O jovem de cabelos vermelhos parecia impaciente, batendo a mão insistentemente sobre o balcão do bar. Suspirou pesadamente, quando viu entrar na Toca um jovem de certa forma parecido consigo.

Porte atlético, os longos cabelos azulados e lisos caindo até quase a cintura, os orbes acinzentados cintilavam.

-Finalmente; Dionísio falou irritado. –Já estava ficando cansado de esperar.

-Irmãozinho. Irmãozinho. Paciência nunca foi sua virtude preferida, não? –Apolo perguntou com um sorriso debochado.

-Abusa vai, você só conseguiu convencer a Dama 9 a te deixar contar essa crônica porque eu tenho que resolver umas coisas; Dionísio falou, se não fosse a autora apartar a briga nos bastidores, certamente que os dois irmãos teriam se atracado e literalmente uma tragédia grega teria acontecido.

Não é novidade entre as divindades que Apolo andou se interessando pela parceria feita entre Dama 9 e Dionísio, porem a oportunidade nunca chegava e agora, bem... Dionísio tinha um compromisso bem importante e não poderia ficar essa noite com os leitores.

-Você ainda vai me agradecer; Apolo falou.

-Que seja; Dionísio bufou, enquanto arrumava o sobretudo preto nas costas–Mato você se deixar faltar vinho pro pessoal. As garrafas estão lá embaixo na adega;

-Você já disse isso; Apolo falou rolando os olhos, desde que falara com o irmão, ele lhe dera uma lista das coisas que poderia ou não fazer enquanto estivesse na Toca.–Alem do mais, por mim estaríamos na Balada das Musas, mas você insistiu que fosse aqui;

-Nunca; ele respondeu com os orbes estreitos. –Caso você tenha esquecido, essas crônicas de chamam 'Crônicas de Amor e Confusão", na Toca do Baco, isso quer dizer, minha Toca, não sua Balada; Dionísio completou gesticulando nervosamente.

-Ta certo, vai embora logo, que você esta me atrasando;

-Boa noite; ele falou saindo do estabelecimento

-Finalmente; Apolo falou, deixando o sobretudo que usava em cima do balcão, fez um breve alongamento e o sorriso em seus lábios se alargou.

-Boa noite a todos. Como vocês viram. Meu caro irmãozinho foi obrigado a deixá-los devido a alguns compromissos que eram impossíveis de serem ignorados, por isso, eu estou aqui e permanecerei com vocês até o final da noite.

Caminhou devagar, até puxar um banco e sentar-se sobre ele no meio do salão. Agora todas as atenções estavam sobre si.

-Uma vez eu ouvi uma frase interessante e gostaria de compartilhá-la com vocês. Alguns dizem que 'O Coração de Uma Mulher é Um Oceano Cheio de Segredos'. Com isso concordo perfeitamente. Não há nada mais fascinante do que os segredos ocultados pelo tempo num coração capaz de suportar coisas que até os deuses duvidam.

Ao longo dos séculos conheci mulheres guerreiras, que lutavam por seus objetivos. Mulheres frágeis, cujo único objetivo era serem amadas. Mas vi também mulheres capazes de escreverem o próprio destino e criarem seus próprios caminhos. E é sobre uma dessas mulheres que falaremos essa noite.

Um romance que nasceu nos primórdios da humanidade e que sobreviveu até os tempos de hoje.

Medo. Hesitação. Coragem. Arrependimento. Esperança.

Tantos sentimentos despertados em corações mortais que nessa crônica mostrar-se-ão de forma evidente na vida de dois jovens.

Conheçam agora Mar Sem Fim. Lembranças do passado e antigos sentimentos voltam a aflorar. E Tétis e Julian vão começar a encontrar seu caminho.

Boa Leitura!


Nota: Essa crônica se passa dois anos antes de Ariel e é a ponte de ligação com alguns fatos citadas na mesma.


Crônicas de Amor e Confusão V

Mar sem Fim

Capitulo 1: O Começo do Fim.

I – Um Lampejo de Memória.

Estava fraca, não tinha mais forças pra lutar contra a arrebentação. Sentiu uma lufada de vento frio em sua face. Tentou respirar, mas a única coisa que conseguiu foi engolir uma horrível porção de água salgada, que correu queimando pela garganta.

Não conseguia mais, porém sua alma estava aliviada, conseguira salvá-lo, era só o que importava agora. Não estaria ao lado daquele que jurara respeito, fidelidade... E amor, porem agora ele nunca saberia disso.

Começava a perder a consciência, mas sentiu uma delicada mão fechar-se com força sobre a sua e sem um pingo de cerimônia, puxar-lhe para fora da água.

Sentiu o corpo cair num baque seco de encontro a areia úmida. Gotas de água cristalina caiam do céu sobre seu corpo, tentava se levantar, mas o Maximo que conseguiu foi rastejar alguns centímetros de onde estava.

Forçava os olhos a se focalizarem em algum ponto qualquer que lhe permitisse ter certeza de que ainda estava viva, mas respirar ficava cada vez mais difícil. Seu corpo ainda lutava por sobrevivência, porém seu cosmo estava se apagando. Simplesmente fechou os olhos e deixou o corpo cair inerte sobre a areia sem mais oferecer resistência diante do inevitável.

-o-o-o-o-

Um. Dois. Três... Era como se sentisse por três vezes algo se comprimir em seu peito. A dor era terrível. Sentia a garganta seca e os lábios rachados, era como se a água que tivesse ingerido, quisesse voltar por onde entrara.

Ao longe ouvia duas vozes preocupadas, gritando como se quisessem acordá-la, mas sentia-se fraca de mais até pra tentar reconhecê-las. Sentiu algo macio tocar seus lábios e uma lufada de ar tocar a entrada da garganta.

Novamente aquela dor. Uma puxada de ar dada somente por impulso, no susto Tétis tentou se levantar. Rapidamente foi virada de lado e toda a água salgada que engolira finalmente sairá.

Tossil convulsivamente até conseguir expelir a ultima gota de água. Fechou os olhos firmemente, a respiração estava descontrolada, queria se levantar, mas algo pesado sobre si a impedia de fazer isso.

-Diga alguma coisa? –uma voz pediu, chacoalhando-a pelos ombros, obrigando-a a reagir e manter-se consciente.

-Q-qu-em é vo-cê? –ela perguntou com a voz enrouquecida, abrindo parcialmente os olhos.

Não sabia onde estava? Que dia era? Ou quanto tempo passara sendo arrastada pelas ondas do mar até parar ali? E quem eram as pessoas que lhe salvaram?

-Sorento me ajude aqui; a primeira voz chamou por alguém a seu lado. Conhecia esse nome. Não, não era possível que...?

-Vamos, reaja; Sorento falou, tentando lhe manter consciente, mas a cada vez sentia-se perdendo os sentidos novamente.

Aos poucos foi se acalmando. Era como se ter os delicados dedos de um anjo afagando-lhe as melenas, uma lagrima pendeu de seus orbe quando sentiu uma onda de paz e um leve torpor abraçar-lhe o corpo, fazendo a dor passar.

Não ouvia mais as vozes, talvez estivesse dormindo, ou morrido de vez, porem sentiu algo frio lhe tocando a testa, uma gota de água gelada escorreu pela lateral de sua face. Era tão reconfortante.

Uma voz parecia lhe chamar, abriu com vagar os olhos confusos, encontrando a sua frente um jovem de cabelos azuis, quase acinzentados e orbes rosados, tinha a impressão de que o conhecia de algum lugar, mas sentia-se tão cansada que a única coisa que não queria fazer agora era pensar.

-Ainda bem que acordou; o marina falou com suavidade, enquanto voltava a molhar o pano em uma bacia de água, que jazia em cima de um criado mudo ao lado da cama.

-Onde estou? –ela perguntou com a voz baixa e enrouquecida, sentia a garganta seca e os lábios levemente rachados por causa da água salgada.

-Não se preocupe, esta em Atenas, na casa do Julian; Sorento respondeu amigavelmente, porem não reprimiu um suspiro aliviado por finalmente vê-la acordada.

Nunca imaginara que fosse vê-la justamente ali, na praia. Não sabia quanto tempo ela passara sendo arrastada pelo mar, para que justamente após o termino do eclipse de Hades ela aparecesse ali na praia do Cabo e viva.

Não podia negar que tudo estava acontecendo de forma estranha. Primeiro Jullian do nada recuperava a consciência de Posseidon e ao pé do Cabo Suinon lhe falava sobre a batalha que Seiya e os outros travavam no inferno contra Hades.

Depois veio o cosmo estranho que vira pouco antes do termino do eclipse se manifestar. No escuro só vira uma luz azulada no meio do mar, vindo de dentro das águas, não sabia o que era, mas algo dentro de si o mandava ir até lá. Saiu correndo, por fim, encontrou a sereia deitada na areia da praia quase morta.

Na verdade pensara que ela tivesse morrido quando salvou a vida de Jullian, mas fora um milagre realmente grande ela estar viva.

-Eu conheço você; Tétis falou, tentando recordar-se de quem era realmente ele.

-Sim, mas agora só descanse, depois conversamos; ele falou cobrindo-a até o pescoço com um lençol fino.

Era estranho como podia ouvir uma doce melodia que aos poucos lhe fazia fechar os olhos. Até adormecer completamente. Sorento notou que ela finalmente dormira, guardando por fim, o delicado instrumento de siringe no bolso de dentro da jaqueta, afastou-se parcialmente, indo sentar-se numa poltrona no canto do quarto.

-o-o-o-o-

Uma cálida luz entrava pela janela, abriu os olhos lentamente acostumando-se com a claridade do ambiente, enquanto levava as mãos aos olhos impedindo que a luz batesse diretamente nos mesmos, parecia que já havia amanhecido. Com certa dificuldade levantou-se da cama e caminhou até a janela.

Afastou levemente a cortina, dali tinha uma visão maravilhosa do mar. Aos poucos flashs do que aconteceu voltaram a sua mente.

A destruição do templo. Jullian. O mar, quanto tempo passara sendo arrastada pelas águas? Quem a salvou? – Tétis acabou sedo tirada de seus pensamentos com a abertura da porta.

-Com licença; uma Sra de idade falou entrando no quarto.

-Oi; ela respondeu voltando-se pra ela.

-Quem bom que acordou, o jovem Sr estava muito preocupado com a Srta; ela falou. Tétis olhou-a visivelmente confusa. –Srta, aqui estão algumas roupas para que possa trocar as outras; a Sra falou, deixando algumas peças de roupa sobre uma cômoda próxima a janela.

-Obrigada; Tétis respondeu com a voz fraca, só agora se dera conta de que estava usando um vestido fino de cor branca, quem a trocara?

-Ahn! O jovem Sr pediu que a trocasse, enquanto providenciava os cuidados necessários pra Srta; ela falou, como se lesse seus pensamentos. –Ele ficou muito preocupado, por causa da Srta levar tanto tempo pra acordar;

-Quanto tempo fiquei dormindo? –ela perguntou confusa.

-Três dias e ele não saia daqui; ela completou com um sorriso tranqüilizador.

-"Não consigo me lembrar de muita coisa"; ela pensou.

-Posso entrar? –Sorento perguntou batendo na porta entreaberta.

-Pode Sr, já estou de saída, Srta se precisar de algo só me chamar; ela falou lançando um ultimo olhar a Tétis e saindo.

Tétis observou-a sair e acabou por voltar seu olhar para o jovem na porta, agora conseguia reconhecê-lo. Era Sorento de Sirene, General Marina do Pacifico Sul.

-Sorento; Tétis chamou, o marina entrou no quarto como se estivesse esperando mesmo sua permissão para entrar. Fechou a porta em seguida, encaminhou-se até duas poltronas existentes no outro lado do quarto, pedindo a Tétis que o seguisse.

Tétis sentou-se de frente pra ele, sentia a mente rodopiar, queria respostas, mas mal conseguia formular as perguntas.

-Pensei que tivesse morrido depois que salvou Jullian; ele começou quebrando aquele silencio. –Mas durante a guerra entre os cavaleiros de bronze contra Hades em meio a um eclipse uma luz apareceu no mar e Posseidon despertou mais uma vez; ele continuou, vendo-a arregalar os olhos. –Foi um milésimo de segundo, mas o cosmo dele era muito forte. Ele fez com que as armaduras de ouro atravessassem o inferno parar ajudar os cavaleiros nos Campos Elíseos a impedir Hades de destruir a Terra.

-E o que aconteceu depois? –ela perguntou com a voz tremula.

-Do topo do Cabo eu vi uma luz no meio do mar, antes de acabar o eclipse, quando cheguei até a praia te encontrei lá quase morta;

-Quem foi que me salvou? –ela perguntou confusa.

-Não sei, quando cheguei lá, você já estava na praia, não vi mais ninguém por perto; ele respondeu intrigado com esse fato também.

-Só lembro de estar quase morrendo e alguém me puxar pra fora da água e me jogar na areia, não consegui fazer mais nada; ela comentou.

-Entendo, o choque deve ter sido muito grande, o que me admira é eu você esteja viva, foi um milagre; ele completou.

-Ahn! E Posseidon? –ela perguntou depois de alguns minutos de silencio.

-Posseidon ou Jullian? –ele perguntou com um olhar enigmático.

Tétis estreitou os orbes de maneira perigosa, fazendo um meio sorriso surgir nos lábios do marina.

-Calma, só queria saber se você não bateu com a cabeça ou coisa do tipo; ele falou gesticulando displicentemente. –Posseidon está preso na ânfora de Athena, possivelmente em meio aos destroços do santuário do mar, só volta a Terra daqui a uns 200 anos no mínimo, já o Jullian esqueceu de tudo que ocorreu antes do seu décimo sexto aniversario; ele completou.

-"Ele esqueceu de tudo então"; ela pensou com certa tristeza ao constatar que ele esquecera até mesmo de si.

-Jullian estava preocupado com você; Sorento falou de repente. –Quase me enlouqueceu, não me deixava cuidar direito de você e não deixava mais ninguém chegar perto; ele falou passando a mão nervosamente pelos cabelos.

-Como? –ela perguntou confusa.

-Não sei, ele parecia se lembrar de você, mas quando perguntei, ele não quis me dizer nada, não parecia estar mentindo e sim na duvida; ele respondeu.

-Entendo; Tétis murmurou como resposta.

-Uhn! Tétis; Sorento chamou, vendo-a olhar vagamente pela janela.

-O que?

-Como você realmente se sente? –Sorento perguntou serio.

-Estou bem, mas minha cabeça dói um pouco; ela respondeu de maneira vaga. –Algumas coisas eu não consigo me lembrar;

-Como, por exemplo? –ele perguntou curioso.

-Quanto tempo eu fiquei boiando no mar? Ou quem poderia ter me salvado? Não sei, algo em minha mente parece saber a resposta, mas não dá, não consigo lembrar; ela falou em tom aflito.

-Fique calma, foi pelo choque que sofreu, com o tempo você vai lembrar; ele respondeu, levantando-se. –É melhor voltar a deitar, vou buscar algo pra comer e um remédio pra dor de cabeça, daqui a pouco eu volto; ele falou já chegando a porta.

-Sorento; Tétis chamou-o.

-Uh!

-Obrigada;

-Não há porque agradecer, no final todos tínhamos sido manipulados e nem mesmo o imperador teve culpa dos desastres, agora só nos resta seguir em frente; ele respondeu, como se compartilhasse de suas duvidas.

-Certo; ela respondeu num murmúrio, ao vê-lo fechar a porta.

II – Uma Sereia entre Deuses.

Pelo menos duas vezes durante a manhã e tarde, Tétis recebeu a visita de Sorento, conversaram sobre vários assuntos e o marina lhe contou que ele e Jullian pretendiam viajar pelo mundo ajudando as pessoas que sofreram com as enchentes.

Ela ficou surpresa ao saber disso, mas não comentou nada com Sorento. Agora praticamente as guerras haviam cessado, o que faria da vida dali em diante, não tinha mais a mínima idéia.

-Como assim ela acordou e eu sou o ultimo, a saber, disso; a voz soou áspera atrás da porta, Tétis ouviu o som de passos pesados se aproximarem.

-Mas Sr. Foi o jovem Sorento que pediu...; A voz aflita da Sra que lhe trouxera as roupas foi cortada pelo jovem.

-Esta certo pode ir, com Sorento eu me entendo depois; Jullian respondeu parando na porta.

Viu a Sra fazer uma breve reverencia e saiu dali quase correndo. Suspirou cansado, a mais de três dias esperava sabe-se lá porque, para vê-la acordada. Em seu interior sabia que a conhecia, mas algo dentro de sua memória impedia que ele se lembrasse.

Levou a mão até a porta dando três batidas. Lá dentro Tétis encolheu-se mais entre as cobertas, sentiu um arrepio cruzar as costas. Por algum motivo desconhecido sentia medo. Não queria vê-lo, agora que pra ele ela seria uma completa estranha, mas não se pode lutar contra o inevitável.

-Entre; ela respondeu com a voz tremula, enquanto sentava-se na cama.

O jovem herdeiro entrou no quarto com certa cautela. Olhou para a jovem que ainda tinha a face pálida. Algo em sua mente queria lembrar, mas...

-Ahn! Como você esta? –ele perguntou timidamente se aproximando da beira da cama, hesitante.

-Bem, obrigada; ela respondeu.

-Uhn! Você se cama Tétis, não? –ele perguntou, sentindo-se completamente perdido. Simplesmente não sabia o que falar agora. Tétis apenas assentiu. –Sorento me disse que eram amigos; ele comentou.

-Digamos que sim; ela respondeu, tentando sentir-se menos tensa.

-Tétis, uhn, sei que isso pode parecer meio estranho até um absurdo, mas tenho a impressão de já ter lhe visto antes; ele falou ficando tenso, precisava saber se era isso que lhe atormentava tanto.

-...; Tétis ficou tensa, será que ele estava se lembrando de algo que fez como imperador?

-Uhn! Esquece, deve ser besteira minha, desculpe; ele falou passando a mão nervosamente pelos cabelos. –Sei que parece meio precipitado, mas acho que Sorento já lhe contou sobre o projeto que estamos trabalhando;

-Já, para ajudar as vitimas da enchente; ela respondeu.

-Então, eu estava pensando que, bem, quando você se recuperar não quer vir junto com a gente, não precisa se sentir pressionada para responder, é só uma sugestão; ele falou com um sorriso sem graça;

Tétis se perguntou confusa, sobre o que realmente estava acontecendo. Algo dizia que isso não passava de um reflexo de memória do subconsciente, mas quanto ele poderia lembrar-se?

-Tudo bem; ela falou sorrindo serenamente.

-Uh! –ela murmurou confuso.

-Obrigada pelo convite, vai ser um prazer acompanhá-los; ela respondeu.

-Que bom; ele falou sorrindo, fazendo a corar momentaneamente. –Bem, vou deixá-la descansar, logo Emilia vai trazer o jantar, espero que não se importe, é melhor que não se esforce pra descer e subir as escadas enquanto não se recuperar completamente.

-Não precisa se preocupar, já estou bem; Tétis respondeu constrangida com tanto cuidado, ela pretendia levantar-se da cama, mas sabe-se lá como. Jullian parou ao seu lado na cama, fazendo-a gentilmente voltar a deitar-se.

-É melhor que fique assim, para se recuperar melhor; ele falou suavemente, sentando-se na beira da cama, enquanto a cobria com uma colcha.

-Obrigada; ela falou, porem sentiu a face queimar diante do olhar indecifrável do jovem sobre si.

Jullian observava atentamente a face da amazona, quase conseguia se lembrar de onde a conhecia. Instintivamente levou a mão até a face enrubescida. Entretido, deixou os dedos correrem pela pele sedosa, prendendo-se entre os fios dourados. Tão surreal como uma sereia; uma voz pareceu sussurrar-lhe ao pé do ouvido.

-Jullian, Emilia me disse que estava aqui; Sorento falou, entrando inesperadamente no quarto. Jullian afastou-se no susto, dando-se conta do que estava fazendo. –Ahn! Atrapalho algo? –Sorento perguntou de forma inocente.

-Não; os dois responderam nervosamente.

-Bem, como disse Emilia me falou que você estava surtando e que tinha vindo pra cá; o ex-marina falou divertido.

-Por falar nisso precisamos conversar; Jullian falou ficando serio e lançando um olhar mortal ao ex-marina que engoliu em seco.

-Ahn! Sobre o que seria? –ele perguntou cauteloso, já imaginando que seria sobre o fato de Tétis ter acordado e ele não ter falado nada.

-Tétis aceitou nos acompanhar, precisamos resolver para onde vamos primeiro; ele respondeu desanuviando o semblante carregado.

-Ah! Isso; Sorento flou aliviado. –Claro, quando quiser começamos;

-Bom tenho que resolver algumas coisa, vou mandar trazer seu jantar; ele falou voltando-se pra jovem. –Até depois; ele completou saindo do quarto.

Sorento e Tétis trocaram um olhar cauteloso, porem logo o marina abriu um meio sorriso maroto que a fez gelar.

-Ahn! Pelo visto vocês pareciam estar se entendendo bem, não? –ele comentou, com um olhar inocente, nada típico de sua personalidade.

-Não sei do que esta falando; ela respondeu ríspida.

-Convenhamos Tétis, os outros marinas poderiam até ser um bando de idiotas que não enxergavam um palmo a frente do nariz se não fossem mandados; ele comentou. –Mas até eu sou capaz de perceber os seus sentimentos tão evidentes por ele; Sorento completou ficando serio.

-Não tem nada a ver; Tétis se defendeu. –Nós juramos servir ao imperador e era só isso que importa;

-Então você estava disposta a abdicar do seu amor pelo Jullian só por causa de uma guerra entre deuses? –ele perguntou arqueando a sobrancelha.

-Se fosse preciso; ela respondeu abaixando os olhos.

-Mas...;

-Entenda Sorento, da mesma forma que Posseidon era apaixonado por Athena na antiguidade, Jullian ainda é apaixonado por Saori Kido, e nada vai mudar isso; Tétis respondeu, voltando-se pra ele com um olhar triste. –Agora se possível, podemos mudar de assunto?

-...; O ex-marina ficou em silencio, apenas assentiu. Entendia perfeitamente o que ela queria dizer. Talvez fosse mesmo melhor assim...

III – Um pulo no tempo.

Algum tempo depois... Roma/ Itália.

Já estava anoitecendo, da sacada que estava podia vislumbrar o belo e antigo Coliseu era uma imagem imponente. Ao longe via o sol abaixando-se atrás da construção. Um brilho radiante.

A amazona sentiu as mãos tremerem, levou uma até a testa massageando insistentemente as tempora. Sua cabeça doía. Um gosto semelhante a água salgada surgiu na boca, não sabia o que estava acontecendo.

Entrou rapidamente no quarto, sua visão estava embaçando, mal teve tempo de chamar por Sorento no quarto ao lado. Tudo escureceu, seu corpo caiu num baque seco de encontro ao chão.

-o-o-o-o-

Sorento acabara de terminar de se arrumar, iriam num jantar beneficente as 7:00 hr, quando estava terminando o nó da gravata ouviu o chamado da sereia e estranhamente o cosmo dela se alterar.

Correu até o quarto ao lado, encontrando Jullian batendo insistentemente na porta.

-O que esta acontecendo? –Sorento perguntou preocupado.

-Ouvi um barulho, chamei pela Tétis e ela não respondeu; ele falou batendo mais uma vez.

-Tétis, é o Sorento, abra; ele pediu parando próximo à porta, mas nada, lançou um olhar de esguelha para o ex-imperador. Ele não iria sentir.

Elevou parcialmente seu cosmo, conseguia sentir a presença da sereia dentro do quarto, mas ela não respondeu ao seu chamado, isso estava o deixando aflito. Não tinha jeito, precisava entrar ali e rápido.

-Vou chamar uma camareira pra abrir essa porta; Jullian falou se afastando.

-Certo, eu espero aqui; Sorento respondeu, torcendo para que mais ninguém o visse ali.

Elevou um pouco seu cosmo. Afastou-se parcialmente da porta. Com um único chute colocou a mesma a baixo.

Ao olhar pra dentro do quarto viu a jovem desmaiada sobre o tapete. Correu até ela, suspendendo-a do chão e colocando-a na cama. Sentia a pulsão fraca e ela suava frio.

-Tétis; ele chamou, balançando-a pelos ombros.

Era como se pudesse sentir tudo de novo. A água salgada penetrando em cada fibra sua. Uma lufada de vento chocou-se contra seu rosto. Por mais que não agüentasse, seu corpo ainda não desistira de lutar, foi puxada pra o fundo. Iria morrer.

Uma mão delicadamente fechou-se com força sobre a sua. Abriu os olhos com dificuldade. Para sua surpresa viu uma garota de cabelos e olhos dourados que cintilavam intensamente no meio do negrume, ela tentava puxar-lhe para cima, mas a correnteza daquele lado do Cabo era muito forte.

Uma explosão de cosmo ocorreu. Era um cosmo calmo e imponente, semelhante ao de um deus, mas mesmo naquela situação não conseguia sentir hostilidade vindo dela e sim paz. Seria ela algum anjo que viera lhe levar? -mal pode concluiu o pensamento quando de maneira surpreendente em meio ao negrume, uma luz azulada se manifestou e das costas da jovem surgiu um par de asas brancas.

Num impulso, ambas foram tiradas da água. Tétis foi colocada na areia pela jovem, que com parte do cosmo fê-la resistir a fraqueza causada por todos aqueles dias sendo arrastada pelas águas.

-Não se preocupe, a ajuda já vai chegar; a jovem falou afastando-se dela, para recolher as asas que misteriosamente não pareciam molhadas.

-Quem é você? –ela perguntou, tentando aproximar-se dela, mas o cansaço era tanto que ela mal se moveu quinze centímetros.

-Aishi; ela respondeu sorrindo, enquanto se aproximava da sereia, tocando-lhe o topo da testa. –Agora relaxe e durma;

Tétis sentiu uma onde de torpor e paz lhe invadir, caindo no sono em seguida. A jovem lançou-lhe um ultimo olhar, sentindo já a aproximação de duas pessoas, sabia bem quem elas eram e sabia também que ela ficaria bem com eles. Afastou-se dois passos dela desaparecendo em seguida.

-Tétis acorde; a voz de Sorento lhe chamou de volta.

-Uh! –ela murmurou abrindo os olhos.

-O que aconteceu? –Sorento perguntou, ele jazia sentado na beira da cama ao lado dela, parecia tenso.

-Eu lembrei; ela falou aflita, querendo se levantar, porem ele não deixou.

-O que? –ele perguntou preocupado.

-Sorento, eu lembrei, eu estava me afogando, Aishi, ela apareceu e me tirou de lá;

-Como? Quem é Aishi?

-Não sei, ela apenas me disse que se chamava assim, ela tinha asas, Sorento, ela tinha o cosmo de um deus; a jovem falou cada vez mais aflita.

-Fique calma Tétis, foi só um sonho; ele tentava acalmá-la.

-Não foi, a luz, aquela luz que você viu, era o cosmo dela, foi no momento em que ela abriu as asas em baixo da água, Sorento, não foi um sonho, eu juro; ela falou em desespero.

-Calma, fique tranqüila, depois conversamos sobre isso; ele falou tentando acalmá-la. –Agora me diga o que aconteceu antes de você lembrar?

-Tive uma dor de cabeça muito forte, entrei para procurar um remédio, ai tudo ficou escuro; ela explicou, sentando-se na cama sem que ele a detivesse.

-Deve ser pressão baixa; Jullian falou, pegando apenas a explicação da sereia sobre o desmaio.

-Acho que sim; ela respondeu, respirando pesadamente. Ainda conseguia sentir o gosto de sal nos lábios. -"Tenho certeza que era o cosmo de um Deus... Isso é loucura, não conheço nenhuma deusa chamada Aishi"; ela pensou, começando a acreditar que Sorento estava certo, mas ainda arrumaria uma forma de ter certeza.

-Como esta se sentindo Tétis? –Jullian perguntou preocupado.

-Estou bem, deve ter sido a pressão; ela falou tentando tranqüilizar os dois, que a olhavam preocupados.

-Como não me preocupar; o ex-imperador falou indignado. –Vou ligar avisando que não vamos mais; ele completou, lembrando-se só agora do compromisso.

-Não, vão vocês pelo menos; Tétis falou.

-Tétis, Jullian está certo, é melhor que fiquemos para alguma eventualidade; Sorento falou.

-Mas...;

-Nem meio, mas, nós vamos ficar; Jullian falou serio, não permitindo contestação.

-Se quer assim; ela respondeu dando de ombros, quando ele invocava com algo ninguém o fazia mudar de idéia.

IV - Sentimentos Que Ultrapassam a Eternidade.

1 ano depois... Sicília/ Itália.

Era uma praia bonita. Fazia dois anos que viajavam pelo mundo juntos. Passaram pela Itália, Japão, China, Suécia, Áustria, França, Inglaterra e agora estavam de volta a Itália. Dois anos juntos; ela pensou.

Tétis caminhava pela praia, já estava na hora do pôr-do-sol. A muito perdera o medo de se aproximar do mar novamente. No começo simplesmente não conseguia. Sairá varias vezes com o marina para nadar, mas mal conseguira fazer os pés tocarem a areia.

Agora aos poucos fora perdendo esse medo, adorava o mar e tudo que ele trouxesse junto. Sentia-se livre nadando naquelas águas, como não conseguia andando na terra. Talvez esse fora um dos motivos pra realmente vir a entender o porque ter sido escolhida como uma marina e representar as sereias.

Sentiu os pés descalços tocarem a areia úmida, logo uma onda se aproximou molhando suas pernas e obrigando-a a erguer parcialmente a barra do vestido.

Não faria mal; ela pensou fitando as águas cristalinas. Enquanto afastava-se um pouco para retirar o vestido e deixá-lo sobre a areia, ficando apenas com um maiô que usava por baixo.

Voltou para a beira da praia, caminhando com calma, sentindo a água gelada aos poucos lhe molhar a pele, antes de lançar-se completamente de encontro às águas e mergulhar.

Embora o tempo houvesse passado, não entendia o que realmente acontecera naquele dia, e o nome Aishi aos poucos foi guardado em sua memória, não tocando mais no assunto. Até agora Sorento fora o único que ela contara isso. Ele também andava estranho, meio abatido, mas toda vez que lhe perguntava algo sobre isso ou ele desconversava ou respondia que era só impressão e que estava tudo bem.

Nesse meio tempo, seus laços de amizade se estreitaram, eram amigos e confidentes, porem isso não parecia agradar muito a outros.

Jullian às vezes parecia um adolescente, embora agora com vinte anos, fazia com que todos se divertissem e se sentissem à vontade em sua presença. Tornou-se alguém mais humilde, diferente do que era antes, por vezes sendo um garoto mimado e arrogante, mas em dados momentos sofria uma pequena variação de humor, ficando intratável. Até mesmo Tétis que se tornara uma grande amiga acabava se afastando por não saber lidar com a situação.

Deu mais um mergulho, emergindo na superfície e jogando os cabelos para trás. Tomou fôlego e mergulhou novamente, porem esse mergulho não fora tão longo, sentiu uma mão enlaçá-la pela cintura e puxá-la para cima. Desesperada tentou respirar, engolindo um pouco de água, tentava se segurar em algo mais não conseguia, até se ver respirando normalmente na superfície.

-Você por acaso enlouqueceu? –a voz de Jullian soou irritada, enquanto puxava-a para mais perto de si.

-O QUE? –ela berrou, ao dar-se conta de quem era. Prendeu a respiração ao notar o quão próximos estavam, os longos cabelos azuis estavam molhados e a franja rebelde caia-lhe pela testa. O peito arfava devido ao esforço que fizera pra alcançá-la quase no meio do mar.

-Você estava se afogando; ele falou num sussurro, abaixando parcialmente a cabeça, deixando os orbes na mesma altura que os dela. As respirações se confundiam, fazendo-a perder o sentindo do pensamento.

-Não, eu não estava; ela respondeu, saindo daquele leve torpor, lembrando-se de algumas duvidas que nunca haviam lhe abandonado, afastou-se bruscamente, indo em direção a praia.

-Tétis; Jullian chamou, seguindo-a. –Pensei que estivesse se afogando; ele se justificou.

-Mas não estava; ela respondeu, pegando o vestido na areia e vestindo-o.

Ambos se encararam por um momento, a jovem sentiu a face queimar ao vê-lo fora da água. Tão belo quanto um Deus grego; ela não pode deixar de pensar, o pensamento de certa forma irônico. Tão irônico quando o destino que lhe permitia viver ao lado dele, porem com ele sem nenhuma lembrança.

-Queria que eu pensasse o que, com você mergulhando daquele jeito? –ele perguntou indignado.

-Daquele jeito? –ela perguntou arqueando a sobrancelha.

-Ahn! Bem...; Ele atrapalhou-se.

-Quer saber, não sei qual é o seu problema, mas você esta insuportável nos últimos dias; ela falou dando-lhe as costas.

-"Droga"; Jullian repreendeu-se. –Tétis, espera, por favor; ele pediu segurando-lhe pelo pulso.

-O que foi? –ela perguntou, parando de andar e dando um suspiro cansado.

-Fiquei com medo; ele falou num sussurro, em tom de confidencia.

-Por que? –ela perguntou confusa, voltando-se pra ele. Ambas as faces estavam relativamente próximas. Jullian apenas deu um suspiro, puxando-a pra mais perto de si e encostando ambas as testas uma na outra.

-Fiquei com medo de que o mar te tirasse de mim; ele respondeu com a voz suave.

A jovem sentiu o coração disparar e a face ficar rapidamente corada, ameaçou se afastar, mas ele estreitou os braços em sua cintura, encontrando uma leve resistência, porem que logo foi obliterada, sentindo aos poucos a jovem aconchegar-se entre seus braços.

-Não suportaria te perder, quanto te vi mergulhar e demorar pra voltar, pensei que tivesse acontecido algo; ele falou, num sussurro ao pé do ouvido.

-Eu estava só nadando; ela falou, sentindo aos poucos o corpo ficar gelado por causa das roupas que agora jaziam molhadas.

-Agora eu sei; o jovem respondeu, afagando-lhe as melenas.

Jullian sentou-se no chão, puxando a jovem consigo, que aconchegou-se entre seus braços, o cosmo dele era fraco, ela podia senti-lo como o de um mortal comum, porem algo estranho lhe chamou a atenção. O cosmo estava se elevando, reagindo com o seu.

Sentiu um calor correr o corpo todo. Suspiro, fechando momentaneamente os olhos. Sentiu sono, os olhos não se abriram, fazendo-a dormir.

-"Não vou permitir que as Deusas do Destino te tirem de mim novamente, muito menos ele"; Jullian pensou, um brilho prateado passou por seus orbes.

Voltou-se para a jovem constatando que ela dormia tranqüilamente, suspendeu-a do chão, voltando para o hotel, apagando qualquer resquício de cosmo que deixara ao fazê-la adormecer.

Continua...


Nota:

Posseidon. Imperador dos Mares e Oceanos. Originalmente casado com Anfitrite filha de Nereu. Embora casado com a nereida, sempre fora apaixonado por Tétis, a jovem titãnaede.

Tétis. Divindade Grega. Motivo muitas desavenças entre Zeus e Posseidon que eram apaixonados por ela. Devido a uma profecia não pode casar-se com Posseidon, sendo entregue em matrimonio a um mortal, dando a luz ao herói Aquiles.