Ternura

Ternura

Eu sempre tivera essa mania boba de sentar no gramado em frente à minha casa e ficar observando tudo ao meu redor com um interesse um tanto quanto indelicado. Gostava de analisar cada gesto, palavra ou som que eu conseguisse captar. Não tinha nenhum objetivo concreto ou uma missão importante, eu apenas era uma pré-adolescente em plenas férias de verão e sem muito que fazer.

Para alguém que fazia do seu show particular a vida alheia das pessoas, eu admito que nunca realmente prestara atenção nos melhores amigos de meu primo, Sirius. Não eram seres que conseguiram conquistar meu interesse, no final das contas. James era um turbilhão de palavras, tempestivo demais para que minha quietude habitual pudesse acompanhar suas ideologias. Peter era introspectivo como uma pedra, o que já era calmaria demais pra mim. E então havia Remus, ele sempre fora tão suave que eu nunca verdadeiramente notara sua presença.

Eu tinha 13 anos, ele tinha 23.

O sol estava esvaindo-se delicadamente por detrás das colinas e a leve brisa de verão apaziguava os ânimos quentes do verão. Arrisquei levantar brevemente os olhos de minha leitura e observei enquanto os cabelos castanhos de Remus esvoaçavam preguiçosamente e ele sorria levemente da piada que Sirius acabara de contar.

Eu tinha 15, ele tinha 25.

Eu estava sentada no sofá de pernas cruzadas e com uma colher recheada de chocolate por entre os lábios, meus olhos borbulhavam em lágrimas. Remus sentou-se ao meu lado, em silêncio. Suas mãos acariciaram meus cabelos suavemente enquanto seus lábios beijaram-me a testa. Nossos olhares encontraram-se e ele sorriu, em uma ternura contida.

Eu tinha 18, ele tinha 28.

As estrelas salpicavam a escuridão da noite, deixando o frio enlaçar-me pela cintura, enquanto eu suspirava em contentamento. Era a minha noite de formatura e o braço de Remus roçava levemente enquanto dançávamos uma música que só tocava em nossos ouvidos. Todos os outros alunos e convidados permaneciam dentro do salão, indiferentes a felicidade emanando dos meus olhos.

Eu tinha 20, ele tinha 30.

As folhas de outono caíam e eu sentia meu coração despedaçando ouvindo Remus sussurrar "minha menininha" ao pé de meu ouvido e tocar-me suavemente a face, beijando-lhe os lábios como que em um breve suspiro. O pequeno Harry estava desamparado, Sirius estava foragido e eu sabia que não podia ter aquele par de olhos castanhos naquele momento, só pra mim.

Eu tinha 36, ele tinha 46.

Eu sentia os cortes arderem-me a pele e o cheiro de sangue me deixava enojada. Sentia meus pés presos ao chão enquanto observava Sirius cair inerte em frente aos meus olhos. Minhas mãos tremiam e senti a ponta dos dedos de Remus tocar meus ombros, acalmando-me com a tristeza e o amor sincero em seu olhar.

Eu tinha 37, ele tinha 47.

Nada mais importava. Nenhum dos empecilhos que Remus pudesse apontar para mim. Os olhares sinceros, as palavras de conforto, os lábios cobertos de ternura e os gestos suaves. Eu o amava e nada mais importava.