Aliança

Livro I: Sinais

"Harry se equivocava ao pensar que tudo ia bem. E o primeiro sinal foram os desaparecimentos."

Fanfiction de Helena Dax. Tradução autorizada pela autora.

Nota da Autora

Importante!

Este é o primeiro de uma saga de sete Fics Post-DH, que começa quando Albus e Scorpius vão à Hogwarts. Decidi publicar o primeiro capítulo da primeira Fic porque quero dar "Sinais" a Hijarde de presente de aniversário, mas não sei se me atreverei a continuar postando o resto, ainda que seja um capítulo por semana. Há algumas coisas que ainda não me convencem e não sei se já é hora de publicar. Se eu fizer, o mais seguro é que poste os capítulos às segundas.

A saga respeita não só o epílogo, senão muitos dos dados que Rowling deu em entrevistas posteriores, ente eles, um comentário acera de que "Harry nunca deixou que Draco esquecesse que lhe devia a vida". Esta frase e alguns detalhes do epílogo me fizeram dar a Harry uma atitude um pouco injusta quanto aos Malfoy no princípio da história, a pesar de que, ao longo de DH, às vezes davam a impressão de que realmente poderiam fazer as pazes.

Creio que a princípio há personagens que podem dar a impressão de que decidi simplesmente repetir o branco/preto de Rowling, mas à medida que a história avança muitos deles evoluirão para bem ou para o mau, irão modificando suas ideias... Aspiro escrever personagens com certa profundidade psicológica e essas coisas. Por outro lado, todos são bastante subjetivos, assim como fiz com Draco, por exemplo, que acusa Harry de algo, não quer dizer exatamente que seja certo, só que ele crê que é assim.

A história conterá Slash nos personagens principais, que são Harry/Draco por um lado e Albus/Scorpius por outro. Ainda assim, devo dizer que nessa primeira Fic não há nada de Slash: os garotos são pequenos e eles estão casados com suas respectivas esposas. A história, pouco a pouco, irá mostrando como se vão formando os dois pares, mas é basicamente, e antes de tudo, uma saga de aventuras, não um romance.

Ao longo das sete Fics pode haver algumas advertências sobre sangue, detalhes um pouco repugnantes e coisas assim – bem, é uma guerra -, mas não é uma história Dark nem nada disso. Creio que em alguns capítulos pode haver detalhes não recomendados para estômagos sensíveis, avisarei sobre eles antes. Não haverá morte entre os personagens principais, ainda que seja possível que de vez em quando haja um tipo de carnificina com os outros, logo veremos.

O Potterverso e a maioria dos personagens pertencem à J.K. Rowling, à Warner e a pessoas que não conheço. Fora os comentários, muito entretenimento e algo de estresse ocasional, não recebo nada em troca desta história, muito menos dinheiro.

Espero que gostem!

Nota da Tradutora

Nada. Absolutamente nada nesta Fanfiction me pertence, fora a Tradução. Todos os créditos do enredo vão para Helena Dax, que desenvolveu uma saga maravilhosa em Sete Fics-livros, dentro do Universo de Harry Potter.

Foi um prazer acompanhar esta história e está sendo um prazer dobrado traduzi-la.

Assim como Helena Dax gostou de escrever, eu gostei de ler/traduzir, esperamos que vocês também curtam este excelente trabalho!

Pretendo postar um capítulo por semana.

Sugestões, críticas e afins serão aceitos.

Abraços!

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Capítulo I

O Sorteio

- É Malfoy...

- É um Malfoy...

As vozes e sussurros encheram a cálida atmosfera do Grande Salão de Hogwarts com frieza e curiosidade. Scorpius Malfoy havia se preparado mentalmente para esse momento há muito tempo e compreendia o que lhe esperava em Hogwarts.

Ele havia perguntado ao seu pai o porquê de ter que estudar ali, já que ia ser tão mal recebido. "Porque você tem direito" havia sido sua resposta, e Scorpius, de algum modo, tinha a intuição de que aquilo era importante.

Assim, chegou perto da cadeira, em frente a todos, com a cabeça bem erguida e esperou que o Chapéu Seletor lhe enviasse à Sonserina, como deveria ser.

- Vejam, outro Malfoy... - disse o Chapéu, com uma voz que fez Scorpius se lembrar dos elfos domésticos -. Você é inteligente e curioso, não faria um mau papel na Corvinal, mas imagino que queria ir à Sonserina.

Scorpius nem sequer teve tempo de pensar um "sim" antes que o Chapéu gritasse o nome da Casa das Serpentes. Só seus novos companheiros aplaudiram; o resto do Salão o olhava com desinteresse ou clara hostilidade, ainda que isso tivesse acontecido cada vez que mandavam um aluno do primeiro ano à Sonserina. Scorpius não se importou. Um aluno mais velho, com uma insígnia de Monitor lhe apertou a mão e lhe indicou um lugar vazio para que ele se sentasse. Seu primo, Gabriel Nott, que começava o quarto ano, lhe saudou amistosamente. Até o momento só havia outros três alunos do primeiro ano ali, um garoto pálido e alto que não conhecia chamado Hector Kellerman, uma garota com cara de presunçosa que ele tampouco conhecia, Cecily Broomer, e outra garota grandona e de rosto inexpressivo que ele conhecia bem, Diana Goyle. Diana era afilhada de seu pai e havia passado muitas temporadas no exterior com eles, por isso se conheciam desde sempre. Scorpius havia recebido ordens terminantes de ajudar a garota em seus estudos, coisa que não lhe agradava porque sabia que Diana era muito lenta para aprender.

Mas o sorteio continuava e Scorpius, observando para onde seriam mandados seu amigo Damom Pucey e sua prima Morrigan, a irmã de Gabriel, apenas olhava de cima. Sua mão direita brincava nervosamente com a pulseira de prata que ele levava no pulso esquerdo, um hábito que sua família havia tentado, sem sucesso, tirar dele. Enquanto o Chapéu selecionava Jenny Manderlet, que acabou indo para Lufa-Lufa, Scorpius se deu conta de que os alunos da mesa da Grifinória o estavam olhando como se fosse um inseto e ele lhes devolveu o olhar da melhor maneira que conseguiu.

- Morrigan Nott! – chamou o subdiretor, professor Flitwick.

Scorpius esqueceu-se dos Grifinórios e olhou sua prima. Morrigan era quase uma cabeça mais alta que ele, uma garota bonita de cabelos castanhos claros, que caminhou até a cadeira com passos decididos. Scorpius e ela estavam muito unidos e o garoto desejava de todo coração que sua prima estivesse com ele na Sonserina. Morrigan podia ter a capacidade de atenção de um Troll, mas era divertida e sabia mentir aos adultos escandalosamente bem.

- Sonserina! – ditou o Chapéu.

Scorpius e Gabriel sorriram a Morrigan enquanto ela se sentava ao lado do primeiro e lhe passava o braço pelos ombros.

- Estamos juntos, Scorp. – disse satisfeita – Tomara que Damom e Michelle também tenham sorte.

Mas ficaram ainda vários alunos para serem sorteados antes de chegar a vez de seus amigos. Scorpius observou o fato de que o Chapéu estava mandando mais alunos às outras Casas, especialmente Grifinória, do que à Sonserina. Seu pai havia lhe explicado que em caso de dúvida entre duas Casas, o Chapéu usava decidir por uma de acordo com a decisão do interessado, e Scorpius supôs que todos os que se encontravam entre Sonserina e outra Casa estavam fugindo do estigma de Voldemort.

- Albus Potter!

Um burburinho que parecia o oposto do que havia acontecido com o nome de Scorpius ocupou todo o lugar, e dezenas de rostos se viraram em curiosidade e algo que Scorpius deduziu ser esperança. Um garoto tão baixinho quanto ele, de cabelos escuros e desordenados e olhos verdes brilhantes, se encaminhou rapidamente para a cadeira com o olhar fixo no chão e se sentou. Scorpius já o havia visto na Estação de Londres e na de Hogsmeade. Seu pai já lhe havia dito que ele iria cursar o mesmo ano que um dos filhos de Harry Potter; havia-lhe aconselhado que se mantivesse longe dele. Scorpius, que sabia perfeitamente o que os Potter, os Weasley e os outros como eles pensavam dele e de sua família e não sentia o mínimo de interesse para lhes dirigir a palavra.

O Chapéu demorou alguns segundos para gritar Grifinória. A mesa dos leões estalou em gritos de alegria e Scorpius viu como Albus era rodeado por seu irmão mais velho, James, e sua meia dúzia de primos Weasley, de quem também deveria manter-se afastado.

Então chamaram Damom Pucey, o filho de Adrian Pucey e Pansy Parkinson. O garoto, de cabelos e olhos escuros, também era amigo de Scorpius. Normalmente só se viam no verão e no Natal, quando os pais de Scorpius, ele e sua irmã Cassandra iam à Inglaterra, mas agora estavam encantados com a ideia de participar das mesmas aulas e compartilhar o mesmo dormitório.

- Sonserina!

Damom levantou as mãos vitoriosamente em direção aos seus amigos e correu para se sentar com eles, sem se importar com a fria acolhida das outras mesas. Scorpius sorria de orelha a orelha, contente. Com Morrigan e Damom ao seu lado nada mais importava muito.

Três garotos seguidos foram sorteados para Grifinória e depois foi a vez de uma para Corvinal e um para Lufa-Lufa. Cada vez sobravam menos alunos novos para sortear e os poucos que permaneciam de pé pareciam pequenos, ali no meio do Grande Salão. Um deles era Rose Weasley. Segundo Gabriel, havia um Wesley em cada sala. A garota, ruiva e sardenta como quase todo o clã, ergueu o nariz desdenhosamente em sua direção e Scorpius perdeu o pouco de interesse que sentia por ela.

- Michelle Urghart.

Scorpius voltou sua atenção, com expectativa, à cadeira. Os pais de Michelle haviam estudado com sua mãe e Michelle e Morrigan eram muito amigas. Scorpius gostava dela, ainda que às vezes a encontrasse um pouco irritada. Mas, para decepção de ambas, Michelle fora sorteada para Corvinal. Morrigan soltou uma exclamação consternada e Scorpius lhe deu um tapinha amigável em seu ombro.

- Sinto muito, Morrigan.

Michelle, que parecia tão surpreendida e desgostosa quanto eles pela decisão do Chapéu, foi sentar-se com seus novos companheiros com um ar resignado. Então, o Chapéu chamou um garoto chamado William Watson, gordo e com cara de leitão.

- Sonserina! – disse o Chapéu, aos dois segundos.

Scorpius começou a aplaudir de madeira automática, mas se deteve quando se deu conta de que o garoto estava horrorizado.

- Não, não pode ser. Não posso ir para Sonserina...

- Vamos, pequeno, não vai acontecer nada. – disse o professor Flitwick, amavelmente.

Scorpius quase riu, porque o professor era mais baixo que o garoto e o havia chamado de "pequeno", mas a risada se transformou em algo distinto, não tão agradável, quando se deu conta de que Watson havia começado a chorar e realmente se negava a chegar perto de sua mesa. O velho professor Slughorn, chefe da Sonserina, se uniu aos esforços do professor Flitwick para acalma o aluno do primeiro ano, mas não teve nenhum êxito. Watson parecia cada vez mais alterado e Scorpius começou a sentir uma fria sensação na boca do estômago. Os outros Sonserinos do primeiro ano também pareciam impressionados pelo espetáculo que seu companheiro estava dando, mas no rosto dos mais velhos só havia ridicularização e desprezo, e alguns outros começaram a rir dissimulados.

- Por Salazar, não precisamos dessa vergonha em nossa Casa. – Scorpius ouviu um aluno do terceiro ano, de traços asiáticos, dizer.

- Não vamos comer você, Watson! – gritou uma aluna do quarto ano, provocando mais risadas ao redor.

Watson olhos para eles com os olhos desorbitados e tratou de sair do abraço do professor Slughorn. Scorpius pensou que ele ia fugir e sair correndo pelo Grande Salão, mas a professora McGonagall, a diretora de Hogwarts, se uniu ao pequeno grupo naquele momento.

- Senhor Watson, faça o favor de se acalmar.

- Por favor... Eu não quero ir para Sonserina – suplicou entre soluços -. Eu sou uma pessoa boa. Te juro que sou bom.

- Não duvido senhor Watson. O professor Slughorn também é uma excelente pessoa e foi da Sonserina, não é mesmo, professor?

As risadas haviam terminado entre os Sonserinos, que agora olhavam para o aluno do primeiro ano com frieza. Scorpius se sentia ofendido, se dando conta do insulto que Watson havia vertido sobre eles.

- Quero pensar que sim, eu sou – disse o professor Slughorn, amavelmente -. Vamos, William, deixe que te acompanhe até a mesa.

Mas não havia maneira de conseguir que o assustado garoto quisesse aceitar a decisão do Chapéu, e ao final, madame Midgen terminou levando o garoto à enfermaria. Os últimos garotos – Weasley e Williamson – foram sorteados e os dois acabaram sendo mandados para Grifinória. A professora McGonagall fez então um discurso de boas-vindas, o que parecia algo desnecessário depois do que havia acontecido; logo após, montes e montes de comida apareceram como que por mágica [NT: eu ri nessa parte.] em cima das mesas. Scorpius, que estava faminto, começou a servir-se de um pouco de tudo, mas não deixava de prestar atenção a tudo o que se passava ao seu redor e se deu conta de que os Monitores da Sonserina estavam furiosos e lançavam olhares de puro ódio aos alunos da Grifinória, que não paravam de rir entre si.

- Espero que mudem ele de Casa. – disse Morrigan, com desprezo – Asseguro que não serve para nada, esse gordo chorão.

Scorpius mostrou que estava de acordo. Se esse idiota acreditava que para Sonserina só iam as más pessoas, melhor que ele ficasse com os outros. Mas, pelo que havia ouvido falar, as decisões do Chapéu Seletor eram irrevogáveis. A ideia de ter que passar sete anos compartilhando o dormitório com ele era desencorajadora.

- Vocês já se conheciam? – perguntou o garoto alto, Kellerman.

- Sim. Eu sou Morrigan Nott, esse é o meu primo, Scorpius Malfoy. Este é Damon Pucey e aquela é Diana Goyle. Nossos pais são amigos, quase todos Sonserinos do mesmo ano. E você? Não conhece ninguém?

- Não. Bem, falei com um par de garotos enquanto vínhamos, mas um foi para Corvinal e outro para Grifinória.

Hector parecia bastante simpático e Scorpius voltou a se animar ao ver que Damom também parecia ter ido com a cara dele. Se eles três se desse bem, não precisariam do garoto chorão.

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Depois do jantar, os Monitores acompanharam cada turma a seus quartos. Scorpius havia ouvido falar tanto das masmorras da Sonserina que quando entrou se sentiu como se já tivesse estado lá. Primeiro percorreram um longo labirinto de corredores mal iluminados por tochas mágicas. Aino Kaspersen, um dos Monitores, lhes ensinou um truque enquanto caminhavam, para que eles recordassem o caminho certo. Depois de andar uns duzentos metros, começaram a ver de cada lado as portas dos dormitórios. Aino se deteve em frente às primeiras.

- Estes serão os seus dormitórios; meninos à esquerdas, meninas à direita.

Scorpius, Damom e Kellerman entraram no quarto dos garotos. Era muito amplo, com camas que pareciam as mais confortáveis. Ao lado de cada cama havia uma mesinha de cabeceira e do outro lado um baú. Os elfos haviam deixados as coisas dos garotos em uma fila ordenada contra a parede e eles começaram a guardar suas coisas em seus baús.

- Deixem todas suas roupas de Hogwarts para fora – recordou Aino Kaspersen -. Os elfos se encarregarão de bordar suas insígnias da Sonserina e farão aparecer suas cores. Vocês têm uma hora antes do horário de recolher e ir para cama; se quiserem escrever à suas casas para contar como foi a Seleção, agora é um bom momento.

Dessa forma, todos os garotos seguiram até o final do corredor, observando o interior do outros quartos quando a porta estava entreaberta. Por fim, chegaram ao amplo Salão Comunal. Os feitiços dos elfos domésticos mantinham o ambiente aquecido, mesmo longe da lareira, e tinha um ar elegante, mas confortável. Situadas perto do chão, as janelas tinham como pano de fundo o lago que haviam atravessado por barcas um par de horas antes; Scorpius e os outros alunos do primeiro ano se acercaram rapidamente para tentar ver a Lula Gigante ou alguma outra criatura que povoava o lago, mas não viram nada.

Os garotos seguiram o conselho do Monitor e se sentaram para escrever. Scorpius estava seguro de que seus pais iam se alegrar muito quando soubessem que ele, Morrigan, Damom e Diana estavam juntos na Sonserina, ainda que também soubesse que estavam um pouco preocupados por ele e o acolhimento que os alunos das outras Casas poderiam dar a ele.

- O idiota caiu em nossa turma. – disse Gabriel, colocando-se entre sua irmã e Scorpius.

- Mais um pouco e ele começará a chamar pela mãe – replicou Cecily, a garota de rosto presunçoso -. Assim, pode ser mais bebê que isso?

- Acham que era um Sangue-ruim? – perguntou Damom.

- Se fosse um Sangue-ruim não haveria ouvido falar da Sonserina – replicou Scorpius -. Além do mais, meus pais haviam me falado que o Chapéu Seletor quase nunca manda um bruxo assim à Sonserina; só houve meia dúzia de casos em mais de mil anos.

Então Britney Steele, uma garota de cabelos pretos e excêntricos, bastante bonita, que até o momento não havia falado muito, se colocou em pé com os braços cruzados e os olhou com um ar feroz.

- Bem, minha mãe é uma trouxa. E se algum de vocês se atreverem a dizer algo de ruim sobre ela arrancarei as tripas de vocês e os farei comer. Não paguem pra ver. Te desafio a dizer algo sobre minha mãe, Scorpius Malfoy. Não pense que não sei quem é sua família.

O restante dos alunos do primeiro ano apenas ficou encarando a garota, com fascinação; ela parecia realmente capaz de cumprir com sua ameaça. Scorpius, por sua vez, estava muito surpreendido, mas, sobretudo, se sentia injustamente atacado.

- Olha aqui, sua maluca, eu não vou dizer nada sobre sua mãe. Mas, se você se meter com a minha família, usarei uma maldição que meu avô, um Comensal da Morte, me ensinou. Farei com que seu sangue comece a ferver, seus olhos arrebentarão e você morrerá.

Houve um murmúrio apreensivo e admirado entre os alunos que escutavam, mas a garota só fechou os olhos por um instante.

- Ah é? Pois eu usarei uma maldição que meu pai me ensinou e farei com que você asfixie.

- Pois eu usarei outra maldição e suas tripas sairão pela sua boca.

- Pois eu farei com que comece apodrecer os dedos dos seus pés e todo seu corpo começará a apodrecer também. Em três meses morrerá e o fará gritando.

Scorpius franziu o cenho.

- Pois vou... Usarei um Imperius e farei com que queria comer seus pais e depois te obrigarei a se cortar em pedaços e comê-los também. E não serão só as tripas – concluiu, com desprezo.

Britney abriu a boca para proferir outra ameaça e até Scorpius se sentiu curioso para saber o que ela ia dizer. Mas Gabriel os interrompeu, irritado com tudo aquilo.

- Duvido muito que qualquer um de vocês saiba fazer algo mais complicado que um Lumus. Vamos ver, menina, como se chama?

- Britney Steel. E não se meta com minha mãe...

- Ah, cale-se já! Você não é a primeira mestiça que entra na Sonserina, okay? Até aquele maluco do Voldemort era mestiço. E meu primo não ia dizer nada de sua mãe.

Uma Monitora alta e com aspecto autoritário que passava por ali também interviu na conversa.

- Vocês... Escutem-me bem todos, pirralhos. A Sonserina não ganha a Copa das Casas e a de Quadribol desde 1990, e Merlin sabe que será impossível que voltemos a ganhar uma delas enquanto as coisas continuarem assim. Mas, ao menos podemos ficar em último. Levamos dez anos evitando o último lugar e acreditem quando lhes digo que suamos cada ponto. – Ela lhes lançou um olhar de advertência e sua voz se converteu em algo acirrado e perigoso, como a ponta de uma espada -. Se algum de vocês começar a perder pontos da Sonserina por culpa dessas suas estúpidas brigas colocarei vermes carnívoros no estômago de vocês e os enterrarei vivos em uma vala de dez metros abaixo da terra. Me entenderam?

Os alunos do primeiro ano olharam para ela com os olhos muito abertos e Scorpius e Britney se aproximaram sem se darem conta de que um buscava proteção no outro.

- Não estávamos brigando. – Scorpius assegurou com rapidez.

Ela assentiu secamente.

- Acho bom. – disse, e depois saiu dali, fazendo sua túnica esvoaçar ruidosamente atrás dela.

Gabriel soltou uma pequena risada.

- Está bem. Eu tampouco ia dizer algo sobre eles. – suspirou – É sério que somos tão loucos?

- Meu irmão me disse que os piores são James Potter e os outros Weasley – explicou Morrigan -. E como se não bastasse teremos cada um deles em nossas classes.

Scorpius se lembrou da cena na Estação. Aquela havia sido a primeira vez que via Harry Potter em pessoa, ainda que, claro, havia ouvido falar dele e dos Weasley. E sabia coisas sobre a guerra. Sabia que os Malfoy haviam começado apoiando Voldemort e que quando este se voltou contra eles, haviam mudado de lado. Sabia que seu pai havia ajudado Potter duas vezes e sua avó Narcissa, uma; sabia também que Potter havia salvado seu pai duas vezes e que seu testemunho durante o julgamento que havia ocorrido logo após a guerra havia ajudado eles a não acabarem em Azkaban.

Mas também sabia que, ainda que tratasse de dissimular, seu pai não sentia nenhuma simpatia por Harry Potter e seus amigos, e que seus avós os desprezavam abertamente. No entanto, ignorava a causa. Seu pai apenas falava deles diante dele, sua irmã e sua mãe, ao menos. Seus avós, um tanto mais comunicativos nesse assunto, o acusava de ser um hipócrita.

- Potter é o tipo de pessoa que desde garoto protestava pelo favoritismo que o Chefe da Sonserina demonstrava com seus alunos, mas parecia tão perfeito que abriram exceções a ele e lhe deixaram jogar Quadribol no primeiro ano – ela havia explicado, há um ano -. Quando a guerra terminou, lhe deixaram entrar na Academia de Aurores sem sequer ter conseguido os N.O.N.W.S. Mas, não é só isso, claro. Todos nos sentimos inclinados por esse padrão duplo. A diferença é que um Sonserino admitiria claramente, mas Potter e os outros Grifinórios tentaram justificar-se porque precisam acreditar que são justos e nobres. Bobeira, Scorpius. Não espere nada parecido com nobreza vindo deles.

Apesar das palavras de sua avó, incluindo o desagrado mais ou menos dissimulado que seus pais e os amigos deles sentiam pelos Potter e os Weasley, Scorpius sentia mais curiosidade que qualquer outra coisa acerca deles, e ao vê-los na Estação, os havia estudado com dissimulada atenção.

A expressão que havia visto em seus rostos o fizera sentir-se pequeno e desprezível, e ele nunca havia se sentido assim.

E logo seu pai os havia cumprimentado com um movimento de cabeça, mas eles quatro haviam se limitado a olhá-lo assim também, com condescendência. Como se seu pai não merecesse nem que lhes devolvessem o cumprimento.

E naquele momento, aquilo só havia sido uma peça do quebra-cabeça que, sem ele saber, estava se formando em sua cabeça. Mas, aquela noite, enquanto se preparava para ir dormir e passar sua primeira noite em Hogwarts foi como se tudo começasse a se encaixar. Aquilo era como uma briga. Ainda não sabia muito bem contra quem e nem o quê queria conseguir com ela. Mas, teria que descobrir logo e aprender a brigar também.

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Blaise Zabini, ex-companheiro de classe e amante ocasional nos primeiros anos pós-guerra, havia ficado realmente surpreendido quando Draco lhe havia dito que estava apaixonado por Astoria Greengrass. "A irmã de Daphne? Por quê?", ele havia se perguntado. Draco havia contestado com generalidades próprias da situação em questão. Ela é bonita, de boa família. Estou apaixonado por ela. A verdadeira resposta era demasiado íntima e pessoal para dizer a qualquer um. Blaise tampouco poderia entender, de qualquer forma.

Astoria é a primeira pessoa que viu em mim o homem que quero ser, Blaise.

Não, Sonserinos não diziam essas coisas, ainda que as sentissem.

Mas Draco havia se sentido tão perdido depois da guerra... Já não sabia quem era nem quem deveria ser, o que era certo e o que era errado. Já não era mais o Draco de antes da guerra; esse garoto havia morrido por debaixo da varinha de Voldemort. Para ele, no Mundo Mágico, era um marcado, um criminoso, e o tratavam como tal, mas Draco resistia em tomar esse papel. Para Potter e seus amigos nem sequer existia na maior parte do tempo; eram os heróis, os vencedores e estavam ocupados demais deixando-se beijar a bunda para prestar atenção as excluídos da sociedade. Se alguma vez prestaram atenção nele, era pra fazê-lo saber, de um modo ou de outro que se sentiam infinitamente superiores a ele ou a qualquer um dos seus. Draco tampouco pensava ser o Draco que eles queriam, ele que teria uma vida asquerosa e acabaria seus dias alcoolizado em algum lugar de uma mansão vazia, a prova vivendo de que o bem triunfa e o mal é derrotado.

Se seu pai não tivesse continuado em Azkaban, haveria sido terrivelmente fácil sair do país e passar os dez anos seguintes fodendo com bruxos e bruxas e toda Europa, bebendo até perder a consciência e lamentando uma reputação que fora escandalosa por motivos mais divertidos que uma tatuagem maldita em seu braço esquerdo. Mas, Lucius havia sido condenado a dois anos, mas outros dois de cárcere domiciliar sem varinha e Draco não podia deixar sua mãe sozinha nessas circunstancias. Além do mais, a notável inteligência de Narcissa Malfoy não se estendia aos negócios e o Wizengamot estava tratando de tirar uma vantagem extra em troca da relativa suavidade de suas condenações. Assim, Draco ficou na Inglaterra, terminou seus estudos em Durmstrang e se dedicou a proteger o melhor que pode os negócios da família. Era um homem de negócios.

Mas aquilo não bastava.

E então havia aparecido Astoria, se é que podia falar assim quando na realidade a conhecia desde que ela ingressara em Hogwarts e Draco havia descoberto que a garota alta e loira o enxergava de verdade. Ela sabia quem ele era agora, quem queria ser.

Seu pai já era livre para ir e vir, com varinha incluída, quando Draco pediu Astoria em casamento, mas não tinha todos consigo. Sabia que Astoria sentia o mesmo que ele, mas isso não queria dizer nada; ele era um marcado e sua posição havia melhorado apenas um pouco desde o final da guerra. Estava disposto a sentir-se afortunado se ela aceitasse e simplesmente pedisse para adiar a boda até que tivesse uma posição social menos comprometida. Mas Astoria não havia dito nada disso, só havia pego em suas mão e olhado intensamente em seus olhos.

- Só prometa-me uma coisa.

- O que quiser. – ele disse com sinceridade.

Astoria fez uma pausa.

- Se nos casarmos, nossos filhos não crescerão em meio a tudo isso, rodeados de passado, ódio e rancor.

Draco sabia bem tudo o que isso podia implicar, mas isso só fez com que ele se convencesse ainda mais que queria essa mulher ao seu lado.

- Eu prometo.

E ele havia cumprido sua promessa. Depois do nascimento de Scorpius haviam deixado a Inglaterra e as crianças só haviam voltado ao país em festas, longe da ideologia que tanto dano havia causado aos Malfoy. Draco havia se dedicado a ampliar os negócios da família no exterior; e ainda que visitasse a Inglaterra frequentemente, cada vez que o fazia se alegrava que seus filhos não estivessem sendo criados ali.

Agora haviam voltado. Draco havia estado em dúvida durante algum tempo, mas ao final havia decidido que Scorpius e Cassandra tinham que ir a Hogwarts. Era seu lugar. E apesar de sua convicção, Draco havia passado o primeiro dia de Scorpius no colégio, com os nervos a flor da pele. Sabia que seu filho não ia chamar ninguém de Sangue-ruim e nem ia se mostrar arrogante e insípido, que não ia se deixar pisar, mas que não era nenhum grande intimidador.

E ainda assim, se dariam conta? Bastaria isso para garantir-lhe sete anos de paz em Hogwarts? Ou o havia mandado para um inferno?

Quando a coruja de Hogwarts chegou por fim à Mansão Malfoy e bicou o cristal de uma das janelas do quarto de Draco e Astoria, nenhum dos dois estava dormindo, apesar da hora avançada da noite.

- Corre, abre a janela. – disse ela.

Draco já estava se levantando da cama, de qualquer forma. Depois de dar a coruja um pedacinho de carne seca que havia feito aparecer com sua varinha, pegou o pergaminho que tinha em sua pata. Tal e como esperavam, era Scorpius. Então Draco voltou a fechar a janela e se aproximou da cama com sua mulher, que estava impaciente, para ler a carta em voz alta. Os dois se alegraram em saber que Scorpius, Morrigan, Damom e Diana estavam juntos na Sonserina, mas se olharam com incredulidade quando souberam da reação de Watson.

- Não posso acreditar que o deixaram ir para enfermaria – Draco resmungou -. Pode ser que Snape resultara ser uma decepção, mas ao menos não haveria consentido com essas coisas.

Draco havia começado a suspeitar que o antigo Chefe da Sonserina trabalhava para o bando de Potter no ano de guerra, vendo como tratava de proteger Longbottom e os seus, e havia guardado suas suspeitas para si, mas ainda assim, havia sida uma amarga decepção. Esse mesmo homem havia encorajado ele e os outros Sonserinos para enfrentarem Potter e os Grifinórios, lhes haviam empurrado alegremente feito o bando ia trair.

Era o único adulto de Hogwarts em que eles haviam confiado.

- Mas eu não me surpreendo, sabendo o que sei de Slughorn – replicou Astoria, que o havia tido como Chefe de Casa durante três anos -. Se o tivesse visto depois da guerra sentiria vontade de vomitar. Dava a sensação de que ele se colocava a favor de qualquer um antes de um Sonserino.

Draco franziu um pouco mais o cenho e continuou lendo. Não contava nada mais de interessante, mas suas palavras demonstravam que sua primeira impressão do colégio não havia sido de todo ruim. Ele estava curiosos com tudo, impaciente para aprender novos feitiços e conjuros que o havia visto fazer.

- Isso é tudo – disse, quando terminou de ler sua despedida, entregando o pergaminho a Astoria.

Ela leu rapidamente a cara e Draco se perdeu em seus pensamentos, imaginando o que seu filho poderia encontrar em Hogwarts. James Potter e os Weasley eram umas pestes, se a metade do que Gabriel contava fosse verdade. E Scorpius ia frequentar as mesmas classes que Rose Weasley e Albus Potter. Albus Severus Potter. Draco se irritava cada vez que pensava nesse nome. Por acaso Potter havia tentado humilhar o antigo professor da Sonserina unindo seu nome ao sobrenome que ele mais odiava no mundo? Draco podia facilmente imaginar Snape retorcendo-se em seu caixão só de pensar. Porque não podia ser verdade o que afirmava o próprio Potter, não podia ser que ele fizera isso como uma homenagem porque Snape havia sido de seu bando. Não podia acreditar que Potter pudera ter tão pouca honra para colocar em um de seus filhos o nome do homem que, apesar de tudo, havia provocado a morte de seus pais.

Não, tinha que ter sido uma vingança. E ainda que houvesse momentos em que Draco deseja que Snape tivesse sobrevivido para se vingar dele – ou para pedir um milhão de explicações -, lhe subia um sangue quente que Potter se atrevera a denegrir assim a memória do Chefe da Sonserina.

- Bem, ao menos estão todos juntos. – disse Astoria ao terminar de ler -. Ainda que seja uma pena o que aconteceu com Michelle. Corvinal não é uma Casa ruim, mas ela vai se sentir um pouco sozinha lá. E, além disso...

Draco sorriu ironicamente.

- Além disso, você queria que ela e Scorpius fossem juntos para Sonserina para ver se assim se apaixonavam e se casavam ao terminar o colégio, não é mesmo?

Ela sorriu também.

- E por que não? Formariam um belo par. E você não pode colocar a culpa na linhagem de Michelle.

- Eles têm onze anos, sua maluca.

- É só uma hipótese.

- E se ele gostar mais dos garotos?

- Com Damom ou com Richard Bletchey.

Draco arqueou uma sobrancelha.

- E se ele gostar mais dos Trolls? – perguntou muito sério.

Astoria fingiu ficar enfadada ao dar-se conta de que Draco estava brincando com ela.

- Idiota...

- O que? Só quero saber até que ponto você tem tudo planejado. Você procurou um companheiro de cada espécie? Olha que ele sempre gostou dos elfos domésticos.

Astoria lhe deu um tapa, entre escandalizada e divertida.

- Draco! É asqueroso que digas isso de seu próprio filho.

Ele desatou a rir e forçou um pouco para imobilizá-la contra a cama e evitar que ela lhe batesse mais. Depois a observou, um pouco corada e com seus olhos azuis brilhantes. Era uma mulher muito charmosa e Draco sentiu seu corpo reagir ante ela com desejo. Então ele aproximou seu rosto até que seus lábios roçaram os que sua mulher.

- Scorpius se casará com quem ele queira, como eu. E escolherá bem... Assim como eu fiz.

Astoria o olhou com um sorriso entregue e o beijou. Draco devolveu o beijo, deslizando uma de suas mãos até sua cintura e se esqueceu de Hogwarts e de tudo o que podia terminar mal por uma noite.

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Outra coruja de Hogwarts chegou voando em uma grande casa trouxa, que tinha um alto telhado acabado em ponta. Estava situada nas montanhas de Gales, em um lugar de difícil acesso, que no inverno se cobria de neve.

Uma figura esperava junto à janela e pegou a mensagem da coruja, ao passo que a deixou partir. Depois abriu a carta com paciência.

"O curso já começou. Ninguém suspeita de nada. Seguirei adiante com o plano e irei lhe informando."

Não havia assinatura. Não fazia falta. A figura sorriu com um sorriso pouco agradável e destruiu a carta.

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N/T: Bem, esse capítulo é mais um 'teste'. Se a fanfic for bem recebida eu continuo.

Obrigada por ter acompanhado!

Reviews são sempre bem-vindos.