Nome do autor: Honey G
Título: The Darkest Star
Ship/persongens: Sirius/Bellatrix
Gênero: Angst / Drama / Song-fic
Classificação: T
Formato: Long-fic
Observação: Fic PARCIALMENTE betada. Sinto muitíssimo. Espero que esteja boa mesmo assim.


Capítulo UM

Things could be so different now
As coisas podiam ser tão diferentes agora
It used to be so civilised
Costumava ser tudo tão civilizado
You will always wonder how
Você vai sempre se perguntar
It could have been if you'd only lied
Como teria sido se tivesse apenas mentido

– Policy of Truth, Depeche Mode.

Se houvesse qualquer feitiço em que ela pudesse prever o futuro, talvez suas escolhas não teriam sido as mesmas. Mas a vida não era assim, o máximo que se conseguia era rever o passado com legilimência, e não havia feitiços para ressucitar os mortos… vira-tempo seria uma solução, mas Bellatrix sabia que, mesmo que tivesse chance, faria tudo errado de novo. Afinal, estamos falando da Srta. Bella.

Seus familiares estão mortos, seus pais estão mortos, e tudo o que ela tem é um grande buraco negro consumindo sua beleza e sanidade. Porque não há mais para quem viver, não há mais propósito. Aquela criança não vingou, não era para vingar, não ia dar certo, não ia. E sacudindo a cabeça com força, os cabelos desgrenhados indo de um lado para o outro, Bellatrix tentava afastar a nostalgia de um passado que nunca existira.

Um passado que transformaria seu presente em algo totalmente diferente da cena atual. Ela não estaria sentada no chão gelado de pedra de uma cela em Azkaban, estaria sentada numa poltrona confortável, observando o mais puro dos Black brincar com vassouras de brinquedo, esperando o papai chegar. Mas Bellatrix não era maternal, não seria uma boa esposa e, se dependessem de seu talento culinário, todos morreriam de fome.

Na verdade, ela estava morrendo de fome. E como se não bastasse o desgaste físico da prisão, a magreza, a perturbação, a falta de luz e calor, ainda existiam aqueles dementadores malditos para sugar toda e qualquer mísera lembrança feliz: um tombo, sorvete de chocolate, pôr-do-sol. Os momentos felizes de Bellatrix se transformaram com o tempo em obsessão, desespero, por não ter aproveitado e sorvido cada segundinho, cada gesto, tudo dele. Sirius. Se ao menos ela pudesse voltar no tempo, poderia ter mentido, ter dito "não"…

Ela não sabia o porquê, mas sua mente estava teimando em regurgitar todos os momentos passados com o primo, felizes e tristes, de uma vez. As lembranças se misturavam, se confundiam, como numa grande penseira, e Bellatrix tentava se concentrar para escolher uma de cada vez, para então entender os fatos por trás delas.

Antes de sua fuga, estavam tão próximos, trancados na mesma prisão no meio do mar, Mesmo assim, não se viram em nenhum momento. Essa proximidade era apenas espacial, porque, na última grande conversa, Sirius ressaltara o abismo que havia e sempre existiria entre eles. Os gostos, as crenças, a moral, o caráter; não eram apenas diferentes, eram opostos.

Devia estar mesmo ensandecendo, pensando em Sirius Black àquela altura.

You had something to hide
Você tinha algo a esconder
Should have hidden it, shouldn't you?
Devia ter escondido, não devia?
Now you're not satisfied
Agora você não está satisfeita
With what you're being put through
Com o que você tem que passar

Talvez merecesse aquilo tudo, a comida sem gosto, os dias no escuro, a tosse provocada pela umidade daquela cela de pedra, mas dependia do ponto de vista. Bellatrix podia ser considerada uma homicida sádica, louca e cruel, que não tinha escrúpulos e matava por atacado sem qualquer ressentimento. Mas isso a tornaria uma psicopata, e para ela, psicopatas não tinham qualquer sentimento, a não ser sobre si mesmos. E não era bem assim.

Ela podia lembrar algumas cenas familiares, nos anos que viveu na Mansão Black, que escorriam ternura. Os momentos com Andromeda, as brincadeiras que pregavam em Narcissa, as tardes quentes que passava à beira do lago em Hogwarts, à espera de uma noite de chuva torrencial, em que ela estaria num corredor qualquer, com Sirius colado em seu corpo.

Aquilo tudo parecia pertencer à outra pessoa, uma moça saudável, segura de si, bonita, e não àquela mulher desgrenhada que se olhava num caco de espelho. Quando entrara em Azkaban, ainda estava cheia de dignidade e levava consigo sonhos aos quais se agarrava desperadamente.

No final, era uma heroína para seu pai, estava lutando com todas as forças para purificar o mundo dos trouxas e sua família deveria estar orgulhosa. Mas não foi o que descobriu quando sua tia veio visitá-la. "Espero nunca mais ter que pisar aqui, Bellatrix. É deprimente ter que ver você, a grande esperança dessa família, nessa situação deplorável", ela disse sem poupar o nojo na voz. "Mas, tia, se eu estou aqui é porque sou fiel ao Lorde das Trevas, fiel à luta contra os trouxas!", Bella socava a mesa, com os punhos fechados. Como aquela velha podia falar com ela daquele jeito? "Bom, o que quer que tenha feito, não fez direito, não é?".

E dizendo isso, Walburga Black foi embora, sem olhar para trás. Estava decepcionada demais para continuar lá. Tinha perdido o filho querido, Regulus, e teve que ver seu filho Sirius ser preso naquela mesmíssima torre pouco tempo atrás. Agora sua sobrinha, a única esperança dos Black, presa como um bandido qualquer… era o fim da família, as duas estavam conscientes disso; Andromeda estava fora de cogitação, e Narcissa era "de porcelana" demais para fazer algo.

O peso de ter levado sua família junto de si para a prisão a afetava mais do que qualquer coisa. Bellatrix não estava sentindo falta de Rodolphus, ele era um marido que ela nunca quis. Também já tinha aprendido a conviver com a ausência de Andromeda, e fora obrigada a aprender viver também sem Sirius. Narcissa ficaria bem sem ela, nunca foram inseparáveis. Mas a Família Black, a Mui Nobre e Antiga Família Black, estava morrendo, e seus últimos descendentes capazes de mantê-la estavam presos. Os Black terminariam em Azkaban.

Esses sentimentos de culpa e frustração estavam latejando depois de catorze anos. Bellatrix já não tinha muita mais sanidade – se é que teve algum dia – e era um esforço enorme pôr a cabeça no lugar. Mas ela sabia, ou melhor, tinha descoberto do dia anterior, que a chave para manter-se sã era analisar seu passado para entender o presente e, quem sabe, o futuro.

Lembranças não costumam vir de forma cronológica, mas Bellatrix fez o esforço de lembrar o começo de seu fim, quando ainda eram uma família e ela estava cheia de sonhos à espera de aprovação.


E então? O que acharam? Reviews são bem-vindas :D

Obrigada Feer e Miih por ajudarem na betagem.