Habitué
Por Gih Black
Um dos melhores lugares do mundo para escrever são os cafés das livrarias. Aliás, na minha opinião, livrarias e bibliotecassão os melhores lugares do mundo, desde, hã... Acontece que eu, como editora chefe d'O Profeta Diário, havia me tornado uma habitué naquele cyber café no centro de Londres. E ser habitué tem muitas vantagens.. Você chega, já tem a sua mesa reservada, o atendente conhece os seus gostos, lhe paparica com biscoitos amanteigados e, de quebra, você pode observar os freqüentadores sem compromisso. Estudantes descolados, madames fabricadas, intelectuais exóticos, coroas interessantes, tem para todos os gostos. Faço isso com freqüência: sento, abro o laptop e peço o capuccino. Aliás, não peço mais. Sabe como é, habitué.
Descompassei. Quase me engasguei e por um triz não derramei o capuccino em cima do teclado. Foi bem na hora em que ergui a cabeça para pedir uma água: ele estava de pé, no balcão, perguntando algo ao garoto do caixa. Camiseta preta e um jeans folgado. Como esquecê-lo? Não era preciso olhar seu rosto. Aquela loirice toda não poderia pertencer a outra pessoa que não tivesse Malfoy como sobrenome. Por um instante, esqueci da água. O que Malfoy fazia na Londres trouxa?
Ergui a mão para Simon. Ele acenou alegremente de volta, e foi pegar o copo d'água. E então, ele olhou pra mim. Ao se deparar comigo ali, assumiu uma postura curiosa. Seus expressão risonha parecia escancarar a incredulidade dele ao se deparar com a sangue-ruim come-livros depois de tanto tempo.
Murmurei "obrigada" a Simon, quando este trouxe meu copo d'água. Malfoy, do outro lado do café, apoiado no balcão, ergueu sua xícara de sei lá o quê para mim, como se fizesse um brinde, e bebericou, olhando fixamente para mim. Sorri de lado, e ergui meu copo d'água.
Congelei. Eu, por acaso, estava flertando com Malfoy?
Ele se sentou em uma mesa próxima. Aliás, sentar é uma expressão bem errônea. Ele se largou em uma cadeira. De um modo elegante, claro, afinal, elegância foi o que nunca lhe faltou.
Eu digitava o artigo nervosa, olhando de lado para ele. Ele me olhava curioso. Bobagens, Hermione. Você deve se concentrar no seu trabalho. E me concentrei, juro. Por dez minutos, quando a doninha andante parou atrás de mim, e me deu um susto – Buh!
Encolhi os ombros, devido ao susto, e olhei para trás. Lá estava ele. Um sorriso de lado, que posso jurar, ele não tirou da cara nem um segundo. Se apoiou no encosto da minha cadeira, os cabelos quase brancos cobrindo os olhos dele. Oh Merlin, ele estava perigosamente sexy.
- Granger.
- Malfoy. Incrível, você se lembrar de mim.
- Inesquecível. – ele sussurrou. Era impressão minha ou ele também estava flertando comigo? De repente, o ambiente ficou tão quente. Alguém desajustou o termostato?
- Jamais pensei que fosse te encontrar num café trouxa, Malfoy.
Ele deslizou por trás de mim e tomou assento ao meu lado, sem ser convidado. Ergui a sobrancelha e observei-o, esperando sua resposta.
- Jamais pensei que fosse flertar comigo, Granger.
Minha face esquentou. Eu sei, eu senti. E ele viu. Observou minhas bochechas e deu um sorriso. Quando será que chamariam o técnico para arrumar o termostato?
- Prepotente. Egocêntrico. Eu nunca flertaria com você, Malfoy.
Ele apenas aumentou seu sorriso torto. Eu bufei indignada, e voltei para o artigo. Algum tempo depois – uns quinze ou vinte segundos – olhei para ele irritada.
- Perdeu alguma coisa aqui, Malfoy?
- Não.
Pisquei. Como alguém pode ser tão... tão... uh! Fechei meu laptop, levantei, e, sem olhar para trás, me dirigi a uma estante de livros qualquer.
- Não sabia que é feio sair sem pagar a conta, Granger?
- Habitué, Malfoy.
Foi impressão minha ou ele pareceu armazenar essa informação?
- Por onde esteve todo esse tempo, Granger?
Parem o mundo, eu quero descer. Eu estava tendo uma conversa civilizada com Malfoy? Malfoy se interessava pela minha vida? Será que ele, por acaso, sabe de alguém que conserte o termostato?
- Estava na França. Trabalhava na Embaixada Mágica de lá.
- Do Ministério aos jornais. Porque essa mudança tão brusca?
- O Ministério Inglês não é como o Francês. O Inglês se curva diante do som de alguns galeões. Nosso ministério fede a hipocrisia.
Claro, eu estava fazendo uma crítica clara a tudo e a todos. Especialmente ao bruxo que estava parado na minha frente.
- Está me desafiando?
Ele andou perigosamente em minha direção. Calor, calor demais.
- Não. – respondi sinceramente. A expressão dele pareceu se amansar. Ele se apoiou de lado, na estante de livros, e me encarou.
- Vai fazer alguma coisa hoje à noite?
Eu pisquei, gaguejei, e quase solucei de surpresa. Respondi um "não" fraco, quase um sussurro. Ele pareceu mais satisfeito, não sei se pela resposta ou pela minha reação.
- Certo. Esteja aqui as 8.
Ele me deu um beijo na bochecha, virou as costas e foi embora.
E eu, fiquei congelada, lá, por sabe-se lá quanto tempo. Enxuguei o suor da testa com a manga da minha camisa, e, ainda sem assimilar bem, fui ao caixa, para pagar a conta e ir para caixa. Eu tinha um encontro com Draco Malfoy. Oh Merlin.
- Obrigada, Hermione, seu troco.
Sorri levemente, e olhei para Simon, lembrando da questão que rondou minha cabeça por muito tempo.
- Simon, o termostato está quebrado?
Ele me encarou incrédulo antes de responder.
- Não. Está funcionando perfeitamente, Mione.
Agradeci baixo, peguei o troco, e me dirigi, violentamente corada, para a saída.
N/A: Habitué, do francês, frequentador. Então, é isso. Comentem :D
