando-se com o fato de que John ainda segurava sua mão entre a dele. Suas bochechas arderam, e ela afastou-se rapidamente.
"Você não gostaria de..." os dois começaram a dizer ao mesmo tempo; as bochechas de ambos em um vermelho anormal.
"Você primeiro," Lily apressou-se em dizer.
"Não, você. Papai me ensinou que devemos dar preferência às damas," John replicou, sua postura modificando-se suavemente ao citar o pai.
Lily apertou os olhos, esquecendo-se de sua vergonha.
"Eu não gosto de ser tratada dessa maneira," ela declarou.
John surpreendeu-se.
"Como uma dama? Mas você é..."
"Eu sei que sou uma menina, mas você não precisa me tratar dessa maneira. Deixe isso para sua futura namorada, ou esposa."
O menino franziu a testa.
"Você é estranha."
"Você quer brincar comigo ou não, John?"
Ele sorriu.
"Claro que sim."
